O MANTO
por Serginho 5Bocas
Desde os tempos mais primórdios do futebol que os uniformes, as camisas de jogo ou mantos sagrados, como os torcedores gostam de denominá-las, são objeto de desejo. Culpa de Charles Miller, um jovem brasileiro que trouxe da Inglaterra, aquelas duas bolas, um conjunto de regras e alguns jogos de camisas, o cara não tinha a menor ideia do que iria despertar neste povo.
Pra começar a falar sobre camisas de futebol, não poderia ser de outra forma senão com aquela que carrega nosso escudo e as estrelas de penta campeão. A derrota do Brasil na final da Copa de 50 foi determinante para iniciar uma mudança radical na nossa camisa, entenderam que aquela cor dava azar e passamos da antiga camisa branca com detalhes em azul, para a nossa camisa atual camisa “canarinho”, na cor amarela que é mundialmente conhecida.
A troca de camisas de futebol mais famosa de todos os tempos foi entre Pelé e o zagueiro inglês Bobby Moore no jogo fantástico entre Brasil e Inglaterra na Copa de 1970. Por falar em camisas, o rei do futebol usou três na final do mundial daquele ano, criando muita polêmica em um famoso leilão na Inglaterra muitos anos depois, quanto a veracidade de uma peça que foi leiloada e que teria, ou não, sido usada por ele..
Pelé foi um caso à parte na sua relação com a camisa do Brasil. Uma delas, de tão emocionada em vestir o rei do futebol, se declarou sem nenhum pudor para todos verem, e deixou que o suor da realeza se agrupasse no dorso da majestade, formando o desenho de um coração, uma verdadeira declaração de amor ao futebol de ambos.
Teve a tala aplicada na camisa e no ombro de Franz Beckembauer, para sustentar a clavícula da fera, na inesquecível semifinal da Copa de 1970, que não alterou a beleza da camisa e nem a postura elegante de “Kaiser”, do gênio do futebol alemão em campo. Também teve a cena infame do pedaço de camisa rasgada nas mãos de Gentile, após arranca-la do corpo de Zico, dentro da área, no famoso Brasil e Itália de 1982, que o juiz assistiu passivamente, ou ainda, a hilária cena do jogador Edmilson, tentando vestir uma moderna camisa de futebol da seleção brasileira na Copa de 2002, que durou aproximadamente uns quatro minutos de tão difícil que foi a operação.
Lembro com saudade que na infância, eu e meu amigos gostávamos muito de ver e de sonhar, usar um jogo de camisas de time de futebol, para disputarmos nossos inesquecíveis ”times contras”, nas peladas das ruas de nossas vidas, aquilo sim é que era vida.
Sonhávamos jogar com as camisas dos grandes craques que víamos raramente jogando na televisão e muito mais na imaginação trazida pelos trepidantes dos rádios e quando possível, nos estádios, ou ainda nos “posters” dos times campeões que eram publicados nos jornais e nas revistas de esportes, aquele universo era fantástico para a cabeça de um menino nos seus dez ou onze anos.
A primeira camisa de clube que me recordo com uma baita saudade, era na verdade um tipo de malha e não a marca do fabricante, a gente chamava ela carinhosamente de “furadinha”. Todos os grandes clubes do Rio de Janeiro usavam aquele tipo de malha, que era fabricado pela Adidas. Um objeto de desejo inatingível pela molecada.
Depois, a camisa que mais marcou minha infância, foi aquela usada pela Seleção Brasileira na Copa de 1978 e depois no ano de 1979, uma que tinha a gola redonda com um amarelo “brilhante” e um lindo calção azul. Eu achava o máximo, quem dera usar uma. Zico, Falcão, Nilton Batata, Edinho, Carpegiani, Roberto Dinamite, Toninho Baiano e muitos outros que venceram de goleada as partidas amistosas contra o Uruguai e o Paraguai, naquele longínquo 1979, brilharam com aquela camisa sagrada naquela temporada.
Depois, veio a Copa de 1982, pra mim, a mais espetacular de todos os tempos, só comparável a de 1970 que meu pai me contava, cheia de craques e de seleções campeãs do mundo, e da camisa e do short da seleção francesa, com aquelas listrinhas fininhas, uma combinação elegante e de rara beleza, alinhada com a qualidade do futebol da equipe de Platini, Tigana, Giresse, Tresór, Six e Genghini. Equipe elegante em todos os sentidos e que foi meu segundo time após a eliminação do Brasil, Pena que também foi eliminada, pelos alemães, numa partida que se mostrou de uma injustiça profunda, na Copa das injustiças e das bruxas espanholas.
