CLAUDIOMIRO, QUANDO O FUTEBOL NOS BRINDA COM UM SORRISO
por André Felipe de Lima
Claudiomiro chegou a ser apontado pelo escritor Luis Fernando Verissimo como craque superior a Zico. O voto do magistral escritor e cronista em uma enquete impediu que ídolo rubro-negro ingressasse na lista da hipotética seleção dos sonhos. “Até hoje tem flamenguista que quer me matar”. Mas o atacante baixinho e atarracado ficou famoso mesmo pela célebre declaração sobre Jesus Cristo que rende, até hoje, comentários hilariantes. Não foi nenhum agradecimento por vitória alcançada, foi uma entrevista quando chegava à Belém do Pará, para o duelo entre o seu Internacional e o Paysandu, em jogo válido pelo campeonato brasileiro de 1972. “Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu”, disse Claudiomiro a um repórter. Mas merece que falemos do futebol que tinha: era centroavante polivalente do Inter entre o fim dos anos de 1960 e a década de 1970. Batia na bola com as duas pernas e era muito veloz. Ganhou o apelido de Bigorna, pois, baixinho e atarracado, apanhava muitos adversários e saía ileso. Só perdeu três dos 34 clássicos que disputou contra o Grêmio.
Claudiomiro Estrais [ou Streis, como muitos alegam ser a grafia correta] Ferreira nasceu em Porto Alegre, em 3 de abril de 1950. Dona Adelaide, mãe de Claudiomiro, foi criada por um casal de alemães. Por isso o sobrenome germânico do craque. O pai, Elpídio Ferreira, tinha muitas dificuldades para sustentar a família. Além de Claudiomiro, havia mais três filhos, Flávio e Ivan. Todos ajudavam no parco orçamento da família, fazendo carretos em Canoas, com uma carrocinha.
Foi Dona Adelaide quem o levou para um teste no Inter quando ainda tinha apenas 13 anos. Na primeira tentativa, o menino foi dispensado. Ambos retornaram muito decepcionados à Canoas, onde moravam, mas sem perder a esperança. Um dia surgiu um convite do Grêmio. O menino recusou-o. Afinal, toda a família era colorada. E o Inter foi mesmo o seu primeiro clube, onde chegou aos 14 anos de idade para submeter-se aos teste de Daltro Menezes, no time infantil . Uma oportunidade que surgiu graças ao comerciante José Ghilosso, amigo do pai de Claudiomiro e conselheiro do Inter . Todo o dinheiro que ganhava nos juvenis do Inter, enviava para a os pais, em Canoas.
Foi artilheiro do campeonato brasileiro de Juvenis, em 1967, e, tempos depois, subiu para os profissionais, quando contava 18 anos, por intermédio do técnico Sérgio Moacir Torres, ex-goleiro do Grêmio. Seria o começo da glória de Claudiomiro no Inter, que disputaria seu primeiro campeonato nacional, o Torneio Roberto Gomes de Pedrosa, competição em que o Inter, no dia 28 de maio, derrotaria o Corinthians dentro do Pacaembu. Foi a primeira vitória de um time gaúcho contra um paulista dentro de São Paulo. Um feito histórico, que mobilizou a torcida em Porto Alegre.
O atacante conquistou seis campeonatos gaúchos seguidos, de 1969 a 74. Na final de 72, fez o gol único sobre o Grêmio.
Aos 22 anos, defendeu a seleção brasileira na Argentina, na disputa pela Copa Rocca. Estava no elenco nos dois jogos de despedida de Pelé da seleção, o do Morumbi e o do Maracanã. Claudiomiro vestiu apenas cinco vezes a blusa canarinho e marcou um gol. Dentre os feitos mais significativos em toda a carreira, o de ter marcado o primeiro gol no estádio Beira-Rio, na vitória por 2 a 1 sobre o Benfica, de Portugal, em 6 de abril de 1969 .
Enfrentando problemas de peso e no joelho, Claudiomiro só deixou o clube em 1975, para defender o Botafogo. Em 1976 e 77, jogou por Flamengo e, em 78, pelo gaúcho Caxias. Visivelmente fora de forma e “brigando” com a balança, o centroavante ainda encontrou forças para jogar pelo Novo Hamburgo, em 1979. Mas não por muito tempo porque o Inter resgatou-o. E, após várias infiltrações no joelho direito, concluiu que tinha de pendurar as chuteiras, com apenas 29 anos.
Em Canoas, interior gaúcho, Claudiomiro candidatou-se a vereador, mas não se saiu bem nas urnas. Repetiu a tentativa para deputado estadual e federal. Micou novamente. Como funcionário da área de comunicação social do clube, divulgou a marca “Internacional” pelo interior dos estados do Sul para conquistar novos torcedores do Colorado. E o “garoto propaganda” convencia. Afinal, foram 205 gols em 424 jogos com a camisa vermelha.
REMINISCÊNCIAS DE UM TORCEDOR
por Émerson Gáspari
Um dia me disseram que as lembranças afetivas que nos acompanham pela vida, nada mais são do que o desejo velado de que as coisas continuassem a ser como outrora.
Nada mais verdadeiro do que isso.
Meu coração atua como um autêntico “relicário de lembranças” sempre que minha mente descortina fatos que o tempo tolamente insiste em tentar apagar, revelando-me um incorrigível saudosista, especialmente no futebol.
Foi meu saudoso pai, o responsável por incutir em mim o “vírus futebolísticus”, há meio século.
Eu sequer havia completado oito meses de vida e já estava – levado por meus pais – misturado à massa torcedora que recepcionava os heróis jundiaienses chegando de São Paulo, campeões invictos da “Divisão de Acesso”, pelo Paulista de Jundiaí.
Estávamos então, no inesquecível ano de 1968: aquele que “não terminou”.
Todavia, minhas primeiras reminiscências datam do início dos anos 70.
Lá estava eu – então com quatro, cinco anos – nos vestiários do estádio Jayme Cintra, vendo o altar a Nossa Senhora num cantinho, percorrendo o túnel e pouco depois, já correndo pelo gramado à noite, com os refletores ligados e as arquibancadas vazias, enquanto meus pais conversavam com o ex-presidente do clube, Wanderley Pires.
Daquela mesma época, recordo-me vagamente de uma partida com placar final de 0x0. Eu estava nas sociais, junto de meu pai, meu avô e um tio.
Meu pai nasceu em Jundiaí em 1931 e desde garoto, adorava futebol. Jogava nos campinhos do Vianelo, frequentados também por seu amigo Dalmo Gaspar, lendário lateral do Santos de Pelé.
Na juventude, atuou por diversos clubes amadores; sempre como central. Dizia que, por ser canhoto, achava mais fácil desarmar os atacantes, geralmente destros. Tinha um chute potente de esquerda e batia de três dedos na bola, com precisão.
Corintiano roxo, apesar do pai palestrino, adorava me contar histórias sobre quando apanhava um trenzinho e ia ver na capital, o Timão do IV Centenário no Pacaembu da “Concha Acústica”, o Palmeiras da Academia, o São Paulo levantando o Morumbi, o Santos de Pelé, a Lusinha, o Juventus e tantos times de um período romântico do nosso futebol que o progresso e sua silenciosa estupidez conseguiram enterrar.
E eu adorava ouvi-las.
Viciado nos jornais “Gazeta Esportiva”, “Jornal da Tarde” e na revista “Placar”, eu curtia também, confeccionar meus próprios times de botão, com a carinha dos jogadores para depois brincar, irradiando as partidas – em imitações fidedignas – dos maiores locutores do rádio paulista: Fiori Giglioti, Osmar Santos e José Silvério.
Tempos também, do “Show de Rádio” e as intermináveis “Jornadas Esportivas”.
Na minha Jundiaí, a melhor estação sempre foi a Rádio Difusora, comandada na época, pelo saudoso locutor Hélio Luiz. O então repórter de campo, Adilson Freddo, continua lá até hoje, chefiando o esporte daquela emissora tão cativante, que já passou dos 70 anos de fundação.
Já o redator-chefe do Jornal da Cidade, o jornalista Sidney Mazzoni – de quem inclusive herdei o estilo de escrita – e que produzia a coluna diária de futebol mais badalada da cidade, a “Tirando de Letra” – partiu desse mundo já há algum tempo.
Eu e meu pai não perdíamos um programa futebolístico sequer.
Às vezes o velho exagerava.
Como quando resolveu levar o radinho de pilhas para ouvir uma partida durante uma festa de aniversário, para desgosto de minha mãe.
Seu papo era rico e variado. Versava facilmente sobre assuntos como atualidades, política, educação, realidade social, economia, história, astronomia e – é claro – esportes. No futebol então, ninguém o superava.
Lembro-me com desmedida saudade, das inúmeras vezes em que o acompanhei em seu trabalho pelas cidades e estradinhas que circundam Jundiaí, a bordo da Variant 70, bege (SL 8580) e dos nossos intermináveis e entusiasmados papos sobre futebol.
Nunca mais tive um parceiro futebolístico assim. Nunca mais.
Nos sábados bem cedo, batíamos uma bolinha no gramado de um clube social, antes que a rapaziada chegasse e tomasse conta do campo, para disputar uma pelada.
Eu no gol, meu pai chutando enviesado, colocado, rasteiro.
O velho botava fé que eu no futuro fosse goleiro do Paulista, porque realmente levava jeito, mas eu – tolamente – nunca quis tentar. Perdi talvez a chance de fazer parte da história do clube pelo qual torço.
Aos doze anos, comecei a pressioná-lo para que me levasse ao estádio. Eu ia equipado com um baita cornetão para azucrinar os adversários e trajando a camisa do Galo.
