TORNEIO DE PELADA
por Itiro Tanabe
É no faustoso campo do Mello Tenis Clube, o Gigante da Leopoldina, tradicionalíssimo clube da Zona Norte carioca, que acontecem dois dos mais disputados campeonatos de futebol soçaite do Rio de Janeiro, nas categorias veteranos, que corresponde atletas até 47 anos e máster, acima desta idade. Ambos contam hoje com a participação de oito equipes, outrora 12, em três turnos, onde o campeão é conhecido após quadrangular com os quatro melhores colocados.
Em meio enorme contingente de adultos, que assim que a bola rola viram crianças, notam-se ex-profissionais como Zé Mário, Ederlei, Aurélio, Wanderley, Índio, entre outros.
No último sábado (14) foram conhecidos os campeões do 2º turno: Manguaça venceu o Renascerá pelo placar de 4×3 e levou a taça da categoria máster. Já na veterano jogaram Renascer x Renascerá, com a vitória do primeiro pelo placar de 4×1. O 3º turno começará no próximo final de semana e promete disputas tão acirradas quanto foram nos turnos anteriores. Ninguém entra em campo apenas por diversão.
Figura muito admirada, botafoguense fanático daqueles que vai à todos os jogos, com seu tradicional bordão de saudação à torcida rubro-negra, Ricardo Miranda, vulgo Papai Noel, dada sua cabeleira branca e sua igualmente barba branca, é um dos mais antigos e figura carimbada em todas as edições. Facilmente identificado na foto. E outro que não poderia deixar de ser mencionado: Luizinho, cuja habilidade com a bola pode ser notada, mesmo no auge dos seus 70 anos. Na foto, deitado com sua amiga, a bola.
Na batuta dos torneios, Thiago de Lemos, em que pese a juventude, carrega nos ombros responsabilidades gigantescas, tanto na vice-presidência do clube, como na organização dos torneios.
Museu da Pelada: Entre a vice-presidência e a condução dos torneios, qual missão lhe é mais difícil?
Thiago: Uma está diretamente ligada a outra. Ambas missões são árduas e igualmente prazerosas. Não chega ser uma missão, porém uma tarefa não muito fácil, conseguir agregar equipes para ocorrência das competições, a condução destes, para que ao final do evento, todos sintam-se felizes por ter participado.
Museu da Pelada: É de supor o desejo do engrandecimento dos campeonatos, trazendo novas equipes dos mais distintos lugares. É um plano da sua gerência?
Thiago: Mais que um plano é uma realidade. Nesse ano trouxemos quatro times de locais diferentes. E outros mais sempre serão bem-vindos. A dinâmica é grande. Uns vão pelos mais diversos motivos, outros retornam depois de anos de ausência. Fato é que estamos sempre agregando e socializando.
Museu da Pelada: Como serão os campeonatos de 2019? Pode-se esperar mudanças substanciosas?
Thiago: Muito ainda está em estudo. Tal como criar a categoria amador, que agrupará jovens entre 18 anos e 25 anos. De certo, trazer mais equipes para a categoria máster, devendo chegar a 10 quiçá 12, mesmo objetivo para a de veteranos. Quanto ao regulamento, a forma atual é de agrado geral, portanto pouco será revisado.
Então amigo leitor, se você deseja disputar um campeonato digno da sua equipe, ou se você busca um time para participar, entre em contato com o Thiago no clube da Leopoldina e comece a se organizar desde já.
LEMBRANÇAS DE ROMÁRIO
por Rubens Lemos
É passar em frente ao prédio e a angústia é instantânea. Volta como em reprise a agonia das caminhadas noturnas na calçada do Hospital Infantil Varela Santiago em Natal.
Chorava na rua para não assistir ao meu filho, com um ano e um mês de idade, ser picado por agulhas, amarrado ao berço em intenso tratamento contra uma pneumonia surgida do nada.
Descobri naqueles dias o que é ser pai. Eu, Isabel e Caio só tínhamos a nós mesmos. Quando o pediatra, Doutor Edmilson Freire – médico sereno e eficiente que se tornou amigo -, deu o diagnóstico e determinou a internação, caímos no pranto, pai e mãe inexperientes e abraçados. O meu filho estava naquela fase em que todo cuidado é pouco e tudo o que faz é encantador.
Dormíamos os três no pequeno apartamento do hospital. Ele teve que ser amarrado porque não agüentava de impaciência. E se doía nele, mais ainda em mim. Pai sofre em dose tripla. Caio já demonstrava a valentia sertaneja lá do Oeste potiguar. Soluçava baixinho. Quase 20 dias de tormenta. Quando o libertaram do soro, Caio quase voou do berço e foi pouco para os milhares de abraços chorões.
É, 1994 havia começado mal. Toda a família já tinha sido castigada por uma catapora. Como sempre ocorre desde que me entendo trabalhador, férias, só por doença. Fiquei lindo, todo pipocado. No esporte, golpe traiçoeiro. O moleque Dener, que eu tenho certeza faria história bem mais que os Neymares e Robinhos, morria enforcado pelo cinto de segurança do seu carro nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Dener, do Vasco, achava o drible mais belo que o gol. Demais eu chorei por Dener.
Desabafar também é arma de pobre. Lembro que usei uma tarjinha preta na camisa para ir trabalhar, igual ao luto estampado nos homens interioranos.
Eu nunca fui fã de Ayrton Senna, falecido também por aqueles dias. Talvez pela chatice de Galvão Bueno e depois pelo alpinismo de uma namorada galisteia, feminino de papa-defunto em ascensão social e fulanização.
