A ÁRBITRA DE ITAMBÉ
por Paulo Oliveira
O jogo de futebol feminino entre as equipes de Itambé e Campinarana, localidade que deu origem ao distrito de Nova Brasília, em Ribeirão do Largo, no sudoeste baiano, estava praticamente decidido. A equipe da casa vencia por 5 a 2.
De repente, as atenções se voltaram para a arquibancada, onde uma senhora de 64 anos batia com o guarda-chuva em um torcedor. Em campo, uma das jogadoras da equipe visitante chutou a bola para fora quando viu que o envolvido na confusão era seu parente. Queria parar o jogo.
A jovem árbitra Thide Lira, com apenas um ano de experiência, levou um susto ao ver a mãe, Naete, conhecida em toda cidade como dona Nai, atacando o sujeito, mas deu prosseguimento à partida. Outros torcedores intervieram e apartaram os antagonistas.
Logo que a disputa terminou com o placar de 7 a 2 para o time da casa, Thide foi até dona Nai para saber o que aconteceu. Descobriu que sua principal incentivadora não gostou de ouvir o rapaz gritar que Thide “precisava de um homem para mostrar o que a mulher tem que fazer”.
O torcedor ainda se atreveu a falar “que lugar de mulher era em casa e não em campo de futebol”. Isso mexeu com os brios de dona Nai, amante do esporte, torcedora apaixonada pelo Flamengo, que levava a filha desde os oito anos para ver jogos de futebol no estádio Osorão:
– A cena se repetiu muitas vezes até que aprenderam que quando minha mãe estava na arquibancada não podiam falar mal de mim. Se me xingassem ou criticassem, ela batia com o guarda-chuva e chamava de machista. Minha mãe me ensinou que lugar de mulher é onde ela quiser estar – conta a ex-lateral direita e única árbitra da Liga Amadora de Itambé.
BOLA ROLANDO
Thide Lira Brito cresceu jogando “babas” nas ruas, quadras e campos da cidade natal. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 13 anos e para Belo Horizonte aos 17. Na capital mineira, obteve vaga no programa “Meu Primeiro Emprego”, passando a trabalhar na empresa “Só Telas”, a qual mantinha um time de futebol masculino.
Com a desculpa que a disputa era violenta e a adolescente poderia se machucar, os colegas, apesar dos insistentes pedidos, não a deixavam jogar. Um dia faltou um jogador e Thide, acompanhando o jogo com o rosto colado na grade, foi convocada. Não saiu mais. Com 1,67m e 50kg, virou titular e ria quando os adversários gritavam “quebra a sequinha”.
A vida seguiu. Tide teve filha, casou, teve outra filha, mas não largou o futebol. Em 2002, voltou para Itambé e encontrou um cenário desolador: as equipes e a seleção feminina não existiam mais.
A falta de atividade esportiva colaborava para uma grande mazela: a prostituição. Um grupo de meninas ficava à beira da BR-415 (Ilhéus-Vitória da Conquista) à espera de caminhoneiros. Thide resolveu mudar aquela situação.
O primeiro passo foi encontrar apoio. Se uniu a um professor de educação física, chamado Luiz, para reativar o futebol feminino de quadra e de campo. Depois, conversou com as garotas. Como encontrou resistência, pois era a forma que elas tinham de conseguir alimentos para as famílias, procurou os pais das adolescentes. Ofereceu cesta básica e atividade física para quem deixasse de se prostituir, mesmo sem ainda ter recursos.
Com o promotor de Itambé, a conversa não avançou muito. Ele sugeriu que o projeto de Thide fosse feito através de uma instituição.
– Poucos comerciantes daqui ajudaram.. O que mais eu ouvia era que as meninas não queriam abandonar a prostituição. Parti, então, para Vitória da Conquista e consegui 80 cestas básicas. Além da família das jovens, cadastrei pessoas carentes! – recorda.
A prefeitura foi o último local a ser procurado:
– Eu não apoiava o prefeito, por isso demorei quase dois anos para falar com ele. Estava com medo de ser mal recebida. No entanto, para minha surpresa, ele foi bem receptivo. Forneceu material esportivo e bolas. Eu e o Luiz começamos então a tocar o projeto a pleno vapor! – conta.
Vinte e três meninas, inclusive as seis que antes se prostituíam, se inscreveram na equipe do Manchester de Itambé. O time também atuava como a seleção da cidade nas categorias de futsal e futebol de campo. Os bons resultados apareceram e o grupo ganhou fama, mas aí mudou o prefeito. O novo gestor retirou o apoio e o projeto, mantido por teimosia, entrou em declínio.
MUDANÇA DE RUMO
Thide acumulava as funções de coordenadora e de atleta do Manchester até machucar o joelho e fazer cirurgia.
– Parei de competir. Isso me deu uma tristeza enorme. Como é que eu ia ficar longe do que mais gosto? Tentei ser técnica, mas não deu certo. Fui convidada para ensinar handebol na AABB. Eu jogava, mas não gostava tanto do esporte. Aí surgiu o curso de arbitragem da Federação Baiana de Futebol! – relata.
O incentivo para participar da formação veio de Edmundo Gonçalves, presidente da Liga Amadora de Itambé e administrador do estádio Osorão. Nessa época, Thide Lira trabalhava na biblioteca da Universidade do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista, a 58 km de distância, cobrindo a licença de uma amiga. Nos fins de semana, Thide apitava e bandeirava jogos de várzea, organizados pelo dirigente, e ouvia elogios.
– Ela mostrava que tinha jeito para a arbitragem! – afirma Edmundo.
Um amigo carioca de um mais um empurrão. Presenteou-a com um livro sobre arbitragem, devorado rapidamente. Outra providência da aluna passou a observar atentamente a atuação dos juízes em jogos ao vivo e pela televisão.
– Em 2005 fiz o curso. Eu era a única mulher da turma que tinha 11 homens. O professor foi o Luciano, da federação baiana. Ele só deu aula teórica, mesmo assim o Edmundo confiou em mim e me escalou para bandeirar jogos na região. – diz.
Os árbitros veteranos receberam bem a nova colega. Betinho, Nelson e Marcão faziam elogios e lhe deixavam confiante. Se tudo corria bem entre os juízes, nem sempre as coisas saíam como ela esperava do vestiário para fora, principalmente, em jogos disputados em outras cidades, onde o grande adversário era o preconceito.
Quando Thide chegava para trabalhar, dirigentes, representantes das prefeituras e jogadores achavam que ela era mulher de um dos árbitros. Era comum perguntarem – sempre se dirigindo aos homens – quando o quarto juiz ia chegar. Em Itapetinga, município vizinha, escalada como árbitra principal nos jogos de várzea cansou de ouvir: “Hein professora, vamos ver a merda que a senhora vai fazer”.
PROVOCAÇÕES E NUDISMO
Na função de quarto árbitro, Thide tem que entrar nos vestiários das equipes para pegar a assinatura dos jogadores e saber a cor dos uniformes que jogariam. Em uma dessas vezes, bateu na porta, avisou que ia entrar e mesmo assim deu de cara com um jogador pelado:
– A primeira vez que isso aconteceu eu fiquei…, a prancheta tremia. Foi aqui em Itambé. O rapaz trabalhou comigo na Azaléa (fábrica de calçados), era casado. Fiquei constrangida. Tinha feito o curso da federação, mas, como disse, só tive aulas teóricas. Quando retornei tremendo para o vestiário dos árbitros, Marcão e Samarone me tranquilizaram. O Marcão me deu um conselho que sigo até hoje: “Na hora de entrar, se tiver um negão nu, faz de conta que é uma negona e pronto.” – revela.
