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TALISMÃ DO CORINGÃO

entrevista: Paulo Escobar | vídeo: Jhonny Jamaica | edição de vídeo: Daniel Planel 

O dia 13 de outubro de 1977 não sai da cabeça da torcida do Corinthians, afinal de contas, um longo jejum era quebrado com a conquista do Campeonato Paulista daquele ano. Autor do heroico gol na decisão, Basílio recebeu a equipe do Museu no Parque São Jorge e relembrou sua trajetória nos gramados em uma resenha de alto nível.

Formado na Portuguesa de Desportos, o ídolo corintiano se orgulha por ter sido treinado pelo saudoso craque Ipojucan, ex-Vasco. Foi ele, inclusive, que descobriu o talento de Basílio, aos 13 anos, em uma peneira.


– Devo muita coisa a ele! Me ensinou muitos fundamentos e, se você notar, o gol que eu faço em 77 é justamente um ensinamento dele. Como você pega uma bola de bate-pronto, o posicionamento do corpo.. – lembrou o Pé de Anjo.

Sua passagem pela Portuguesa durou 10 anos, com altos e baixos, e um dos momentos mais inusitados ocorreu em um duelo contra o Santos de Pelé, em 73! Após um belo primeiro tempo da Lusa, o artilheiro Enéas aproveitou o intervalo para tirar fotos com os torcedores e incomodou Pelé.

O Rei havia mandado dizer que havia todo o segundo tempo pela frente e alertou para o “rapaz” não ficar com aquele entusiasmo. Resultado: o Santos virou para 3×2 e Pelé deu show em campo.

– Cutucamos a onça com vara curta. Vi o Pelé fazer um dos gols mais lindos do Pacaembu!

Antes de deixar a Portuguesa para vestir a camisa do Corinthians, no entanto, Basílio foi sondado duas vezes a pedido do craque Rivellino, mas as negociações travaram. Em 75, finalmente se transferiu para o Parque São Jorge para substituir, por ironia do destino, o Reizinho do Parque.

No novo clube, sofreu duas lesões graves que por pouco não interromperam sua carreira. A primeira foi logo nos primeiros jogos com a camisa alvinegra, quando sofreu uma pancada na cabeça e teve uma convulsão. Alguns meses depois, levou uma entrada violenta e fraturou a perna.


– Tive esses acidentes de percurso antes daquele momento de alegria!

Naquela altura, o Corinthians amargava um jejum de títulos que durava mais de 20 anos e parecia amaldiçoar o Parque São Jorge. Em 76, após eliminar o Fluminense com direito a invasão corintiana no Maracanã, o alvinegro perdeu a decisão do Brasileiro para o Internacional.

O ano seguinte estava cercado de expectativas e o Campeonato Paulista passou a ser o foco do Timão. Após um início ruim no torneio, o Corinthians arrancou, venceu os adversários diretos e contou com tropeços dos rivais para chegar à decisão contra a poderosa Ponte Preta.

Aos 37 do segundo tempo daquela final, após cruzamento de Zé Maria e bate rebate na área, Basílio pegou a sobra e estudou a rede para explodir os 86.677 torcedores que enfeitaram o Morumbi de preto e branco.

– De lá para cá foi só alegria! – comemorou!

 

 

CLAUDIOMIRO, QUANDO O FUTEBOL NOS BRINDA COM UM SORRISO

por André Felipe de Lima


Claudiomiro chegou a ser apontado pelo escritor Luis Fernando Verissimo como craque superior a Zico. O voto do magistral escritor e cronista em uma enquete impediu que ídolo rubro-negro ingressasse na lista da hipotética seleção dos sonhos. “Até hoje tem flamenguista que quer me matar”. Mas o atacante baixinho e atarracado ficou famoso mesmo pela célebre declaração sobre Jesus Cristo que rende, até hoje, comentários hilariantes. Não foi nenhum agradecimento por vitória alcançada, foi uma entrevista quando chegava à Belém do Pará, para o duelo entre o seu Internacional e o Paysandu, em jogo válido pelo campeonato brasileiro de 1972. “Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu”, disse Claudiomiro a um repórter. Mas merece que falemos do futebol que tinha: era centroavante polivalente do Inter entre o fim dos anos de 1960 e a década de 1970. Batia na bola com as duas pernas e era muito veloz. Ganhou o apelido de Bigorna, pois, baixinho e atarracado, apanhava muitos adversários e saía ileso. Só perdeu três dos 34 clássicos que disputou contra o Grêmio.

