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Sorato

artilheiro da colina

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Perpetuo

Se a torcida do Vasco não esquece o dia 16 de dezembro de 1989, Sorato tampouco. Foi dele o gol que garantiu o título brasileiro daquele ano, contra o São Paulo, em pleno Morumbi, e colocou o artilheiro na galeria de xodós da torcida.

Em um bate-papo descontraído, o goleador relembrou o início da sua trajetória na Colina, os times que passou e, claro, o histórico gol aos 20 anos de idade.

– O Vasco tinha um timaço na época. Sei a escalação de cabeça até hoje: Acássio, Luiz Carlos Winck, Marco Aurelio, Quiñonez e Mazinho; Zé do Carmo, Boiadeiro, Bismarck e William; eu e Bebeto na frente.

O curioso é que, na altura daquela decisão, o menino Sorato estava há pouco mais de um ano entre os profissionais e não se intimidou no meio de tantos craques. De acordo com ele, o elenco estrelado dava uma estrutura para os jovens se sentirem à vontade dentro de campo.


Na sua estreia, inclusive, teve a missão de substituir Romário, machucado, em uma final contra o Flamengo.

– Fui promovido em 88 e na minha estreia, contra o Flamengo, marquei os dois gols da decisão!

É claro que a façanha lhe rendeu o carinho da torcida vascaína, que aumentou ainda mais após cabeçada certeira que venceu o goleiro Gilmar Rinaldi e garantiu o bicampeonato brasileiro.

O lance ainda está fresquinho na memória de Sorato, como se pode ver com a descrição perfeita da jogada:

– Nos recuperamos a bola e fizemos ela rodar da esquerda para a direita. Quando caiu no pé do Luiz Carlos Winck, o Bebeto puxou a marcação no primeiro pau e eu apareci sozinho no segundo cabeceando para baixo.

A comemoração do garoto de 20 anos tornou o gol ainda mais emblemático.

– Eu nem sabia o que estava acontecendo direito. Eu fiquei louco! – revelou!

Após entrar para a história do clube, deixou o Vasco em 92 para vestir a camisa do Palmeiras, onde voltou a ser campeão brasileiro, em 93.

Rodou por alguns clubes como Juventude e Santa Cruz, mas a saudade falou mais alto e, como ele próprio diz, “voltou para casa”.


– Até hoje quando chego a São Januário sinto essa sensação. O atleta que é formado na base tem esse vínculo.

Assim como na primeira passagem, mas não de forma tão direta, levantou a taça do Campeonato Brasileiro em 97 e no ano seguinte ainda conquistou a América com aquele elenco fabuloso.

Se alguém ainda duvida que o artilheiro faz parte da história do Vasco, a diretoria do clube instalou grandes painéis nos arredores de São Januário com a imagem dos grandes ídolos e Sorato aparecia ao lado de ninguém menos que Roberto Dinamite, seu maior ídolo.

– Eu morava em São Januário e assistia aos treinos. Buscava me espelhar nele!
 

 

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Aniversário do Horta

PRESIDENTE DAS LARANJEIRAS

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Planel 

Foi com muita felicidade que recebemos o convite para prestigiar o aniversário de Francisco Horta, um dos maiores dirigentes da história do futebol brasileiro e hoje presidente da Santa Casa da Misericórdia, local da festa. Sem pensar duas vezes, partimos cedo para a instituição no Centro e participamos de uma bela confraternização.


Se hoje os clássicos são marcados, na maioria das vezes, por confusão entre as torcidas, houve um tempo em que a paz reinava nos estádios e o futebol arte prevalecia. Francisco Horta é, sem dúvidas, um dos grandes responsáveis pelos anos gloriosos do futebol carioca. Além de ter montado a lendária Máquina Tricolor na década de 70, o dirigente também ficou famoso por reinventar o troca-troca entre os clubes, incendiando os clássicos.

– Isso nunca mais vai acontecer. As torcidas ficavam misturadas na arquibancada e não tinha uma briga! – lembrou Fernando Bicudo, do Teatro Municipal.

– Sabe por quê? Porque naquela época existia a Geral! – disparou Horta.

O presidente foi recebido sob aplausos pelos convidados e, enquanto caminhava para o Salão Nobre cumprimentando um por um, foi ao delírio quando o o pianista tocou o hino do Fluminense:

– Emocionante! É o meu presente de 84 anos. É um hino que faz parte do meu coração!