Com o tempo, os incidentes diminuíram. Há, porém, atletas sacanas que ficam pelados de propósito para desconcertar as mulheres da arbitragem. Em Poções, a cerca de 130 km de Itambé, Thide foi chamada para trabalhar em um jogo e ajudar no treinamento de uma futura colega.
– O rapaz foi extremamente grosseiro conosco. Ele era o capitão do time e apareceu nu para assinar a súmula de propósito. Depois, olhou para mim e disse, ironicamente: “Só isso?”. Olhei para o órgão sexual dele e revidei do mesmo jeito: “Só isso?”. Os outros jogadores deram gargalhadas.
Na saída do vestiário, a árbitra teve ímpeto de pedir desculpas. Pensou melhor e concluiu que o jogador é quem deveria se desculpar.
– Quem faz isso está acostumado a diminuir a mulher que tem na família. O homem que valoriza a mulher, independente do trabalho que ela tenha, não vai querer te deixar sem graça, te expor ao ridículo! – acredita Thide, criada com sete irmãs e um irmão e mãe de Rayssa e Hanna e avó de Piettra Anthônia.
Depois do jogo, um dirigente do clube se desculpou pelo comportamento inadequado do atleta.
ESCOLTA POLICIAL
Uma decisão na cidade de Planalto, próxima de Vitória da Conquista, também marcou a carreira da juíza de futebol. Ela e dois outros colegas foram contratados para atuar na final de um torneio, no qual o time da casa jogava pelo empate. Nos acréscimos, o árbitro principal marcou um pênalti e o título foi para o visitante.
– Veio todo mundo para dentro de campo, para cima dos juízes. Eu não, mas os outros colegas foram empurrados. Tivemos que sair escoltados pela polícia. O juiz principal não tomou nem banho, saiu de uniforme mesmo. Os policiais nos escoltaram por cerca de meia hora na estrada até ter certeza que nada aconteceria. – relembra
Em 2008, Thide voltou a morar em Belo Horizonte. Fez curso de reciclagem na federação mineira e passou a atuar nos bairros da capital mineira e em cidades da região metropolitana. Perdeu as contas das vezes que ouviu que baiana só entendia de acarajé e que foi xingada por ser mulher e nordestina.
JOGADOR APAIXONADO
Edmundo e Thide
Uma árbitra passa por momentos surpreendentes em sua carreira. Durante o campeonato de seleções do interior da Bahia, um atleta de Itapetinga, chamado Henrique, a pediu em namoro no campo. Diante da torcida, ajoelhou e disse que só iria para o vestiário se ela o aceitasse.
Thide ficou mais surpresa do que no dia em a mãe dela bateu em um torcedor:
– Pense na situação. Eu o conhecia de outros jogos. Muita gente sabia que ele faria aquilo, menos eu. Para contornar o caso, falei que depois do jogo conversaríamos. – conta a juíza, que não aceitou a proposta do atleta.
Ao retornar para Itambé pela segunda vez, em 2010, Thide começou um relacionamento. No início do namoro, Tiago sofreu um acidente: o caminhão em que estava perdeu o freio e desceu de ré do alto de uma ladeira. O motorista do veículo morreu e o namorado da árbitra ficou tetraplégico. No hospital, o rapaz pediu para que Thide cuidasse dele. A vida da ex-jogadora sofreu uma guinada e ela se afastou da arbitragem.
Depois do falecimento de Thiago, a árbitra não se sentia segura para voltar aos estádios. Mais uma vez, Edmundo Pereira, o presidente da Liga de Itambé, teve um papel importante na vida da juíza, que tinha deixado de fazer as reciclagens exigidas pela federação e se desfez dos uniformes, chuteiras e acessórios (cartões e apito).
Em 2018, Edmundo voltou a escalar Thide Lira como quarta árbitra até que ela faça a atualização e possa voltar a ser pelo menos bandeirinha. Atualmente, as funções dela são verificar a cor dos uniformes para que os times não entrem com roupas iguais e para definir o padrão a ser usado pelos árbitros; recolher as assinaturas dos atletas na súmula; fiscalizar os bancos de reservas para que não sejam ocupados por jogadores expulsos e pessoas não credenciadas e assumir a posição do bandeirinha, que vai para a linha de fundo, quando um pênalti é marcado.
– Agora que voltei vi que ser árbitra está no meu sangue. Não quero mais parar.
TORCIDA CURIOSA
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recomenda que quem vai apitar até mesmo jogos de várzea organizados pelas ligas deve comparecer ao local de trabalho com roupa social.
– Tem horas que pareço executiva. – compara Thide.
A questão da troca de roupa povoa a curiosidade dos torcedores. O vestiário da arbitragem é único, com um cômodo para banho e troca de vestimenta. Os moradores de Itambé não se cansam de perguntar como Thide procede. Às vezes, ela faz mistério.
Na verdade, as mulheres usam malhas por baixo da roupa e se trocam rapidamente no banheiro. A quarta árbitra é a primeira a sair do vestiário para cumprir as obrigações que tem antes do jogo começar. O fato de dividir o vestiário com os colegas, incomoda muitos homens. Um namorado terminou com Thide porque não se conformava com a existência do vestiário único.
Os juízes também sofrem pressão por causa do times que torcem. A árbitra de Itambé é flamenguista, mas não teve como esconder a paixão por um time do município:
– Quem trabalha na arbitragem tem de ter uma ética danada. Eu tenho um time do coração. Todo árbitro do interior tem. Já trabalhei em jogo dele e não facilitei. Muita gente sabe por quem eu torço aqui porque ia ver os jogos quando me afastei da função. Só o que acontece? Em momento algum favoreço ele. Eu te levo para conversar com jogadores e dirigentes de todas as equipes para que digam se eu tive alguma atitude contrária ao que estou afirmando.
REMUNERAÇÃO
O quarto árbitro, antigamente chamado de mesário, recebe R$ 50 (ano passado era R$ 70) por jogo do campeonato municipal; os bandeiras, R$ 75, e o juiz principal, R$ 150. Quando são escalados para atuar em outras cidades, a liga local ou a federação também fica responsável pelas despesas com transporte, hospedagem e alimentação.
Thide atuou em sete jogos do campeonato municipal em 2018. Mesmo quando não está escalada, comparece ao Osorão para ajudar Edmundo e os meninos, forma carinhosa como chama os outros juízes. É uma espécie de “Severino Faz Tudo”, inclusive providencia o lanche da arbitragem – refrigerante, salgado, frutas e água à vontade.
A competição será decidida entre Santana e Paysandu, no próximo domingo (20/05). A mesma final de 2017. Thide está escalada como quarta árbitra. O ingresso dos jogos custa R$ 5. Na reta final, o número de pagantes chega a 1.900. Em uma cidade com poucas opções de lazer, a magia do futebol é a salvação.
ADÍLIO, O MENINO JOIA RARA
Um dos maiores ídolos da história do Flamengo, Adílio nasceu e cresceu na Cruzada São Sebastião, no Leblon. Quase vizinha ao campo da Gávea. E foi naquela campo que brotou um dos meias mais sensacionais que vi jogar. A seguir, um pouco da linda história de superação e glórias deste grande craque do passado.
por André Felipe de Lima
Muitos dizem não mais lembrar. Comigo, é diferente. Não esqueço aquela noite de 23 de setembro de 1982. Seria melhor se a recordação fosse a do “primeiro beijo” ou a de “um golaço que fiz no colégio”. Anseios comuns aos meninos na faixa dos treze anos. Mas não era nada disso.