Na Copa seguinte, a de 1986, conheci a linda camisa número 2 da Alemanha, aquela camisa verde, que apesar de muito bonita, nunca entendi o porquê daquela cor, já que não fazia parte das cores da bandeira alemã. Alemanha que, por sinal, apresentou uma nova e linda camisa branca com detalhes em preto, vermelho e amarelo na Eurocopa de 1988, diferente de tudo que já tinha visto. E aquele manto estava no corpo de uma turma de responsa, composta por: Klismman, Littibarski, Matthaus, Brehmmee Voller, que seriam os futuros campeões mundiais em 1990.
Voltando um pouco no passado, a seleção da Holanda, a famosa laranja mecânica de 1974, que na época apresentou para o mundo aquele futebol de outro planeta e aquela camisa laranja com calções pretos em uma combinação espetacular, voltaria a surpreender em 1988 com a camisa composta de degradês nas cores laranja e branco, um tipo de losangos inovadores. Nova camisa e nova geração de craques que foram de Cruyff, Neskens, Rep e Krola, Van Basten, Koeman, Rijkaard e Gullit, sem perder o rumo e principalmente a qualidade, dois timaços, duas camisa sob a mesma batuta, do velho mestre Rinus Mitchel.
Viajando um pouco mais no passado, gosto muito da camisa vermelha da Inglaterra de 1966, que vestiu sir Bobby Charlton e o capitão da rainha Bobby Moore, da camisa azul marinho da seleção da FIFA de 1963, que caiu como uma luva em Djalma Santos e, é claro, a da camisa canarinho da Seleção Brasileira da Copa de 1970, uma camisa fantástica e mítica, que vestiu os corpos de um time extraterrestre: Pelé, Gerson, Carlos Alberto, Tostão, Jairzinho, Rivelino e companhia, futebol e elegância acima da média histórica.
Agora de volta para o futuro, show de verdade, foi a camisa da Dinamarca ou “dinamáquica”, da Copa de 1986. Elkjaer, Michael Laudrup e Morten Olsen comandavam uma inovação, um cometa harley, um time que nos tirou o fôlego por alguns poucos jogos, mas de forma inesquecível. Aquelas listras brancas e vermelhas e números diagonais nunca mais seriam repetidos em nossas retinas e vidas.
Diferente com certeza foi a bela camisa da Croácia da Copa de 1998, que além de ter um belo time, em que figuravam Suker, Boban e Prosinecki, apresentou um visual pra lá de diferente e inovador. Pena que o lateral francês Thuram tenha feito dois gols naquela partida semifinal e eliminado aqueles que jogavam um futebol leve e belo de se ver naquela Copa. Fariam uma bela final com o Brasil, mas não aconteceu.
Em relação ás camisas de seleções, também houve uma fase de “pasteurização” das camisas, ou seja, os fabricantes determinavam um desenho e todos os patrocinados, copiavam o modelo, feitos cães adestrados, o ápice foi na Copa de 2002, quando o Brasil passou por esse constrangimento. Uma mesmice horrorosa que doía aos olhos, mas graças a Deus já passou e de passagem, eu acho…
Hoje em dia, os uniformes são para rapazes fortes de academias, camisas de malha coladinha ao corpo, com shorts também bem agarradinhos, delineando e mostrando as formas dos atletas, num visual de gosto pra lá de duvidoso, mas é o que o que temos na vanguarda, o torcedor mais fanático que se vire para se vestir com aquela barriguinha saliente e não aderente a estes modelitos. Fico incomodado só de pensar em usar uma, me incluam fora dessa.
Fazendo uma rápida comparação, olho para trás e vejo o passado dos meninos das famílias de poucos recursos e a utilização de shorts de marcas “piratas” das feiras livres do Rio de Janeiro, quando marcas famosas eram copiadas e passavam a se chamar: ABIDAS (adidas), SULZE (Silze) e LE KOKI (Le coqsportif). Era assim a única forma encontrada pelos meninos pobres, para tentar imitar os craques dos gramados. Hoje vejo que a economia melhorou de um modo geral, permitindo as famílias comprarem as roupas para os seus filhos em “n” prestações no crediário, permitindo a eles usarem as marcas tão sonhadas pelos meninos de minha época.
Lembro que joguei no “Ameriquinha” das 5bocas e tinha um orgulho danado de colocar o uniforme rubro na minha pelada. Usava a mesma camisa de Uchoa, Léo Oliveira, Cesar e Reinaldo. Não sei se os meninos de hoje sentem a mesma emoção que sentíamos de vestir aqueles verdadeiros mantos, eles não me parecem ter o mesmo desejo, tesão e nem a ansiedade que sentíamos, uma pena.