Claudiomiro Estrais [ou Streis, como muitos alegam ser a grafia correta] Ferreira nasceu em Porto Alegre, em 3 de abril de 1950. Dona Adelaide, mãe de Claudiomiro, foi criada por um casal de alemães. Por isso o sobrenome germânico do craque. O pai, Elpídio Ferreira, tinha muitas dificuldades para sustentar a família. Além de Claudiomiro, havia mais três filhos, Flávio e Ivan. Todos ajudavam no parco orçamento da família, fazendo carretos em Canoas, com uma carrocinha. 


Foi Dona Adelaide quem o levou para um teste no Inter quando ainda tinha apenas 13 anos. Na primeira tentativa, o menino foi dispensado. Ambos retornaram muito decepcionados à Canoas, onde moravam, mas sem perder a esperança. Um dia surgiu um convite do Grêmio. O menino recusou-o. Afinal, toda a família era colorada. E o Inter foi mesmo o seu primeiro clube, onde chegou aos 14 anos de idade para submeter-se aos teste de Daltro Menezes, no time infantil . Uma oportunidade que surgiu graças ao comerciante José Ghilosso, amigo do pai de Claudiomiro e conselheiro do Inter . Todo o dinheiro que ganhava nos juvenis do Inter, enviava para a os pais, em Canoas.

Foi artilheiro do campeonato brasileiro de Juvenis, em 1967, e, tempos depois, subiu para os profissionais, quando contava 18 anos, por intermédio do técnico Sérgio Moacir Torres, ex-goleiro do Grêmio. Seria o começo da glória de Claudiomiro no Inter, que disputaria seu primeiro campeonato nacional, o Torneio Roberto Gomes de Pedrosa, competição em que o Inter, no dia 28 de maio, derrotaria o Corinthians dentro do Pacaembu. Foi a primeira vitória de um time gaúcho contra um paulista dentro de São Paulo. Um feito histórico, que mobilizou a torcida em Porto Alegre.

O atacante conquistou seis campeonatos gaúchos seguidos, de 1969 a 74. Na final de 72, fez o gol único sobre o Grêmio. 

Aos 22 anos, defendeu a seleção brasileira na Argentina, na disputa pela Copa Rocca. Estava no elenco nos dois jogos de despedida de Pelé da seleção, o do Morumbi e o do Maracanã. Claudiomiro vestiu apenas cinco vezes a blusa canarinho e marcou um gol. Dentre os feitos mais significativos em toda a carreira, o de ter marcado o primeiro gol no estádio Beira-Rio, na vitória por 2 a 1 sobre o Benfica, de Portugal, em 6 de abril de 1969 .


Enfrentando problemas de peso e no joelho, Claudiomiro só deixou o clube em 1975, para defender o Botafogo. Em 1976 e 77, jogou por Flamengo e, em 78, pelo gaúcho Caxias. Visivelmente fora de forma e “brigando” com a balança, o centroavante ainda encontrou forças para jogar pelo Novo Hamburgo, em 1979. Mas não por muito tempo porque o Inter resgatou-o. E, após várias infiltrações no joelho direito, concluiu que tinha de pendurar as chuteiras, com apenas 29 anos.

Em Canoas, interior gaúcho, Claudiomiro candidatou-se a vereador, mas não se saiu bem nas urnas. Repetiu a tentativa para deputado estadual e federal. Micou novamente. Como funcionário da área de comunicação social do clube, divulgou a marca “Internacional” pelo interior dos estados do Sul para conquistar novos torcedores do Colorado. E o “garoto propaganda” convencia. Afinal, foram 205 gols em 424 jogos com a camisa vermelha.

REMINISCÊNCIAS DE UM TORCEDOR

por Émerson Gáspari     


Um dia me disseram que as lembranças afetivas que nos acompanham pela vida, nada mais são do que o desejo velado de que as coisas continuassem a ser como outrora.

Nada mais verdadeiro do que isso.

Meu coração atua como um autêntico “relicário de lembranças” sempre que minha mente descortina fatos que o tempo tolamente insiste em tentar apagar, revelando-me um incorrigível saudosista, especialmente no futebol.

Foi meu saudoso pai, o responsável por incutir em mim o “vírus futebolísticus”, há meio século.

Eu sequer havia completado oito meses de vida e já estava – levado por meus pais – misturado à massa torcedora que recepcionava os heróis jundiaienses chegando de São Paulo, campeões invictos da “Divisão de Acesso”, pelo Paulista de Jundiaí.

Estávamos então, no inesquecível ano de 1968: aquele que “não terminou”.

Todavia, minhas primeiras reminiscências datam do início dos anos 70.