Ouvido colado no rádio, acompanhava a final da Taça Guanabara sob as vozes de Waldir Amaral e Jorge Curi. Era fã deles. Vasco e Flamengo em campo e eu nem aí para a “convocação” da minha avó: “Vá dormir cedo, garoto, que amanhã tem colégio…”.
“Driblei” vovó, passei [de passagem…] pela escova de dentes e sentei-me à mesa da cozinha para acompanhar a radiofônica peleja. Tal e qual a um “Prometeu acorrentado”, lembro minuciosamente de tudo. E sofro.
Como torcedor do Vasco, goste ou não o leitor, imaginava Roberto Dinamite e Geovani paladinos da “forra”. Tínhamos de nos vingar da final do campeonato estadual do ano anterior. Maldito ladrilheiro, que acabou com o meu sonho de ver o campeão do mundo tombar diante da gente… mas essa é uma outra história, para outra crônica.
A verdade é que meus “paladinos” não funcionaram naquela noite “vinte e três” e o nosso menino prodígio, o Geovani, sucumbiu diante de um juiz que estava ali mais para oferecer espetáculo em um telejornal esportivo que para apitar um jogo de futebol. Foi uma presepada só.
O “paladino” do lado de lá e algoz dos vascaínos foi o responsável por uma das primeiras noites de insônia da minha vida de vascaíno e de um péssimo dia de aula na manhã seguinte, em que ouvi piadas de estilos duvidosos e grosseiros. Respondi à “altura” vocabular que o momento exigia. Mas, definitivamente, o “bicho-papão” tinha nome e chama-se Adílio. O mesmo, que em dezembro de 1981, fez o primeiro gol do 2 a 1 que deu, com a irresponsável colaboração do fatídico ladrilheiro, o título carioca ao Flamengo.
Apesar de mais uma desilusão pela perda do título daquela Taça Guanabara, confesso, tornei-me fã do Adílio. Foi craque e protagonista de uma história de vida das mais respeitáveis no universo do futebol.
Mesmo sofrendo pelo Vasco, evidentemente sem nunca imaginar que seria recompensado meses depois com o título de campeão estadual de 1982, reconhecia que ninguém era páreo para o Flamengo. Se Zico era a essência apolínea daquele time, cabia ao Adílio esbanjar o excesso, o êxtase total dionisíaco, da jogada que lembrava Garrincha nos melhores dias. Cabia ao Adílio o aplauso pela arte empregada na jogada. Culminasse ela em gol ou não.
Não me recordo de quem o marcava na final daquela Taça Guanabara. Creio que a “vítima” dele tenha sido um camarada chamado Nei. O “Neguinho bom de bola” — como o chamava o locutor Waldir Amaral — não dava colher de chá para ninguém do Vasco.
O tiro de misericórdia aconteceu com um dos gols mais fantásticos do Maracanã. Tão fantástico, tão dionisíaco, repito, que até mesmo pelo rádio era possível transportar-se ao Maracanã naquela noite para vislumbrar aquela joia rara.
Meu infortúnio começou após um lançamento de Zico, que enxergou Adílio na esquerda, pronto para “devorar” o incauto Nei e o goleiro Mazzaropi, o “rei do golpe de vista”.
Foi um incrível lançamento de uns 50 metros ou mais. Coisa de louco… ou seria de gênio? A segunda opção é a mais plausível.
Adílio dominou a bola pela meia-esquerda, com o lado direito do pé. Sem deixá-la cair passou pelo zagueiro do Vasco e conduziu-a por mais alguns metros até chutá-la contra o arco do goleiro Mazzaropi. Pobre coitado o arqueiro… a bola passou entre suas pernas. Gol do Flamengo. O único do jogo. Foi o gol “iô-iô”, brinquedo que divertia as crianças do início da década de 1980. Eu era exceção. Achava uma chatice aquilo. Fiquei com mais raiva ainda quando associaram o gol do Adílio com o desinteressante brinquedo.
Após o jogo, e com a taça na mão, o herói declarou que, na noite anterior ao clássico contra o Vasco, sonhara com o filho que ainda estava para nascer e com a jogada diante de um goleiro que não conseguira identificar. Azar do Mazzaropi e sorte do alvissareiro Adílio, que fez do gol do título o venturoso “filho” e de mim, um conformado.
Adílio de Oliveira Gonçalves nasceu no dia 15 de maio de 1956, no hospital Miguel Couto, vizinho ao clube do Flamengo. Cresceu na Cruzada de São Sebastião, um conjunto de prédios do Leblon, na zona sul, construído em 1955, por Dom Hélder Câmara, então bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, para abrigar moradores da antiga favela da Praia do Pinto desocupada para a construção de um condomínio hoje conhecido como “Selva de Pedra”.
Embora generoso, o anseio de Dom Hélder por acabar com as favelas do Rio a partir da obra na Cruzada, no coração da elite da zona sul, não vingou.
Ao longo dos anos, os 10 blocos, cada um com sete andares, foi a marca do abandono do poder público, onde uma impiedosa pobreza prevaleceu, mas sem ofuscar a dignidade de muitas famílias que ali se instalaram. Uma delas, a do menino Adílio, outras, dos também ídolos do futebol Rui Rei, da Ponte Preta e do Corinthians, e Ernani, do Vasco.
SHOWS DESDE MENINO
Terceiro de seis irmãos, tinha sete anos quando chamou a atenção pelo domínio de bola que exibia. Vestia a camisa sete do time de pelada Sete de Setembro no dia em que ele e seus companheiros “apanharam” de 5 a 0 de um time rival de peladas. Humberto, um treinador da escolinha do Flamengo que estava por ali bisbilhotando tudo, encantou-se com Adílio. Com Humberto, haveria o primeiro momento dele no Flamengo.
Adílio começou a treinar no clube, mas por pouco tempo. Humberto foi embora para os Estados Unidos e o projeto com os meninos foi encerrado na Gávea.
Mas a bola era sua vocação. Não desistiria tão facilmente.
Se não havia chance no Flamengo, haveria no Royal, time da praia do Leblon. Foi nas areias da zona sul que o garoto bom de bola continuou dando seus shows.
Desde os seis anos, o futuro craque pulava os muros do clube para acompanhar ídolos da década de 1960, como Carlinhos e Nelsinho. A tira–colo o acompanhava o inseparável amigo Júlio César, que anos depois seria o ponta-esquerda do Flamengo campeão brasileiro em 1980. Por conta de seu dribles que muito problema de coluna causou em desavisados laterais direitos, Júlio César ficou conhecido como “Uri Geller”, em referência ao ilusionista que entortava, “com a força da mente”, garfos e colheres na TV brasileira dos anos de 1970.
Antes de ingressar, em 1968, no dente de leite e no futebol de salão do Flamengo, Adílio contentava-se em pegar bolas de tênis. Júlio César teve, porém um ingresso mais rápido nas divisões de base do futebol de salão do Flamengo. Era o camisa 10 do time. Adílio chegou depois, mas com vontade de “roubar” a “dez” do amigo. Até que um dia conseguiu e um indignado Júlio César decidiu chamá-lo para quebrar o pau… fora do clube, evidentemente.
A molecada fez coro e queria ver ambos saírem no braço. Adílio e Júlio César começaram a rodopiar de um lado para o outro como dois pugilistas a se estudarem antes da primeira bordoada a ser desferida.