Bons tempos do inesquecível Joseph Pfulg à frente do clube.
O Paulista teve alguns presidentes que se destacaram ao longo de sua centenária história: Wanderley Pires, Eduardo Palhares… mas só um “pai”: o suíço Pfulg, presidente da Vulcabrás e que de futebol nunca entendeu, mas foi um ser admirável que sabia lidar com pessoas e fez tudo o que fez, desprovido de vaidade ou qualquer interesse pessoal que não fosse apenas o de retribuir à sociedade, tudo o que conquistara na cidade que o acolheu.
Todavia, houve um período em que o acesso para a Primeirona teimava em não vir e um torcedor “sem noção” pichou no muro do estádio: “FORA PFULG”.
Para desespero geral, ele ameaçou sair e então, lhe enviei uma carta comovente, lançando um apelo em nome da torcida, o qual – soube depois – o emocionou muito. Não sei até que ponto isso influenciou, mas o fato é que Pfulg acabou ficando.
Torcedor tem que fazer a diferença.
Não me esqueço do primeiro jogo “noturno” ao qual assisti – vencido nos acréscimos e de virada – em cima do Santo André, graças à “arma secreta” do treinador Adailton Ladeira: o folclórico Marco Antônio “Telefone”, verdadeiro talismã do time.
Um crioulo simpático, sorridente e brincalhão, nada clássico ou hábil com a bola.
Mas que “incendiava” o jogo e arrebatava a torcida com suas arrancadas empolgantes e uma raça inigualável. Se a peleja apertava, a torcida logo começava a gritar, exigindo:
– Põe o Telefone! – e costumava ser prontamente atendida.
Mesmo depois que ele deixou o clube, a torcida – por pura farra – continuava a pedir sua entrada e todos caíam sempre na gargalhada.
Agora, inacreditável para mim, foi – vinte e cinco anos depois – voltar ao Jayme Cintra (quando eu já morava aqui em Ribeirão Preto e fui ver meu time treinado pelo meu amigo e vizinho, o técnico Vagner Mancini) e, ao longo de uma dura partida diante do Coritiba pelo Brasileiro, ouvir a torcida ainda pedindo: “Põe o Telefone!”.
Disse para dois velhinhos com quem fizera amizade naquele dia, que não acreditava no que ouvia tantos anos depois, perguntando-lhes então, pelo paradeiro do jogador.
Rindo, eles responderam que se eu não acreditava no que ouvia o que iria dizer então, a respeito do que eles apontavam na curva das arquibancadas, mais abaixo.
Olhei e confesso que não pude crer no que vi: um senhor negro, cinquentão, usando abrigo e tênis esportivo, barba toda grisalha, braços cruzados e sorriso inconfundível, balançava a cabeça, enquanto ria dos gritos da torcida.
Era ele mesmo, o “Telefone”, em carne e osso, divertindo a galera. Incrível!
Como não amar uma torcida dessas?
Pena que meu pai já não estivesse mais entre nós, nesse dia. Iria se divertir a valer.
As lembranças são muitas. Dariam um livro. E um rio de saudosas lágrimas.
Por isso, vou encerrar por aqui, contando a vocês, duas historinhas apenas, ocorridas em jogos nos quais tive o prazer de poder acompanhar, das arquibancadas.
Um deles, o mais emocionante que já presenciei no estádio Jayme Cintra, ao lado de meu pai. Já o outro, sozinho em São Carlos, onde eu passava sempre as férias escolares e acabei – acreditem – ajudando a decidir a partida.
São histórias inesquecíveis para mim. E quero dedica-las a todos os queridos torcedores que sempre me honram com sua leitura e comentários elogiosos no Museu da Pelada. Em especial, a Abílio Macedo, Carlos Vianna, Walter Duarte e Jorge Vitório (que inclusive batiza minhas crônicas de “texto Gáspari”).
Espero que gostem.
– o –
Estávamos na primavera de 1982.
No ano anterior, o Paulista estivera próximo do acesso à Divisão Especial, perdendo a vaga na semifinal. Mas agora, apesar do elenco reforçado, as dificuldades começariam mais cedo. O “Galo da Japy” precisava vencer o Palmeiras de São João da Boa Vista e se classificar para a fase seguinte do campeonato da Intermediária.
O adversário não era lá essas coisas, mas havia um obstáculo a ser vencido: o goleiro Cláudio, verdadeiro “paredão” – o melhor do torneio – mais até, do que Eli, do Aliança Clube, famoso por permanecer mais de seiscentos minutos sem tomar gols.
Cláudio era verdadeiramente um goleiro completo, geralmente o menos vazado no campeonato e contra o Paulista, desdobrava-se, saindo sempre com todos os prêmios de melhor em campo, além de sustentar (quase sozinho!) um tabu diante do Galo, que começava a incomodar.
Naquele domingo de sol, nem precisei pedir ao meu pai: ele mesmo já foi confirmando que deveríamos ir bem cedo, pois o estádio iria lotar. Na verdade, já fazíamos isso, pois ir ao Jayme Cintra naquele tempo era um evento para a tarde toda. Você chegava cedo e havia sempre uma partida interessante na preliminar, fosse de mulheres, de veteranos ou aquela que a torcida mais gostava: com o badalado time de juniores do Paulista.
Essa equipe de jovens disputava os jogos do antigo “Desafio ao Galo”, transmitido aos domingos de manhã, pela TV Record, direto do campo da CMTC, na capital.
Nessas ocasiões, o time envergava outra camisa: a do “Passarin” de Jundiaí e fez realmente muito sucesso, sendo inclusive campeão na temporada 80/81.
Certa vez, permaneceram tanto tempo “cantando de galo” no torneio, que para tirá-los de lá, foi preciso formar uma “Seleção de Campinas” com direito a Carlos, Polozzi e outros profissionais com nível de Seleção Brasileira, para que fossem derrotados por 2×1 e terem sua longa invencibilidade quebrada.
A maior revelação daquela equipe acabaria sendo o centroavante Ricardo, que logo subiu para o time de cima do Paulista e depois de alguns anos como artilheiro no tricolor, acabou contratado por Castor de Andrade e sua pasta cheia de dinheiro vivo em 1986, indo jogar no Bangu e depois em Portugal.
Pois naquela tarde não aconteceu preliminar alguma. Aliás, nem mesmo a equipe da RTC – Rádio e Televisão Cultura estava lá, para filmar o jogo e mostrar os melhores lances no programa “É Hora de Esporte”, na segunda-feira, ao meio-dia.
No lugar de tudo isso, tivemos a visita mais indesejada que poderíamos receber: uma chuva repentina, torrencial e gelada (fato comum, em Jundiaí), que começou meia hora antes do espetáculo.
Foi realmente terrível!
A certa altura, quando já nos encontrávamos encharcados “até os ossos” (para que vocês me entendam bem) por aquele verdadeiro “dilúvio”, meu pai teve a ideia de começar a pular para aquecer o corpo gelado, sendo prontamente acompanhado por mim e pela torcida, que já não aguentava mais e entoava o grito de “Gaaaaloooo, Gaaaalooooo…) por todos os cantos do estádio, o qual a esta altura, já apresentava dois terços de sua capacidade, ocupada.
Atendendo aos pedidos, o time saiu dos vestiários mais cedo, enquanto o temporal amainava. O Palmeiras veio em seguida.
Tudo pronto começou a verdadeira “batalha épica” em busca do gol salvador, já que o adversário era realmente um time limitado, que pouco atravessava o meio de campo.
Agora, havia mais um problema que surgia para atrapalhar o tricolor, uma equipe de maior envergadura técnica e toque de bola: o estado prejudicado do campo.
O Jayme Cintra tinha um belo gramado e sistema de drenagem, mas o volume de água que caiu foi realmente absurdo, a ponto de fazer o campo começar a “enlamear” em alguns lugares, atrapalhando (e muito) o toque de bola.
Disso se valia o adversário, que estourava qualquer bola para fora, assim que um ataque mais eminente se desenhava.
E tome cobrança de falta que o goleirão “se virava” para pôr a escanteio. Ou cabeçada que Cláudio salvava, de ponta de dedos. Foram várias chances perdidas. Até que o primeiro tempo terminou mesmo num 0x0, apesar daquele bombardeio todo.
No segundo, já com o sol querendo retornar, a roupa que secou no corpo e a garganta ficando completamente rouca de tanto tocar meu cornetão e puxar o grito de “Galo, Galo, Galo” (que meu pai apoiava e sempre acabava dando certo, pois contagiava a torcida que se inflamava e passava a gritar e empurrar o time também) o Paulista veio atacar bem no gol onde nos encontrávamos mais próximos.
Virou definitivamente um jogo de um lado apenas do gramado, o qual parecia ficar, a cada minuto que passava, mais e mais impraticável, dificultando por demais, o equilíbrio dos jogadores e o domínio de bola.
A dramaticidade foi chegando ao extremo: quando não era Cláudio que defendia, era o pezinho salvador de algum zagueiro do Palmeiras ou mesmo a trave e até, em certos lances, o próprio nervosismo ou o puro azar, que atrapalhavam tudo.
A menos de dez minutos do fim, o treinador colocou o atacante reserva Mosca em campo. Mais um, para tentar furar aquela barreira aparentemente intransponível. Jogador rodado, veterano já, que na primeira bola na qual partiu atrás, demonstrou toda sua vivência futebolística: pressionado por dois zagueiros, “mergulhou” na grande área em meio às poças de lama. Pênalti! Eram 39 minutos.
