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COUTINHO, O GENUÍNO ‘FEITIÇO DA VILA’

“Pelé para Coutinho; Coutinho para Pelé, que devolve a Coutinho, que ajeita para Pelé e… gol, meus amigos, é mais um gol espetacular, memorável, do imbatível Alvinegro Praiano”. Era mais ou menos assim que os locutores narraram mais de mil vezes em jogos do Santos. Ora quem fazia gol era Pelé, ora Coutinho, o aniversariante do dia. Conheça um pouco mais sobre esse grande ídolo do futebol.

por André Felipe de Lima


Quem o viu jogar sabe que Coutinho é um dos maiores centroavantes da história. Pelé jamais teria um parceiro de ataque como ele. Se Pelé não existisse, Coutinho talvez não brilhasse tão intensamente. É o que muitos especulam. Mas acho isso injusto. Coutinho sempre teve luz própria. Não o vi jogar, mas os registros de vídeo das tabelinhas dele com Pelé são sensacionais. Nunca vi dois jogadores de ataque se entenderem tão bem como eles. As gerações mais recentes se encantam com Messi, Suarez e Neymar. Um trio verdadeiramente formidável. Mas experimentem ver os vídeos de Pelé e Coutinho. Não se arrependerão, tenho certeza.

Juntos, os dois ídolos santistas marcaram 1.456 tentos. Mas Coutinho sozinho foi capaz de marcar 370 gols [fez 399 ao longo da carreira] em 457 jogos por somente um time: o Santos, ora. É o terceiro maior artilheiro santista em todos os tempos e, eventualmente, chamado de “O Feitiço da Vila”, como batizou o locutor Ernane Franco, e de (bem antes de o Cruyff “batizar” o Romário) “Gênio da Pequena Área”.

O ex-zagueiro Aluísio de Almeida, o “Bolero’, do Flamengo, chegou a confundir a dupla Pelé e Coutinho, na goleada de 7 a 1 que o Rubro-negro sofreu no Maracanã, em 11 de março de 1961. “Eles entraram tabelando e saiu outro gol. O time do Santos não parava de atacar. No final, não sabia mais quem era Pelé, quem era Coutinho, na velocidade eles se pareciam”, contou. Alguns repórteres pediam aos dois craques alvinegros que usassem um esparadrapo no pulso para que não se confundissem.


Chama-se Antônio Wilson Honório. E onde se enquadraria o “Coutinho” em seu nome? Mistério até hoje sem explicação. Mas foi com o apelido que o craque santista ficou famoso, pelos dribles, gols e tabelinhas geniais com Pelé. Ambos tinham predileção por fazer gols no Corinthians. Pelé marcou 50 e Coutinho, 13. São os dois maiores artilheiros santistas contra o Timão. No Verdão, Coutinho fez 14, e no São Paulo, repetiu a mesma dose. “Sou do interior, de família humilde, família bastante pobre, onde todos trabalhavam. Eu, inclusive, comecei a trabalhar com oito anos. Eu saía do colégio e ia trabalhar. E minhas irmãs trabalhavam. A partir dos meus 13 para 14 anos, começou a melhorar um pouco porque vim para Santos. Vim fazer um treino no Santos e, graças a Deus, correu tudo bem, e, aí, começou as coisas, a se clarearem um pouco”, contou Coutinho para o projeto Futebol e Memória, da FGV/Cpdoc.

Parceiros perfeitos dentro de campo, Coutinho e Pelé não repetiam o mesmo fora dos gramados. Após encerrar a carreira bem antes da de Pelé, Coutinho abriu o verbo para a imprensa ao declarar que se não fosse ele, Pelé jamais alcançaria o sucesso.

Coutinho nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, a 11 de junho de 1943. Treinador das divisões de base do Santos, Luiz Alonso concluiu que Coutinho seria também craque.

Quando estreou no Santos, em 17 de maio de 1958, depois de ser descoberto por olheiros no XV de Piracicaba, Coutinho tinha apenas 14 anos e 11 meses de idade. É o jogador mais jovem a jogar pelo clube na equipe principal. O jogo amistoso foi em Goiânia, contra o Sírio Libanês, e o Santos venceu por 7 a 1.

Com o time da Vila Belmiro, Coutinho venceu os campeonatos paulistas de 1960, 61, 62, 64, 65 e 67; a Taça Basil de 61, 62, 63, 64 e 65; o torneio Rio-São Paulo de 1959, 63, 64 e 66; o Roberto Gomes Pedrosa [Taça de Prata], em 68; a Taça Libertadores da América e o Mundial Interclubes, ambos em 1962 e 63. Foi artilheiro do Rio-São Paulo de 1961, com nove gols, da Libertadores de 62, com seis, e da Taça Brasil de 62, com sete.


