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A HISTÓRIA DOS UNIFORMES NAS COPAS

por Idel Halfen


Além das disputas esportivas que ocorrem na Copa do Mundo outras acontecem no campo do marketing, onde as marcas de equipamentos esportivos buscam através do fornecimento dos uniformes estar presentes não apenas aos olhos de quem acompanha o evento, mas, sobretudo, na mente dos potenciais clientes e em suas respectivas compras.

Para avaliar esse comportamento das marcas sob a ótica do marketing, a Jambo Sport Business desenvolveu um estudo que analisa as seleções e seus respectivos fornecedores desde a Copa de 1974, edição em que as logos dos fabricantes passaram a “aparecer” em alguns uniformes. Na verdade, apenas a partir da Copa de 2006 que os uniformes de todos os participantes do Mundial tiveram a logo do fornecedor incorporada às peças.

Independentemente das razões, é fato que algumas seleções costumam ter uma maior rotatividade de fornecedores do que outras. Apesar dessa maior “infidelidade” ser mais comum nas federações com menos tradição na modalidade, o que pode indicar que nessas organizações a relação “tempo de contrato/valores” é mais desfavorável, há casos de equipes campeãs do mundo entre as que mais trocam de fornecedores.

O estudo também avalia o posicionamento das marcas baseado em quatro variáveis:


• o nível de exposição, o que se obtém através da observação do número de seleções vestidas;

• a penetração no mercado, visto que é possível presumir que o suprimento à seleção propicia uma melhor distribuição e consequentemente maiores vendas naquele país;

• a distribuição global, pois o patrocínio a seleções reconhecidas mundialmente por praticarem um bom futebol faz com que a disponibilidade das camisas não fique restrita aos países dessas seleções;

• a associação a valores que remetam a sucesso e bom desempenho, afinal de contas, estar na camisa da equipe campeã permite não apenas uma maior exposição e desejo de consumo, como também fortalece os atributos ligados à performance e qualidade.

Diante do exposto, podemos concluir que as seleções mais tradicionais – aquelas em que as vendas de suas camisas não ficam restritas ao próprio país e que não são muito sensíveis aos resultados esportivos – são as mais cobiçadas pelas marcas esportivas, o que faz subir os valores dos contratos deixando assim o mercado mais seletivo.


Tais conclusões podem ser atestadas através da infinidade de números disponibilizados no estudo, os quais mostram que a Adidas, através de seu pioneirismo aliado a sua sólida estrutura, aparece em uma ótima posição nesse mercado, sendo em dez das doze edições de Copa do Mundo analisadas a marca com mais equipes no torneio. Desde 1974, a marca alemã supriu cento e trinta e uma seleções (40,9%), mais do que o dobro da Nike, que apenas a partir de 1998 passou a fornecer para as seleções que disputam o torneio em referência. Como 3ª força aparece a Puma sem ameaçar o protagonismo das líderes, mas que busca com foco no patrocínio individual a jogadores ter um lugar de destaque nesse concorrido mercado.

Para os que quiserem mais informações sobre o tema, o estudo está disponível no link: https://www.slideshare.net/jambosb/as-selees-e-suas-marcas-esportivas-1970-a-2018

1979/80; O PALMEIRAS E A PRIMEIRA DOR AO SOM DE KATE BUSH

por Marcelo Mendez

Era o ano da graça de 1979.

A vida seguia sendo algo bucólico no Parque Novo Oratório.

Nas calçadas ainda havia árvores, o começo da minha rua tinha uns 30 metros de terra, o gás era vendido em caminhões, na quinta-feira a caminhonete de Seo Dermival vendia tubaína para pagar no fim do mês. Na TV, minha mãe assistia a novela Pai Herói e no rádio, uma música dessa novela tocava o tempo todo…

Wuthering Heights era um sucesso de uma moça muito bonita, de voz aguda, chamada Kate Bush e minha prima Marlene, mesmo com o parco inglês que falava na época, tentava cantar junto. Bem, ele não conseguia, mas cantava mesmo assim…

Eu, menino de 9 anos, observava isso tudo, agora, com alguns outros interesses. 