Nada de pontapés, socos ou tapas. Os valentões foram perdendo o ânimo pelo embate e começaram a chorar, como duas crianças que eram. Apertaram a mão um do outro e, como diz a garotada, “ficaram de bem”. O que ambos não imaginavam é que aquela grande amizade faria muito bem ao time do Flamengo num futuro próximo.
Mas quase que o Flamengo perde Adílio: “Eu tinha dez anos e resolvi tentar a sorte no infanto do Fluminense. Quando vesti aquela camisa tricolor, me olhei no espelho e senti o pior grilo da minha vida. Um traidor. O que o pessoal da Cruzada São Sebastião ia dizer de mim? Treinei chorando e me mandei. Fui para a Gávea, queria ficar lá, mesmo que fosse encostado. O coração falou mais alto. Acho que o sujeito nasce Flamengo. Depois é que degenera. E eu não queria ser um degenerado…”.
O Flamengo deu sorte… e Adílio também. O clube nasceu para ele e ele para o Rubro-negro. Mantido no time dente-de-leite do Flamengo, o Maracanã conheceu um Adílio triunfal entre os meninos de sua idade, quando o time foi campeão de um torneio da categoria e o garoto, o grande herói da conquista. Foi carregado em triunfo na volta olímpica da molecada. Foi a primeira de muitas glórias de Adílio naquela grama histórica.
VIDA DIFÍCIL, MAS FELIZ
A vida, contudo, não era fácil para o futuro ídolo do Flamengo. Com a morte da mãe, dona Alaíde, na metade da década de 1970, Adílio passou a cuidar dos três irmãos mais novos, filhos do segundo casamento de sua mãe. Fazia o papel do pai, que morreu do coração no começo da década de 1960 quando Adílio ainda era criança. Com os carrinhos de feira, servia às madames do Leblon para ajudar no sustento dos irmãos, filhos do padrasto, que trabalhava como condutor de bondes. Adílio trocava fraldas, fazia mamadeira. Era “pai” e “mãe” ainda jovem. Muito jovem.
Quando nasceu, ganhou de presente após o parto um par de chuteiras que só usaria aos sete anos. Essa foi a única lembrança que guardou do pai, o padeiro Sebastião Peixoto, mineiro, de Três Corações — terra onde também nasceu Pelé.
Ao longo de 1976, com a carreira começando no Flamengo, ficou sem ver os três irmãos mais novos: Alexandre, o caçula, Ivã e Sebastião. Todos moravam com Baltasar, padrasto de Adílio, em uma localidade muito pobre de Santo Antônio de Pádua, no Norte fluminense.
Os dramas pessoais nunca o abalaram. Estava sempre bem disposto e aberto para a vida. Esta, como recompensa, preparava-lhe a glória.
Adílio sempre foi considerado — desde as categorias de base, onde o chamavam de Pelezinho da praia do Pinto — como um dos atletas mais simpáticos do clube. Imitava [e cantava!] James Brown para animar as modorrentas concentrações.
Embora jogasse entre os profissionais com a camisa número oito, sempre vestiu a “dez” em todos os times que defendeu no Flamengo, do infantil ao juvenil. Mas conseguiu estrear no profissional com a “dez” porque Zico, o dono do manto sagrado, estava contundido.
Após o jogo, contra o Sport, recebeu elogios pela atuação. Os comentários eram de que um novo Zizinho pintara em Adílio. Na manhã seguinte, o garoto, empolgado com a repercussão, comprou todos os jornais que estampavam sua estreia no Flamengo.
A carreira de Adílio foi evoluindo no compasso de suas jogadas de gênio.
Aprendera [e muito!] com José Nogueira, professor da escolinha do Flamengo. “Era um homem durão, que fazia questão de testar a nossa força de vontade e a nossa disciplina. Se ele marcava um treino para s oito da manhã, a gente tinha de chegar às sete e meia. Eu me lembro que fiquei dois meses indo à escolinha sem participar de nada, até que um dia ele me explicou por que fazia isso: queria ver se eu tinha meso força de vontade. Pouco depois seu Nogueira foi para o Botafogo, mas morreu muito cedo”, contou Adílio, em 1976.
Geraldo, grande meia do Flamengo, morto precocemente em agosto de 1976, também apostava em Adílio. O “Assobiador”, como apelidaram Geraldo, “cansou” de simular contusões para que o rapaz tivesse a chance de mostrar, entre os profissionais, seu incomparável talento com a bola. O próprio Zico já afirmava, em 1979, que a “vida ficava mais mansa” com Adílio em campo porque os zagueiros adversários tinham mais um craque do Flamengo com quem se preocupar. Rubens, o Dr. Rúbis, ídolo do Flamengo nos anos de 1950, sempre disse a Adílio que seu drible curto e suas geniais jogadas na entrada da área renderiam faltas que fariam de Zico um dos maiores cobradores de bola parada da história do futebol brasileiro. Se alguém duvidou da irrefutável tese de Rubens, estrepou-se.
Entre 1977 e outubro de 1981, pouco antes de o Flamengo consagrar-se campeão do mundo, Adílio não só proporcionou a Zico muitos gols, mas também assinalou os seus. No período, o “Galinho” marcou 220, Cláudio Adão, 81, Tita, 64, e Adílio, ora veja, empatou com Nunes, o “artilheiro das decisões”. Ambos com 57 gols. Carpegiani, que era o “dono” da camisa oito, fizera apenas 12 gols. Como questionar a eficiência de Adílio?
Se em campo os bons resultados e os títulos apareciam para o Flamengo, é porque teve Adílio como um dos seus protagonistas. Não demorou para que o craque começasse a pensar no “pé de meia”.
Em 1980, Adílio conseguiu comprar um bom apartamento em Botafogo, na zona sul do Rio. Era o “Beco do Neguim Adílio”, como descrevia uma placa pendurada na parede do novo lar.
Até que Carpegiani se aposentasse, em 1981, Adílio disputou com Andrade a posição de meia-armador durante bastante tempo. Embora atuassem juntos em muitos jogos, somente com o fim da carreira de Carpegiani os dois assumiram suas posições no time titular. Andrade mais recuado e Adílio mais avançado. Os dois formaram com Zico um dos melhores meios-campos da história do futebol brasileiro.
O “PESO” DE CLÁUDIO COUTINHO
(Foto: Marcelo Tabach)
O técnico Claudio Coutinho, do time tricampeão estadual em 1979, definia Adílio como sua “bomba V-2”, uma “arma secreta” capaz de destruir os adversários em uma jogada genial.
Apesar dos elogios rasgados, Coutinho relutava em escalá-lo desde o começo dos jogos. A reserva o incomodava. Adílio só não explodia com o técnico porque, como frisava a todos, a vida lhe ensinou a ser malandro. “Melhor conversa para técnico é você mostrar bola para o público, para a imprensa. Aí, ele é quem fica em situação ruim”.
A indefinição de Coutinho deixou-o inseguro.
Adílio nunca escondera sua mágoa com a incômoda situação. Dizia que Coutinho mantinha Carpegiani para não magoá-lo. Carpegiani sabia que Adílio era uma fera nas quatro linhas. Quando assumiu como treinador do Flamengo, em 1981, preparando o time que se tornaria campeão do mundo, em dezembro, disse: “Ele é mais habilidoso do que o Zico. É um bailarino que sente cada gomo da bola. Claro, tem essas deficiências do chute e do cabeceio, mas isso são pequenos detalhes diante da técnica que destrói o meio-campo dos adversários”.