Confesso que não me integrei à comoção pela morte de Ayrton Senna. Se vivo fosse, duvido que Schumacher ganhasse tanto depois. O problema, como nos sonhos delirantes, é um pequenino se.
Caio já estava robusto e nós, felizes em nossa vida simples e assim boa além da conta. Tínhamos o suficiente e ninguém ligava pra gente, o que era melhor, o melhor da história.
Veio a Copa do Mundo. E eu com 100% de fé naquele que jamais me decepcionou em minhas preces: Romário.
Eu gostava mais de Romário do que da própria seleção. Ele levava sem saber a revolta que eu precisava extravasar. Eu tinha de ganhar alguma coisa. Ele correspondeu.Ganhou o tetra pra mim.
O jogo contra a Holanda pôs meu pulmão de tísico à prova. Na falta cobrada por Branco, a que decidiu a partida (3×2), berrei como um Pavarotti com 50 quilos. Caio assustou-se e chorou o que não pudera quando em seu leito de hospital.
Contra a Suécia, na semifinal, o goleiro deles era um chato, Ravelli, que ficava zombando a cada chute pra fora de Mazinho, Bebeto, Zinho, até Mauro Silva arriscou de longe. Aí Romário subiu como um senador romano à tribuna, mandando a empáfia do goleiro direto pra Estocolmo.
Contra a Itália, nos pênaltis, petrificado eu fiquei quando Baggio mandou a bola pelos ares. E, sem o vozeirão de Cauby, gritei, gritei até ter dó da garganta.
Editava o Bom Dia RN na afiliada Globo em Natal. Encerrei o telejornal com um clip com a música Brasileirinho na voz de Baby Consuelo. Aquele era o hino. De todos os nós desatados.
Faz 24 anos.Isabel me confessa até hoje ter pena do pobre Baggio e a sua solidão após o fracasso e a nossa vitória. E fica indignada quando eu digo que ele fuck!. Minha mulher esquece da tragédia de Zico em 1986.
Feliz 1994. Caio hoje, 25 anos, casado, é torcedor de Copa do Mundo. Nada é perfeito. E acha exagero quando eu digo que Romário foi tudo.Ele alcançou os meus milagres.Cometeu minhas vinganças.
BOÊMIOS DA VILA F.C.
por Marton Olympio
Hoje teve Boêmios, lá no campo do Sampaio e como sempre acontece, aquele sol glorioso abriu ali sobre o bairro, deixando todo mundo bem aquecidinho. Aquele preparo de sempre: tornozeleira, caneleira, tensor pro joelho (que hoje deu uma apitada bonita), o gel de silicone pra suportar o peso no calcanhar e tudo aquilo que ajuda a dor ser menor. Ainda sentia as dores da pelada de quinta, mas, mesmo com elas, fui pra lá tentar não atrapalhar a equipe.
Para a minha surpresa eu ia começar jogando. E lá fui eu. Dois zagueiros me esperavam. Um, visivelmente mais velho e mais lento e outro jovem, esguio e veloz. Lógico que escolhi jogar pelo lado do primeiro deixando para meu amigo Marquinho, companheiro no ataque, o desenrolo com o outro beque.
Os dois, anos mais novos, com certeza iriam se entender. O jogo estava ótimo. Daqueles jogos bacanas, limpos, gostoso de ver e jogar. Divertido. E com alternativas bacana de ataque, defesa, tudo aberto e como diz a gíria: jogo jogado. E foi durante um desses embates lá na frente, trocando tintas com a zaga, que uma frase me fez lembrar uma história que me contaram essa semana.
Um time de escritores peladeiros foi enfrentar o time do Chico Buarque, o famoso Politeama. E num dos momentos do jogo, alguém deu uma chegada no Chico. Note bem que chegada não tem a ver com agressão ou tampouco fere a ética da pelada. É só uma forma de testar a resistência do corpo do adversário. Se é falta ou não, vai do juiz, do campo ou do grito. Depende muito. E, após o choque, de um jogador mais novo e robusto, Chico foi ao chão.
Climão na hora. Alguns protestos e o rapaz sem graça, ajuda o Chico a levantar e pergunta:
– O senhor tá bem?
Ao que Chico, educadamente responde com “a frase”:
– Senhor é o caralho! – E seguiu o jogo.
Hoje, em um momento de troca de marcação, aguardava a bola cruzada dentro da área, naquele movimento de empurra empurra tipico de espera da batida da falta. Eis que ouço uma frase:
– Eu tô com o magrinho… Marca o coroa! – e o zagueiro colou em mim.
Eu era o coroa. Essa frase tá mais latejante em meu corpo que meu joelho inchado e coberto de gelo. Coroa. Queria ter reagido tão rápido quanto o Chico Buarque, um verdadeiro, sem trocadilhos, craque com as palavras.
Ps.: É maravilhoso jogar no Boêmios. Obrigado a todos os envolvidos. Ah sim, ganhamos de 2 x 0. Chupa, novinho
VIVA A DIVERSIDADE!
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
França campeã, impossível não me emocionar. Fui o primeiro brasileiro campeão mundial a jogar naquele país. Tinha algumas opções, mas escolhi o Olympique de Marselha por ter um clima parecido com o do Rio de Janeiro.
Quando jogava pelo Flamengo e fazia uma excursão na Alemanha, Daniel Stern, fundador do Paris Saint-Germain, e o lendário Just Fontaine, me visitaram na concentração e me convidaram para o PSG, que acabara de subir para a Primeira Divisão. Neguei porque o frio parisiense me assustava. Depois, acabei indo para o Olympique.