O Palmeiras estava voando naquele ano! Havia metido 5×1 no Santos, 4×1 no Flamengo, varreu com todo mundo no interior e tudo indicava que eu ia ver o Palmeiras ser campeão. Mas…

A Descoberta do Tapetão

Eis que ali, aos 9 anos de idade, descobri que o futebol tinha coisas para além do campo. E essas coisas quase sempre vinham para causar grandes problemas. Foi a primeira vez que ouvi a palavra “Tapetão” na vida…

O Palmeiras era só espetáculo!

O timaço de Telê Santana, passava por cima de todo mundo, com espetáculos de bola de Jorge Mendonça, Baroninho e Jorginho. Tudo ia muito bem, até a hora que o Presidente da federação teve la uma ideia para a fase final.


Na reta de chegada da peleja, Nabi Abi Chedid, marcou uma rodada dupla no Morumbi com direito a venda de direitos de transmissão para a TV. 

Corinthians e Ponte Preta fariam a preliminar de Palmeiras e Guarani, no dia 11 de novembro. 

Alegando que seu time não poderia fazer o jogo preliminar e que a sua torcida era maior que as outras três juntas, o presidente corintiano Vicente Matheus não aceitou a proposta da rodada dupla. O Corinthians não participou do evento e entrou na justiça, paralisando o campeonato.

A pendenga se arrastou e os jogadores entraram de férias obrigatórias. O campeonato só seria decidido no ano seguinte e, em janeiro. E 1980, não me parecia começar muito bem… 

A Canelada de Biro Biro doeu em mim

Na semifinal contra o Corinthians, o primeiro jogo já havia terminado em 1×1 e isso jamais aconteceria se o campeonato não tivesse sido paralisado. O Palmeiras tinha muito mais time, muito mais brilho. Mas em janeiro, já não tinha mais as mesmas pernas…


No segundo jogo, após perder dois caminhões de gols, o Palmeiras vê uma cobrança de escanteio perambular na sua área. Após um bate-rebate, a bola Drible branca, encontra a canela de Biro Biro e chutada por esta, vai calmamente morrer no fundo da meta de Gilmar.

Atônito, estarrecido, em choque, vi aquilo acontecer. Como era possível?! Um time como o nosso, com a campanha que fez, ser eliminado com um gol de canela? E do Corinthians!!!!

Foi demais.

Naquele dia, não quis jantar. Também não fui até a sala ver a novela Pai Herói como a família, nem ouvir a música da moça bonita de voz aguda.

Fui pra meu quarto e o mundo dos adultos, no caso, representado por minha mãe, respeitou minha dor.

No escuro do meu quarto, procurei não sofrer, pensando que logo mais haveria outros campeonatos para o Palmeiras jogar, que dor latente logo mais passaria. Mas não consegui.

Naquele dia, senti que algo não estava bem. Que um tormento estava acontecendo.

Mal sabia que fosse ser o que viria pela frente…

Rondinelli + Dinamite

a grandeza do futebol

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça |  foto: Marcelo Tabach | vídeo: Daniel Planel |

Não é por acaso que o Carioca foi eleito o campeonato mais charmoso do Brasil. Maracanã abarrotado de torcedores apaixonados, os lendários personagens da geral e os craques que desfilavam nos gramados, inclusive nos time considerados pequenos, eram apenas alguns dos atrativos da competição em um passado glorioso.

O ano era 1978 e o Carioca reunia todos esses ingredientes citados acima. Na decisão, mais de 120 mil torcedores se espremeram nas arquibancadas de cimento para acompanhar a final entre Flamengo x Vasco. Comandado por Roberto Dinamite, o Gigante da Colina lutava pelo bicampeonato consecutivo, mas não contava com uma cabeçada fulminante de Rondinelli, o Deus da Raça, que estufou as redes do goleiro Leão e garantiu o caneco para a Gávea.

Prestes a completar 40 anos, o lance nos motivos a proporcionar mais um encontro daqueles: Rondinelli e Roberto Dinamite. Sem saber que havíamos preparado todo o terreno para o “rival” chegar de surpresa no Pizza Park da Cobal do Humaitá, o ídolo rubro-negro relembrava os bastidores daquele dia, enquanto os parceiros Marcinho Nunes e Márcio Figueiredo ouviam atentos.

– Em 76, Zico e Geraldo perderam os pênaltis (pela Taça Guanabara). No ano seguinte, Mazarópi pegou o de Tita. A gente estava na berlinda em 78, tinha que ganhar. Não tinha conversa! – revelou o xerifão.