Mas o medo bateu logo: e se o gol não viesse? Muitos torcedores, me recordo, viraram de costas para o gramado.
A tensão era imensa. O capitão Pedro Omar apanhou a bola e caminhou até a marca de pênalti, mas teve dificuldade em colocá-la (o pior lugar de todo o campo, pois estava alagado, bem ali). Por várias vezes tentou ajeitá-la e nada.
Cláudio usou de muita catimba, reclamando bastante com o juiz de que a bola estava adiantada em relação à marca penal (a qual nem podia ser vista, sob a água barrenta).
O árbitro corrigiu Pedro Omar que, com nervosismo, chutou insistentemente com a lateral do pé, parte do acúmulo de água sob a redonda. Eram decorridos 43 minutos. Se ele falhasse, não haveria tempo praticamente para mais nada.
Estranhamente, não se distanciou muito. Correu e bateu – não com a pancada costumeira – muito menos no canto. Foi de uma frieza absurda, até.
Então, o tempo pareceu congelar nesse instante e o próprio mundo por um momento, parou de girar, talvez!
A lama. O chute seco. O corpo do goleiro tombando timidamente para o lado esquerdo. A pelota em câmera lenta se encaminhando, baixa, para o centro da meta. Cláudio percebendo que ia passar da bola e retorcendo o corpo, para tentar voltar a tempo. Um filete de suor a me escorrer pela têmpora. A engolida em seco de muitos torcedores. O desespero estampado no rosto de meu pai.
O suspense, na garbosa voz de Hélio Luiz, entrincheirado na cabine da Difusora, enfartando quem estivesse ouvindo aquele drama todo, pelo rádio:
– Prepara-se Pedro Omar para a cobrança… não tomou muita distância… autorizado… partiu para a bola, pé direito, bateu: gooooooooltricolooooooorrrrr!!!
Bandeiras tremulando, rojões, palmas, gritos, risos: a agonia que tomara conta do estádio se transformava agora no delírio de uma torcida sofrida, apaixonada e linda.
– o –
Minhas férias escolares eram invariavelmente desfrutadas em São Carlos, na casa de meus queridos avós. Naquele mês de julho de 1981, não seria diferente.
Aos 13 anos, atleta do judô e praticante de vários esportes, eu já entrava no cinema tranquilamente em filmes de censura 18 anos.
Então, não tive dificuldades para comprar meu ingresso no estádio Luís Augusto de Oliveira, o “Luisão” e acompanhar sozinho, a uma partida do Grêmio Esportivo São-carlense, o qual curtia ouvir os jogos sempre pela Rádio São Carlos, bem como, ler as matérias a seu respeito, nos três jornais da cidade: a Folha, o Diário e a Tribuna, todos ainda impressos em placas de chumbo.
Tive até um time de botões com uma das formações do clube: Luiz Sérgio, Paulo Felisberto, Bussolan, Hamilton, Ederaldo e Carlinhos; Silvano, Horácio, Elias, João
Carlos Traina e Serginho. Mas voltemos ao jogo.
Na semana anterior, pela primeira rodada do segundo turno, o “Lobão Sorriso” havia arrancado um belo empate fora de casa (1×1) frente o Corinthians de Presidente Prudente e direito a golaço com chapéu aplicado no goleiro e tudo o mais.
A partida em casa, diante da Votuporanguense, era fundamental para confirmar a reação da equipe, a qual no primeiro turno não havia ido nada bem, sofrendo três goleadas e rondando a perigosa zona de rebaixamento.
Não sei se já disse a vocês, mas meu coração de torcedor é tão grande, que consegue abrigar, com intensa paixão, vários clubes ao mesmo tempo.
No interior, além do meu Paulista de Jundiaí – terra onde nasci – ainda há espaço suficiente para o Grêmio São-carlense e para o Comercial, pois moro em Ribeirão Preto faz trinta e cinco anos.
Sempre soube, desde muito cedo, da minha importância como torcedor e da dimensão que isso pode tomar. Por isso, de certa forma me orgulho em ter ajudado diretamente o Grêmio a vencer a partida, naquele dia.
O time da casa começou melhor a partida e em dois ataques pontuais, abriu uma vantagem de dois gols logo nos primeiros minutos, para a nossa felicidade.
Imediatamente, entretanto, resolveu recuar e passou a sofrer um sufoco “daqueles” por parte dos visitantes, até o fim do primeiro tempo. Foi um recuo calculado, porém preocupante, pois a cidadela são-carlense esteveprestes a cair, várias vezes.
Na segunda etapa, o drama prosseguiu: a equipe acovardada, o goleio gremista trabalhando demais, os zagueiros estourando a bola para qualquer lado, até que o time de Votuporanga enfim descontou (quando na verdade, merecia era estar ganhando de virada!).
Com o gol, baixou um silêncio momentaneamente sepulcral no estádio. O treinador permaneceu calado no banco, desanimado. A torcida – cerca de mil pessoas – muda.
Os atletas retornavam cabisbaixos para nova saída, no círculo central, lentamente.
Foi quando, aproveitando-me por estar posicionado bem no meio das acanhadas arquibancadas, ali pelo sexto ou sétimo degrau, logo acima do alambrado, berrei – a plenos pulmões – com toda fúria, para que os jogadores mais próximos ouvissem:
– Satisfeitos agora ou só quando eles empatarem? E a torcida que veio apoiar, vai passar vergonha? Cadê a raça?
Com o sangue fervendo, percebi que vários torcedores me olharam, espantados.
O juiz me observou enquanto mexia em seu cronômetro e vários atletas dos dois times, também, em silêncio.
Então, um jogador gremista, solidário à minha cobrança, de súbito bateu palmas para chamar a atenção dos companheiros, dizendo:
– Ele tá certo! Vamos dar o sangue!
Ato contínuo, três ou quatro companheiros mais próximos concordaram com a cabeça.
Incrível: instantaneamente, acabou a apatia. Passaram a dividir todas as bolas, jogando com mais ânimo e principalmente, voltaram a atacar.
Estávamos quase na metade do segundo tempo e dali por diante, o Grêmio ainda desperdiçou duas ou três oportunidades para ampliar, não passando mais sustos até o final da partida, quando então os atletas receberam nossos merecidos aplausos.
Confesso que fiquei satisfeito. Para mim, um clube só existe em razão de sua coletividade e o torcedor tem que fazer a diferença.
Ao me levantar para ir embora, alguns gremistas mais próximos, nas arquibancadas, vieram me congratular pela bronca que dei nos atletas, perguntando se eu não apreciaria fazer parte de sua torcida organizada, também.
Agradeci, explicando que por ser de fora eu não poderia, mas que eles não deixassem nunca de apoiar o time, mesmo quando tudo parecesse perdido, pois ele, mais do que qualquer um, precisava.
E fui embora, solitário e feliz, com a certeza de ter cumprido com a minha missão de torcedor do Grêmio, de alguma forma, naquele dia.
O FUTEBOL DO FUTURO
por Mateus Ribeiro
Não faz muito tempo que acompanho futebol. Talvez, uns vinte e sete anos. Porém, mesmo sendo pouco tempo, eu pude observar inúmeras mudanças, seja dentro ou fora do campo.
Todas essas mudanças aconteceram rápido demais, o que acabou me deixando um pouco assustado. Dia desses, pensando no que o futuro pode reservar, fiz um exercício que misturou previsões, paciência, uma dose de bom humor, e imaginei como o futebol poderá estar em 2050.
É sempre bom avisar que essa lista é uma brincadeira, portanto, peço que não encarem tão a sério (apesar do meu medo de que algumas coisas aqui se tornem realidade).
Então, vamos lá. De acordo com todas as transformações que vi até hoje no futebol, daqui algumas décadas, essas serão as mudanças pelas quais nossa judiada paixão passará:
1 – Os nomes dos times mudarão: Acredite se quiser: com a onda cool que tomou conta do futebol desde os anos 2000, muitos times tradicionais do futebol mudarão seus nomes. O Corinthians se tornará Itaquera Hawks, o Palmeiras passará a se chamar Big Green Falcons, o tradicional Santos mudará sua razão social para Beach Boys. O Grêmio será conhecido por Immortal Blues, o Fluzão será o Xerém Warriors, e o Atlético Paranaense vai ser chamado de Hurricane.
2 -A imprensa esportiva vai ficar pior: Acredite, o que parecia não ter como ficar pior, vai piorar, e muito. Os programas esportivos são apresentados por ex participantes de reality shows, e jogadores como Ganso, Pato, Lucas Moura, Bernard e Elias comandarão uma mesa redonda, que além de muito sem graça, contará com a presença de cientistas da NASA, que explicarão o futebol através de cálculos astronômicos. Aliás, depois do 4–1–4–1, o esquema da moda será o 1–1–1–1–1–1–1–1–1–1, onde cada jogador ocupa uma faixa do campo.
3 -Sistema de Draft: Da mesma forma que os esportes americanos, o futebol adotará o sistema de draft. Universitários serão escolhidos, porém, de maneira diferente. Ao invés do clube analisar seu desempenho nas competições, a beleza e o potencial de marketing do possível futuro jogador serão analisadas, além da popularidade nas festinhas da faculdade. O goleiro Alisson comandará a comissão de escolha, por ser um dos pioneiros da dinastia da beleza no futebol nacional. E ah, a capacidade técnica será apenas um detalhe.
4 – Mudança dos uniformes: Sabe a expresão “fulano joga de terno”? Pois bem, ela vai se tornar realidade. Para deixar o futebol mais plástico e glamouroso, não teremos mais uniformes como os atuais. Afinal, um esporte tão elitizado não pode ter como traje algo tão simplório como essa coisa brega de camisa, calção e meião.