Já no fim da festa, Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo apareceu de surpresa, e colou ao lado de Horta para relembrar os tempos áureos do futebol carioca. Antes de entrar no assunto, no entanto, o ex-dirigente tricolor deu uma leve cutucada no rubro-negro:


– Ele roubava todas as minhas namoradas! – disparou.

Hoje em dia, Horta vem fazendo uma excelente gestão para recuperar a Santa Casa da Misericórdia, um patrimônio histórico da cidade. Mas para quem conhece o passado do dirigente, trata-se apenas de mais um êxito no seu vitorioso currículo.

– Foi o maior dirigente esportivo de todos os tempos, um dos maiores juízes que tivemos no judiciário brasileiro e é um homem que tem amor no coração e na palavra. Assumiu a Santa Casa em condições precárias e está conseguindo recuperá-la! – disse o desembargador Siro Darlan.

Vida longa ao Horta!

 

UM ÍDOLO É MUITO MAIS QUE CRAQUE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


A ausência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo na entrega da Bola de Ouro escancara definitivamente a infantilidade dessa geração, um comportamento que a garotada define como Nutella e mimimi. São craques e isso não se discute, mas são mimados ao extremo, vaidosos, personagens de contos de fadas.

Messi já disse que não jogaria mais pela seleção argentina, fez biquinho, mas acabou voltando. Cristiano chorou porque foi expulso. Choram e reclamam por motivos fúteis. Para mim, não são referências.

Se você decide faltar a um evento dessa relevância, que faça como o ator Marlon Brandon, que, em 1973, recusou a estatueta do Oscar e mandou em seu lugar uma ativista indígena para mostrar seu repúdio à forma como os nativos eram tratados nos Estados Unidos. Dessa forma, se constrói um ídolo.


Para mim o ídolo tem que ter atitude, postura, iniciativa. A mesma que Afonsinho teve quando criou a Lei do Passe e trocou de clube por não aceitar cortar o cabelo. Os cabelos grandes, em nossa época, não eram uma modinha, mas uma forma de se manifestar. Que os piercings, brincos e tatuagens de hoje também sejam um grito contra o preconceito.

Na década de 60, conheci a socióloga americana Angela Davis e passamos a usar o futebol como uma ferramenta contra a discriminação racial. Mas em 1996 já existia o tal mimimi e a seleção olímpica, dirigida por Zagallo, também se negou a subir ao pódio para receber o bronze. Lembram-se disso? Pura birra.

Os atletas precisam entender que a derrota dói, mas deve ser encarada com dignidade, não com desleixo e deboche, como fez Ronaldinho Gaúcho, que usou o celular, no pódio, durante a entrega do bronze, em 2008.


Estive com Rogério Bailarino há alguns dias. Ele até hoje lamenta ter se contundido e cortado às vésperas da Copa de 70. Foi buscar na Igreja Messiânica explicação para isso. Dirceu Lopes até hoje chora por não ter ido ao México, assim como Ado, do Bangu, lamenta o gol de pênalti perdido na final do Brasileiro. Me culpo até hoje por um gol perdido contra a Holanda, assim como Zico deve sofrer até hoje pela falta de um Copa em seu currículo.

Hoje a derrota é banalizada. Não que a dor precise ser eternizada. Mas Felipão, por exemplo, continua se achando o último biscoito do pacote mesmo após o 10×1 (sete da Alemanha e três da Holanda). Vamos ver agora com mais essa desclassificação.

Os discursos mudaram. Hoje o futebol está infestado de palestrantes, do veterano Tite ao jovem Barbieri, que ficou tentando nos convencer até o último minuto que esse time sem molho do Flamengo é bom.


O melhor dessa bagunça toda é quando o “professor” se vê em maus lençóis e precisa furar um bloqueio, mudar o rumo do jogo. Ele olha para o banco e vê um Pedrinho, do Corinthians. Por sinal, esse garoto no banco é o retrato do futebol covarde praticado hoje. “Aquece, Pedrinho!”. Talvez ele não pratique boxe como Sassá e Felipe Melo, mas quando a porca torce o rabo, graças aos céus, é a arte do menino magrelo e bom de bola que ainda prevalece. 

MAIS UMA GUERRA – COMO OUTRAS TANTAS – VENCIDA

por Marcos Vinicius Cabral


Certamente na última segunda-feira (24), às 15h30 (horário de Brasília), os olhos do mundo estiveram voltados para a cerimônia do prêmio “Fifa The Best”, em Londres, que escolheu o melhor jogador do mundo na temporada 2017-2018.