O curioso é que pouco antes de explodir o Maraca, Rondinelli perdeu uma disputa de bola com Dinamite, que colocou Paulinho na cara do gol. Por sorte dos flamenguistas, o vascaíno não aproveitou a chance.

– Eu ia ficar de vilão!


Rondinelli ganhou o apelido de Deus da Raça após arrastar o rosto no chão para salvar uma bola.

Nesse momento, Dinamite surgiu já com a camisa cruzmaltina e deu um longo abraço no Deus da Raça. Daí em diante a dupla deu uma verdadeira aula de resenha, revelando os bastidores e relembrando os duelos travados dentro de campo. Humilde, Rondinelli lembrou logo de um jogo em que cometeu um pênalti no craque, que não perdoou:

– A gente se embolou no lance anterior. Na bola seguinte, entrei na área, ele quis revidar, me joguei e o árbitro deu pênalti! Se ferrou! – disparou Roberto, para a gargalhada da rapaziada.

Vale ressaltar que naquela época os craques costumavam se enfrentar desde a categoria de base e com a dupla não foi diferente. Além de tudo que envolve um Flamengo x Vasco, os jogadores tinham uma identidade com o clube formador.

– Se eu morresse dentro de campo, eu morreria feliz! – disse Rondinelli.

É claro que a histórica decisão de 78 não ficaria de fora da resenha. Enquanto o zagueiro rubro-negro jura que Dinamite ficou parado no ataque ao invés de acompanhá-lo no lance decisivo, o artilheiro garante que estava na área ajudando na marcação.

As imagens não mentem e assistindo ao vídeo vocês poderão tirar suas próprias conclusões. Mas fato é que aquele lance ajudou a quebrar um tabu e, inclusive, muitos dizem que marcou o ínicio de uma época de ouro do Flamengo.


O mais importante, no entanto, é o carinho e o respeito que os dois têm um pelo outro, mesmo tendo atuado por equipes rivais desde sempre:

– Era um duelo com muito respeito e é por isso que hoje estamos aqui. Você é um símbolo, Rondi! Nós fomos grandes adversários, às vezes a gente ficava puto dentro de campo, mas aprendemos a nós respeitar. E é isso que fica! – finalizou Dinamite!

Com uma felicidade que beirava o sentimento dos flamenguistas após aquela decisão no Maracanã, saímos do encontro de alma lavada!

 

CAMISA 10

por Marcos Vinicius Cabral


Seja nas águas cristalinas de rios esverdeados, por onde passeiam em mansidão fúnebre e enlutada, ou em qualquer outro quilômetro sem fim, a camisa 10 nunca morre!

Nas folhas das árvores ou nas sementes das frutas comidas pelos pássaros que caem do alto e fazem companhia à corrente d’agua, ela se agiganta e demonstra sua grandiosidade.

É mais pura que a emoção do primeiro choro em vida do filho que chegou ao mundo, pois ela exorta qualquer resultado contrário à seus magnanimidade.

Selada em quatro linhas e traçadas na maternidade, ela não é nem de longe inocente e requer cuidado numa aproximação que seja.

Ah, o que dizer, da mística da camisa 10?

Talvez, diriam os insanos por futebol, como cachorro raivoso, que são ídolos mortais.

Não, definitivamente não são!

O torcedor, aquele que conhece os preâmbulos deste esporte, destina um intervalo de seu precioso tempo, e ao subir no palco, em prosa e verso, transformando em cenas inesquecíveis de uma jogada.

Se o gol arranca aplausos, o que dizer de uma jogada com um happy end no descortinar dos atos?

A mística da Camisa 10 e suas glórias resgatam uma lição poética, histórica, trazem à luz uma paixão antiga e uma infinita magia.

Uma pena que ela seja extinta cada vez mais em solo verde e inóspito por tantos pernas de pau que a vestem.

Estes merecem o pior castigo do mundo e que me desculpem os que têm compaixão deles.


Mas aos jogadores que vestiram esse número em seus clubes, cravaram seus nomes em letras folheadas a ouro que nem o tempo será capaz de apagar minha referência e ovação.

No máximo, um empoeiramento será notado, mas nada que uma pano úmido do avivamento seja utilizado.