As camisas de hoje são muito bonitas e tecnológicas, com tecidos leves e antitranspirantes, mas continuam caras e carregam muita propaganda, às vezes tem tantos patrocinadores estampados que ficamos na dúvida qual é o escudo do time, reduzindo um pouco aquela relação sanguínea e histórica entre a camisa do clube e o torcedor.
Apesar de todas as mudanças ocorridas nas camisas, elas ainda ocupam um lugar especial no coração do verdadeiro torcedor, diminuiu um pouco é verdade, saindo lentamente das arquibancadas dos estádios e sendo vista muito mais nas redes sociais, mas mesmo assim, são elas que me fazem viajar nos meus pensamentos e escrever esta crônica, pensando com meus botões…“ai que saudade das camisas de futebol do nosso passado”.
E você, lembra de alguma camisa que esqueci?
CABRA MENTIROSO
por Victor Kingma
Charge: Eklisleno Ximenes.
Chico Cabra foi um folclórico goleiro do interior nordestino. Depois que pendurou as chuteiras vivia de bar em bar contando as façanhas do seu tempo de jogador.
Certa vez, entre uma cerveja e outra paga pelos amigos, que sempre colocavam pilha para vê-lo exagerar nas lembranças de suas proezas, Chico Cabra recordava a maior atuação de sua carreira.
Segundo ele, foi numa decisão do campeonato local, contra o grande rival da época. Seu time jogava pelo empate para ser campeão.
– O time deles era um timaço e atacava o tempo todo, mas eu, numa tarde de gala, fechava o gol. Já havia defendido três pênaltis na partida. Vangloriava- se o ex- goleiro, incentivado pelas cervas geladas. E prosseguia:
– O jogo estava 0 x 0 até o último minuto, e a torcida do meu time já comemorava o título, quando o juiz marcou a quarta penalidade contra nós. Por azar, agora o cobrador era Quarenta, o maior chutador de todos os tempos no Agreste. E descreve o lance:
– Quarenta tomou longa distância e disparou um torpedo no ângulo.
– E aí você pegou o quarto pênalti? – provoca um dos presentes, em meio às gargalhadas da turma, já prevendo outra bravata do bravo Chico.
– Quase! Voei como um gato e cheguei a tocar na bola, mas o cara chutava demais. Não teve jeito, foi gol. Se eu dissesse que peguei o pênalti os amigos até podiam pensar que sou de contar vantagem.
– Que pena! Então apesar da sua grande atuação seu time acabou perdendo o título? – indaga, decepcionado, um dos amigos.
– Por pouco! Só não perdemos porque na saída de bola teve um escanteio a nosso favor. Fui à área, subi mais que todos os grandalhões da defesa deles e, de cabeça, consegui fazer o gol do título.
Vixe! Goleiro pegar três pênaltis numa decisão e ainda fazer o gol do título…
Êta Cabra mentiroso!
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Vitor
O PAPA-TÍTULOS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel
Se jogar nos quatro grandes do Rio é um privilégio que poucos atletas têm, levantar a taça em todos eles é quase igual ganhar na loteria. Se já não fosse o bastante, o craque Vitor ainda teve uma passagem pelo Atlético-MG, onde também soltou o grito de “É Campeão!”.
Por isso, assim que recebemos o convite do botafoguense Adílson Bastos Tangerina para cobrir e prestigiar um jogo em homenagem ao papa-títulos, não pensamos duas vezes antes de aceitar e colocar o Pelada Móvel na estrada para Miguel Pereira, onde Vitor começou sua trajetória.
– Sou nascido e criado aqui! Aos 16 anos, o América-RJ veio fazer um amistoso contra o Portela e o Loureiro Neto me perguntou se eu não queria treinar no Rio com o Mecão.
A partir daquele momento, a carreira de Vitor deslanchou. Em pouco tempo se transferiu para o Flamengo e se profissionalizou pelo rubro-negro no final dos anos 70. A concorrência naquele timaço da Gávea era fortíssima e o jovem brigava por posição com ninguém menos que Andrade.
No Flamengo, foi bicampeão carioca, tricampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Munidal Interclubes. Um fato curioso é que mesmo sem ser titular, foi convocado diversas vezes por Telê Santana e por muito pouco não fez parte do elenco que viajou para Copa do Mundo de 1982.