Não imaginei que pudesse voltar ao Brasil porque era tratado com muito carinho pelo torcedor, na verdade pelo povo francês em geral. Mas Francisco Horta me convenceu e voltei ao Flu. De qualquer forma me sinto um dos responsáveis por abrir essa porta ao mercado brasileiro. Indiquei Jairzinho, o Furacão, e jogamos juntos. O sucesso foi tanto que o estádio do Olympique precisou ser ampliado para receber mais torcedores.
Aprendi a língua, fiz amigos, como os atores Jean Paul Belmondo e Alain Delon, o tenista Yannick Noah, e o príncipe Albert de Monaco. Colecionei gravuras de Picasso, Monet, Salvador Dali e uma revista de arte fez uma capa com o título “De Paul Cezanne a Paulo César” exaltando a poesia do futebol brasileiro.
Era convidado para os grandes eventos e recentemente fui consagrado com a Legião de Honra, importante comenda do governo francês. Vi muitos imigrantes correndo nas ruas da França. Fugiam da polícia que os impedia de vender suas bolsas “Louis Vitton” nas áreas turísticas.
Guarda Negra
Nessa época, apenas dois negros atuavam da seleção, Tresór e Jean Pierre Adams, apelidados pela imprensa de “la garde noir”, a Guarda Negra. Muita coisa mudou de lá para cá, ocorreram avanços na política e a França, com certeza, deve ser a seleção mais miscigenada.
Sobre essa grande variedade de origens, Matuidi, descendente de angolanos e congoleses, disse que a diversidade é uma das belezas da seleção francesa e, por isso, sentia orgulho em representá-la. Matuidi, Griezmann e outros 17 jogadores são filhos de imigrantes ou nasceram em outros países e se naturalizaram. As raízes são as mais diversas: Filipinas, Haiti, Congo, Senegal, Mali, Angola, Guiné, Togo, Mauritânia, Argélia, Camarões, Ilha de Guadalupe, Martinica, Alemanha, Espanha e Portugal. Isso faz bem ao futebol? Para a França fez. E muito!
Não sou historiador e a Croácia também teria seus motivos extra futebol para ganhar o título, mas falo da França por minhas ligações sentimentais. Se pudesse escolher a campeã da Copa seria a Bélgica, que apresentou o futebol mais bonito, técnico e veloz. Entre França e Croácia, a França. Tem muito mais jogadores técnicos e Didier Deschamps se deu ao luxo de não precisar usar todos os seus reservas, alguns muito bons de bola, como Thomas Lemar e Dembelé.
Essa Copa foi uma vitória do futebol porque as três primeiras mereciam o título e mesmo Didier Deschamps, uma espécie de Dunga francês, curvou-se ao futebol ofensivo. Claro que não surgiu um novo Platini, nem um novo Zinedine Zidane, mas podemos dar mil vivas a essa escola maravilhosa, que encanta o mundo não é de hoje.
Viva, Just Fontaine, Lilian Thuram, Thiery Henry, Marcel Desailly, Cantona, Mbappé, Griezmann e Pogba! Viva o futebol! Viva a diversidade!
“ETERNO 7X1”
por Émerson Gáspari
Gostaria de começar pelo fim. De um período sublime, de alegrias, vitórias, craques maravilhosos, futebol bonito. O qual durou 44 anos e cinco títulos mundiais, nos tornando conhecidos, temidos e admirados mundialmente.
Mas isso foi entre 1958 e 2002 e esse tempo agora parece existir apenas para os saudosistas. Alguns deles, feito eu, que não se conformam com a mediocridade futebolística exibida há tempos, pela Seleção Brasileira.
Analisar o que ocorre, exige um olhar mais profundo e abrangente.
Comecemos pela velha teimosia de “europeização” do futebol brasileiro.
Em Copas passadas, já tivemos de tudo: técnico apregoando futebol-força, copiando esquemas defensivos, usando três zagueiros, extinguindo pontas. Uma série de invencionices tidas como evolução e que por estarem em voga no Velho Continente, logo se tornavam “coqueluche” (para usar um termo da minha época) por aqui.
Mas depois do penta, a coisa ficou mais séria e nosso futebol só fez regredir.
Seleções formadas exclusivamente por brasileiros no exterior, atletas saindo de baciada, técnicos partindo para se aprimorar lá fora, mídia destacando futebol europeu, campeonato brasileiro por pontos corridos e muitos casos de corrupção.
Pior: a formação do atleta em escala industrial, tirando do jovem criatividade e irreverência, prendendo-o a modelos de fora, onde drible é recurso raro e obediência tática se sobrepõe a talento. Estatura e físico valendo mais que ginga e picardia. O progresso ceifando campinhos de várzea, substituindo-os por escolinhas de futebol que ensinam o “evoluído” modelo europeu. O maldito modelo europeu.
Estão matando a essência do futebol brasileiro. Seria como tirar um índio de seu habitat natural e impingir-lhe a usar sapatos, terno, celular, óculos, como se isso fosse o correto. Ao perpetrar na cabeça do brasileiro que deva se comportar em campo como o europeu; tolhemos seu talento nato, engessando nossos times e selecionados.
Não foi diferente nessa Copa. Estava na cara que seria assim!
Em 2010, após o fracasso da Seleção de Dunga, me perguntaram em qual lugar eu achava que o Brasil iria terminar no Mundial seguinte. Cravei: “Terceiro”.
Após a “Família Scolari” apanhar em casa de 7×1 dos alemães e de 3×0 dos holandeses, nem isso. Acabamos em quarto lugar, mesmo.
A desculpa esfarrapada na época para isso foi a contusão de Neymar.