Pela seleção brasileira, Coutinho marcou seis gols em 15 jogos. Estreou contra o Uruguai, em julho de 1960. O último jogo foi em novembro de 1965, contra a Hungria. Foi campeão das taças do Atlântico [60], Oswaldo Cruz [61/62], Bernardo O’Higgins [61] e Roca [63]. Atuou com Pelé nove vezes pela seleção. Na Copa de 1962, no Chile, Coutinho viajou e retornou contundido. “Não dei muita sorte em seleção brasileira. Eu me machuquei muito. Me machuquei demais na seleção brasileira, até que chegou um ponto em que eu não queria mais, entendeu? Não queria mais. Seleção, fico torcendo, é melhor. Pelo menos, fico torcendo, não acontece nada, porque eu vou lá para tentar ser o titular e eles me convocam como titular e eu não jogo. Acabo me machucando. Eu jogo e acabo me machucando. Então, fiquei meio cabreiro com o negócio de seleção”.

Além de contusões seguidas, o atacante tinha problemas para manter o peso. Em 1968, jogou pelo Vitória, por uma temporada em que marcou seis gols. Em 1969, defendeu a Portuguesa de Desportos e fez um gol no Paulistão. Voltou ao Santos, em 70, mas logo foi para o Atlas, do México, onde marcou 10 gols. Entre 1971 e 72, Coutinho defendeu o Bangu, marcando somente dois gols. Parou de jogar aos 30 anos, em 1973, no Saad de São Caetano do Sul, fazendo quatro gols na segunda divisão do Paulistão.


O melhor parceiro que Pelé já teve retornou à Vila Belmiro para trabalhar nas categorias de base e foi campeão paulista de 1979, na categoria juvenil A, e em 1980, no juvenil B. Treinou o profissional em 1981 e depois foi vice-campeão da Taça São Paulo de Juniores. Treinou Comercial e Aguidana, de Mato Grosso do Sul, Santo André, São Caetano, Bonsucesso e Valeriodoce, que levou à semifinal do campeonato mineiro de 1985. Em 1993, mais uma passagem pelo juvenil do Santos.

É de Coutinho o gol de número 5000 da história do Santos. Não poderia ficar em melhores mãos. Ou melhor, em melhores pés. Coutinho foi um cracaço!

DESPEDIDA

por Leandro Ginane


A bola estava prestes a rolar e, com os olhos fixos no campo, o menino sentia a pulsação do seu coração subindo pela garganta. Estava ansioso para entrar no campo de terra batida, em São Gonçalo.

O juiz apitou, a bola rolou e aquele menino de sorriso largo jogou como se fosse a última vez. Depois daquele jogo, sua vida mudaria. Assinou contrato com apenas dez anos com o clube de coração. Saiu de São Gonçalo. Foi para a Gávea. Saiu da arquibancada e foi para o campo. Estava no lugar que sempre sonhou.

Sua ascensão foi meteórica. Conquistou as crianças e os velhos. Vestiu a amarelinha, ganhou tudo que disputou e seis anos depois assinou contrato com um grande clube na Europa. Viveu cada segundo intensamente, jogando por amor. Se despediu como ídolo no maior palco do mundo, diante da Maior Torcida do Mundo que o acolheu desde a chegada e gritava seu nome.


O sorriso largo deu lugar às lágrimas e com ele desabou a Nação. Sua vontade era ficar. Com apenas dezessete anos vai desbravar o mundo, sem a dança do passinho e o rubro-negro que o consagrou.

Boa sorte, Vinícius! A Nação estará aqui torcendo e esperando sua volta.

Bochini

o ídolo de deus

 texto: Diego Esteves | tradução: Guillermo Planel | edição: Daniel Planel

Será que Deus tem ídolo? O lá de cima não sei dizer, mas o cá de baixo, o deus argentino, tem: “Eu aprendi com o senhor a sentá-los de bunda. Eu tocando na bola, o senhor somente com o movimento do corpo. Vou dizer no mundo inteiro que o meu ídolo chama-se Ricardo Bochini. O senhor me ensinou a querer a bola sem importar o time nem a camiseta, me ensinou a pedir a bola e isso, para nós que estamos num nível superior, nós entendemos“. O autor da mensagem? Diego Armando Maradona. O destinatário? Seu ídolo, Ricardo Bochini, ex camisa 10 do Independiente, clube onde atuou em seus 19 anos de carreira, entre 1975 e 1991.