Na final do campeonato brasileiro de 1980, contra o Atlético, Adílio, que entrara no decorrer da partida no lugar de Carpegiani, mostrou que não poderia sair do time titular. “Naquela decisão Fla e Atlético, eu amargurado no banco e vendo que podia resolver a situação. A torcida começou a gritar meu nome e, aí, me levantei. Cheguei a pensar: ‘Agora vou lá e digo ao Coutinho: vou entrar, você tira quem quiser; já estou indo para o campo’. Algo me segurou, mas eu estava louco pra chegar junto do Capitão [Coutinho]. Com 20 minutos entrei no lugar do Carpegiani. Não disse nada. Ao pisar em campo, Júnior correu em minha direção: ‘Vamos lá, negão, faz este time andar’. Todos gritaram: ‘Vamos lá, negão’. Então, explodiu dentro de mim um gigante. Mas no vestiário, depois da vitória, eu era um homem triste — não jogara desde o início e por isso não me considerava campeão”.
Se Coutinho ainda não decidira escalá-lo como titular, caberia à torcida decidir: “O povo vai me dar a camisa oito”. Batata…
A popularidade era tão grande que até participação em novela da TV Globo Adílio fez. Em julho de 1980, ele, Rondinelli e Andrade, com suas respectivas companheiras, atuaram em um capítulo da novela Marina, que ia ao ar às 18h. Após a cena, gravada na antiga boate Regine’s, no Rio, os três craques do Flamengo foram cercados por caçadores de autógrafos. Ninguém menos que todo [ou quase todo] elenco da novela.
Adílio era uma unanimidade, até mesmo entre cartolas e técnicos, sobretudo Coutinho e Carpegiani, mas as confusas renovações de contrato foram retardando, até 1981, a posse definitiva da camisa oito do Flamengo. “Comigo, a perseguição é diferente. Meu contrato vence em abril [de 1981] e os dirigentes forçam o Modesto Bria a me barrar. Para não se desgastar, o técnico acaba conivente […] Os três meses que antecedem o fim de um contrato são horríveis. Os dirigentes e seus intermediários deixam de atender a gente nos mínimos detalhes, nos quebra-galhos. Dá indignação! Aí, você discute, briga e então vem a multa. É preciso ter muito autocontrole”.
Por muito pouco Adílio não trocou o Flamengo pelo Palmeiras, em maio de 1981.
O então presidente do clube rubro-negro, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, estipulou o passe do jogador em 70 milhões de cruzeiros e a imprensa especulava que até por menos poderia se desfazer de Adílio. Um completo suicídio futebolístico que, para o bem do Flamengo, não foi consumado.
O “Neguinho bom de bola” faz parte de uma geração de jogadores que faziam história nos clubes que os projetavam. Amor e fidelidade à camisa ainda existiam.
Adílio afirma que jogar no Flamengo foi o “maior orgulho” de toda a sua carreira. Com o rubro-negro, escreveu bela trajetória. Foram 24 títulos, entre os quais o Mundial de Clubes, em 1981. A Taça Libertadores da América, no mesmo ano. Uma penca de campeonatos cariocas [1978, 79, especial, 79, 81 e 86] e três campeonatos brasileiros [1980, 82 e 83]. Entrou em campo pelo Flamengo 611 vezes, venceu 471 partidas e empatou 147. Assinalou 128 gols.
Um dos jogos mais importantes da carreira de Adílio foi contra o Cobreloa, do Chile, no dia 20 de novembro de 1981, em Santiago. Era o segundo embate da “melhor de três” que valia a Taça Libertadores da América.
O Flamengo perdeu por 1 a 0 e Adílio saiu de campo com um corte no supercílio, após uma cotovelada intencional de Mário Soto, o mais violento zagueiro do Cobreloa. Do goleiro Raul, ouviu o seguinte: “Garoto, esqueça a pancada eu levou, esqueça tudo. Jogue como se fosse contra o Bangu, contra o Botafogo, contra um adversário do dia-a-dia. Jogue à procura de uma vaga na seleção brasileira.”. O ponta-esquerda Lico, que também apanhou muito naquele jogo contra os chilenos, levantou o astral de Adílio: “Dê um drible desmoralizante em Mário Soto, faça isso por mim.”. Adílio ouviria os conselhos e não decepcionaria.
Tudo se resolveu, portanto, no terceiro e decisivo jogo, realizado no dia 23 de novembro, no estádio Centenário, em Montevidéu. O Flamengo saiu vitorioso, com dois gols de Zico, mas com Adílio entre os grandes heróis daquela inesquecível noite.
DESPREZO DA SELEÇÃO BRASILEIRA
Se a camisa do Flamengo lhe traz boas recordações, a “amarelinha”, nem tanto. Adílio viveu uma época em que sobravam excelentes meios-de-campo no futebol brasileiro. Sócrates e Falcão, por exemplo, atuavam na mesma posição do jogador do Flamengo. Tanto que ambos foram convocados por Telê Santana para a Copa de 1982, na Espanha, e Adílio, em espetacular fase, foi rechaçado.
Melhor jogador do Liverpool derrotado pelo Flamengo na decisão do Mundial Interclubes, em 1981, o apoiador Souness tornou-se fã de Adílio desde aquele inesquecível dia 13 de dezembro. Para ele, nem mesmo Zico o superou naquela final. Souness sabia das coisas. Para ele, o lugar de Adílio era na seleção brasileira. “Como joga esse negrinho, hein? Por que não está na seleção? É infernal. Parece que tem a bola presa com um imã nos pés e, quando a solta, encontra sempre um companheiro desmarcado e próximo de nossa área. Hoje, pelo menos, o achei melhor até que Zico”.
Adílio vestiu a camisa da seleção nacional pela primeira vez em 1979, num amistoso contra a seleção da Bahia. O placar foi 1 a 1. Somente no dia 21 de março de 1982, época em que estava recém-casado com Rosemary, sua primeira esposa, voltaria ao time canarinho.
O jogo foi no Maracanã, contra a então Alemanha Ocidental, que tinha um escrete fenomenal, com Rummenigge e Hans Müller. Os brasileiros derrotaram os alemães com um belo gol de Júnior após receber um passe milimétrico de Adílio. Com atuação irrepreensível, a presença do jogador do Flamengo na lista de convocados para a Copa do Mundo era considerada certa. Inclusive pelo próprio técnico Telê Santana. Até hoje Adílio se recorda com frustração por não ter estado na Espanha.
Tinha de se contentar com a glória clubística. Essa, ninguém sequestraria dele. Basta lembrar da final do campeonato brasileiro de 1983, entre Flamengo e Santos, no Maracanã. Três a zero e o “tri” brasileiro direto para a Gávea.
O terceiro gol daquele jogo, aos 44 minutos do segundo tempo, foi de Adílio, após cruzamento do ponta-direita Robertinho.
Um gol épico. Inesquecível como aquele da Taça Guanabara de 1982, o do “iô-iô”, do qual não gosto de lembrar. Fazer o quê…
Aquele “peixinho” histórico do Adílio sacramentou a conquista e enlouqueceu as arquibancadas. Fotógrafos invadiram o gramado e o centroavante santista, Serginho “Chulapa”, baixou o pau no pessoal da imprensa. De nada adiantou a indignação dos jogadores do Santos. Flamengo campeão após o jogo “da vida” do Adílio, que acabara de ser pai de seu primeiro filho.