5 – Transferências com valores astronômicos: Esqueça os milhões. Os jogadores agora mudarão de time por bilhões. E não será nem em euros. As transferências serão pagas em barras de ouro (que valem mais do que dinheiro e moedas virtuais).
6 – Teremos apenas dois jogos por mês: Cansados da rotina cansativa de viagens, jogos, entrevistas, estadias em hotéis de beira de estrada, refeições nos restaurantes menos apresentáveis, e campanhas publicitárias om baixo retorno financeiro, os jogadores (ou players) decidiram que para sofrer menos, o ideal é que se jogue uma vez a cada 15 dias. A CBF acatará a decisão, em nome do bom futebol.
Pelo visto, o futuro é nebuloso.
E aí? Você acha que dá pra encarar o futebol do futuro?
Um abraço, e até a próxima.
PEDRO, PAQUETÁ, IVETE, ANITTA
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Entrei para o boxe. Precisava extravasar de alguma forma. Tenho visto os debates e sinto em informar que esse país acabou. Coronéis, jagunços, verdes sem conteúdo, mauricinhos, enfim, as figurinhas repetidas de sempre.
Cansei, entrei para o boxe e soco o boneco de borracha até cansar. Esse país não tem jeito. Como diz um amigo meu, estamos no bico do urubu. Não tem luz no fim do túnel, não tem nada. Não há propostas, só teatro. Saudade de Paulo Autran, Paulo Gracindo e Dina Sfat. Cansei.
Minha vida é socar bonecos para conseguir dormir, exausto. Tenho a alternativa de não votar, mas isso não basta. O certo seria, se não temos bons candidatos, que fosse suspensa a eleição. No futebol, também poderia ser assim. Se não há bons nomes, se a safra é ruim, que seja cancelada a nossa participação em qualquer torneio.
Estou exausto, triste com o que estão fazendo com o nosso país e com o nosso futebol, a maior paixão desse povo. O Tite deveria ter vergonha de sair na rua. Ele nos deve uma explicação. Mas teve a cara de pau de criticar a França e disse que só aceitou continuar ganhando seus milhõezinhos por mês após uma longa conversa com a esposa. Não só topou seguir no comando como trouxe o filhão junto para reforçar a renda familiar.
A imprensa não fala nada. Ri. Elogia. A imprensa não questiona qual foi o empresário que mais saiu ganhando nessa convocação. Eu gostaria de saber, algum Sportv da vida poderia me responder ou vão continuar passando a mão na cabeça do pastor?
Ninguém vai questionar a convocação do goleiro Hugo se até os rubro-negros não entenderam nada? Vão acreditar nessa ladainha de convocar alguém do sub-20 para ganhar experiência, é sério que vão? E se fosse para convocar algum sub-20 o nome certo seria o Hugo? E esse outro que joga na Bélgica? Por que o nome dele sequer foi lembrado nas dez últimas convocações?
Juram que não vai aparecer um jornalista questionador, juram que vou ter que continuar socando bonecos até os meus últimos dias? Juram que o Tite vai continuar debochando com a cara de vocês? É verdade que o Fágner e o Renato Augusto foram chamados novamente? O Léo Moura com 40 anos e sem uma perna é melhor do que ele. É sério que Pedro e Paquetá são os grandes astros do futebol brasileiro? O que faz a carência de ídolos.
Vocês já perceberam em quantas campanhas Ivete Sangalo e Anitta estão? É o melhor que nós temos? Vocês já ouviram falar em Bossa Nova, Tropicália, festivais da canção? Não é saudosismo, é realidade. Pedro e Paquetá são as Ivete e Anitta do futebol. Não quero desmerecer ninguém, mas faltam referências.
Me desculpe, Tite, mas essa convocação foi como escrever “otário” em nossas testas. É sério que você vai ficar até 2022 convocando essa rapaziada com o simples intuito de valorizá-los no mercado internacional? O mundo sabe que basta uma convocação para os clubes europeus abrirem suas portas.
Não sou jornalista e não jogo mais bola, também sei que minha voz não ecoa o suficiente para que todo esse mistério seja desvendado. Hoje, pratico boxe. Soco o boneco com força. Enquanto treino, lembro Cassius Clay, Joe Frazier, Éder Jofre. Sou de uma geração em que os ídolos emocionavam. Jamais me contentarei com pouco. Me desculpe, Tite, mas não torço mais por SUA seleção porque ela é só SUA. Tite, acredite, hoje só me resta socar.
DUELOS ANTOLÓGICOS EM SÃO PAULO
por Émerson Gáspari
O futebol acrescenta jogos na história praticamente todos os dias.
Ao final de cada campeonato, são centenas de confrontos que viram arquivo, sendo então, rapidamente esquecidos.
A própria falta de televisionamento no passado contribuiu para que muitos deles, num passado mais distante, caíssem no mais completo esquecimento. Outros, dada a época, sequer foram filmados. Várias partidas, no entanto, foram especiais.
Este texto tem por intenção, impedir que algumas se percam para sempre, já que o tempo insiste implacavelmente em tentar varrer a história para debaixo do tapete, cabendo a nós, o dever de perpetuá-la através das gerações.
Como paulista, destaco aqui confrontos realizados em São Paulo – inclusive no interior, em sua fase áurea – sobretudo para conhecimento dos torcedores de outros estados.
São quinze partidas inesquecíveis, por uma ou outra razão.
Algumas, conhecidas apenas nas cidades em que foram realizadas ou exclusivamente pelas torcidas dos clubes nelas envolvidas. Mas que merecem ser conhecidas do grande público, também.
Torço para que após esta minha iniciativa aqui no Museu da Pelada, surjam outros textos, revelando confrontos sensacionais nos demais estados do nosso país, também.
Ou pelo menos, resenhas que abordem jogos maravilhosos ou curiosos que já tivemos.
Obviamente esta pequena lista não tem pretensão alguma de ser um ranking, muito menos, ter qualquer efeito oficial. Pelo contrário: os dois primeiros jogos envolvem o meu clube de coração, o Paulista de Jundiaí.
Trata-se apenas uma lista pessoal, descompromissada, a qual não merece reparos em suas escolhas, mas sim, ser acrescida de outros jogos que possam, eventualmente, serem relembrados pelos queridos amigos leitores.
Portanto, mãos à obra! E boa leitura.
PAULISTANO 5 X 4 PAULISTA (10/10/1920)
“A TAÇA FICOU EM SÃO PAULO, MAS A COMPETÊNCIA FOI PARA JUNDIAÍ!”
Onze vezes campeão paulista e chamado pelos franceses de “Reis do futebol” devido a uma vitoriosa excursão por lá, o Paulistano era franco favorito para conquistar a “Taça Competência”, até então, sempre vencida com extrema facilidade pelas equipes da capital, em disputas diante dos times do interior. A epidemia de gripe espanhola andou atrapalhando demais o calendário futebolístico, com a decisão dessa versão 1919 só ocorrendo no final do ano seguinte, ficando marcada (e manchada) em relação a todas as demais, pelo ocorrido ao final da partida. O estádio do Floresta ficou apinhado de senhores de terno e chapéu torcendo pelo Paulistano, então o primeiro (e até hoje único) tetracampeão paulista (1916/7/8/9): o alvi-rubro de Arnaldo, Orlando e Carlito; Sérgio, Rubens e Benedicto; Formiga, Mário Andrada, Friedenreich, Zecchi e Netinho. O tricolor (campeão do interior) com Bruno, Paulino e Lilo; Bertolini, Rosa e Tatu; Bueno, Miguelzinho, Camargo, Minguta e Lamaneres. A torcida paulistana, fã de Friedenreich, ficou satisfeitíssima com os três gols assinalados pelo artilheiro durante a partida. Só não contava que o Paulista iria endurecer, com o centroavante Camargo “Gigante de Ébano” (maior artilheiro de sua história) e suas arrancadas fabulosas, que terminavam dentro do gol adversário. A apreensão dos torcedores cresceu muito com o placar se mantendo em 4×4 até os minutos finais do prélio. Até que Fried – com a triste conivência da arbitragem – empurrou para as redes com a mão, estabelecendo o placar final de 5×4, que deu o título da Taça Competência para o Paulistano. No dia seguinte, o “Estadão” da capital publicou a seguinte manchete: “A taça é do Paulistano, mas a competência foi para Jundiaí”.
PORTUGUESA SANTISTA 1 X 2 PAULISTA (14/10/1984)
“O DIA EM QUE AILTON LIRA PERDEU O ÚNICO PÊNALTI DE SUA CARREIRA”
É considerada a mais emocionante partida do Galo em sua centenária história: o time não podia sequer empatar, se quisesse prosseguir na luta pelo acesso à Primeirona.
