Escolha uma Página

Canto do Urubu

CANTO DO URUBU

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Planel | foto: Gilvan de Souza

Futebol e música sempre andaram lado a lado e, por isso, não foram poucas as vezes que um músico declarou sua paixão pela bola – ou por um time específico – com alguma composição. Se o Flamengo é um dos clubes mais homenageados pelos músicos, com quase mil canções, os compositores Altay Veloso e Paulo César Feital trataram de abrilhantar ainda mais essa lista, com o lançamento do CD “Canto do Urubu”, no espaço Blue Note, no Lagoon.

Tudo começou quando Altay Veloso apresentou suas canções inéditas ao nosso capitão Sergio Pugliese, que, apesar de ser vascaíno, se encantou com o que tinha escutado e ligou imediatamente para Sandro Rilho, um dos líderes da Fla Nação e grande responsável pelos grandes eventos do clube recentemente.

– A gente faz um trabalho de resgate das tradições do Flamengo e eu fiquei extasiado com aquele material! – disse Sandro.

Para eternizar as belas canções do “Canto do Urubu”, os intérpretes foram escolhidos a dedo e emocionaram os presentes: Alcione, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Leny Andrade, Neguinho da Beija-Flor, Sandra de Sá, Dudu Nobre, Anderson do Molejo, Bebeto, Jorge Vercillo, Xande de Pilares e Zezé Motta.

O evento também contou com a presença de grandes ídolos da Gávea, como Adílio, Júlio César Uri Geller e Nélio, torcedores ilustres e até Eduardo Bandeira de Mello. O atual presidente, aliás, fez questão de enaltecer o projeto:

– Um trabalho magnífico! Fiquei fascinado com as 11 músicas e tenho certeza que isso vai ser um presente para a Nação!

Antes do evento começar, ainda conseguimos reunir os donos da festa, que não escondiam a felicidade e fizeram questão de agradecer o apoio do Museu da Pelada:

– Fiquei muito feliz com o resultado e sou muito grato a você (Sergio), que foi o primeiro a acreditar nesse projeto. O Museu da Pelada foi fantástico quando chegou e me deu um abraço, afetuoso e gênero! – disse Altay.

– Compor é uma alegria para a gente. Nossa alma é fraterna e irmã. O Altay é mais irmão do que um irmão meu! – completou Feital.

Só nos resta parabenizar essa dupla por entrar na galeria de lendas que emocionaram a nação!

 

 

ANÁLISE DA FRANÇA

por Mateus Ribeiro


A expectativa é grande. Bons nomes não faltam para a França. Alguns são revelações, outros já são realidade. Porém, em 2016, muito se esperava na Eurocopa, e todos se lembram do que aconteceu na final: derrota na prorrogação, dentro de casa, para Portugal, que jogou praticamente a partida toda sem Cristiano Ronaldo. E que me desculpem os jogadores portugueses, mas se a França foi capaz de perder para a Seleção lusitana sem Cristiano Ronaldo, pode se esperar tudo dos Azuis. Inclusive um papelão.

O grupo não é lá dos mais difíceis, o que pode ajudar bastante. É bem verdade que o time tem bons valores, mas a impressão que se tem é que com um pouco mais de “sangue no olho”, a França poderá ir longe.

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS


O grupo era difícil, e contava com Holanda e Suécia, lutando por uma vaga direta, e outra na repescagem. A França passou em primeiro lugar, mas para provar que é um time inconstante, goleou a Holanda , mas conseguiu empatar com Belarus e Luxemburgo (com o último, dentro de casa). Foram sete vitorias, dois empates e uma derrota. Boa campanha.

TIME

O time tem boas peças em todos os setores. Lloris é um bom goleiro, e invariavelmente, pratica alguns milagres. A defesa conta com jogadores que são titulares no Real Madrid e no Barcelona. O meio tem o incansável Kanté, que dentre outras coisas, tem a missão de correr por Pogba. Pogba, aliás, que é um dos jogadores mais supervalorizados do planeta, mas que tem seus bons momentos. A questão é saber se ele vai querer jogar bola pro time, ou se vai querer entrar em campo pra desfilar seu novo corte de cabelo.