Lá estava eu – então com quatro, cinco anos – nos vestiários do estádio Jayme Cintra, vendo o altar a Nossa Senhora num cantinho, percorrendo o túnel e pouco depois, já correndo pelo gramado à noite, com os refletores ligados e as arquibancadas vazias, enquanto meus pais conversavam com o ex-presidente do clube, Wanderley Pires.

Daquela mesma época, recordo-me vagamente de uma partida com placar final de 0x0. Eu estava nas sociais, junto de meu pai, meu avô e um tio.

Meu pai nasceu em Jundiaí em 1931 e desde garoto, adorava futebol. Jogava nos campinhos do Vianelo, frequentados também por seu amigo Dalmo Gaspar, lendário lateral do Santos de Pelé.

Na juventude, atuou por diversos clubes amadores; sempre como central. Dizia que, por ser canhoto, achava mais fácil desarmar os atacantes, geralmente destros. Tinha um chute potente de esquerda e batia de três dedos na bola, com precisão. 

Corintiano roxo, apesar do pai palestrino, adorava me contar histórias sobre quando apanhava um trenzinho e ia ver na capital, o Timão do IV Centenário no Pacaembu da “Concha Acústica”, o Palmeiras da Academia, o São Paulo levantando o Morumbi, o Santos de Pelé, a Lusinha, o Juventus e tantos times de um período romântico do nosso futebol que o progresso e sua silenciosa estupidez conseguiram enterrar.

E eu adorava ouvi-las.


Viciado nos jornais “Gazeta Esportiva”, “Jornal da Tarde” e na revista “Placar”, eu curtia também, confeccionar meus próprios times de botão, com a carinha dos jogadores para depois brincar, irradiando as partidas – em imitações fidedignas – dos maiores locutores do rádio paulista: Fiori Giglioti, Osmar Santos e José Silvério.

Tempos também, do “Show de Rádio” e as intermináveis “Jornadas Esportivas”.

Na minha Jundiaí, a melhor estação sempre foi a Rádio Difusora, comandada na época, pelo saudoso locutor Hélio Luiz. O então repórter de campo, Adilson Freddo, continua lá até hoje, chefiando o esporte daquela emissora tão cativante, que já passou dos 70 anos de fundação.

Já o redator-chefe do Jornal da Cidade, o jornalista Sidney Mazzoni – de quem inclusive herdei o estilo de escrita – e que produzia a coluna diária de futebol mais badalada da cidade, a “Tirando de Letra” – partiu desse mundo já há algum tempo.

Eu e meu pai não perdíamos um programa futebolístico sequer.

Às vezes o velho exagerava.

Como quando resolveu levar o radinho de pilhas para ouvir uma partida durante uma festa de aniversário, para desgosto de minha mãe.

Seu papo era rico e variado. Versava facilmente sobre assuntos como atualidades, política, educação, realidade social, economia, história, astronomia e – é claro – esportes. No futebol então, ninguém o superava.

Lembro-me com desmedida saudade, das inúmeras vezes em que o acompanhei em seu trabalho pelas cidades e estradinhas que circundam Jundiaí, a bordo da Variant 70, bege (SL 8580) e dos nossos intermináveis e entusiasmados papos sobre futebol.

Nunca mais tive um parceiro futebolístico assim. Nunca mais.

Nos sábados bem cedo, batíamos uma bolinha no gramado de um clube social, antes que a rapaziada chegasse e tomasse conta do campo, para disputar uma pelada.

Eu no gol, meu pai chutando enviesado, colocado, rasteiro.

O velho botava fé que eu no futuro fosse goleiro do Paulista, porque realmente levava jeito, mas eu – tolamente – nunca quis tentar. Perdi talvez a chance de fazer parte da história do clube pelo qual torço.

Aos doze anos, comecei a pressioná-lo para que me levasse ao estádio. Eu ia equipado com um baita cornetão para azucrinar os adversários e trajando a camisa do Galo.

Bons tempos do inesquecível Joseph Pfulg à frente do clube.


O Paulista teve alguns presidentes que se destacaram ao longo de sua centenária história: Wanderley Pires, Eduardo Palhares… mas só um “pai”: o suíço Pfulg, presidente da Vulcabrás e que de futebol nunca entendeu, mas foi um ser admirável que sabia lidar com pessoas e fez tudo o que fez, desprovido de vaidade ou qualquer interesse pessoal que não fosse apenas o de retribuir à sociedade, tudo o que conquistara na cidade que o acolheu.

Todavia, houve um período em que o acesso para a Primeirona teimava em não vir e um torcedor “sem noção” pichou no muro do estádio: “FORA PFULG”.

Para desespero geral, ele ameaçou sair e então, lhe enviei uma carta comovente, lançando um apelo em nome da torcida, o qual – soube depois – o emocionou muito. Não sei até que ponto isso influenciou, mas o fato é que Pfulg acabou ficando.