Hoje em dia seria impossível que um jogador da classe do “Bocha” (“Careca”) não fosse contratado por um clube da Europa. Mas foi justamente isso, o fato de ter entregado a sua vida esportiva completa a um só clube, o que o tornou um ídolo para a torcida própria mas também para as rivais. Por seu time, marcou 107 gols em 740 jogos oficiais. Não era um artilheiro propriamente dito, mas tinha a categoria e a personalidade que o fazia aparecer na hora certa. Como na conquista da Taça Intercontinental de 1973 sobre a Juventus da Itália, quando fechou a vitória por 1 a 0 para o clube do subúrbio fabril de Avellaneda. No ano seguinte, marcou um na decisão da Taça Libertadores contra o São Paulo. Mas o predileto dele e dos torcedores do “Rojo” foi na final fora de casa contra Talleres de Córdoba, a quatro minutos do fim da partida e com oito jogadores em campo.

Embora tenha disputado 28 jogos pela seleção argentina, não marcou nenhum gol pela “celeste y blanca”. Façanhas como o “quase gol” desde o meio de campo contra a Alemanha na estréia do Franz Beckenbauer como técnico não foram suficientes para leva-lo à Copa do Mundo em sua melhor performance. Na Copa de 1974 ainda era jovem; na de 1978, na Argentina, o técnico César Luis Menotti dispensou Bochini por pressão dos militares e já em 1982, na Espanha, surgiu Diego Maradona, dono indiscutível da camisa 10 por mais de uma década. Mas como sempre acontece no futebol, “El Bocha” teria revanche.   

O destino quis ou, melhor dito, “deus” quis que aluno e professor se reunissem na Copa do México, em 1986. “Quero o Bochini no Mundial“, pediu o próprio Maradona para o técnico argentino, Carlos Salvador Bilardo. E pedido de Deus não se nega. Foi assim que na semifinal da Argentina campeã contra a Bélgica, “El Diez” cumpriu o seu sonho de criança: jogar com o ídolo. A seleção “albiceleste” vencia por 2 a 0 e faltando seis minutos para o fim do jogo, Bilardo chamou ao “Maestro”, que ficou à beira do gramado para entrar no lugar de Jorge Burruchaga. “Quando vi que entraria o Bochini, me pareceu que tocava o céu com as mãos, por isso o primeiro que fiz foi fazer uma tabela com ele. Nesse momento senti que estava fazendo ‘um-dois’ com Deus“, relembrou Maradona. Foram 156 segundos com a bola rodando, sempre no chão como faz quem entende.

O Museu da Pelada entrevistou o ídolo do Maradona no campo de treinamento do Independiente, em Villa Dominico, a uns 20 minutos do centro da cidade. Bochini compara Pelé, Maradona e Messi, dá uma dica para o Neymar ser o melhor do mundo e surpreende ao incluir dois brasileiros no seu “time dos sonhos”.

 

 

Canto do Urubu

CANTO DO URUBU

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Planel | foto: Gilvan de Souza

Futebol e música sempre andaram lado a lado e, por isso, não foram poucas as vezes que um músico declarou sua paixão pela bola – ou por um time específico – com alguma composição. Se o Flamengo é um dos clubes mais homenageados pelos músicos, com quase mil canções, os compositores Altay Veloso e Paulo César Feital trataram de abrilhantar ainda mais essa lista, com o lançamento do CD “Canto do Urubu”, no espaço Blue Note, no Lagoon.

Tudo começou quando Altay Veloso apresentou suas canções inéditas ao nosso capitão Sergio Pugliese, que, apesar de ser vascaíno, se encantou com o que tinha escutado e ligou imediatamente para Sandro Rilho, um dos líderes da Fla Nação e grande responsável pelos grandes eventos do clube recentemente.

– A gente faz um trabalho de resgate das tradições do Flamengo e eu fiquei extasiado com aquele material! – disse Sandro.

Para eternizar as belas canções do “Canto do Urubu”, os intérpretes foram escolhidos a dedo e emocionaram os presentes: Alcione, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Leny Andrade, Neguinho da Beija-Flor, Sandra de Sá, Dudu Nobre, Anderson do Molejo, Bebeto, Jorge Vercillo, Xande de Pilares e Zezé Motta.