Mas a Santista era páreo duro e obtivera um empate de 2×2 em Jundiaí, dias antes, graças a um penal cobrado pelo experiente e infalível Ailton Lira. Dramático, o jogo aconteceria no acanhado estádio Ulrico Mursa, diante de seis mil torcedores, naquela tarde de domingo. A Portuguesinha de Marquinhos, Balu, Arouca, Orlando e Claudinho; Zé Carlos, Tadeu e Ailton Lira; Fernandinho, André e Josemar. O Paulista com Luiz Fernando, Benazzi, Marco, Alexandre e Caíca; Gerson Andreotti, Carlos e Célio; Tata, Ricardo e Zé Roberto. O Paulista começou a todo vapor, até que aos 18 minutos, após cruzamento de Caíca, Arouca cortou de cabeça e Benazzi, que entrava em diagonal pela direita, na corrida, acertou de fora da área, um tremendo “pombo-sem-asas”: 1×0. Quatro minutos depois, numa jogada ensaiada, Ailton Lira cobrou escanteio da direita, no primeiro pau, de onde Fernandinho desviou para Orlando completar, no segundo, empatando: 1×1. Apesar disso, o Paulista continuou melhor até a metade da segunda etapa, quando então a Lusinha começou a pressionar, ficando o Galo, com os contra-ataques. Finalmente, num deles, quase aos 46 minutos, Célio lançou Ricardo, que serviu Carlos. Ele invadiu a área e tocou com categoria, para vencer Marquinhos: 2×1. No desespero e com chuveirinhos, o time da casa aperta, até que aos 49 minutos, a bola bate nas mãos de Tata e Marco e o juiz dá o pênalti, para desespero do saudoso locutor Hélio Luiz, que se recusa a olhar a cobrança dizendo que “o Paulista será desclassificado”. Ailton Lira bate com a costumeira classe e violência aos 50 minutos, mas a bola estoura na trave direita de Luiz Fernando e Hélio, agora chorando, berra, nos microfones da rádio Difusora: “Ailton Lira perdeu o único pênalti de sua vida! Eu não aguento… Adilson!”. Enquanto isso, Adilson Freddo – repórter de campo e no banco de reservas do time – é alvejado por sacos de urina, arremessados pela furiosa torcida da casa. Mas a euforia jundiaiense é tamanha, que os torcedores jundiaienses chegam até, a comprar um bolo confeitado com o escudo da Portuguesa numa padaria defronte ao estádio e o levam para Jundiaí, onde permaneceria em exposição – feito um troféu – por uma semana na vitrine da lendária panificadora “A Paulicéia”, então o ponto mais tradicional de Jundiaí.
BOTAFOGO 1 X 1 COMERCIAL (19/12/1954)
“QUANDO O CLÁSSICO DA CIDADE FOI BATIZADO DE COME-FOGO”
Um belo domingo de sol emoldurou o estádio “Luiz Pereira” para o jogo que marcava a volta do clássico da cidade após 18 anos de ausência comercialina dos gramados, fase na qual obtivera amplo predomínio sobre o rival. Mas agora eram tempos mais difíceis, com o clube jogando em campo alugado, sem os barões do café para sustenta-lo. Teria pela frente um adversário melhor estruturado e o confronto seria na “toca” inimiga. O saudoso jornalista Lúcio Mendes captou a atmosfera do duelo e cunhou para a partida, a célebre denominação de “Come-Fogo”, quando escrevia sobre o clássico prestes a acontecer, no jornal “Diário da Manhã”. O “Pantera da Mogiana” veio para o jogo, com Ênio, Mexicano e Kelé; Diógenes, Oscar e Nascimento; Dorival, Neco, Ponce, Américo e Fernando. O “Leão do Norte” alinhou Mário, Toninho e Sula; Assunção, Bié e Laércio; Sígulo, Ademarzinho, Maneca, Mairiporã e Clive. O Bafo começa melhor, perdendo boa chance aos sete minutos. As oportunidades se alternam para os dois quadros, mas o Comercial continua superior e aos 35, sai na frente: o lateral Assunção cobra falta pela direita, Kelé fica indeciso, Ênio sai atrasado e o esperto Mairiporã cabeceia firme por cobertura, bem no meio do gol, fazendo 1×0. Em vantagem, o Bafo se assenta ainda mais no gramado, tocando melhor a bola. Mas a velha garra botafoguense ressurge no segundo tempo e, mesmo criando as melhores oportunidades, o Comercial vai sofrendo uma pressão crescente, até que aos 18 minutos acontece o tento de empate, numa tabela bem executada entre Fernando e Américo; este último apanha um chute firme, à meia-altura, para as redes. Belo gol! Depois disso, o Botafogo acredita na virada, a torcida empurra, o juiz não assinala um pênalti para o tricolor e o primeiro Come-Fogo da era profissional terminou mesmo num justo – e diplomático – 1×1, entrando para a história.
PONTE PRETA 3 X 2 GUARANI (05/8/1981)
“O CHAMADO DERBY CAMPINEIRO DO SÉCULO”
O Derby Campineiro é considerado o grande clássico do interior do país. Houve uma fase em que Guarani e Ponte atingiram o ápice futebolístico e protagonizaram jogos memoráveis, mas um em especial é tido como o maior de todos: o da decisão do 1º turno do Paulistão, em 1981. O ponte-pretano Luciano do Valle narraria o confronto ao vivo, pela TV. Após um equilibrado 1×1 no “Brinco de Ouro”, a decisão havia ficado para o “Moisés Lucarelli”, naquela noite em que o melhor ataque (do Guarani) e a melhor defesa (da Ponte) se enfrentavam. O Bugre pisou no gramado com Birigui, Chiquinho, Mauro, Edson e Almeida; Jorge Luís, Éderson e Jorge Mendonça; Lúcio, Careca e Ângelo. Téc. Jair Piceni. A Macaca, com Carlos, Toninho Oliveira, Juninho, Nenê e Odirlei; Zé Mário, Humberto e Dicá; Osvaldo, Chicão e Serginho. Téc. Zé Duarte. Foi uma batalha emocionante do começo ao fim, cheia de alternativas. Apesar disso, o primeiro gol demorou a sair: aos 37 minutos, Osvaldo fez um belo gol por cobertura, depois de um cruzamento de Odirlei pela esquerda: 1×0 Ponte. Oito minutos mais tarde, Ângelo empatou, após um bate-rebate na entrada da área. Na volta do intervalo, novamente a Ponte passou à frente: aos 4 minutos, numa falha clamorosa de Birigui, que quis evitar um escanteio e soltou a bola nos pés de Osvaldo, presenteando-o com o segundo tento: 2×1. Só que o Guarani não desistia e aos 8 minutos do segundo tempo tornou a igualar, após escanteio pela esquerda e três cabeçadas consecutivas, sendo a última delas, de Jorge Mendonça: 2×2. A partir daí, o jogo ficou aberto e sucessivas chances foram surgindo, podendo definir o duelo. E a Ponte Preta seria mais feliz: aos 36, Odirlei arrancou e numa bela jogada pela meia, invadiu a grande área, batendo cruzado, no cantinho e selando a vitória de 3×2. A Ponte, campeã do 1º turno, estava classificada para a final do Paulistão. Campinas era o centro futebolístico estadual, naquele momento.
XV DE PIRACICABA 2 X 2 SANTOS (11/9/1949)
“BATEU O ESCANTEIO, CORREU E CABECEOU!”
Parecia apenas mais um jogo do Campeonato Paulista, mas o que aconteceu no final beirou o inacreditável. Aconteceu no antigo estádio Roberto Gomes Pedrosa, em Piracicaba, diante de 4.300 testemunhas. O Santos com Chiquinho, Hélvio e Dinho; Nenê, Paschoal e Alfredo; Nicácio, Antoninho, Juvenal, Simões e Odair. O XV, com Ari, Elias e Idiarte; Cardoso, Armando e Strauss; Russo, De Maria, Sato, Gatão e Rabeca.
Odair marcou os dois gols da equipe praiana, enquanto De Maria descontara para o
“Nhô Quim”. O Santos controlava a pressão da equipe piracicabana, até que aos 41
minutos do segundo tempo, cedeu um escanteio. Ventava muito, naquele instante.
O lépido ponta Russo apressa-se para bater. Cobra em direção à marca penal, bem alto – propositalmente – para ganhar tempo de correr para a área, na intenção de talvez, apanhar algum possível rebote e (quem sabe) ajudar a equipe. Por mais incrível que possa parecer, a bola sobe muito, porém, empurrada pela força da ventania, começa a cair, voltando na direção do ponta, que à esta altura, já vai entrando na área. Russo sente a oportunidade e salta no meio de um bolo de atletas, conseguindo cabecear, mesmo desequilibrado, na meta inimiga, vencendo o atônito goleiro Chiquinho. Ou seja: bateu o escanteio, cabeceou e fez o gol! O árbitro inglês PercySnap – que jamais havia visto um lance assim na vida – validou o tento, equivocadamente. Os santistas ficaram indignados – é lógico – ainda mais, porque o jogo terminaria empatado. Curioso que Mr. Snap viera para São Paulo, porque a FPF, “importara” árbitros ingleses, a fim de diminuir os erros e reclamações frequentes com relação às arbitragens brasileiras. Deu no que deu… Para os mais céticos – é bom ressaltar – o gol foi devidamente documentado pelo mais respeitado historiador do interior paulista: Delphin da Rocha Netto, que foi, inclusive, testemunha ocular do fato. Outro que presenciou a jogada, trabalhando como locutor de uma rádio que transmitia o jogo, foi o apresentador esportivo Léo Batista. O lance inclusive está descrito no livro do centenário do XV de Piracicaba e foi explicado pelo professor Francisco Guimarães da USP de São Carlos. Segundo ele, apesar do ângulo da trajetória da bola ter sido de 60 graus na trajetória do chute, o fato só foi possível, devido à ação dos ventos. E para quem ainda não se convenceu, na Internet mesmo, há um gol semelhante, assinalado numa pelada no exterior – em campo menor, é verdade – mas que revela a influência determinante do vento, nesse tipo de jogada.
FERROVIÁRIA 6 X 2 PALMEIRAS (20/5/1962)
“O CONFRONTO DAS DUAS ACADEMIAS”
Tarde de domingo na “Morada do Sol” e jogão no estádio da Fonte Luminosa, válido pelas quartas-de-final da Taça Cidade de SP, sob a arbitragem de Anacleto Pietrobon.