Os principais jogadores estão no ataque. Griezmann e Mbappé são dois dos melhores atacantes do mundo nos últimos anos. Além de muita velocidade e raciocínio rápido, possuem um arremate de muita qualidade. Giroud, apesar de bastante contestado, faz lá seus gols. Quem sabe em algum momento importante, a bola não bate na sua canela e decide uma partida, né?

Pelo fato do time ter muita qualidade técnica, podemos esperar um jogo de muito toque de bola, e muita velocidade, já que os citados atacantes estão com todo o gás.

Segue a lista dos convocados:

Goleiros: Aréola (Paris Saint-Germain), Lloris (Tottenham) e Mandanda (Olympique de Marselha)

Defensores: Lucas Hernández (Atlético de Madrid), Kimpembe (Paris Saint-Germain), Mendy (Manchester City), Pavard (Stuttgart), Rami (Olympique de Marselha), Sidibé (Monaco), Umtiti (Barcelona) e Varane (Real Madrid)

Meio-campistas: Kanté (Chelsea), Matuidi (Juventus), N’Zonzi (Sevilla), Pogba (Manchester United) e Tolisso (Bayern de Munique).

Atacantes: Dembélé (Barcelona), Fekir (Lyon), Giroud (Chelsea), Griezmann (Atlético de Madrid), Lemar (Monaco), Mbappé (Paris Saint-Germain) e Thauvin (Olympique de Marselha).

Como a sina da França é ter treinadores polêmicos, algumas ausências na convocação fizeram chover críticas em cima de Deschamps. O nome mais comentado foi o do meio campista Rabiot, do PSG. Além dele, Benzema também não vai. Mas o caso do atacante vai além das questões técnicas, e parece longe de ter um final feliz.

De qualquer forma, a França corre por fora, e pode sonhar com algo além das quartas de final (onde parou na última Copa). Resta saber se o time vai negar fogo na hora H, como fez na Eurocopa 2016.

BIOGRAFIA DAS COPAS


Os fanáticos por futebol sabem que a vida é feita de ciclos que duram quatro anos. Eles são capazes de fazer referências a períodos de suas vidas, apenas com base em Copas do Mundo. O espetáculo esportivo faz parte da memória afetiva de todo brasileiro, até daquele que não acompanha futebol. Todos temos alguma lembrança de Copa, e não somente das cinco vencidas pelo Brasil (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002)

Em “Biografia das Copas”, da Editora Onze Cultural, o jornalista Thiago Uberreich, apresentador do Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan, promete resgatar passagens históricas, oferecendo ao leitor um cenário de cada mundial, de 1930 a 2014.

– A intenção é que o leitor faça uma viagem no tempo. Normalmente, lemos biografias de pessoas. Mas é perfeitamente possível biografar eventos que mexem conosco, como a Copa do Mundo, o torneio esportivo mais assistido do planeta – a final da última Copa foi vista por 1 bilhão de pessoas.

Especializada em títulos de futebol, a Onze Cultural traz um material diferenciado.

– O livro está recheado de fotos e exibe tabelas com os resultados das Copas. Visualmente, está maravilhoso. É um prato cheio para quem ama futebol e para quem quer relembrar passagens dos mundiais: os títulos do Brasil, os principais jogadores e as seleções que marcaram época! –  afirma o autor.


Destinada a todos os públicos, a biografia tem 20 capítulos, um por Copa, divididos de 1930 até 2014. Além da história de cada mundial, seu contexto político e histórico, expõe fichas dos jogos do Brasil, um resumo das partidas das demais seleções e, a partir de 1970, o início da transmissão ao vivo pela TV.