Pois me repetiram a pergunta, questionando-me sobre 2018. Cravei: “não passa do quinto jogo!”. E não é que acertei em cheio, dessa vez?
Agora, já me questionaram novamente, em relação a 2022 e sabem o que respondi?
“Prefiro nem dizer!”. Porque sinto que não vem coisa boa por aí.
E olhem que fazer previsão quatro anos antes envolve uma série de coisas a serem analisadas e ninguém – muito menos eu – tem bola de cristal, por mais que entenda de futebol. Só que a experiência nos dá conhecimento e certa segurança ao afirmar isso.
Não se trata de pessimismo: gostaria de estar aqui, afirmando que jogamos bem, ganhamos o hexa merecidamente e que nosso futuro é muito promissor. Mas não é.
E quando vejo torcedores “nutelinhas” (para usar uma gíria deles, agora) pedindo continuidade nesse trabalho, respaldados por uma mídia que defende Tite como se fosse nosso salvador, aí sinto que estamos realmente perdidos.
Essa mídia que a partir de 1980, quando os craques começaram a deixar o país, passou a transmitir futebol italiano, espanhol, inglês, francês, alemão, javanês e virou as costas para os times do interior, para os estaduais que foram minguando, desde então.
E o torcedor? Preferiu assistir jogos na poltrona, abandonou a arquibancada e deixou os filhos serem induzidos a torcerem por clubes estrangeiros. O torcedor está cego!
Tanto, que não percebe que seus programas de futebol foram invadidos por uma leva de outros esportes e até por games! E quando a mídia fala de futebol, então…
Muitas matérias rasas, sem profundidade, até mesmo na imprensa escrita.
Ao invés de cobrirem uma partida, agora elegem um “personagem” alheio e gastam tempo com ele. Ou soltam pérolas do tipo: …“em Oeste, Oeste 0 x 2 São Caetano”.
Durante as Copas, só piora: é repórter que não domina o assunto futebol e erra três vezes um mesmo termo ou é flagrado ao celular, quando chamado no “link”. É repórter que fica nervosinho, quando questionado pelo nível fraco das perguntas em coletivas. Ou comentarista “médico” afirmando, enquanto Neymar saía de maca sem mexer as pernas após uma joelhada nas costas, que não era grave, que ele treinaria normalmente e iria enfrentar a Alemanha sem problemas. Locutor que desconhece impedimento e até aquele que precisa transmitir jogo quase afônico.
Matérias dantescas como das cocadas ou das coxinhas com nomes de jogadores, a do cabelereiro do ídolo, a da precária higiene nos banheiros dos trailers dos turistas na Copa ou ainda, sobre quantos assovios o treinador deu no Mundial.
Nunca vi tanta gente deslocada, despreparada e diria até, excessiva numa cobertura.
A cobertura virou circo. Dos horrores. E o torcedor não enxerga isso.
Prefere ver batida de tambor nos intervalos ou comentários de “experts” em futebol, como cantoras, atores, dançarinas, modelos…
Saudades das crônicas de Nelson Rodrigues e João Saldanha. Das narrações de Geraldo José de Almeida ou Luciano do Valle. De uma mesa-redonda com Armando Nogueira e Orlando Duarte. Quem viveu essa época sabe bem do que estou falando.
Mas voltemos ao cerne da questão: essa geração “7×1” e a filosofia que insistem em querer manter, levando nosso futebol à ruína.
E não é só o nosso: o futebol sul americano de uma maneira geral, está assim.
A Argentina não ganha uma Copa desde 1986 e nenhum torneio importante desde 1993. O Uruguai não vence o Mundial desde 1950, aqui no Brasil.
Já se foi o tempo em que a Copa mostrava alternância de campeões, entre Europa e América do Sul. Nesse século, o trio exportador de “pé-de-obra barata” só obteve um título com o Brasil (2002), um vice com a Argentina (2014) e um quarto lugar com o Uruguai (2010). Em 2018, ninguém beliscou nada. Estamos em processo de “corrosão”.
Os três precisam de medidas para proteger seu futebol, diante do poder financeiro que impulsiona o europeu. Talvez reivindicarem à FIFA, a proibição de transferência de atletas antes dos 21, 23 anos. Fere princípios do cidadão? Estudemos alternativas que possam legalmente chegar perto disso. O que não podemos é ter casos como o de Messi, desde os 14 anos na Europa e que jamais atuou pelo campeonato argentino.
Precisamos criar fórmulas que nos possibilitem ter um campeonato como o mexicano, rico, com média de 40 mil pessoas por jogo, com seus principais jogadores atuando lá. Não dá mais pra permanecer como está!
É feito a Seleção Brasileira, meus queridos: não dá mais para usarmos o modelo que está aí. Não deu certo. Não comecemos em cima do que fracassou, até para que isso não se torne um “eterno 7×1” para nós. Se profeta eu fosse, diria ao torcedor: “não vos iludis com falsas promessas, lembra-te dos que entregaram regiamente seu suor e sua alma para nossa glória e desse modo, nosso campo não se fará terra devastada”.
Primeiro tivemos a invasão dos “professores de educação física”, como sempre cita o PC Caju. Depois, veio a “escola gaúcha”, que está aí. Nada contra, ela até nos deu o penta e somos gratos por isso. Mas não dá mais. Precisamos recuperar a essência do futebol brasileiro, resgatar nossas origens, jogar como sabíamos.
Não adianta o “coach” afirmar que não irá tirar o drible e a criatividade de um jogador, se todos os outros jogam engessados, no padrão europeu. Onde já se viu prender o centroavante feito pivô, apenas para abrir espaços para quem vem de trás, gente?