De um lado, a grande “Academia”, com Rosan, Jorge, Sebastião e Mané; Flávio e Jurandir; Gildo, Americo, Geraldo, Chinesinho e Fernando. Do outro, a “Academia do Interior”, com Toninho, Ismael, Antoninho e Zé Maria; Dudu e Rodrigues; Laerte, Aurélio, Parada, Bazzani e Benny. A “Locomotiva”, entusiasmada, saiu na frente, aos sete minutos, com seu astro, o meia Bazzani. O jogo prosseguiu favorável à “Ferrinha”, que aos 30 ampliou, com Ismael. O Verdão conseguiu então diminuir com Américo, aos 35 minutos, dando a falsa impressão de que o duelo poderia ser equilibrado. Entretanto, dois minutos depois, o craque Bazzani ampliou para 3×1 e antes mesmo que o primeiro tempo se encerrasse, o meia Aurélio estabeleceu arrasadores 4×1. Expectativa e muita apreensão da imprensa paulistana no intervalo e o alviverde volta para o segundo tempo reforçado de Valdemar Carabina, além do jovem Ademir da Guia, o “Divino”. Mas divino mesmo acabou sendo o futebol da equipe grená, no confronto. Por alguns minutos, o jogo até se tornou equilibrado. Tanto, que Geraldo II ainda diminuiu para o Palmeiras, aos 24. Mas Bazzani – um mito em Araraquara – estava terrível nesse dia, aumentando para 5×2 e liquidando qualquer pretensão esmeraldina. E, para não deixar dúvida sobre qual “Academia” era a maioral em campo naquele dia, Laerte deu o “tiro de misericórdia” aos 41 minutos, estabelecendo números finais no marcador: 6×2. Esta seria uma das doze goleadas aplicadas pela Ferroviária ao longo de doze temporadas seguidas – e isso apenas em cima de clubes grandes – entre 1960 e 1971.
BANDEIRANTES DE SÃO CARLOS 3 X 0 SANTOS (04/11/1957)
“A MAIOR VITÓRIA DE UMA CIDADE NO DIA DE SEU CENTENÁRIO”
O futebol na cidade de São Carlos sempre viveu de ciclos, com clubes se sucedendo, ao longo da história. Por ocasião dos festejos no dia do centenário da “Cidade Sorriso” além da visita do então governador de São Paulo Jânio Quadros às instalações da USP – que ocorria simultaneamente, a duzentos metros dali – foi programado um amistoso contra o Santos, então bicampeão paulista, tendo Pelé como atração. Na véspera – um domingo – ele havia feito três gols no empate por 3×3 diante do Corinthians, o que acabaria dando ao Timão, a “Taça dos Invictos”. Naquele feriado de segunda-feira e com o charmoso estádio do Paulista de São Carlos completamente lotado, o confronto se iniciaria às 15 horas. Entre os presentes nas arquibancadas, o grande artilheiro Zuza, já veteraníssimo – mas ainda em atividade – que simpaticamente teria recusado convite de atuar na peleja, por alguns minutos que fosse. Uma pena! O Santos veio a campo, escalado com Manga, Mauro e Mourão; Geovanni, Brauner e Urubatão; Baiano, Jair Rosa Pinto, Ciro, Pelé e Pepe. Téc. Lula. O Bandeirantes de Lito Mariutti, Jarbas e Kelé; Piana, Fabião e Bibi; Cabelo, Wilson Pimentel, Ademar Ferrari, Zé Luiz e Ruy Dinucci. Téc. Hugo “Che” Ferrari. A estratégia de impor um ritmo forte e veloz aos visitantes, logo surtiria efeito: aos três minutos, o ponta-esquerda Ruy abriu a contagem, aproveitando bem um centro na área e tocando sutilmente, entre os zagueiros santistas, para as redes do Peixe. Com Fabião marcando Pelé em cima e permanecendo no ataque, o time são-carlense conquistou um escanteio a seu favor aos 10 minutos, pelo lado esquerdo. Encarregado da cobrança, Ruy – que era ambidestro – cobra com a perna direita, forte, fechado e cheio de efeito, encobrindo o goleiro Manga, que acabou surpreendido pelo belíssimo gol olímpico: 2×0. Naquele dia, o “Pelé” em campo parecia atender pelo nome de Ruy Dinucci. Aturdido com a disposição dos donos da casa, o Peixe ainda leva o terceiro, aos 33 minutos, depois de um bate-rebate na zaga, que terminou com um lindo chute de primeira, de fora da área, agora do meia Zé Luiz. Satisfeitos pela “fatura liquidada” em apenas meia hora, os anfitriões diminuem o ritmo, enquanto Fabião não desgruda de Pelé. Tanto, que no segundo tempo Lula resolve tirá-lo de campo, promovendo a entrada de Darci e também a de Dorval, no lugar de Baiano. Porém, nem a contusão do goleiro Lito (substituído por Flávio) alterou alguma coisa a favor dos visitantes. E Ruy e Fabião ainda seriam sondados pela diretoria santista, para irem jogar no Santos, após a histórica partida.
AMÉRICA/SP 6 x 0 RIO PRETO (07/6/1953)
“A GRANDE GOLEADA DO DERBY RIO-PRETENSE”
O Derby rio-pretense sempre dividiu a cidade. O Rio Preto viveu quase toda a sua história na segunda divisão (embora mais antigo), enquanto que o América, mais novo, permaneceu maior tempo na divisão de elite. Isso acaba impactando diretamente no retrospecto do clássico, onde o número de confrontos é reduzido, revelando nítida vantagem do “Diabo”: 34 vitórias do América contra apenas 14 do Rio Preto. E pensar que no início, o América chegou a ser esnobado pelo Rio Preto, que se recusava a emprestar seu campo, alegando que o rival lhe subtraía torcedores, obrigando-o a ter que atuar até, na cidade de Mirassol… Dentre todos os clássicos, vale destacar este, o qual, mesmo em se tratando apenas de um amistoso, entrou para a história por ser o de placar mais elástico. O confronto foi disputado no estádio Mário Alves de Mendonça, o “Caldeirão do Diabo” e o Rio Preto veio a campo com Barrela, Cotia e Dimas; Bem, Odilon e Prates; Zachi, Pé de Chumbo, Miranda, Orestes e Zito, sob o comando do técnico Chiquinho. O América, com Garito, Xatata e Martin; Tuca, Aldo e Dicão; Nelinho, Vicente, Dozinho, Osmar e Orias. Téc. Pepino. Mas quem teve um “pepino” nas mãos naquele dia, foi mesmo o técnico Chiquinho, pois seu time acabaria impiedosamente goleado. Bastaram apenas 35 segundos para que o ponta Nelinho arrancasse e fizesse o primeiro do América. O Rio Preto ainda conseguiu se equilibrar e sair para o jogo. Mas Dozinho aumentou para 2×0 aos 20 minutos e as coisas começaram a se complicar, porque a partir daí, a zaga rio-pretense começou a bater cabeça e o ponta-esquerda Orias, que havia acabado de chegar ao clube americano, aproveitou a facilidade oferecida e marcou dois gols em sequência, aos 30 e 31 minutos, estabelecendo 4×0 no marcador. A torcida mal podia acreditar naquilo: quatro gols em meia hora! No intervalo, o preocupado técnico Chiquinho resolve trocar de goleiro, colocando Hugo em campo. Mas a produção da equipe não melhorava. Como consequência disso, aos 12 minutos, o centroavante Dozinho não teve “dózinha” (me perdoem o trocadilho), ampliando para 5×0. E aos 32, Osmar, numa bela jogada, “fecharia a tampa do caixão”, em sonoros 6×0. Parte da torcida adversária até, havia ido embora. Mais uma proeza do América de Rio Preto em sua história, clube do inesquecível presidente Benedito Teixeira, o eterno “Birigui”.
SANTOS 4 X 6 JABAQUARA (31/7/1957)
“O TERREMOTO DA VILA”
Tratava-se de uma partida válida pela fase de classificação do campeonato paulista.