– Realizei uma ampla pesquisa sobre relatos das partidas feitos pelos jornais e as transmissões dos mundiais pelo rádio e pela TV, sobre como funcionou o pool das transmissões em 1970, além de colocar a grade da televisão antes de cada jogo do Brasil. Assim, quem viveu e quem tem curiosidade poderá se recordar de quais emissoras transmitiram os jogos, os horários… A história da Copa do Mundo está intimamente atrelada à evolução das comunicações. – explica o jornalista, que acumula, no rádio, mais de 20 anos de experiência.

Aficionado por Copas

– Na época da Copa de 1990, ainda com 13 anos, comecei a colecionar material relativo aos mundiais. Ganhei dos meus pais o primeiro livro que li sobre o assunto. Era uma obra pequena, escrita pela jornalista Solange Bibas:

– ‘As Copas que ninguém viu’ contava os bastidores dos mundiais de 1930 a 1978. Apesar de defasado, ainda era vendido em livrarias, às vésperas da Copa de 1990. A partir daí, nunca mais parei de colecionar material sobre futebol. – conta Uberreich.

O jornalista é, ainda, um inveterado colecionador de imagens de futebol:

– Tenho guardados todos os jogos na íntegra de 1966 (Inglaterra) até hoje. Antes daquele mundial, eram raras imagens de jogos completos, mas os poucos que existem tenho em meu acervo. O material foi fundamental para escrever “Biografia das Copas”.

Prefácio de Mauro Beting

“Biografia das Copas” tem prefácio do amigo e colega de Rádio Jovem Pan Mauro Beting:

“Thiago é um Cafu que faz tudo e muito bem. Parece estar em todos os lugares. Ou sabe onde procurar. Traz não só uma sinopse bem observada e condensada de cada partida como a cobertura da mídia brasileira em cada torneio. Resgata manchetes e consegue nos projetar naqueles meses que ficam por toda a vida com a gente”.


Livro: “Biografia das Copas”

Autor: Thiago Uberreich

Editora: Onze Cultural

Lançamento: 12 de junho de 2018

Horário: 18h

Local: Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Endereço: Avenida Paulista, 2.073

Contato do autor: thiago.uberreich@jovempan.com.br

A COPA VIRTUAL DE TODOS OS TEMPOS

por Émerson Gáspari


Eu sempre sonhei com isso! E hoje, após anos alimentando meu computador com dados de jogadores, seleções e partidas ao longo da história (meticulosamente analisados), estou prestes a concretizar o plano de conceber a maior Copa que poderia existir: a Copa do Mundo “virtual” de todos os tempos.

Meu programa especial instalado não só cruza todos os dados, como vai além: aproxima fisicamente os jogadores do passado com os do presente, nivela a marcação, cria condições idênticas de regras, campo e material esportivo, adequa esquemas táticos, escala os melhores de cada posição, analisa retrospectos, extingue “arbitragem eletrônica” e adiciona o coeficiente “sorte” (pois o futebol é um pouco isso também, daí ser imprevisível e apaixonante). Algumas seleções e jogadores que me agradam ficam de fora (como a Croácia de Suker), mas quem manda é o programa e não cabe a mim, discutir com uma máquina.

Tudo pronto, eu me sento diante da tela do computador para assistir à “mãe” de todas as Copas, em imagens coloridas, de alta-definição. Aperto o “ENTER”, dando assim, o “pontapé inicial” ao torneio. Caberá aos ingleses – inventores do futebol – a primazia de sediarem o Mundial, que reúne as 32 seleções escolhidas por critérios técnicos, históricos e até geográficos, fato que extinguiu a necessidade de Eliminatórias.


A curiosidade fica por conta da presença da seleção da Coréia (aqui unificada), na disputa. Fato que emociona a todos, pela força que o esporte tem em promover a paz.

Rolam os jogos da primeira fase e após as três rodadas iniciais, surgem as 16 primeiras seleções eliminadas. Algumas delas, já esperadas: a Arábia Saudita de Abdullah, a Austrália de Harry Kewell, o Japão de Nakata e a própria Coréia de Park Ji-sung.