“Ah! Mas o Tostão fez isso em 70”, dizem imprensa e a torcida, ensaiadas. Tá! Serginho fez o mesmo em 82 e lembram no que deu? Querem comparar os dois com Tostão?
“Mas o Tite tem crédito, a Seleção evoluiu, só perdeu dois jogos!”. Tá! Dunga também e vocês acham que com ele o time evoluiu? Além do mais, evoluir em relação aos 7×1 é quase que uma obrigação. Pior ou igual a aquilo, não seria possível.
“Mas ganhamos as Eliminatórias com um pé nas costas!”, cheguei a ouvir por aí.
E ela lá serve de parâmetro para Copa do Mundo? Por acaso a das Confederações, na qual goleamos a Espanha na final em 2013, serviu de parâmetro para a Copa, no ano seguinte? Ou mesmo a conquista da medalha de ouro em 2016, nas Olimpíadas?
Um monte de torcedores faz coro com a imprensa esportiva, pedindo que o Tite fique porque sabe montar um grupo, e é um bom “gestor de pessoas”, usando para isso, sua costumeira verborragia. Oras, precisamos é de um treinador, não de um gestor!
Sabem o que ocorre? É que depois dos tais 7×1, ninguém queria segurar a “batata quente”. E o Dunga e depois o Tite seguraram. Tiveram méritos, mas já tiveram suas oportunidades. Passou! Repetir Tite dará frutos parecidos com a repetição de Dunga.
No caso do Tite, ele chegou respaldado pelos bons resultados à frente do Corinthians, não há dúvidas. Porém, nem assim impediu o vexame dessa Copa, já que o selecionado foi mal convocado e acabou ficando mal escalado.
Mas como não apanhamos de goleada, muita gente diz “tudo bem”. Tudo bem?
Pois é aí que está: o que mata é também essa visão tacanha de que a Copa é antes de tudo um evento e que não dá pra ficar ganhando sempre; há concorrentes diretos que às vezes merecem mais, além do que o futebol mudou, não podemos comparar com o de antigamente e blá, blá, blá…
Você ouve esse tipo de comentário o tempo todo. O torcedor-comum mudou.
Hoje, nos jogos de Copa, é o tal de ficar na arquibancada olhando não para o campo, mas para o telão, esperando os 90 minutos, para ser focalizado por três segundos e aparecer para o mundo todo. Dane-se a Seleção!
Na saída dos estádios, não tem um que esboce para a reportagem, um mínimo de conhecimento e noção do que foi a partida. É só fantasia, gritaria, histeria.
Então virou evento bonitinho, colorido, com abertura e encerramento impecáveis, elitizado, preços de ingressos nas nuvens e cuja maior atração do Mundial não é um craque ou seleção: é o VAR (árbitro de vídeo), cuja participação foi crucial na decisão.
Perdeu? “Tomemos uma cerveja, porque daqui a quatro anos tem mais… são 32 seleções e uma taça só!” É muito conformismo ou pura cegueira mesmo, minha gente!
Em 2006 deu Itália; em 2010, Espanha; em 2014, Alemanha e em 2018, França.
Ou seja: todas, seleções europeias. Se fosse mesmo só um simples evento, porque seleções asiáticas ou africanas, por exemplo, não conseguem vencê-lo, também?
Entenderam o discurso pronto e sem noção, que está na cabeça de muito torcedor?
Estamos aceitando entrar no “segundo escalão” do futebol mundial, naturalmente.
Se antes sucumbíamos perante seleções que chegavam à final ou eram campeãs, agora aceitamos derrotas para seleções sem tanta tradição e ainda pedimos a continuidade desse trabalho. À que ponto nós chegamos!
Hoje, perdermos por 2×1 para a Bélgica é evoluir em relação aos 7×1 da Alemanha, bem como ver a Argentina ir embora do Mundial antes de nós já parece ser suficiente.
Será que não sabem que se por um lado o fato de nos tornarmos pentacampeões foi devido ao nosso talento nato para o futebol, por outro lado, isso também se deveu a nossa intensa cobrança, essa vigilância feroz que o torcedor costumava exercer?
Escolher um técnico para a Seleção era quase tão importante quanto eleger um presidente. Hoje, isso mudou. Tanto, que explodiu o número de chatos jogando a culpa da alienação política brasileira em cima do futebol. Se soubessem que o próprio futebol está repleto de torcedores alienados…
Aliás, aumenta cada vez mais o número de pessoas que não gostam de futebol, no país. Por uma série de razões. E essa indiferença, essa falta de “vigilância”, também levou a Seleção a ficar mais distante do torcedor. Parece mais um produto.
Como não se cobra, não se chega a treinadores melhores, a jogadores melhores, a resultados melhores, a dias melhores. Não se respira mais futebol por aqui, como antigamente, compreendem? Estamos deixando de ser o “país do futebol”.
Qual o mal de querer ganhar sempre? O basquete americano é assim e alguém reclama dos títulos que eles ganham, por acaso? Pelo contrário!
“Ah, mas estávamos mal acostumados” disseram, dia desses, numa dessas análises bestas, querendo nos conformar diante da derrota. Pois eu respondo: estamos é nos acostumando mal, agora.
Acostumamo-nos com a corrupção no futebol, com o êxodo dos jogadores, com a falta de estrutura e administração melhores, com uma seleção que não representa de fato, o legítimo futebol brasileiro e que não levanta mais uma Copa, sequer.
Se não vencermos a próxima, igualaremos o recorde de tempo sem conquistarmos um Mundial, sabiam? Não, a maioria não sabe. Nem quer saber. Estão todos conformados.