O craque chorava copiosamente após o feito irreprimível. “Sabe, irmão, eu costumo ficar na minha. Mas hoje liberei uma energia reprimida há muito, há muito tempo…”. Depois do filho, Adílio, após o gol sensacional do “tri”, lembrou-se dos amigos da Cruzada. “O Brown [apelido de Adílio entre os jogadores do Flamengo] fez uma partida divina”, assim definiu Zico, sobre a importância de Adílio, de forma inquestionável e unânime o melhor em campo, naquele Flamengo 3, Santos 0.
Zico foi embora da Gávea logo após a conquista do “tri” e Adílio herdou a camisa 10 do Flamengo.
É verdade, o manto pesou e, obviamente, Adílio não correspondeu às expectativas substituindo Zico. Ora o escalavam no meio, ora na ponta-esquerda, posição, que, diziam, Adílio detestava, mas até que gostava de atuar pela canhota. Tudo para reverenciar o amigo Júlio César, com quem chegou, em alguns momentos, a também disputar a camisa 11, nas divisões de base. Mas jogar mais avançado, como o Galinho, não era mesmo a sua praia. Sempre gostou de vir de trás, com a bola dominada, armando o jogo para quem estava mais a frente. Jogasse ele em qualquer posição, mostrava-se imprescindível para o time, sobretudo em jogos decisivos. Como na final da Taça Rio de 1983, quando marcou o único gol do jogo que deu o título ao Flamengo diante do Bangu, Repetiria a proeza na final da Taça Rio de 1985, contra o mesmo Bangu. Sua impecável atuação e o seu gol [o único do jogo] garantiram o Flamengo no triangular final do campeonato carioca. Aquela vitória foi mais que profissional. Foi pessoal. Uma justa volta por cima do craque que acabara de se separar de Rosemary e que por várias vezes ficou afastado do time por conta de seguidas contusões.
Aquele 1985 foi duro, mas também mostrou ao próprio Adílio o seu valor. Nunca fora expulso até então e, meses antes do título da Taça Rio, recebera da Caixa Econômica Federal o prêmio de jogador mais disciplinado da Taça de Ouro [o campeonato brasileiro]. “Se eu fosse violento em campo, não sobreviveria. Para quem nasceu onde nasci, seria suicídio não me controlar”.
No ano seguinte, mesmo com o Flamengo campeão carioca, o craque pressentia o fim da carreira. No dia 7 de outubro, sofrera uma entorse no joelho direito, durante um amistoso de “troca de faixas” contra a Internacional de Limeira, campeã paulista daquele ano.
O Flamengo perdeu de 3 a 0 e Adílio seguiu para a sala de cirurgia dias depois, em um hospital do Alabama, no sul dos Estados Unidos, onde foi operado pelo médico americano James Andrews, o mesmo que operara Zico, meses antes da contusão de Adílio. Extraídos os meniscos internos e externos do joelho, o meia só voltaria ao futebol em fevereiro de 1987.
O período fora dos gramados reforçou a vontade de Adílio, que morava na Barra da Tijuca, com o irmão Alexandre, na época com 15 anos, de concluir o curso de Educação Física, que iniciara em 1980, na Faculdade Castelo Branco, em Realengo, no subúrbio carioca.
Era o começo de uma nova fase na vida do jogador, que, naturalmente, começava a planejar seu futuro longe dos gramados.
O assédio e cobranças da torcida foram sempre intensos. Adílio era um dos craques do Flamengo e convivera muito bem com isso ao longo da carreira. No período em que esteve fora do time, mal podia sair à rua. Mas começou a perceber que, se o futebol oferece dinheiro e prestígio, também sequestra a liberdade.
HORA DE PARAR
(Foto: Marcelo Tabach)
Adílio percorreu todos os cantos do mundo, mas o máximo que conheceu foram aeroportos, hotéis e estádios de futebol. Nada mais. Recuperando-se da fatídica contusão no joelho, praticava um despretensioso e inofensivo futevôlei na praia quando um torcedor o repreendeu. “Estou esperando te ver no time e te encontro na praia?!”, esbravejou o torcedor. Adílio apenas pensou: “Vai ver que ele pretendia que eu ficasse em casa o tempo todo, protegido das tentações comuns”.
Por essas e outras se considerava “escravo do futebol”.
Adílio recebeu, em 1987, passe livre por atuar 10 anos no Flamengo, como profissional. Ofereceu-se para continuar na Gávea, mas a diretoria e o técnico Antônio Lopes não o quiseram mais lá. No dia 9 de setembro de 1987, o “Neguinho bom de bola” trocava o Rubro-negro pelo Coritiba. Era hora de reconstruir a vida. Levou para Curitiba a mulher Rosemary, com quem havia se reconciliado, e os filhos Bruna e Júnior.
A passagem pelo “Coxa” não foi das melhores. Mesmo assim não conseguia dar um ponto final na carreira. Deixou o Coritiba em junho de 1988, indo para o Barcelona, de Guayaquil, onde encontrou o treinador Edu — irmão de Zico — e Carlos Henrique, ex-ponta-esquerda do Flamengo. Atuar pelo fraco futebol equatoriano da época não foi saudável para Adílio, que deixou o Barcelona no mesmo ano em que lá chegou. Dali em diante, o declínio.
Tentou voltar ao Flamengo, em novembro de 1988, mas o então técnico Telê Santana, o mesmo que o preteriu para a Copa de 1982, vetou sua contratação. Jogou em times do interior do Brasil, como o Itumbiara de Goiás [1990], e do exterior, como o Alianza de Lima [1991/92], que o contratou após um amistoso do Itumbiara contra o clube peruano, em Lima. Passou também pelo modesto Santos, do Espírito Santo [1991], América, de Três Rios [1992], Avaí [1993], Friburguense [1994], onde conquistou o campeonato carioca da segunda divisão, Bacabal, do Maranhão [1995], Serrano, da Bahia [1995], pelo qual conquistou o campeonato baiano da segunda divisão, Barreira [1995], time do interior do estado do Rio, Barra Mansa, em 1995, e, por fim, Borussia Fuld, da Alemanha [1996].
Terminada a epopéia nos gramados, foi para o banco orientar às novas gerações. Teve uma escolinha de futebol no campo de terra batida localizado na saída do Túnel Rebouças, na Lagoa Rodrigues de Freitas, zona sul do Rio. Finalmente o Flamengo resgatou-o.
Como técnico das divisões de base do clube que o revelou ídolo, sagrou-se bi-campeão juvenil. Trabalhou cerca de cinco anos com Zico, no CFZ, e foi também técnico do Bahain, da Arábia Saudita. Assumiu, em 2005, o comando do time dos profissionais do Flamengo em algumas partidas, dividindo a tarefa com o ex-companheiro de meio-campo, Andrade. Mudou-se para a Ilha do Governador, com Sônia Nicolau, com quem está casado há 14 anos, e o filho Soni Adílio.
A LIÇÃO MATERNA
(Foto: Marcelo Tabach)
A vida de Adílio é exemplo para muitos jovens que almejam a carreira de jogador de futebol. Da mãe, dona Alaíde, que não chegou a ver o sucesso do filho “Pelezinho”, ouvia sempre: “Você tem de fazer as pessoas gritarem seu nome bem alto”. E ele fez.