Os torcedores que enchiam os estádios, com bandeiras, bandeirolas, diria o locutor fanático, que estremeciam as ondas sonoras do rádio com sua voz tresloucadamente de um apaixonado torcedor.

Talvez, um dia tenhamos a curiosidade de saber como é difícil ser um José Carlos Araújo ou um Luiz Penido ou um Washington Rodrigues, na ocultação dessas emoções ao microfone.

O camisa 10 repousa antes, vê o mestre aproximar-se distante, o templo (estádio) tem o sopro do dragão e a expressão de milhões de curiosos.

Zico, Platini, Maradona, Roberto Dinamite, Zidane, Rivelino, Ronaldinho e outros tantos têm um lugar especial ao lado do trono do Rei Pelé.


Portanto, o que dizer da soma de valores, em que a fama – osso do ofício – se torna ínfima para olhos que registram tanto encantamento e saúda em prosa, o artista da bola que ele é em verso?

Ali, dentro de campo, a largos passos românticos, o lance que encanta, levanta, tem brilho próprio, nota-se a marca do artilheiro, preso a um visgo, ao místico de vestir a camisa que se identifica com ele.

É a 10 sem dúvida!

Um presente aos mestres, craques e deuses do futebol arte!

Viva o futebol e seus camisas 10!

ENTRE VELHOS LOBOS E SÁBIAS RAPOSAS DA BOLA

por Zé Roberto Padilha


Todas as vitoriosas gerações do nosso futebol tiveram o privilégio de contar com uma velha raposa à beira do gramado. Usando a expressão da época, em que não haviam delimitado as cercanias do burródromo à frente do banco de reservas, “na boca do túnel”. De que valeria Mario Jorge Lobo Zagallo disputar várias copas do mundo, tantos estaduais e brasileiros pelo Botafogo, se não repassasse à frente todo o seu aprendizado? Certa vez, nos vestiários, ele nos chamou a atenção pela maneira pela qual amarrava o cadarço da chuteira. “Desse jeito, no lado interno, você vai machucar seus pés. Faça o nó do lado externo porque as trivelas são raras. Os chutes com o peito do pé são maioria”.

Parece simples, mas são dicas que vão se juntando ao contexto da sua obra, e só podem ser repassadas por quem calçou chuteiras. Teve calos e criou, pelo lado esquerdo, as funções de um ponta moderno, que armava as jogadas, fechava os meio e possibilitava, por seus deslocamentos, a subia de um Nilton Santos para abrir a contagem em 1958 contra a Áustria.


Quem sabe, o primeiro gol de um lateral esquerdo, que antes só marcava, na história das Copas? Depois de Pinheiro, Telê e Zagallo, tive como treinadores Didi, Evaristo de Macedo, Jouber Meira, Jair da Rosa Pinto, Paulo Henrique e outros monstros da arte de bater na bola. Cada um deles nos deu uma dica. Somadas, ajudaram várias gerações a jogar e se posicionar melhor.

Recordei tudo isto pensando nos jogadores do Flamengo. Que dica poderia dar o Barbieri aos seus comandados? Foi treinado por quem? Chupou gelo com quem? Quando Carlos Alberto Parreira foi técnico da seleção, colocou o Zagallo como seu auxiliar. E no Flamengo, as coisas ainda pioram quando o auxiliar se aproxima do ouvido do Barbieri. Ele veio do Futsal, e tão novo não teve tempo de conhecer nenhuma dica para auxiliar o Lucas Paquetá. Por onde esconderam o Jaime? E porque sumiram com o Adílio e o Andrade? E com que motivos dispensaram o Mozer?


No Santos, Serginho Chulapa está no banco transmitindo “vestiários”. No São Paulo tem o Raí e o Ricardo Rocha. E o Vasco tem o Waldir para dar conselhos aos garotos que sobem. É preciso que o Flamengo convoque suas lendas, como Rondinelli e o Julio César, porque não há ninguém ali por perto a marcar território. E mostrar aos que chegam o tamanho da sua glória. É preciso um desses seus heróis na comissão técnica, como Nunes, que a tenho vivido e o manto sagrado, não aprendido nas apostilas das Universidades.

Mesmo porque fechar e abrir os livros você o faz pelos dois lados. Livros não têm cadarços e não dão calos. Mas para você treinar o Flamengo é preciso conhecer, e repassar, os dois lados da sua grande história.