E o “eterno 7×1” continuará se repetindo pelos anos que virão a continuarmos assim, podem ter certeza. Essa Seleção nada mais é, que uma releitura da de 2014, com um discurso mais bem ensaiado, apenas. Senão, vejamos:
Daniel Alves, Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Fernandinho, William, Neymar…
O Dani Alves foi cortado por contusão, ok. Mas qual desses aí, veteranos da Copa anterior, realmente desequilibrou a favor do Brasil, na hora “H”?
Não lhes parece que a Seleção de Felipão chorava demais e que a de Tite também não passava segurança emocional? Muitos defenderam o choro de Neymar, nosso principal ídolo, bem no meio-de-campo, ao apito final de uma partida ganha e de primeira fase. “Ah, mas foi porque ele voltou de contusão”.
Lembro que Pelé também chorou assim, mas não no meio-de-campo e sim no peito de Gylmar, junto dos companheiros. E tinha apenas dezessete anos. Mesmo assim, só depois de derrotar os donos-da-casa, em plena final da Copa da Suécia, algo inédito até então, para nós. Também vinha de uma contusão (quase foi cortado), entrando só no terceiro jogo, precisando classificar o Brasil.
E quanto a aquelas quedas todas em campo? Ou mesmo a reação, quando foi pisado por um mexicano, ao lado do gramado? As próprias redes sociais que achincalharam tanto Neymar, também relembraram Pelé em 70, quando revidou uma pisada dessas, com uma cotovelada na cara de um uruguaio, sem que o juiz percebesse.
Hoje tem “árbitro de vídeo”, eu sei, mas aquela reação dele não iria ajudar em nada. Como não ajudou. A imagem do jogador que cai e simula só se amplificou e pior: acaba ficando visada pela arbitragem. Neymar saiu menor dessa Copa, do que entrou.
Entendo que o atleta queira se proteger da violência em campo. Mas para isso já existe arbitragem. E também, não custa tocar mais a bola, ao invés de prendê-la. Lembro que Rivaldo, por exemplo, padecia desse mesmo mal, mas se corrigiu, com o tempo.
Só que a Seleção cometia erros absurdos, também. Corria, mas ao chegar ao ataque, parava, aguardando o adversário se recompor, pelo menos com duas linhas de quatro, atrás da bola. Daí começava aquela lenta inversão de jogadas, que não redundava em nada, pois os espaços já estavam blocados.
Onde estavam as jogadas ensaiadas para surpreender o adversário? E os exímios cobradores de falta que sempre tivemos? Aquelas jogadas rápidas pelas pontas?
“Ah, mas hoje o futebol mudou”. O futebol não mudou: piorou!
Diminuíram o campo, tiraram peso da bola, melhoraram o gramado e a condição física do atleta, para que o jogo ganhasse mais intensidade. Ok! E daí, qualquer cabeça-de-bagre joga, basta ter físico para isso. É basicamente fechar espaço, destruir e correr.
Queria só ver se com gramados enormes como o antigo Maracanã e talvez até, dez de cada lado (como já cansou de sugerir Beckenbauer), não voltariam as boas jogadas, os lançamentos, o drible.
Hoje, aqui no Brasil, o goleiro dá um chutão e a bola vai cair no círculo central, onde o zagueiro adversário a “chifra”. Ela viaja uns dez metros e é novamente golpeada de cabeça pelo volante da outra equipe. Daí então, perdendo altura, é disputada por dois ou três ao mesmo tempo e o juiz vai logo parando o jogo, arrumando uma falta, porque senão, ninguém põe a bola no chão, minha gente!
Gentil Cardoso era um treinador que brincava sempre com os jogadores perguntando-lhes do que era feita a bola. Respondiam-lhe que era de couro. Daí ele questionava de onde vinha o couro. “Da vaca”, diziam os atletas. “E do que é que a vaca gosta?”
“De grama”, era a resposta. E por fim, vinha o ensinamento: “Então minha gente, vamos colocá-la onde ela gosta de ficar: na grama, rasteirinha, rasteirinha…”.
Outra coisa que me deixa indignado: hoje, jogar pelos lados do gramado e cruzar, significa o lateral descer para o ataque e dez passos depois da linha do meio-campo, mandar aquela bola abaulada e lenta, na direção da meia lua, onde dois, três zagueiros já a esperam de frente, para rebatê-la de cabeça. Ora, isso é jogo de europeu!
No meu tempo, o ponta chegava ao fundo, olhava para a área e centrava geralmente para trás, pegando o atacante melhor posicionado chegando de frente para o arremate e os beques tendo que girar o corpo e ficando em situação de inferioridade. Depois inventaram que o ponta deveria trabalhar com o lateral ou o meia, pra facilitar a tarefa, num “overlapping” ou triangulação. Até que hoje, virou isso!
Na partida contra a Bélgica, teve comentarista falando no intervalo – quando a vaca, aliás, já havia ido para o brejo – que “tinham que entrar pelo meio, de qualquer jeito”.
Meu Deus! Perdoai-os ó Pai, porque eles não sabem o que dizem!
Como vamos tentar abrir um time blocado lá atrás, com oito, nove atletas, entrando pelo meio? Pior é que foi o que se viu! Aquela confusão danada, bola estourando na zaga por todo lado. “Ah, mas era um paredão vermelho!”. Tá! E você vai ficar batendo contra a tal parede – como ficaram mesmo – até o fim do jogo? Façam-me o favor!
Daí, a cada chance de gol desperdiçada, era aquele velho gesto de mãos na cabeça, cara de desespero, palavrão sendo pronunciado, jogador se atirando em campo após errar um chute cara-a-cara. Isso é equilíbrio emocional?