Torcedor tem que fazer a diferença.

Não me esqueço do primeiro jogo “noturno” ao qual assisti – vencido nos acréscimos e de virada – em cima do Santo André, graças à “arma secreta” do treinador Adailton Ladeira: o folclórico Marco Antônio “Telefone”, verdadeiro talismã do time.

Um crioulo simpático, sorridente e brincalhão, nada clássico ou hábil com a bola.

Mas que “incendiava” o jogo e arrebatava a torcida com suas arrancadas empolgantes e uma raça inigualável. Se a peleja apertava, a torcida logo começava a gritar, exigindo:

– Põe o Telefone! – e costumava ser prontamente atendida.

Mesmo depois que ele deixou o clube, a torcida – por pura farra – continuava a pedir sua entrada e todos caíam sempre na gargalhada.

Agora, inacreditável para mim, foi – vinte e cinco anos depois – voltar ao Jayme Cintra (quando eu já morava aqui em Ribeirão Preto e fui ver meu time treinado pelo meu amigo e vizinho, o técnico Vagner Mancini) e, ao longo de uma dura partida diante do Coritiba pelo Brasileiro, ouvir a torcida ainda pedindo: “Põe o Telefone!”.

Disse para dois velhinhos com quem fizera amizade naquele dia, que não acreditava no que ouvia tantos anos depois, perguntando-lhes então, pelo paradeiro do jogador.

Rindo, eles responderam que se eu não acreditava no que ouvia o que iria dizer então, a respeito do que eles apontavam na curva das arquibancadas, mais abaixo.

Olhei e confesso que não pude crer no que vi: um senhor negro, cinquentão, usando abrigo e tênis esportivo, barba toda grisalha, braços cruzados e sorriso inconfundível, balançava a cabeça, enquanto ria dos gritos da torcida.

Era ele mesmo, o “Telefone”, em carne e osso, divertindo a galera. Incrível!

Como não amar uma torcida dessas?

Pena que meu pai já não estivesse mais entre nós, nesse dia. Iria se divertir a valer.

As lembranças são muitas. Dariam um livro. E um rio de saudosas lágrimas.


Por isso, vou encerrar por aqui, contando a vocês, duas historinhas apenas, ocorridas em jogos nos quais tive o prazer de poder acompanhar, das arquibancadas. 

Um deles, o mais emocionante que já presenciei no estádio Jayme Cintra, ao lado de meu pai. Já o outro, sozinho em São Carlos, onde eu passava sempre as férias escolares e acabei – acreditem – ajudando a decidir a partida.

São histórias inesquecíveis para mim. E quero dedica-las a todos os queridos torcedores que sempre me honram com sua leitura e comentários elogiosos no Museu da Pelada. Em especial, a Abílio Macedo, Carlos Vianna, Walter Duarte e Jorge Vitório (que inclusive batiza minhas crônicas de “texto Gáspari”).

Espero que gostem.

                                                                     – o –           


Estávamos na primavera de 1982.

No ano anterior, o Paulista estivera próximo do acesso à Divisão Especial, perdendo a vaga na semifinal. Mas agora, apesar do elenco reforçado, as dificuldades começariam mais cedo. O “Galo da Japy” precisava vencer o Palmeiras de São João da Boa Vista e se classificar para a fase seguinte do campeonato da Intermediária.

O adversário não era lá essas coisas, mas havia um obstáculo a ser vencido: o goleiro Cláudio, verdadeiro “paredão” – o melhor do torneio – mais até, do que Eli, do Aliança Clube, famoso por permanecer mais de seiscentos minutos sem tomar gols.

Cláudio era verdadeiramente um goleiro completo, geralmente o menos vazado no campeonato e contra o Paulista, desdobrava-se, saindo sempre com todos os prêmios de melhor em campo, além de sustentar (quase sozinho!) um tabu diante do Galo, que começava a incomodar.

Naquele domingo de sol, nem precisei pedir ao meu pai: ele mesmo já foi confirmando que deveríamos ir bem cedo, pois o estádio iria lotar. Na verdade, já fazíamos isso, pois ir ao Jayme Cintra naquele tempo era um evento para a tarde toda. Você chegava cedo e havia sempre uma partida interessante na preliminar, fosse de mulheres, de veteranos ou aquela que a torcida mais gostava: com o badalado time de juniores do Paulista.

Essa equipe de jovens disputava os jogos do antigo “Desafio ao Galo”, transmitido aos domingos de manhã, pela TV Record, direto do campo da CMTC, na capital.