Seu maior fã era ninguém menos que o maior ídolo da história do Flamengo. “Esse menino aí merece tudo, é um garoto joia. Sofreu muito: perdeu um irmão, a mãe, teve de tomar conta dos irmãos menores. Ele lavava e cozinhava para os garotinhos. É uma flor de rapaz”, disse Zico, em reportagem de Maurício Azêdo, para a revista Placar, em 1976. Na época, Adílio cursava, no Colégio Estadual Manuel Bandeira, onde este autor também estudou, o segundo ano científico, correspondente hoje ao ensino médio.
Adílio ficou longe da bebida, das drogas, das farras e teve o irmão mais velho, Paulo Roberto, de 24 anos, assassinado durante um assalto quando saía de um cinema com a companheira. Paulo trabalhava como trocador de ônibus e era o arrimo da família. Com sua morte, Adílio, ainda menino, assumiu a difícil missão. A mãe, com a morte do primogênito, definhou em depressão, morrendo, ainda jovem, aos 42 anos, após um derrame cerebral.
Tinha tudo para desviar-se do caminho reto, honesto: “Condições para fazer coisas erradas eu sempre tive. Vi muito amigo morrer na minha frente, polícia dando blitz à toa, mas sabia que tentar lutar com as mesmas armas era suicídio”.
Adílio escolheu ser um dos melhores no que fazia: jogar bola, sempre sob a mais rigorosa aura profissional.
Nos tempos de jogador [e como católico fervoroso], raramente recusava um pedido do padre Bruno Trombetta, da Pastoral Penal do Rio de Janeiro, para visitar presidiários e mostrar-lhes, além do belo futebol, ensinamentos de superação e dignidade que construíram um grande ser humano e um profissional exemplar. “Ele [padre Trombetta] ia lá em casa dizer que a minha carreira era importante para a transformação da Gávea”. Sem dúvida foi.
Sua trajetória, da infância ao estrelato no Flamengo, motivou a TV Globo a produzir o episódio “Adílio, o craque da esperança”, para o seriado “Caso Verdade”, que foi ao ar, na mesma semana em que ele marcou o inesquecível gol do “tri” brasileiro do Rubro-negro, entre dois e seis de maio de 1983, às 17h30, com apresentação da atriz Nathalia Timberg e narração do goleiro Raul, além dos depoimentos de companheiros do Flamengo, como Tita, Júnior e Zico, e até uma participação de Pelé, ídolo de Adílio na infância.
A idéia de retratar a vida do craque na televisão partiu do ator Milton Gonçalves. Quem o interpretou foi Romeu Evaristo, na época o “Saci”, do Sítio do Pica-pau Amarelo, outra produção de sucesso da TV Globo, no começo da década de 1980.
Antes mesmo do “Caso Verdade”, por pouco não interpretou Pelé para o documentário “Isto é Pelé”, de 1974, dirigido por Eduardo Escorel e Luiz Carlos Barreto. Queriam levá-lo para filmar em Santos. A mãe não deixou. “Adílio tinha de estudar”, argumentou dona Alaíde. Mas para que ir para tão longe se ali do lado havia o Flamengo? Numa daquelas puladas pelo muro da Gávea, Adílio fugiu do seu Edmundo, o vigia do inconfundível cachimbo. O mesmo Edmundo que lhe aplicou uma carreira naquele dia o abraçou meses depois, quando Adílio, num Fla-Flu dos fraldinhas do futebol de salão, marcou um golaço após driblar todo o time adversário. “Nos abraçamos e ele passou a ser meu eterno amigo na Gávea”.
A história de Adílio não é somente medida pelo que fez dentro das quatro linhas ou por conta de sua difícil juventude. O craque é exemplo em todas as épocas de sua vida. E assim vem sendo.
Em agosto de 2011, com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil [OAB], ele e o amigo Júlio César lideraram o grupo que fundou a Associação de Ex-Atletas de Futebol do Estado do Rio, cuja meta é auxiliar e reintegrar craques do passado no mercado de trabalho. Além do apoio aos ídolos de outrora, Adílio e sua Associação apoiam projetos sociais, sobretudo escolinhas de futebol em comunidades carentes.
Apesar da infância humilde, Adílio aprendeu inestimáveis lições de sua mãe. “Amar o próximo, como a ti mesmo” talvez seja a principal delas.
Apesar de aluno aplicado da Escola Henrique Dodsworth, na Gávea, na qual dona Alaíde era merendeira e ele uma espécie de “bibliotecário” e auxiliar de segurança que ajudava aos colegas a atravessarem a rua em frente ao colégio, Adílio cortou um dobrado por conta de um distúrbio de fala.
Acreditando ser didática com o menino, uma professora impôs alguns castigos a Adílio, que insistia em trocar o “erre” pelo “ele”. Diante do quadro negro, era obrigado a escrever dezenas de vezes a palavra “três” para nunca mais repetir “tlês”. Foi frustrante para os mestres e angustiante para o garoto, que cresceu e superou muito mais que as reprimendas escolares de seus mestres, ou “mestles”, como seguiu pronunciando, sem trauma nem rancor dos professores.
Talvez ali, diante de tanto rigor na educação, aprendera a ser também um bom professor. Estudar o estimulava. Queria ser médico, mas passou para a faculdade de Psicologia, da PUC. Acabou optando pelo curso de Educação Física, o ideal para atender à futuras gerações de jogadores que abrigaria após deixar os gramados.
Com o seu Grupo de Iniciação Esportiva da Cruzada [Gidesc], foi mais que um mestre. Foi quase um pai para muitos meninos também nascidos, como ele, na Cruzada São Sebastião. Nunca abandonou suas raízes. Mesmo nos tempos em que jogava pelo Flamengo, nem mesmo sua atribulada rotina de infindáveis jogos o impedia de ir à Cruzada para ver os meninos com a pelota nos pés. Chegava a filmá-los em ação para melhor estudá-los e indicá-los ao clube do coração. O que um dia foi seu sonho décadas passadas, também despertara aqueles garotos para o futuro.
Até hoje, quando um garoto começa a jogar bola na Cruzada São Sebastião logo lhe falam que ali, naquele terreno, pisou Adílio, um dos mais geniais e distintos jogadores da história do Flamengo. E os mais velhos insistem com a molecada: “Honrem, portanto, o chão do ‘Neguinho bom de bola’”.
CONSISTÊNCIA ZERO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
A “consistência de carreira” foi o critério adotado pelo “professor” Tite para a convocação dos jogadores. Antes escolhia-se pelo futebol… Mas Tite vive buscando esses termos em seu dicionário “Chatês”.
É uma tentativa de dar peso a um grupo sem carisma, sem sal e zero de identificação com grande parte do torcedor. Mas fazer o quê? É a globalização, nesse caso, como tem bola no meio, é a globolização…. Antes a base da seleção era o Botafogo, o Santos, o Cruzeiro. Hoje é o Manchester City, o Shakhtar Donetsk.
Do Brasil, Cássio e Fágner, claro do Corinthians, para agradar a massa. “Mas Tite, o Grêmio está atropelando, não vai levar nenhum de lá?”, deve ter alertado algum assessor. E entre o craque Luan e Geromel, mais um zagueiro comum, é óbvio que ele optou por um defensor.
Sem qualquer saudosismo, mas essa seleção e a do 10×1 são as piores da nossa história em Copas do Mundo. Qualquer uma das outras, mesmo as que não conquistaram o caneco, deixariam esses convocados na roda.
“Mas, Caju, você não gosta de ninguém?”. Já disse mil vezes e repito: Marcelo, Philippe Coutinho, Neymar e William são craques! Mas o conjunto da obra é ruim, bem ruim. E se é o que temos para hoje que repensem o nosso futebol e não venham com essa balela de “consistência de carreira”.