A Bélgica jogou a partida seguinte contra a França, foi derrotada e não se viu isso, ao menos não com a mesma intensidade. Seria porque os europeus são mais frios?
Não, é porque esse tipo de atitude não impacta positivamente o grupo no decorrer de uma partida difícil. Só aumenta o desespero coletivo, todos já sabem disso. Fica até parecendo que cada jogador brasileiro tenta se livrar da culpa, agindo assim, como que se dissesse ao público: “Olha, eu tentei tudo, fiz meu máximo, mas não deu, não tenho culpa!”. Querem saber a verdade? Todos tem parcela de culpa no time, a começar pelo nosso treinador.
Desde o final do ano passado, já convivíamos com algumas convocações erradas, que destoavam das primeiras que o Tite fez, quando assumiu o cargo.
Com uma equipe montada tão boa para checar jogadores em qualquer parte do planeta, deveria ter se lembrado de olhar os daqui do Brasil, também.
Alisson foi bom goleiro, mas não conseguiu produzir um único milagre em campo, no Mundial. O belga Courtois produziu o seu, no final do jogo, naquela bola do Neymar.
Aqui no Brasil, cansei de ver Marcelo Grohe e Vanderlei operando milagres. Custava testá-los? Que tal se levássemos os três e fizéssemos um revezamento nos primeiros confrontos da primeira fase, com a promessa do treinador de efetivar o titular apenas a partir das oitavas-de-final?
Aposto que o rendimento seria melhor e todos achariam justo, poder participar. Do modo como foi o Cássio não pôde fazer nada e o Éderson só pôde empurrar o Tite, derrubando-o, naquela comemoração de gol estapafúrdia, que virou piada mundial.
Já passou da hora dos goleiros reservas terem a oportunidade de jogar ao menos uma partida de primeira fase. Ou se confia neles, ou não se convoca. Ninguém na equipe deve se sentir tranquilo e absoluto na condição de titular. Mesmo o craque do time.
A marcação por zona da defesa sempre foi outra coisa errada. Dos seis gols tomados pela Seleção, com Tite, cinco haviam sido de bolas aéreas. Foi um defeito que não se corrigiu no Mundial.
Sabendo que iria enfrentar uma Bélgica com grandalhões no ataque, porque não escalou Marquinhos, que era titular, ficando – que seja – momentaneamente com três zagueiros na área? Se ele confiava em Geromel, porque não o testou como titular, aproveitando assim, seu zagueiro mais alto para o jogo aéreo do adversário?
São perguntas que ficarão sem resposta, até porque não vi ninguém questionando Tite quanto a isso.
“Ah, mas o Thiago Silva não comprometeu”. Claro! E nem deveria, já que foi sua terceira Copa do Mundo, sabiam disso? Não, né?
Também ninguém lembrou que Fernandinho (ao lado de David Luiz) foi considerado culpado pela derrota de 7×1 diante da Alemanha, em2014. Não se deve crucifica-lo, mas entregar-lhe a responsabilidade de substituir Casemiro me pareceu demais.
Na virada, o rapaz ficou marcado. Falhou nos dois gols, marcando o primeiro contra e não parando a jogada, no segundo. Fez lembrar Felipe Melo em 2010: ele e Júlio César se atrapalhando no primeiro gol dos holandeses, numa falha dupla: um errou a bola, enquanto o outro a cabeceava, marcando contra.
Pois foi numa falha dupla que se deu no primeiro gol belga: a bola veio na área, num ponto onde Gabriel Jesus e Fernandinho subiram sozinhos, numa tola disputa de bola.
“Ah, mas foi uma fatalidade”. Foi? Então me respondam como é o fundamento de um cabeceio: o correto não é subir de frente para a bola, com os olhos bem abertos e golpeá-la com a testa, direcionando-a para onde se deseja? Foi o que se viu no lance? Não, né? Mas, apesar disso, não se justificam os ataques – sobretudo os racistas – que Fernandinho recebeu. Porque, apesar das falhas, não foi o principal culpado.
Todos deveriam saber quem foi o maior responsável por isso. E não querer perpetuá-lo no cargo, como estão querendo fazer, agora.
A própria Seleção me pareceu uma simbiose das anteriores, unindo a insegurança na bola aérea de 2010, com a falta de combatividade pelo meio, de 2014.
E muitas vezes, as coisas não mudaram dada a teimosia de seu treinador.
Senão, como explicar sua resistência em escalar Douglas Costa, precisando abrir a zaga adversária? Não deveria ter começado jogando? Notaram como a equipe agrediu mais, com ele em campo? Faltou tempo para que ele pudesse ajudar a decidir. Ou o dedo do técnico, dizendo pra Neymar cair pelo setor, para dois habilidosos juntos fazerem o “um-dois” em cima do marcador. Sim, porque ao contrário do que sugeriu o tal comentarista, entrar pelas pontas é mais fácil do que pelo meio, todo congestionado.
Mas a teimosia tinha que chegar aos limites. E Gabriel Jesus foi a maior delas, sem dúvida. O atacante era uma opção válida para os jogos das Eliminatórias, quando saía em velocidade no contra-ataque, tabelando com Neymar. Não parado ali na frente.
No final das contas, não marcou gol algum, nem prendeu a dupla de zaga belga atrás. Quando Firmino entrou em campo, ao menos o time adversário se preocupou mais.
Tínhamos que ter entrado com Firmino e Douglas Costa desde o início. Ou assim que levamos o segundo gol, aos trinta minutos, pelo menos. A Bélgica podia ter ampliado, no primeiro tempo. Esteve mais próxima disso, do que nós, de diminuirmos o placar. Mas cadê treinador que tenha peito para fazer duas alterações antes do intervalo, reconhecendo que errou; gente? Tá pra nascer no futebol brasileiro! Sempre foi assim.