Nessas ocasiões, o time envergava outra camisa: a do “Passarin” de Jundiaí e fez realmente muito sucesso, sendo inclusive campeão na temporada 80/81.

Certa vez, permaneceram tanto tempo “cantando de galo” no torneio, que para tirá-los de lá, foi preciso formar uma “Seleção de Campinas” com direito a Carlos, Polozzi e outros profissionais com nível de Seleção Brasileira, para que fossem derrotados por 2×1 e terem sua longa invencibilidade quebrada.


A maior revelação daquela equipe acabaria sendo o centroavante Ricardo, que logo subiu para o time de cima do Paulista e depois de alguns anos como artilheiro no tricolor, acabou contratado por Castor de Andrade e sua pasta cheia de dinheiro vivo em 1986, indo jogar no Bangu e depois em Portugal.

Pois naquela tarde não aconteceu preliminar alguma. Aliás, nem mesmo a equipe da RTC – Rádio e Televisão Cultura estava lá, para filmar o jogo e mostrar os melhores lances no programa “É Hora de Esporte”, na segunda-feira, ao meio-dia.

No lugar de tudo isso, tivemos a visita mais indesejada que poderíamos receber: uma chuva repentina, torrencial e gelada (fato comum, em Jundiaí), que começou meia hora antes do espetáculo.

Foi realmente terrível!

A certa altura, quando já nos encontrávamos encharcados “até os ossos” (para que vocês me entendam bem) por aquele verdadeiro “dilúvio”, meu pai teve a ideia de começar a pular para aquecer o corpo gelado, sendo prontamente acompanhado por mim e pela torcida, que já não aguentava mais e entoava o grito de “Gaaaaloooo, Gaaaalooooo…) por todos os cantos do estádio, o qual a esta altura, já apresentava dois terços de sua capacidade, ocupada.

Atendendo aos pedidos, o time saiu dos vestiários mais cedo, enquanto o temporal amainava. O Palmeiras veio em seguida.

Tudo pronto começou a verdadeira “batalha épica” em busca do gol salvador, já que o adversário era realmente um time limitado, que pouco atravessava o meio de campo.

Agora, havia mais um problema que surgia para atrapalhar o tricolor, uma equipe de maior envergadura técnica e toque de bola: o estado prejudicado do campo.

O Jayme Cintra tinha um belo gramado e sistema de drenagem, mas o volume de água que caiu foi realmente absurdo, a ponto de fazer o campo começar a “enlamear” em alguns lugares, atrapalhando (e muito) o toque de bola.

Disso se valia o adversário, que estourava qualquer bola para fora, assim que um ataque mais eminente se desenhava.

E tome cobrança de falta que o goleirão “se virava” para pôr a escanteio. Ou cabeçada que Cláudio salvava, de ponta de dedos. Foram várias chances perdidas. Até que o primeiro tempo terminou mesmo num 0x0, apesar daquele bombardeio todo.


No segundo, já com o sol querendo retornar, a roupa que secou no corpo e a garganta ficando completamente rouca de tanto tocar meu cornetão e puxar o grito de “Galo, Galo, Galo” (que meu pai apoiava e sempre acabava dando certo, pois contagiava a torcida que se inflamava e passava a gritar e empurrar o time também) o Paulista veio atacar bem no gol onde nos encontrávamos mais próximos.

Virou definitivamente um jogo de um lado apenas do gramado, o qual parecia ficar, a cada minuto que passava, mais e mais impraticável, dificultando por demais, o equilíbrio dos jogadores e o domínio de bola.

A dramaticidade foi chegando ao extremo: quando não era Cláudio que defendia, era o pezinho salvador de algum zagueiro do Palmeiras ou mesmo a trave e até, em certos lances, o próprio nervosismo ou o puro azar, que atrapalhavam tudo.

A menos de dez minutos do fim, o treinador colocou o atacante reserva Mosca em campo. Mais um, para tentar furar aquela barreira aparentemente intransponível. Jogador rodado, veterano já, que na primeira bola na qual partiu atrás, demonstrou toda sua vivência futebolística: pressionado por dois zagueiros, “mergulhou” na grande área em meio às poças de lama. Pênalti! Eram 39 minutos.

Mas o medo bateu logo: e se o gol não viesse? Muitos torcedores, me recordo, viraram de costas para o gramado.

A tensão era imensa. O capitão Pedro Omar apanhou a bola e caminhou até a marca de pênalti, mas teve dificuldade em colocá-la (o pior lugar de todo o campo, pois estava alagado, bem ali). Por várias vezes tentou ajeitá-la e nada. 