As demais são: a Escócia de Baxter, a Áustria de Sindelar, a Romênia de Haggi, o Chile de Figueroa, a Dinamarca de Laudrup, os EUA de Lalas, o Peru de Cubillas, a Colômbia de Valderrama e Higuita, a Suécia de Liedholm, a Bélgica de Preud’ homme, a Bulgária de Stoichkov e o Paraguai de Romerito, Gamarra e Chilavert, que de falta, marca o primeiro gol de um goleiro em Copas do Mundo.


Todos estes craques e selecionados retornam para seus países de origem. O torneio, reduzido agora à metade de seus participantes, entra naquela etapa mais decisiva: as “oitavas-de-final”.

Com ela, começam a cair esquadrões mais tradicionais do futebol mundial, como a República Tcheca de Planicka e Masopust, a Rússia de Yashin, Camarões de N’Kono e Roger Milla, México de Carbajal e Hugo Sanchez, Polônia de Lato e Boniek, Portugal de Eusébio e Cristiano Ronaldo e – para tristeza dos românticos que preferem o futebol bem jogado, como eu – a Hungria de Czibor, Kocsis e Puskas, além da Holanda de Cruyff, Neeskens, Van Basten, Gullit e Robin, todos jogadores maravilhosos, que se despedem da maior de todas as Copas.

Copa essa, que agora reúne – coincidentemente – as oito seleções que já tiveram a glória maior de levantar a Taça do Mundo: Argentina, Brasil, Uruguai, Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália. E vem as “quartas-de-final”…


Numa partida medonha, travada, repleta de faltas e catimba, os portenhos despacham os uruguaios pela contagem mínima, em incrível arrancada de Messi. É o fim da linha para “Manco” Castro, Andrade, Nasazzi, Obdúlio Varela, Pedro Rocha e Diego Forlan. Mesmo placar registrado no clássico europeu, no qual a retrancada Itália, em contragolpe de Roberto Baggio, vence a “Fúria” espanhola de Zamora, Xavi e Iniesta.

Para a tristeza da rainha e com um gol duvidoso no final (quando a bola acertou o travessão, bateu em cima da linha e não entrou, mas o juiz considerou como um tento) a Alemanha elimina a Inglaterra por 3×2. Triste fim para Banks, Stanley Mathews, Bobby Moore, Bobby Charlton, David Beckham e até mesmo… vejam só: George Best! (aqui, “naturalizado” inglês, por uma manobra do programa do computador). 

No jogo menos faltoso e mais bonito de toda a competição, repleto de futebol-arte em campo, o Brasil ganha por 2×1 da França, gols de Zico (cobrando pênalti) e Ronaldo Fenômeno. Mas Matller, Just Fontaine (que marcou o gol francês), Michel Platini, Tigana, Giresse, Rocheteau, Barthez e Henry, saem de cabeça erguida, ovacionados. Até mesmo Zinedine Zidane (expulso no último minuto por uma cabeçada em Luís Pereira quando a França buscava o empate) é aplaudido de pé, ao deixar o gramado.


Restam agora, no Mundial, as quatro seleções que possuem mais títulos em Copas. As semifinais apresentam dois duelos tradicionalíssimos: Argentina x Alemanha e Itália x Brasil. Muita emoção pela frente!

Apesar de toda a rigidez na marcação e aplicação tática extrema, os germânicos não conseguem segurar o ímpeto argentino, sucumbindo por 2×0, gols de Di Stéfano e Mário Kempes. Torcedores brasileiros lamentam não enfrentarem os alemães nessa Copa, com um selecionado que verdadeiramente os representem. Mas…

Uma verdadeira “batalha” é travada na outra semifinal.