No Royal Festive Hall – palco sagrado em que poucos pisaram -, com alguns metros de comprimento por alguns outros de largura, jogadores se digladiaram uns com os outros na busca pelo tão sonhado voto, e posteriormente, o tão cobiçado troféu de melhor jogador do mundo.

Não foi apenas uma simples votação de quem jogou mais bola e sim uma batalha campestre, em que o poder bélico de cada indicado foi colocado em prática à serviço da pátria de chuteiras.

Vale frisar que não foi um treino tático visando algum jogo importante e tampouco uma partida de 90 minutos: foi uma guerra!

Menos para um: Luka Modrić, de 32 anos e capitão da equipe croata no vice-campeonato na Copa do Mundo da Rússia!

– Obrigado aos meus fãs do mundo inteiro pelo apoio. Fico feliz pelo apoio que me deram desde sempre. Gostaria de agradecer aqueles que votaram por mim. Gostaria de mencionar o meu ídolo do futebol, capitão da Croácia na Copa de 1998, em nossa primeira participação, quando ganhamos o terceiro lugar. Aquele time mostrou que poderíamos conquistar coisas grandes e, por sorte… Tivemos a sorte de ser a mesma coisa para as próxima gerações. E mostramos que o sonho pode ser realidade! – disse Modric.

Nascido em um pequeno vilarejo chamado Modrici (plural de Modric, na língua croata), o pequeno Luka e seus familiares não tiveram opção quando em 1990, o país vivia em guerra por sua independência.

Quando houve então a secessão da Iugoslávia, a população sérvia – contrária ao movimento separatista – se juntou ao Exército iugoslavo para tomar o país.

A coisa estava tensa!


E ficou mais ainda, quando no final de 1991, o avô da estrela do Real Madrid – que coincidentemente se chamava Luka – passeava pelas colinas com seu gado quando párias de origens sérvias o sequestraram e em seguida o fuzilaram.

O mundo do pequeno Modrić desabou e aos 6 anos viu seu pai ser obrigado a servir ao Exército croata, sua família constantemente recebia ameaças de morte dos sérvios e a região onde moravam estava toda cercada por minas terrestres.

O terror físico e psicológico acabou obrigando-os a mudar para um hotel e com outras tantas famílias, se refugiando na cidade de Zadar.

Mesmo em meio ao território hostil de bombas, mortes e perseguições, havia no dono da camisa 10 da Croácia o sonho de ser jogador de futebol.

Contudo, na fase mais difícil da vida, fez do estacionamento do hotel um campo de futebol e ao som das explosões de granadas e morteiros, conviveu por um longo tempo com o perigo real e imediato.

E mesmo assim, ainda criança, deixou de driblar os veículos estacionados no concreto rachado daquele lugar e ingressou nas categorias de base do NK Zadar, clube local.

A dor existia dentro do pequeno Luka e sob forte pressão com os constantes ataques e a iminente marcação cerrada dos sérvios, soube se desmarcar, extraindo boas lições e cicatrizando aos poucos as feridas da alma.

Aos 12 anos, teve a chance de fazer parte do Hadjuk Split – seu clube de coração -, mas seu corpo franzino foi o responsável pelo não aproveitamento.


Com a persistência de um soldado de guerra, se profissionalizou aos 15 anos no Dínamo Zagreb e logo em seguida foi emprestado ao Zrinjski Mostar da Bósnia-Herzegóvina.

Entre idas e vindas, chegou à terra da Família Real em 2008, jogando pelo Tottenham, onde ganhou projeção internacional.

Atualmente joga no Real Madrid e disputou sua segunda Copa do Mundo – ficou em 22° lugar com a Croácia em gramados alemães em 2006 – e neste Mundial, apesar de não ter conquistado o título, fez os croatas se orgulharem de ter nele seu camisa 10, o equilíbrio da equipe muito bem treinada por Zlatko Dalic.

Portanto, venceu com 29,05%, o português Cristiano Ronaldo, que ficou com 19,08% e o egípcio Mohamed Salah, com 11,23%.

Se para os votantes (são técnicos e capitães das seleções, que não podem votar em jogadores de seu próprio país) essa eleição foi uma difícil missão, para Luka Modrić foi apenas mais uma guerra como as outras tantas que enfrentou desde 1985, quando veio ao mundo.