Cláudio usou de muita catimba, reclamando bastante com o juiz de que a bola estava adiantada em relação à marca penal (a qual nem podia ser vista, sob a água barrenta).

O árbitro corrigiu Pedro Omar que, com nervosismo, chutou insistentemente com a lateral do pé, parte do acúmulo de água sob a redonda. Eram decorridos 43 minutos. Se ele falhasse, não haveria tempo praticamente para mais nada.

Estranhamente, não se distanciou muito. Correu e bateu – não com a pancada costumeira – muito menos no canto. Foi de uma frieza absurda, até.

Então, o tempo pareceu congelar nesse instante e o próprio mundo por um momento, parou de girar, talvez!

A lama. O chute seco. O corpo do goleiro tombando timidamente para o lado esquerdo. A pelota em câmera lenta se encaminhando, baixa, para o centro da meta. Cláudio percebendo que ia passar da bola e retorcendo o corpo, para tentar voltar a tempo. Um filete de suor a me escorrer pela têmpora. A engolida em seco de muitos torcedores. O desespero estampado no rosto de meu pai.

O suspense, na garbosa voz de Hélio Luiz, entrincheirado na cabine da Difusora, enfartando quem estivesse ouvindo aquele drama todo, pelo rádio:

– Prepara-se Pedro Omar para a cobrança… não tomou muita distância… autorizado… partiu para a bola, pé direito, bateu: gooooooooltricolooooooorrrrr!!!

Bandeiras tremulando, rojões, palmas, gritos, risos: a agonia que tomara conta do estádio se transformava agora no delírio de uma torcida sofrida, apaixonada e linda.

                                                                – o –           

Minhas férias escolares eram invariavelmente desfrutadas em São Carlos, na casa de meus queridos avós. Naquele mês de julho de 1981, não seria diferente.

Aos 13 anos, atleta do judô e praticante de vários esportes, eu já entrava no cinema tranquilamente em filmes de censura 18 anos.


Então, não tive dificuldades para comprar meu ingresso no estádio Luís Augusto de Oliveira, o “Luisão” e acompanhar sozinho, a uma partida do Grêmio Esportivo São-carlense, o qual curtia ouvir os jogos sempre pela Rádio São Carlos, bem como, ler as matérias a seu respeito, nos três jornais da cidade: a Folha, o Diário e a Tribuna, todos ainda impressos em placas de chumbo.

Tive até um time de botões com uma das formações do clube: Luiz Sérgio, Paulo Felisberto, Bussolan, Hamilton, Ederaldo e Carlinhos; Silvano, Horácio, Elias, João

Carlos Traina e Serginho. Mas voltemos ao jogo.

Na semana anterior, pela primeira rodada do segundo turno, o “Lobão Sorriso” havia arrancado um belo empate fora de casa (1×1) frente o Corinthians de Presidente Prudente e direito a golaço com chapéu aplicado no goleiro e tudo o mais.

A partida em casa, diante da Votuporanguense, era fundamental para confirmar a reação da equipe, a qual no primeiro turno não havia ido nada bem, sofrendo três goleadas e rondando a perigosa zona de rebaixamento.

Não sei se já disse a vocês, mas meu coração de torcedor é tão grande, que consegue abrigar, com intensa paixão, vários clubes ao mesmo tempo.

No interior, além do meu Paulista de Jundiaí – terra onde nasci – ainda há espaço suficiente para o Grêmio São-carlense e para o Comercial, pois moro em Ribeirão Preto faz trinta e cinco anos.

Sempre soube, desde muito cedo, da minha importância como torcedor e da dimensão que isso pode tomar. Por isso, de certa forma me orgulho em ter ajudado diretamente o Grêmio a vencer a partida, naquele dia.

O time da casa começou melhor a partida e em dois ataques pontuais, abriu uma vantagem de dois gols logo nos primeiros minutos, para a nossa felicidade.

Imediatamente, entretanto, resolveu recuar e passou a sofrer um sufoco “daqueles” por parte dos visitantes, até o fim do primeiro tempo. Foi um recuo calculado, porém preocupante, pois a cidadela são-carlense esteveprestes a cair, várias vezes.

Na segunda etapa, o drama prosseguiu: a equipe acovardada, o goleio gremista trabalhando demais, os zagueiros estourando a bola para qualquer lado, até que o time de Votuporanga enfim descontou (quando na verdade, merecia era estar ganhando de virada!). 

Com o gol, baixou um silêncio momentaneamente sepulcral no estádio. O treinador permaneceu calado no banco, desanimado. A torcida – cerca de mil pessoas – muda.

Os atletas retornavam cabisbaixos para nova saída, no círculo central, lentamente.