O evento também contou com a presença de grandes ídolos da Gávea, como Adílio, Júlio César Uri Geller e Nélio, torcedores ilustres e até Eduardo Bandeira de Mello. O atual presidente, aliás, fez questão de enaltecer o projeto:

– Um trabalho magnífico! Fiquei fascinado com as 11 músicas e tenho certeza que isso vai ser um presente para a Nação!

Antes do evento começar, ainda conseguimos reunir os donos da festa, que não escondiam a felicidade e fizeram questão de agradecer o apoio do Museu da Pelada:

– Fiquei muito feliz com o resultado e sou muito grato a você (Sergio), que foi o primeiro a acreditar nesse projeto. O Museu da Pelada foi fantástico quando chegou e me deu um abraço, afetuoso e gênero! – disse Altay.

– Compor é uma alegria para a gente. Nossa alma é fraterna e irmã. O Altay é mais irmão do que um irmão meu! – completou Feital.

Só nos resta parabenizar essa dupla por entrar na galeria de lendas que emocionaram a nação!

 

 

ANÁLISE DA FRANÇA

por Mateus Ribeiro


A expectativa é grande. Bons nomes não faltam para a França. Alguns são revelações, outros já são realidade. Porém, em 2016, muito se esperava na Eurocopa, e todos se lembram do que aconteceu na final: derrota na prorrogação, dentro de casa, para Portugal, que jogou praticamente a partida toda sem Cristiano Ronaldo. E que me desculpem os jogadores portugueses, mas se a França foi capaz de perder para a Seleção lusitana sem Cristiano Ronaldo, pode se esperar tudo dos Azuis. Inclusive um papelão.

O grupo não é lá dos mais difíceis, o que pode ajudar bastante. É bem verdade que o time tem bons valores, mas a impressão que se tem é que com um pouco mais de “sangue no olho”, a França poderá ir longe.

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS


O grupo era difícil, e contava com Holanda e Suécia, lutando por uma vaga direta, e outra na repescagem. A França passou em primeiro lugar, mas para provar que é um time inconstante, goleou a Holanda , mas conseguiu empatar com Belarus e Luxemburgo (com o último, dentro de casa). Foram sete vitorias, dois empates e uma derrota. Boa campanha.

TIME

O time tem boas peças em todos os setores. Lloris é um bom goleiro, e invariavelmente, pratica alguns milagres. A defesa conta com jogadores que são titulares no Real Madrid e no Barcelona. O meio tem o incansável Kanté, que dentre outras coisas, tem a missão de correr por Pogba. Pogba, aliás, que é um dos jogadores mais supervalorizados do planeta, mas que tem seus bons momentos. A questão é saber se ele vai querer jogar bola pro time, ou se vai querer entrar em campo pra desfilar seu novo corte de cabelo.


Os principais jogadores estão no ataque. Griezmann e Mbappé são dois dos melhores atacantes do mundo nos últimos anos. Além de muita velocidade e raciocínio rápido, possuem um arremate de muita qualidade. Giroud, apesar de bastante contestado, faz lá seus gols. Quem sabe em algum momento importante, a bola não bate na sua canela e decide uma partida, né?

Pelo fato do time ter muita qualidade técnica, podemos esperar um jogo de muito toque de bola, e muita velocidade, já que os citados atacantes estão com todo o gás.

Segue a lista dos convocados:

Goleiros: Aréola (Paris Saint-Germain), Lloris (Tottenham) e Mandanda (Olympique de Marselha)

Defensores: Lucas Hernández (Atlético de Madrid), Kimpembe (Paris Saint-Germain), Mendy (Manchester City), Pavard (Stuttgart), Rami (Olympique de Marselha), Sidibé (Monaco), Umtiti (Barcelona) e Varane (Real Madrid)

Meio-campistas: Kanté (Chelsea), Matuidi (Juventus), N’Zonzi (Sevilla), Pogba (Manchester United) e Tolisso (Bayern de Munique).

Atacantes: Dembélé (Barcelona), Fekir (Lyon), Giroud (Chelsea), Griezmann (Atlético de Madrid), Lemar (Monaco), Mbappé (Paris Saint-Germain) e Thauvin (Olympique de Marselha).

Como a sina da França é ter treinadores polêmicos, algumas ausências na convocação fizeram chover críticas em cima de Deschamps. O nome mais comentado foi o do meio campista Rabiot, do PSG. Além dele, Benzema também não vai. Mas o caso do atacante vai além das questões técnicas, e parece longe de ter um final feliz.

De qualquer forma, a França corre por fora, e pode sonhar com algo além das quartas de final (onde parou na última Copa). Resta saber se o time vai negar fogo na hora H, como fez na Eurocopa 2016.