Resumindo, se essa seleção fosse um filme e eu um crítico de cinema, o meu bonequinho seria aquele indo embora da sala. E no meu caso xingando uns bons palavrões!
O QUE ESPERAR DA COPA DO MUNDO
por Mateus Ribeiro
Falta pouco para a Copa do Mundo. Torcedores, jornalistas e profissionais da área começam a fazer projeções sobre o que pode acontecer no campeonato de futebol mais importante do planeta.
Como todo mundo tem um pouco de técnico e de entendido, resolvi dar meus pitacos também, e fazer um resumo geral do que pode acontecer na Copa do Mundo.
Sem mais conversas, vamos lá:
– Favoritos
Não tem muita novidade por aqui. Todos nós sabemos que Brasil e Alemanha SEMPRE entram como candidatos diretos ao título.
A favor da Alemanha, conta o fato de ter mantido um trabalho sólido, que já vem de muito tempo. O título mundial foi a cereja de um bolo que vem sendo preparado desde a década passada. Além disso tudo, a renovação tem se tornado uma constante, e muitos jogadores que eram promessas em 2014 são realidade em 2018, e poderão ajudar muito a atual campeã mundial. Isso pra não falar no peso da camisa, que apesar de alguns entendidos da nova geração tentarem desmerecer, ainda decide jogos e campeonatos.
Ao lado da Alemanha, os comandados de Tite. O treinador comandou um trabalho fantástico de reconstrução, e conta com ótimos nomes para tentar o sexto título mundial. Um fator que pode ajudar (e muito) a Seleção Canarinho é o fato de que Neymar (um dos poucos jogadores capazes de mudar uma partida em poucos toques) tem companhias melhores que Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo.
Resta saber em quais condições o astro brasileiro chegará para disputar a Copa. Jogam contra o Brasil o costumeiro oba oba criado por parte da imprensa, que foi reforçado pela vitória diante da Alemanha.
Com um pouco menos de peso e força, chegam Espanha e França.
A Espanha aproveitará a última cartada dos remanescentes de 2010. Contam com o reforço de jovens talentos que surgiram nos últimos anos, além de um já consolidado sistema de jogo.
Já a França tem ótimos nomes, porém fracassou em seu maior teste, a final da Eurocopa.
Dito isso, temos uma Seleção que apesar da péssima fase, nunca pode ser subestimada. Sim, estou falando da Argentina. Mesmo om uma defesa inconstante, e com alguns jogadores discutíveis, não se pode esquecer que essa é a última Copa de Messi, e o jogador do Barcelona é um diferencial gigante. Ainda não conseguiu decidir um torneio para sua Seleção, mas quem sabe na última hora, o demônio adormecido não acorde, não é?
– Podem fazer alguma fumaça
São poucas as Seleções que podem pregar alguma peça, mas o Uruguai sempre merece respeito, e encabeça a lista. Além de ter caído em um grupo fácil, conta com uma seleção entrosada, e tem o talento de Suárez, que com a cabeça no lugar, deixou de ser um perigo para os uruguaios, e se tornou um terror para os adversários. Com uma pitada de sorte, pode beliscar uma vaga nas semifinais.
A tão falada Bélgica vem mais forte e mais madura do que em 2014. Também está em um grupo fácil, e se não fizer nada fora do script, passa fácil para as oitavas. Daí em diante, a coisa fica um pouco mais pesada. Mesmo assim, se o conjunto funcionar, pode chegar nas semifinais com um pouco mais de entrega e esforço.
A Inglaterra se renovou, e tenta apagar as duas últimas campanhas. O talento de Harry Kane deve ajudar muito, mas a falta de um goleiro confiável (um problema que parece não ter solução) e o time muito jovem podem atrapalhar. Nem de longe é candidata ao título, mas os ingleses devem fazer uma campanha mais digna do que a de 2014, com toda certeza.
Portugal é o famoso exército de um homem só. Como está em um grupo tecnicamente fraco, deve passar em segundo lugar, e o possível confronto das oitavas também está longe de ser uma pedreira.
Os gajos chegam credenciados também pelo título europeu, e se Cristiano Ronaldo estiver iluminado, podem sonhar até mesmo com uma vaga nas semifinais. Porém, nada além disso.
– Possíveis zebras
A zebra costuma passear na Copa do Mundo. Que o digam Turquia, Costa Rica e Croácia, para falar apenas dos últimos 20 anos. Em 2018, apesar da dificuldade, as surpresas podem aparecer, para o bem e para o mal.
Se existe um país que confia cegamente todas as suas esperanças em um só jogador, esse país é o Egito. Os faraós contam com Salah, que está em um momento formidável. Se conseguir passar pelo seu grupo, pode surpreender nas oitavas. E chegar até as quartas será um feito e tanto. Porém, se fracassar na primeira fase não será nenhuma coisa de outro mundo.
A Colômbia pode fazer o mesmo bom trabalho de 2014, quando vendeu caro a eliminação nas quartas de final.
Do mesmo grupo da Colômbia, temos a Polônia, que pode chegar bem nas oitavas, se Lewandowski estiver inspirado.
– Sacos de pancada
Apesar de todo o carinho de parte da imprensa, a estreante Islândia tem tudo para figurar ao lado da também estreante Panamá no hall dos sacos de pancada. Tunísia, Irã, Marrocos, Rússia e Arábia Saudita são outras fortes candidatas ao duvidoso prêmio de Seleção lanterna da Copa.
No restante, imagino que nada de especial vá aontecer.
Porém, o tal do futebol ainda é uma caixinha de surpresas,e tudo que foi escrito aqui pode me enganar. Portanto, tire seu print aqui e me cobre depois.
E para você, quais os favoritos, azarões e saco de porrada?
Até a próxima!
POUPAR O GOLEIRO?
por Zé Roberto Padilha
Aprendi, no futebol que, goleiro, mais do que todos os jogadores “de linha”, precisa jogar para aprimorar, além da forma física, os reflexos. Que são muitos. É o único em campo a ser permitido usar, além dos pés, as mãos. Ter o tempo de bola afiado nas duzentas e vinte alçadas sobre a área em faltas próximas e escanteios. Talvez por isto, Rogério Ceni, no seu auge e do seu time, o São Paulo, jamais deu brecha no gol, estabelecendo todos os recordes de jogos disputados. Alberto Valentim foi o último a tentar um revezamento entre Jefferson e Gatito Fernandéz. Os dois não conseguiam manter o ritmo. E o tempo da bola. E desistiu da ideia.
O Flamengo perdeu para a Chapecoense porque poupou seu goleiro titular, Diego Alves, quando este começava a incomodar a relação do Tite. Vai pegar muito mal levar tantos atletas de fora e apenas o Fágner, talvez outro meia, como o Diego, ou o Luan, que jogam perto e estão disputando o Campeonato Brasileiro.
Diego Alves está no auge e já merecia ser convocado. E foi, ontem, inexplicavelmente poupado dando lugar a César, sem ritmo, que tentou evitar o gol da vitória com uma saída não de goleiro do Flamengo, mas “a lá Aterro do Flamengo”.
Fica a lição para Barbieri, este jovem e corajoso treinador, que teve a ousadia de realizar substituições audaciosas jogando fora de casa, quando muitos administrariam o empate, mas que acabou entregando a chave do cofre nas mãos inseguras de um goleiro interino. E interino, ele sabe, o mundo do futebol está cansado de saber, dura só até quando as derrotas se tornarem efetivas.