A Itália sai na frente, com Meazza. O Brasil empata: gol de Zizinho! A “Azurra” novamente na frente, através de Bruno Conti. Outra vez os “canarinhos” empatam, agora com Pelé, de cabeça. E viram o jogo, num lindo chute de Falcão. A dois minutos do fim, Gylmar defende uma cabeçada mortal de Paolo Rossi em cima da linha e classifica o Brasil. Telê Santana vai às lagrimas e abraça forte o auxiliar-técnico Zagallo. O primeiro, comovido ao ver todos os demônios de “Sarriá” finalmente exorcizados. O segundo, gritando a plenos pulmões para quem quisesse ouvir: “- Tiveram que nos engolir!”.

Na véspera da finalíssima, Itália e Alemanha decidem o terceiro lugar. Arnaldo Cézar Coelho é o árbitro. Uma partida que se transforma em “batalha épica”: ninguém quer perder! Noventa minutos de muito equilíbrio. Matthews, de pênalti, abre a contagem, mas a Itália empata, com Schilati. A igualdade no marcador leva o jogo para a prorrogação. A Itália se atira ao ataque e abre 3×1, com gols de Baggio (de pênalti!) e Paolo Rossi. Pressão total alemã: o zagueiro Cannavaro e o goleiro Zoff se transformam nos melhores da partida, pelo lado italiano. Apesar disso, os alemães, liderados por Kross e Franz Beckenbaur (machucado e jogando com a clavícula enfaixada) empreendem reação formidável e nos quinze minutos finais viram o duelo para 4×3, com gols de Fritz Walter, Gerd Muller e Klose (em brilhante jogada de Rummenigge).

Espetacular!

Chega enfim, o grande dia, Brasil e Argentina – maior rivalidade do planeta – reunidos numa final até então inédita, no coração do Velho Continente. Estádio de Wembley tingido de verde-amarelo. Todos os ingleses torcendo pelos brasileiros (ou contra os argentinos?). Mas a seleção tem problemas: Djalma Santos, que atuou em todos os jogos está contundido e dá lugar na final, a Carlos Alberto Torres. O goleiro reserva, Leão e o técnico Telê se estranham e Taffarel o substitui, no banco. Não é só: a escalação brasileira anunciada no estádio, não inclui Ronaldo: em seu lugar, na última hora, misteriosamente, aparece o nome de Romário. A imprensa fica em polvorosa!

Os times entram em campo com as seguintes formações: a Argentina;Carrizo, Zanetti, Perfumo, Passarella e Marzolini; Sastre, Moreno e Maradona; Messi, Di Stéfano e Mário Kempes. Para o banco da “Albiceleste”, o treinador César Luiz Menotti relaciona Fillol, Ruggeri, Nestor Rossi, Labruna, Sívori, Batistuta e Pedernera.

Já o Brasil do técnico Telê Santana está escalado com Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Pelé e Rivellino; Garrincha, Romário e Neymar. Na suplência ficam Taffarel, Zito, Didi, Zizinho, Zico, Ronaldinho Gaúcho e Leônidas da Silva. A arbitragem fica por conta do italiano PierluigiCollina.

Na hora do chá inglês, pontualmente às cinco da tarde, ele trila seu apito e a batalha final se inicia. Sete títulos mundiais em campo. A torcida vai à loucura.


No gramado, a temperatura sobe logo aos três minutos: Zanetti toma uma “lambreta” de Neymar e “levanta” o menino, mas Rivellino dá sequência ao lance antes que o juiz apite a falta, aplica um “elástico” em Sastre e atira um torpedo de fora da área. A bola explode na trave! Um minuto depois, é a vez platina: Di Stéfano tabela com Maradona, que lança Messi. Ele invade a área e tenta “dar uma cavadinha” pra cima de Gylmar, mas o goleiro manda pra escanteio. A partida “pega fogo”.

Jogadas maravilhosas se sucedem: numa delas, Garrincha entorta Marzolini e cruza para Pelé, que cabeceia com força para baixo, obrigando Carrizo a saltar ao chão, espalmar e ficar rezando, enquanto a bola caprichosamente encobre o travessão.