Se nem o Felipão fez isso, quando levamos “um saco” dos alemães, com cinco tentos em menos de vinte minutos, porque o Tite iria fazer, não é mesmo?
Oras, façam-me o favor! Se Paulinho não estava bem, porque insistir com ele, obrigando William a jogar aberto pela ponta? O tal “foguetinho” não teria sido mais útil pelo meio, em sua posição original? Lutou muito, mas produziu pouco, por ali.
Perdido na ponta me fez lembrar o Bernard “alegria nas pernas” de Felipão, em 2014.
Se o esquema privilegiava Neymar, porque deixa-lo centralizado, fazendo com que trombasse com Philippe Coutinho? O Neymar que queríamos era aquele aberto pela ponta, veloz e insinuante, abrindo as defesas adversárias com apetite, do passado.
Não esse parado, diante de uma zaga já postada, sem ter cacoete de camisa 10 para resolver. No frigir dos ovos, um acabava atrapalhando o outro.
Notem que Coutinho jogou melhor nas duas primeiras partidas e depois sumiu nas duas seguintes, enquanto Neymar justamente melhorou nas duas últimas, após estar sumido nas duas primeiras. A imprensa creditou isso exclusivamente a ele estar voltando de contusão. Mas para mim, além disso, contou muito o fato de ambos estarem mal posicionados, quase que sobrepostos em campo, num mesmo espaço.
Será que ninguém enxergava isso, que os dois estavam se espremendo por ali e que a marcação adversária ficava facilitada, além do jogo não fluir, porque se concentrava muito ali, ainda mais quando Marcelo descia?
Agora, convocar Fred, Taison e mais uma meia dúzia, era dar ao time, a certeza de que faltariam opções no banco, quando fosse necessário. O próprio Renato Augusto só se salvou, por acertar uma cabeçada de rara felicidade. Por mim, não teria ido, também.
E pensar que tanta gente boa ficou por aqui, no Brasil!
Vanderlei, Marcelo Grohe, Marcos Rocha, Rodriguinho, Luan…
Dava para ter testado os meninos Arthur, Pedrinho e Paquetá. Ou até ver como seria com um jogador mais experiente no meio, pra melhorar a qualidade do passe, como o Hernanes, que salvou o São Paulo do rebaixamento, recentemente.
Notem que não há nenhum craque, entre os que eu citei. Até porque, eles estão desaparecendo do futebol brasileiro. E do mundial. Senão, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar já teriam decidido ao menos alguma das Copas que disputaram. Agora surgiu o menino Mbappé e tome compará-lo a Pelé. Hoje é muito marketing, gente!
Enfim: precisamos urgentemente, retomar nossa vocação de jogarmos no ataque, pelas pontas, com um camisa dez raiz, com bola no chão. Temos que retornar às nossas antigas características: do drible, da ginga, da malícia, do futebol atrevido, moleque, ofensivo. Dos gols.
Voltar a fazer os gringos se preocuparem em como é que irão conseguir parar os nossos dribles e não ficarmos nos preocupando tanto com a bola aérea deles.
Deixar esquemas rígidos e invencionices europeias de lado e recuperarmos nossa identidade futebolística, tão descaracterizada nessa década medonha.
O Brasil possui uma nova leva de jovens treinadores, cheios de vontade e talento.
Por que não se pensa em uma comissão de três, quatro treinadores, como na NBA, por exemplo? Ilusão? Ilusão é o Tite dizer que olhava para o banco e só via “feras”.
Estivesse vivo e o sábio João Saldanha estaria rindo, porque quando ele chamou seus jogadores assim, estava se referindo a Pelé, Gérson, Riva, Jairzinho, Tostão…
Mas conduzir a Seleção Brasileira é algo que envolve muita responsabilidade, eu sei.
O fardo é pesado para apenas um. Por isso, apenas responsabilizo Tite, mas não o condeno, apesar das minhas críticas. Condeno sim, é esse discurso de continuidade, esse “status quo” que se instalou na Seleção Brasileira.
Enquanto isso, a França se sagra bi em 2018, com gol de bola parada, gol contra e até ajuda do VAR. O goleirinho francês quis driblar o croata dentro da área e deu vexame. Quanta emoção! Alguém me acorde na hora de começar o desenho, por favor.
O predomínio europeu aumenta cada vez mais no torneio e as coisas ficarão mais difíceis, com 48 seleções. A Copa se torna, a cada edição, mais desinteressante para o torcedor brasileiro, que hoje anda preferindo até o Mundial de Clubes.
Falta perceber que o futebol não deveria ser “show business”, muito menos jogador se tornar “astro pop”. Que o futebol nacional vive um momento quase lúgubre, isso sim!
Enquanto a massa torcedora admira a beleza que foi o evento na Rússia e discute por aí a importância do “VAR”, os gringos nos passam cada vez mais para trás, garantidos também, pelo discurso de continuidade desse futebol brasileiro, que está aí.
Quanto a mim, só me resta continuar como um solitário torcedor gritando no meio do deserto contra esse tipo de coisa, enquanto o coração saudosista não se esquece das gerações de craques que um dia, nos deram as glórias do pentacampeonato mundial: Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Pelé, Gérson, Carlos Alberto, Jairzinho, Tostão, Rivellino, Romário, Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e outros; num tempo em que o Brasil dominava o mundo com a magia de seu futebol, a qual o Museu da Pelada não se cansa de relembrar.