O Jabuca, clube pioneiro de São Paulo, não vinha bem das pernas. O Santos – ao contrário – firmara-se como clube grande, onde pontificava o famoso “ataque dos três pês” e era o atual bicampeão paulista. Por isso, naquela chuvosa noite de quarta-feira, menos de seis mil pagantes se atreveram a irem até a Vila Belmiro, para assistirem outra óbvia vitória do Peixe. O Santos com Laércio, Hélvio e Ivan; Fioti, Urubatão e Zito; Tite, Álvaro, Pagão, Pelé e Pepe. Téc. Lula. O Jabaquara com Fininho, Pavão e Getúlio; Dom Pedro, China e Oswaldo; Ari, Hélio, Washington, Melão e Bugre. Téc. FilpoNuñes. Ao anunciarem a escalação do “Leão do Macuco”, os torcedores estranham o lateral-esquerdo, dizendo se tratar do tesoureiro do clube, o popular “Oswaldo Malcriado”, por pura farra. Na verdade, tratava-se de um juvenil, que trabalhava na secretaria do clube e que entrou em campo para completar o quadro, pois o treinador não tinha jogador para aquela posição. Como se esperava, o Santos começou com tudo e foi logo “atropelando” o adversário, com Pagão abrindo a contagem, aos 8 minutos. Três minutos depois, Wilson Osório (o popular “Melão”, que havia sido devolvido pelo Santos ao Jabaquara) empatou, em que pese seu time não estar jogando bem. Tanto, que aos 15, Pepe fez 2×1 Santos. E aos 22, Tite ampliou, encaminhando mais uma vitória santista no retrospecto amplamente favorável ao Peixe, diante do Jabuca. Mas esqueceram de combinar isso com o adversário. Foi daí, que o inacreditável começou a acontecer: aos 32, o ponta Bugre diminui e aos 44, o centroavante Washington empata, para surpresa geral. Algo de estranho estava ocorrendo. Mais estranho ainda, foi que a reação prosseguiu, na segunda etapa: o meia Melão desandou a fazer gols (ele que já havia aberto a contagem) anotando mais três em sequência: aos 5 minutos, aos 25 e aos 28, estabelecendo estarrecedores 6×3! Começam então, a surgir alguns torcedores santistas – vizinhos da Vila Famosa – até de pijamas, para conferir se era mesmo verdade o que ouviam pelo rádio. No finalzinho, aos 42, China tenta interceptar um chute de fora da área e acaba marcando contra, diminuindo o vexame santista para 4×6. Mas houve troco após aquele confronto. Isso porque o rubro amarelo, não tendo estádio, guardava todo seu material esportivo nas dependências da Vila Belmiro, além de mandar suas partidas, lá. Revoltado com a derrota, o presidente Modesto Roma mandaria botar tudo na rua, no dia seguinte. Após essa vitória (além de uma outra diante da Portuguesa Santista) o Jabaquara passou a ser chamado por um tempo, de “O Dono da Cidade” em Santos e o episódio é até hoje lembrado no litoral pelos torcedores mais antigos, como “O Terremoto da Vila”.
PORTUGUESA 2 X 0 PALMEIRAS (05/6/1955)
“SAUDADES DA GRANDE PORTUGUESA DE DESPORTOS”
No início dos anos 50, Oswaldo Brandão começou a montar aquele timaço da Lusa, na fase áurea do clube, até então, apenas bicampeão paulista de 1935/6. Na primeira metade daquela década, a Portuguesa ganhou os títulos do Rio-SP (52 e 55), a Taça San Izidro (51), os torneios de Salvador e de BH (ambos em 51), além de se sagrar tricampeã Fita Azul no exterior (em 51, 52 e 54). E teve atletas como Cabeção, Noronha, Djalma Santos, Brandãozinho, Ipojucan, Servílio, Pinga, Simão, Julinho Botelho, entre outros, além de impor goleadas como os 7×3 em cima do Corinthians ou os 8×0 sobre o Santos. Portanto, os quarenta mil torcedores que lotaram o Pacaembu, sabiam que aquela decisão de Rio-SP seria um “jogaço”, ainda mais após o empate de 2×2 na primeira partida. O Palmeiras veio de Laércio, Manoelito e Mário; Belmiro, Valdemar Carabina e Gérsio; Rento, Humberto, Nei, Ivan e Rodrigues. Téc. Cláudio Cardoso. A Portuguesa, com Cabeção, Nena e Floriano; Djalma Santos, Brandãozinho e Zinho; Julinho Botelho, Ipojucan, Airton, Edmur e Ortega, agora sob o comando de Délio Neves. Foi uma partida bem disputada, cheio de oportunidades perdidas e jogadas bem concatenadas, mas que aos poucos, demonstrou predomínio técnico da Lusa. Aos 36 minutos, o habilidoso Julinho Botelho fez bela jogada pela direita e abriu a contagem, iniciando a festa lusitana. Na volta para o segundo tempo, imaginava-se que o Palmeiras fosse pressionar, mas o que se viu, foi uma Portuguesa mais assentada em campo, que foi aos poucos tomando novamente conta do jogo, em especial após a marcação do segundo gol, aos 18 minutos, quando o meia Ipojucan anotou também o seu, fechando o placar em 2×0 e coroando a belíssima campanha daquela equipe que deixou saudades no coração dos torcedores paulistanos.
PALMEIRAS 1 X 1 SÃO PAULO (28/01/1951)
“O INESQUECÍVEL JOGO DA LAMA”
Este foi o jogo que deu ao Palmeiras, o título paulista de 1950 e quebrou um tabu: pela primeira vez, uma equipe conseguia vencer a Taça Cidade de SP e também o Paulistão, no mesmo ano, entrando para a história como o “Jogo da Lama”. A disputa do campeonato havia sido postergada – devido à Copa do Mundo de 1950 – iniciando apenas no segundo semestre, daí a decisão ocorrer só em 1951. Foi um campeonato emocionante, pois apresentou alternância dos dois times na ponta da tabela, durante o seu desenrolar. A três rodadas do fim, o tricolor tinha três pontos de vantagem, mas conseguiu perdê-la, tropeçando em Ypiranga e Santos. Na última rodada, passaria a
ter obrigação de vencer os palmeirenses, que jogavam pelo empate. Jair Rosa Pinto, grande craque alviverde que fora afastado da equipe três rodadas antes numa derrota para o Corinthians, voltou a ser relacionado, após “acabar” com um treino, antes da decisão. Um Pacaembu absolutamente lotado e encharcado por uma torrencial chuva que atingira a capital, horas antes, recebeu o São Paulo de Mário, Savério e Mauro; Bauer, Rui e Noronha; Dido e Remo; Friaça, Leopoldo e Teixeirinha. E também o Palmeiras, de Oberdan, Turcão, Palante e Waldemar Fiúme; Luiz Villa, Sarno e Lima; Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Teixeirinha inaugurou o marcador logo aos quatro minutos e os são-paulinos martelaram a meta esmeraldina o primeiro tempo todo, com Oberdan intervindo várias vezes, salvando a equipe de um placar mais elástico. O São Paulo dominava todas as ações em campo e o 1×0 saiu barato para aquela estranha apatia verde. Nos vestiários, Jair pediu a palavra ao treinador e aos gritos, conclamou os companheiros a resgatarem a velha garra palestrina, lembrando a todos, da grandeza do uniforme que envergavam. Aliás, todos muito enlameados, pois a chuva tornara o espetáculo quase impraticável. A bronca deu certo, mexendo com os brios da rapaziada: o Verdão voltou com tudo, pressionou e empatou numa jogada magnífica e dramática de Jair, fruto de uma arrancada do meia, na qual driblou praticamente toda a defesa tricolor (além das poças d’água) e serviu com um passe açucarado, para Aquiles apenas empurrar para as redes inimigas. Um gol genial, que decidiu o título a favor de quem demonstrou no fim, mais vontade de conquista-lo e que acabaria sendo a “pedra fundamental” para o título mundial do time, meses depois, pois aquele triunfo credenciaria o Verdão para as disputas da Copa Rio-1951.
SÃO PAULO 4 X 1 SANTOS (15/8/1963)
“O DIA EM QUE O SANTOS FUGIU DE CAMPO”
Houve um período em que o São Paulo ficaria 13 anos sem títulos. Tempos difíceis, de construção do Morumbi e economia na formação de plantéis competitivos. Foi nessa fase complicada do tricolor, que o alvinegro praiano vivia seu auge futebolístico, com o bicampeonato mundial e aquele que é tido como o maior time da história do futebol.
Naquela quinta-feira à noite, 60 mil torcedores no Pacaembu viram o São Paulo vir a campo com Suly, Deleu, Bellini e Ilzo; Dias e Jurandir; Faustino, Martinez, Pagão, Benê e Sabino. O Santos veio de Gylmar, Aparecido, Mauro e Geraldino; Zito e Dalmo; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. Mal o clássico começa e aos 5 minutos, Martinez entrega para Faustino, que invade em diagonal, finta dois adversários e fuzila Gylmar: 1×0. Mas aos 21, num cruzamento de Dorval pela direita, Pelé sobe mais que os zagueiros e empata o jogo, de cabeça. Só que aos 37, Pagão e Benê tabelam, envolvendo a defesa santista, até o centroavante bater à queima-roupa, diante de Gylmar. Até aí, tudo bem, jogo normal. Mas aos 40 minutos começa a confusão, tendo o polêmico árbitro Armando Marques, como um dos personagens. Tudo porque o ponta-esquerda Sabino, recebendo um lançamento de Martinez, amplia para 3×1 e o bandeirinha sinaliza impedimento. Mas Armando prefere ignorar o auxiliar e confirmar o tento. Os santistas protestam e o árbitro expulsa Coutinho, no meio da discussão. Pelé se enerva e instantes depois, desacata o juiz, seguindo também mais cedo para os vestiários. Com 3×1 na cabeça e sua grande dupla de atacantes expulsa, Lula teria uma missão complicadíssima para o segundo tempo. Assim, Aparecido estranhamente não retornou, permanecendo “contundido” nos vestiários, deixando o time santista agora, com apenas oito atletas em campo. Claro que se tratava de uma situação irreversível.
No comecinho da segunda etapa, num choque entre Bellini e Pepe, o ponta-esquerda (adivinhem?) também saiu machucado, deixando o Santos agora, com sete. No sétimo minuto, Roberto Dias faz uma ligação direta com Pagão, que entrou como quis na área, estabelecendo 4×1. Uma goleada ainda mais elástica se desenhava. Foi daí, que na saída de bola, Dorval levou um chute numa dividida, deixando o gramado, também.
Com apenas seis atletas pelo lado do Peixe, Armando Marques não tem outra solução a não ser encerrar a partida naquele momento, a qual ficaria conhecida como “o dia em que o Santos fugiu de campo”.