Só que a os portenhos saem na frente: José Manuel Moreno inverte uma bola da direita pra esquerda; Kempes recebe e centra na área, onde Gylmar divide pelo alto com Maradona. É quando “El Pibe de Oro” soca a bola para as redes, sem que Collina se aperceba: 1×0 para os “hermanos”, cuja pequena torcida vibra muito. 

Na discussão, no meio do bolo de jogadores, Neymar infelizmente é agredido com uma joelhada nas costas e deixa o gramado para não voltar. Em seu lugar, surge Didi. Telê pede para que Riva ocupe a ponta esquerda. Já passa da metade do primeiro tempo quando o Brasil sai em contra-ataque e Nilton Santos faz um passe rasteiro na diagonal, para o “Rei”. Carrizo deixa a área para interceptar e é fintado num drible de corpo desconcertante de Pelé, que corre pelo outro lado e quase caindo, bate cruzado. Perfumo ainda se joga pra tentar salvar, mas a bola passa quicando em câmera lenta, da direita pra esquerda, toca no pé da trave e entra: tudo igual, 1×1.

Só que a Argentina é um time enjoado, que nos conhece muito bem e se aproveita do fato da equipe se desconcentrar na comemoração do gol, para desempatar: A “Flecha Loira” Di Stéfano recebe de Maradona e bate firme, apesar da marcação de Domingos da Guia: 2×1 para eles, que passam então a “fazer cera”. O Brasil tenta de novo, numa linda escapada de Garrincha pela direita, “deitando” dois “Joões” pelo caminho e cruzando rasteiro pra Romário, que se estica todo e toca de biquinho, para fora.


Só que o “Baixinho” põe a mão na virilha e sai para o intervalo mancando, deixando uma interrogação na cabeça da torcida e do treinador.

Quinze minutos depois, é Leônidas da Silva quem sobe do túnel, com a equipe, para o segundo tempo. Pela Argentina também há substituições: sai Moreno, para a entrada de Nestor Rossi, numa clara tentativa de se fechar o meio-campo para segurar o placar. O duelo recomeça.

Agora o Brasil martela insistentemente. Primeiro Leônidas é bloqueado ao tentar um chute à queima-roupa. Depois, Falcão lança para Pelé que gira em cima de Nestor e fuzila para o gol. A bola passa por Carrizo e Passarella salva em cima da linha. Mas o “bombardeio” não cessa. Nem quando o time desce todo ao ataque e é surpreendido porMessi, que apanha um lançamento longo de Maradona, entra na área e bate cruzado na saída de Gylmar, fazendo Argentina 3×1. Vem o desespero no coração do torcedor brasileiro.

Mas quem tem Didi, não tem medo: ele vai até o gol, apanha a bola e caminha com toda a tranquilidade do mundo, falando com os companheiros, até colocá-la no meio-campo.


A seleção não esmorece, persiste no ataque. Em jogada de Falcão, Garrincha acaba sendo derrubado sem piedade, ainda na meia-direita. A bola é ajeitada por Didi, pouco mais de trinta metros distante do gol. Os argentinos se espremem numa barreira de seis gringos. O chute sai seco, firme: passa ao lado da cabeça do primeiro homem, parece que vai em direção à Carrizo, porém, subitamente muda sua trajetória e decai, entrando rente à trave oposta. É a “Folha-Seca” de Didi, diminuindo o prejuízo: 2×3.

Menotti altera o esquema tático: Kempes e Maradona recuam para ajudar a fechar a meia cancha, ao lado de Nestor Rossi e Sastre. Na frente, ficam apenas Messi e Di Stéfano, num 4-4-2, aceitando a pressão brasileira.

E Carrizo vai mostrando que não foi eleito por acaso, o melhor goleiro sul-americano do século XX. O tempo vai passando, mas o Brasil não se desespera: confia que o gol sairá, ainda mais depois de uma descida de Carlos Alberto, que ludibriou a zaga e obrigou o arqueiro a novo milagre. É daí que o “Enciclopédia” Nilton Santos resolve abandonar a marcação e descer para o ataque também, cruzando o meio-campo e tabelando com Pelé. Ele grita pedindo a bola de volta e a recebe. Já próximo do bico esquerdo da área, centra alto, por sobre a cabeça de Passarella, surpreendendo-o. Do outro lado, Leônidas, o “Diamante Negro” alcança a bola numa bicicleta extraordinária e manda na gaveta, empatando em 3×3 a seis minutos do fim.