Foi quando, aproveitando-me por estar posicionado bem no meio das acanhadas arquibancadas, ali pelo sexto ou sétimo degrau, logo acima do alambrado, berrei – a plenos pulmões – com toda fúria, para que os jogadores mais próximos ouvissem:

– Satisfeitos agora ou só quando eles empatarem? E a torcida que veio apoiar, vai passar vergonha? Cadê a raça?

Com o sangue fervendo, percebi que vários torcedores me olharam, espantados.

O juiz me observou enquanto mexia em seu cronômetro e vários atletas dos dois times, também, em silêncio.

Então, um jogador gremista, solidário à minha cobrança, de súbito bateu palmas para chamar a atenção dos companheiros, dizendo:

– Ele tá certo! Vamos dar o sangue!

Ato contínuo, três ou quatro companheiros mais próximos concordaram com a cabeça.

Incrível: instantaneamente, acabou a apatia. Passaram a dividir todas as bolas, jogando com mais ânimo e principalmente, voltaram a atacar.

Estávamos quase na metade do segundo tempo e dali por diante, o Grêmio ainda desperdiçou duas ou três oportunidades para ampliar, não passando mais sustos até o final da partida, quando então os atletas receberam nossos merecidos aplausos.

Confesso que fiquei satisfeito. Para mim, um clube só existe em razão de sua coletividade e o torcedor tem que fazer a diferença.

Ao me levantar para ir embora, alguns gremistas mais próximos, nas arquibancadas, vieram me congratular pela bronca que dei nos atletas, perguntando se eu não apreciaria fazer parte de sua torcida organizada, também.

Agradeci, explicando que por ser de fora eu não poderia, mas que eles não deixassem nunca de apoiar o time, mesmo quando tudo parecesse perdido, pois ele, mais do que qualquer um, precisava.

E fui embora, solitário e feliz, com a certeza de ter cumprido com a minha missão de torcedor do Grêmio, de alguma forma, naquele dia.

 

O FUTEBOL DO FUTURO

por Mateus Ribeiro


Não faz muito tempo que acompanho futebol. Talvez, uns vinte e sete anos. Porém, mesmo sendo pouco tempo, eu pude observar inúmeras mudanças, seja dentro ou fora do campo.

Todas essas mudanças aconteceram rápido demais, o que acabou me deixando um pouco assustado. Dia desses, pensando no que o futuro pode reservar, fiz um exercício que misturou previsões, paciência, uma dose de bom humor, e imaginei como o futebol poderá estar em 2050.

É sempre bom avisar que essa lista é uma brincadeira, portanto, peço que não encarem tão a sério (apesar do meu medo de que algumas coisas aqui se tornem realidade).

Então, vamos lá. De acordo com todas as transformações que vi até hoje no futebol, daqui algumas décadas, essas serão as mudanças pelas quais nossa judiada paixão passará:

1 – Os nomes dos times mudarão: Acredite se quiser: com a onda cool que tomou conta do futebol desde os anos 2000, muitos times tradicionais do futebol mudarão seus nomes. O Corinthians se tornará Itaquera Hawks, o Palmeiras passará a se chamar Big Green Falcons, o tradicional Santos mudará sua razão social para Beach Boys. O Grêmio será conhecido por Immortal Blues, o Fluzão será o Xerém Warriors, e o Atlético Paranaense vai ser chamado de Hurricane.

2 -A imprensa esportiva vai ficar pior: Acredite, o que parecia não ter como ficar pior, vai piorar, e muito. Os programas esportivos são apresentados por ex participantes de reality shows, e jogadores como Ganso, Pato, Lucas Moura, Bernard e Elias comandarão uma mesa redonda, que além de muito sem graça, contará com a presença de cientistas da NASA, que explicarão o futebol através de cálculos astronômicos. Aliás, depois do 4–1–4–1, o esquema da moda será o 1–1–1–1–1–1–1–1–1–1, onde cada jogador ocupa uma faixa do campo.


3 -Sistema de Draft: Da mesma forma que os esportes americanos, o futebol adotará o sistema de draft. Universitários serão escolhidos, porém, de maneira diferente. Ao invés do clube analisar seu desempenho nas competições, a beleza e o potencial de marketing do possível futuro jogador serão analisadas, além da popularidade nas festinhas da faculdade. O goleiro Alisson comandará a comissão de escolha, por ser um dos pioneiros da dinastia da beleza no futebol nacional. E ah, a capacidade técnica será apenas um detalhe.