CORINTHIANS 4 X 3 PALMEIRAS (25/4/1971)
“O FAMOSO CLÁSSICO DO VIRA-VIRA”
Era mais um clássico pelo campeonato paulista e que encerraria o primeiro turno. Mesmo com um tabu de 15 anos sem títulos pelo Paulistão, o Timão havia acabado de faturar o “Torneio do Povo” enquanto o Verdão era respeitosamente chamado de “Segunda Academia”. Perante 61 torcedores, o Corinthians entrou em campo com Ado, Zé Maria, Luís Carlos, Sadi e Pedrinho; Tião e Rivellino; Lindóia, Samarone, Mirandinha e Peri. O Palmeiras foi de Leão, Eurico, Baldocchi, Luís Pereira e Dé; Dudu e Ademir da Guia; Fedato, Héctor Silva, César e Pio. Uma partida empolgante, do começo ao fim! Tanto, que com apenas 35 segundos jogados, Ademir vem para a área e César conclui com êxito: Palmeiras, 1×0. Nove minutos mais tarde, em outra descida pela meia-direita, o mesmo “César Maluco” amplia o marcador em favor dos esmeraldinos, para 2×0. O placar não é mais alterado, até o intervalo. O segundo tempo trouxe mudanças para as equipes. No Corinthians, Adãozinho e Natal. No Palmeiras, Leivinha. Logo aos 5 minutos, Rivellino bateu uma falta com muita violência e no rebote de Leão, Mirandinha descontou. Aos 24, Adãozinho pegou um “pombo sem asas” no ângulo, de fora da área e de canhota, empatou o clássico. Já na saída de bola, o Verdão desceu e Leivinha, de fora da área e também de canhota, mandou no ângulo, longe do alcance de Ado, recolocando seu time em vantagem: 3×2. O mais incrível é que, assim que foi dada novamente a saída, o alvinegro deu o troco, numa jogada construída por Natal e concluída na arrancada de Tião: 3×3, aos 26 minutos. Não perca a conta! Cansadas, as equipes procuraram se resguardar um pouco mais e quando todos apostavam num belo empate, veio a histórica virada corintiana: aos 42 minutos, Natal e Mirandinha tabelaram em alta velocidade; o passe na medida veio para Mirandinha, que chutou em cima da zaga. Ele mesmo apanhou o rebote e inapelavelmente arrematou para as redes alviverdes: 4×3. Um jogo digno da grandeza do Derby.
SANTOS 2 X 3 PEÑAROL – 02/8/1962
“O ÁRBITRO QUE ENGANOU TODA UMA CIDADE”
Após uma vitória de virada por 2×1 sobre o Penãrol no Uruguai, o Santos necessitava agora de um simples empate em casa, para se sagrar campeão da Libertadores-62. O Peñarol era o campeão mundial e vinha em busca do tricampeonato sul-americano.
O time de Lula, desfalcado de Pelé, contundido, veio a campo com Gylmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pagão e Pepe. Já a equipe de Bela Guttmann, com Maidana, González, Lezcano, Cano e Caetano; Carranza (Golçálvez), Matosas e Pedro Rocha; Sacia, Spencer e Joya. A Vila parecia um barril de pólvora prestes a explodir naquela noite, especialmente pela presença do já conhecido
árbitro Carlos Robles, o qual, logo no início, tratou de ir ignorando uma penalidade em Coutinho. Até que aos 15 minutos, Spencer abriu o placar. Ainda bem que Dorval empatou, aos 19, serenando um pouco os ânimos, com um belo chute cruzado. E aos 36, com um petardo bem no ângulo, Mengálvio pôs o Santos na frente. Festa santista! Mas o Peñarol não era campeão mundial à toa e logo aos três do segundo tempo, empatou num escanteio que terminaria com uma cabeçada firme de Spencer, o “maior goleador das Américas”. Só que no lance, Sacia teria jogado areia nos olhos de Gylmar. Ignorando a reclamação santista, o juiz chileno validou o lance e o tento. Com o empate, os uruguaios começaram a pressionar e conseguiram – numa jogada faltosa de Sacia sobre Calvet – marcar o terceiro, aos 11 minutos. Era demais: a torcida, revoltada, atira uma garrafa na cabeça do árbitro, ferindo-o. O jogo é interrompido. Após uma longa paralisação, os ânimos se acalmaram e o Santos passou a pressionar, em busca do empate. E ele viria num chute de rara felicidade de Pagão, de fora da área. O resultado dava o título ao Peixe. Eram decorridos 22 minutos. No meio da festa, eis que a torcida alveja agora o bandeirinha, com um baita parafuso arrancado da estrutura das arquibancadas. A “batalha” é novamente interrompida. O trio de arbitragem se recolhe para os vestiários e volta só depois de dez minutos, afinal reiniciando aquela tumultuada peleja. Agora Pepe é quem é derrubado na área e o juizão manda seguir. Até que aos 38, Mauro faz falta em Pedro Rocha fora da área, mas Robles assinala penalidade máxima. Porém, com a chuva de garrafas no gramado, primeiro reconsidera sua decisão e marca falta, até que, por fim, vendo o pandemônio que se instalara nas arquibancadas, decide por “encerrar o espetáculo” aos 40 minutos do segundo tempo. Festa da torcida e volta olímpica dos brasileiros, mas… De repente, o lateral González avisa Pepe (a quem marcara, durante o jogo) que eles estavam todos, fazendo “papel de bobos”: o Peñarol havia vencido por 3×2. “Mas como?”; quis saber o atacante santista. Daí o jogador do Peñarol lhe explicou que, assim que a partida foi interrompida pela primeira vez – aos 11 minutos da segunda etapa – naquela garrafada que o juiz levara; ele (secretamente) decidiu por encerrar o jogo, passando a realizar todo um “teatro” a seguir e prosseguindo com a disputa apenas em “caráter amistoso”, com medo de não sair “vivo” do estádio. Estranho que os uruguaios tivessem ficado sabendo daquela tramoia, enquanto que os brasileiros, não. Enfim: não havia valido o gol de empate de Pagão. E muitos santistas foram dormir felizes, só descobrindo que ainda não eram campeões, no dia seguinte, quando o árbitro já estava bem longe dali. Ainda bem que depois, na partida-desempate – em campo neutro – o Santos (já com Pelé e sem esse juiz) goleou o Peñarol por 3×0, ficando com o título da Libertadores, merecidamente.
PALMEIRAS 6 X 7 SANTOS (06/3/1958)
“O MAIOR CLÁSSICO DE TODOS OS TEMPOS”
Para mim, a mais disputada de todas as partidas que conheço e por isso mesmo; deixei-a propositalmente para o final. Este é um daqueles jogos que não decidem campeonato – tratava-se apenas de mais uma partida pelo Torneio Rio-SP – mas que entrou para a história, pelo fino futebol apresentado em campo e seu desenrolar. Cinco torcedores teriam morrido, devido a infartos provocados pelo confronto (um deles, inclusive, no próprio estádio). Também, pudera: foram 13 gols e três viradas, ao longo dos 90 minutos! O Pacaembu recebeu 43 mil torcedores que viram o Santos entrar em campo com Manga, Hélvio e Dalmo; Fioti, Ramiro e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Já o Palmeiras, com Edgar, Edson e Dema; Valdemar Carabina, Waldemar Fiúme e Formiga; Paulinho, Nardo, Mazzola, Ivan e Urias. O jogo iniciou “pegado” e a “tempestade de gols” demorou um pouco a sair. Mas quando
começou… Somente aos 18 minutos, a contagem foi aberta, através do ponta-esquerda Urias. Mas Pelé (sempre ele!) empatou dois minutos depois. E Pagão, aos 24, virou o marcador a favor do Peixe. Nardo empatou para o Verdão, um minuto depois.
Mas aí, começou aquele Santos “arrasador”: Dorval aumentou a vantagem para 3×1. Pepe – o melhor jogador em campo naquele dia – aumentou para 4×2, aos 38 e Pagão, antes que os times descessem para os vestiários, aos 46, anotou o quinto, “matando” o Palmeiras. Acontece que Oswaldo Brandão “ressuscitou” a equipe no intervalo, dando uma sacudida psicológica em todos, mudando o esquema para o segundo tempo, fazendo entrar o gringo Caraballo na linha e sacando o goleiro Edgar, que havia falhado e chorava nos vestiários, promovendo a entrada do arqueiro Vitor. As equipes reiniciaram o jogo a exemplo do segundo tempo: num confronto muito “pegado”, sem darem muito espaço. Aos poucos, o Palmeiras começaria a predominar e Paulinho descontou aos 16 minutos. O grande Mazzola empatou o confronto, com dois gols. Um deles, apanhando rebote da zaga aos 20 minutos e o outro, aos 28, de cabeça: inacreditáveis 5×5; fruto daquela incrível reação. Mas não parou por aí: Urias – aquele que marcou o primeiro gol – virou o jogo, aos 34 minutos. “Milagre no Pacaembu!” – berrava Edson Leite, ao microfone da rádio. Só que o tal “milagre” durou pouco, pois Pepe (o melhor da partida, lembram-se?) empatou, num raro gol de cabeça, aos 38 minutos. E so-bre-na-tu-ral! Aos 43 minutos, marcou mais um – o da virada definitiva – selando a vitória praiana por 7×6. É bom lembrar que nenhum dos dois foi campeão daquele Torneio Rio-SP: o Vasco seria o campeão e o Flamengo, o vice. Mas o Santos se tornaria em pouco tempo, o maior time do planeta. Quanto aos palmeirenses; os dirigentes, sensíveis ao fato do que eles também haviam jogado, resolveram pagar o bicho, como se fosse uma vitória. Afinal de contas, naquele dia, todo mundo mereceu!
Eram realmente outros tempos no futebol…