O gol alivia o time brasileiro, enquanto a Argentina pouco se arrisca e o jogo vai para uma dramática prorrogação. A qual não tem mudanças no marcador. Na maior chance nossa; Rivellino bate uma falta de três dedos e a bomba passa perto demais. Quanto aos argentinos, a redonda é alçada na área por Maradona e Di Stéfano divide com Gylmar, pelo alto. Na queda, o goleiro leva a pior e acaba dando lugar a Taffarel, já na “última volta dos ponteiros”. Um minuto depois, Collina apita o fim de jogo. Vamos ao velho teste para cardíacos: os malditos pênaltis. Quanta angústia, meu Deus!

Kempes bate primeiro e acerta o travessão. Só que Rivellino (que nunca gostou de cobrar penais) dá uma paulada no meio do gol e Carrizo rebate, no susto. Agora é Messi quem cobra e abre a contagem. Didi deixa tudo igual: 1×1.  Di Stéfano confere bonito, de letra: 2×1 pra eles. Ficamos com os nervos à flor da pele, quando Garrincha, calção caindo, alheio à atmosfera decisiva, cobra com certa displicência e empata de novo. O capitão Passarella, ao contrário, bate com muita seriedade e põe os portenhos na frente, outra vez. Mas Leônidas iguala, com um chute preciso, no ângulo: 3×3 e falta uma cobrança para cada lado.


Diego Armando Maradona passa a mão na bola e olha para o banco, onde Menotti nervosamente mastiga seu centésimo cigarro. Corre, dá uma meia-trava, colocando de canhota no cantinho e… Taffareeelll! Vai que é sua, Taffarel!! O estádio se inflama.

Édson Arantes do Nascimento, com todo o peso da responsabilidade do universo em seus ombros, põe na cal e olha para o banco. Telê masca seu chiclete, enquanto Zagallo berra de lá: “- Negão, foram 12 gols até agora… esse é o de número 13”.

O “Rei” decide então, cobrar igual ao seu milésimo gol: parte para a pelota, dá uma paradinha e toca de direita, sutil, no canto. Carrizo se estica todo, resvalando os dedos na bola e… goool do Brasil, campeão de todos os tempos!!!

O estádio parece explodir; tamanha a vibração: os ingleses, feito os mexicanos em 70, deixam a frieza habitual de lado e liderados pelos torcedores brasileiros, invadem o gramado. Maradona reclama da “paradinha” de Pelé, mas o árbitro dá de ombros, afirmando que utilizou o mesmo critério que usou na cobrança dele.

Agora, os jogadores brasileiros são cercados por centenas de torcedores. Telê é carregado em triunfo. Zagallo, às lágrimas, corre para abraçar Pelé, que aos poucos vai ficando quase sem roupa, perdendo camisa, chuteiras, meias… só não perde a realeza.


Depois que se recompõe, sobe às tribunas de honra com a seleção brasileira, onde a rainha Elizabeth II entrega a taça “Copa Eterna FIFA” ao “capita” Carlos Alberto Torres, que a beija e depois a levanta, sob uma chuva de fogos de artifícios ensurdecedora, que ilumina magnificamente os céus de Londres. Ninguém nota a discreta saída dos argentinos. “O papa pode ser argentino, mas Deus é brasileiro”, gozam os torcedores verde-amarelos.

Uma semana mais tarde – muitos carnavais e comemorações pelo Brasil afora – a FIFA organiza um amistoso internacional para celebrar a realização da Copa de todos os tempos, entre seleção brasileira e seleção mundial, num Maracanã abarrotado de torcedores. E um providencial empate de 2×2, deixa a festa ainda mais bonita.