4 – Mudança dos uniformes: Sabe a expresão “fulano joga de terno”? Pois bem, ela vai se tornar realidade. Para deixar o futebol mais plástico e glamouroso, não teremos mais uniformes como os atuais. Afinal, um esporte tão elitizado não pode ter como traje algo tão simplório como essa coisa brega de camisa, calção e meião.


5 – Transferências com valores astronômicos: Esqueça os milhões. Os jogadores agora mudarão de time por bilhões. E não será nem em euros. As transferências serão pagas em barras de ouro (que valem mais do que dinheiro e moedas virtuais).

6 – Teremos apenas dois jogos por mês: Cansados da rotina cansativa de viagens, jogos, entrevistas, estadias em hotéis de beira de estrada, refeições nos restaurantes menos apresentáveis, e campanhas publicitárias om baixo retorno financeiro, os jogadores (ou players) decidiram que para sofrer menos, o ideal é que se jogue uma vez a cada 15 dias. A CBF acatará a decisão, em nome do bom futebol.

Pelo visto, o futuro é nebuloso.

E aí? Você acha que dá pra encarar o futebol do futuro?

Um abraço, e até a próxima.

PEDRO, PAQUETÁ, IVETE, ANITTA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Entrei para o boxe. Precisava extravasar de alguma forma. Tenho visto os debates e sinto em informar que esse país acabou. Coronéis, jagunços, verdes sem conteúdo, mauricinhos, enfim, as figurinhas repetidas de sempre.

Cansei, entrei para o boxe e soco o boneco de borracha até cansar. Esse país não tem jeito. Como diz um amigo meu, estamos no bico do urubu. Não tem luz no fim do túnel, não tem nada. Não há propostas, só teatro. Saudade de Paulo Autran, Paulo Gracindo e Dina Sfat. Cansei.

Minha vida é socar bonecos para conseguir dormir, exausto. Tenho a alternativa de não votar, mas isso não basta. O certo seria, se não temos bons candidatos, que fosse suspensa a eleição. No futebol, também poderia ser assim. Se não há bons nomes, se a safra é ruim, que seja cancelada a nossa participação em qualquer torneio.

Estou exausto, triste com o que estão fazendo com o nosso país e com o nosso futebol, a maior paixão desse povo. O Tite deveria ter vergonha de sair na rua. Ele nos deve uma explicação. Mas teve a cara de pau de criticar a França e disse que só aceitou continuar ganhando seus milhõezinhos por mês após uma longa conversa com a esposa. Não só topou seguir no comando como trouxe o filhão junto para reforçar a renda familiar.

A imprensa não fala nada. Ri. Elogia. A imprensa não questiona qual foi o empresário que mais saiu ganhando nessa convocação. Eu gostaria de saber, algum Sportv da vida poderia me responder ou vão continuar passando a mão na cabeça do pastor?


Ninguém vai questionar a convocação do goleiro Hugo se até os rubro-negros não entenderam nada? Vão acreditar nessa ladainha de convocar alguém do sub-20 para ganhar experiência, é sério que vão? E se fosse para convocar algum sub-20 o nome certo seria o Hugo? E esse outro que joga na Bélgica? Por que o nome dele sequer foi lembrado nas dez últimas convocações?

Juram que não vai aparecer um jornalista questionador, juram que vou ter que continuar socando bonecos até os meus últimos dias? Juram que o Tite vai continuar debochando com a cara de vocês? É verdade que o Fágner e o Renato Augusto foram chamados novamente? O Léo Moura com 40 anos e sem uma perna é melhor do que ele. É sério que Pedro e Paquetá são os grandes astros do futebol brasileiro? O que faz a carência de ídolos.

Vocês já perceberam em quantas campanhas Ivete Sangalo e Anitta estão? É o melhor que nós temos? Vocês já ouviram falar em Bossa Nova, Tropicália, festivais da canção? Não é saudosismo, é realidade. Pedro e Paquetá são as Ivete e Anitta do futebol. Não quero desmerecer ninguém, mas faltam referências.

Me desculpe, Tite, mas essa convocação foi como escrever “otário” em nossas testas. É sério que você vai ficar até 2022 convocando essa rapaziada com o simples intuito de valorizá-los no mercado internacional? O mundo sabe que basta uma convocação para os clubes europeus abrirem suas portas.

Não sou jornalista e não jogo mais bola, também sei que minha voz não ecoa o suficiente para que todo esse mistério seja desvendado. Hoje, pratico boxe. Soco o boneco com força. Enquanto treino, lembro Cassius Clay, Joe Frazier, Éder Jofre. Sou de uma geração em que os ídolos emocionavam. Jamais me contentarei com pouco. Me desculpe, Tite, mas não torço mais por SUA seleção porque ela é só SUA. Tite, acredite, hoje só me resta socar.