A ficha do jogo? Seleção do Mundo: Yashin, Bobby Moore, Baresi e Beckenbauer; Obdúlio Varela, Zidane, Cruyff e Maradona; Messi, Eusébio e Puskas. Téc.: RinusMichels.  Seleção do Brasil: Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Didi e Pelé; Garrincha, Romário e Rivellino. Téc.: Telê Santana.

Um “fecho-de-ouro” para uma Copa de outra galáxia, uma conquista inquestionável, inigualável, eterna.

 

 

FUTEBOL ARTÍSTICO E FUTEBOL DE TERROR

por Rubens Lemos


Enquanto traço o queijo de coalho bem nordestino, o amigo 12 anos mais novo, faz observações sobre minha ortodoxia pelo futebol antigo. Ele, Pacheco de Copa do Mundo. E vocifera, no entusiasmo dos juvenis em HD:

– Você gosta de um futebol do passado, gosta de um futebol bonito, mas os tempos mudaram, hoje é marcação e velocidade.

O tempo e a impaciência são primos próximos, irmãos da razão. Deixo o queijo (uma delícia), descer devagar, tomo um gole de Coca-Cola e aciono o gatilho de minha metralhadora indignada:

– Gosto de tudo o que é bonito. De mulher bonita, de livro bom, de filme bonito, de música bonita, de um queijo delicioso e de uma carne de sol suculenta. Prefiro tudo isso à uma canelada de Fred ou uma arrancada inútil de Taison, seus ídolos.


Ele ponderou que tudo tem sua época e eu respondi que meu tempo é o tesouro precioso guardado no baú de minha alma. No futebol, prefiro rever o futebol brasileiro esquecido às palhaçadas de uma geração rica, mimada e mais preocupada com o contracheque do que o
gol.

Passei da metralhadora ao fuzil M-16 verbal. O amigo é vascaíno igual a mim, porém necessita de medicamentos, pois considera razoável o horroroso time atual.

Solto o questionário, admito, mais interrogatório do que entrevista:

– Você é fã de Juninho Pernambucano é? Pois saiba que ele não jogava um milímetro de Geovani…

– Juninho batia falta bem e lançava muito… – retrucou

– Geovani driblava, lançava, batia pênalti, falta, escanteio, dava lençol e caneta em adversário craque, era um maestro. Se quisesse, faria chover numa chapada na bola.

Meu amigo estranhou. Afinal, conhece a Chapada Diamantina e a dos Guimarães.

– É, mas eram outros tempos..

Prossegui enquanto uma picanha descia ao prato:


– Se você acha que Willian sabe jogar, veja um vídeo de Paulo Cézar Caju, um gênio malabarista, se você acha que Renato Augusto merece a camisa 8 do Brasil, vá ao YouTube e digite Didi 1958 ou Gerson 1970. Se Roberto Firmino te encanta, crave Romário e procure uns golzinhos dos tantos que ele fez. Entre Paulinho e Zico, respeito sua opinião, mas Zico jogou mais o equivalente à distância entre a Terra e o infinito, o interminável.

Mudamos de assunto. Passou uma loira de ganhar Hexas e Heptas, bronzeadíssima e plenamente consciente e mascarada dos seus predicados volumosos. Uma gostosa institucional.

Saí do restaurante mais puto da vida com quem idolatra uma seleção sem exceções que não Neymar e Phillipe Coutinho. Saí certo de que minha geração não engole esse tipo de futebol agradável feito dor de dente em fim de semana: feio, fechado, esquemático e cheio de jogador com nome de praça e desempenho de lixo.

No estacionamento, ainda provoquei:


– Você que gosta de marcação e correria, escreve para a Fifa e pede logo para retirar as traves do gramado. Joga tudo pro 0x0, que é o escore da mediocridade, dos notebooks e dos scouts, que Garrincha desmoralizaria num drible de gafieira.

Respeito aos mais velhos, meninada.

Somos pelo futebol artístico, vocês pelo de terror.