– O Telê dizia que eu tinha um estilo parecido com o do Beckenbauer! – lembrou.
Depois de vestir a camisa rubro-negra, se transferiu para o Atlético-MG e conquistou o Estadual de 1984. No ano seguinte, foi contratado pelo Vasco e levantou a taça do Brasileirão de 1987. No Botafogo não foi diferente e, em 1989, acabou com um longo jejum de títulos do clube ao se sagrar campeão carioca em cima do Flamengo.
Apesar de ter vestido a camisa de tantos clubes de expressão e a amarelinha, Vitor não esquece as raízes. Antes do apito inicial para a pelada em sua homenagem, no campo do Estádio Fructuoso Fernandes, fez questão de agradecer:
– É uma alegria muito grande por vocês terem vindo na minha cidade. É um orgulho ser Portelense. Ser homenageado pelo Museu da Pelada e pelo Botafogo, na minha cidade, é motivo de muito orgulho para nós.
Ainda tivemos o privilégio de visitar a casa de Vitor e conhecer seu vasto acervo, com matérias da Revista Placar, Jornal dos Sports, fotos históricas e até mesmo a bola da despedida de Carlos Alberto Torres do Cosmos.
– Ficaria imensamente satisfeito se o Museu ajudasse a revitalizar o meu acervo. Alguns quadros estão perdendo a cor. Isso para mim tem um valor sentimental muito grande, pois era meu pai que guardava isso tudo. Era o meu melhor amigo!
Recebemos o pedido como uma ordem e nos disponibilizamos a revitalizar e eternizar mais um acervo de um grande ídolo do passado!
Valeu, Vitor!
Boca x River
A SONHADA FINAL
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel
Após muito esperar o desfecho da tão sonhada final da Libertadores de 2018, que foi parar vai saber como em Madrid, a equipe do Museu da Pelada decidiu tomar suas providências e reuniu River Plate e Boca Juniors em um verdadeiro caldeirão para tentar dar um fim nessa história.
Seguindo a sugestão do parceiro Marcinho Nunes, fomos conhecer a tradicionalíssima loja Botão e Palheta, da fera Hamilton Tavares, na Tijuca, e não perdemos a oportunidade de realizar o clássico do século. Vale destacar que o “estádio” reúne semanalmente craques da brincadeira que marcou a infância de muitos.
– Toda quarta-feira rola esse campeonato aqui! São dois tempos de sete minutos cada e todos jogam contra todos! – explicou o dono da loja, que conta com mais de 33 mil peças de botão na coleção.
Diferentemente da cenas lamentáveis que adiaram a final no Monumental de Nuñez e frustraram as expectativas de milhões de pessoas, o que vimos na Botão e Palheta foi um futebol vistoso e alegre, com efetividade que lembrava os grandes ídolos do passado.
– Em cada jogada só pode dar oito toques na bola e um jogador não pode tocar mais de duas vezes seguidas no lance! – explicou João, o representante do Boca Juniors.
Gyrafa, por sua vez, vestiu a camisa do River Plate e colocou os Millionarios em campo. Times escalados, era a hora da tão esperada final! Antes disso, no entanto, Hamilton encarnou o presidente da Conmebol e deu um verdadeiro show de humor.
– Dá um dinheiro aqui que a gente resolve tudo! O jogo vai acontecer com sol, chuva e nada vai impedir! Futebol é para macho! – esbravejou!
Mal rolou a bola e o River Plate carimbou a trave do goleiro Pato, em um chutaço de longa distância. Não demorou muito e o Boca Juniors respondeu com um golaço de Benedetto, o carrasco do Palmeiras.
De tanto pressionar, o River Plate de Gyrafa chegou ao empate com um toque de categoria de Pablo Aimar e levou a decisão para os pênaltis.
– Agora vocês vão ver como os jogadores de botão têm um alto índice de aproveitamento em cobrança de pênalti! – antecipou, de forma irônica, João.
Os episódios que antecederam o clássico parecem ter mexido com o psicológico dos jogadores, que não conseguiam balançar a rede nas penalidades. Até que chegou a vez de De León, o levantador de taças, que converteu sua cobrança e colocou o River bem próximo do título.
Na hora do Boca cobrar o pênalti que poderia dar fim a essa novela que se arrastou por muito mais tempo do que devia, uma pequena confusão no deslocamento das peças se tornou uma briga generalizada.
– Meu jogador foi agredido! Vou retirar meu time de campo! O Boca vai recorrer!
– Vamos marcar uma nova data! – finalizou Hamilton, com muito bom humor!
O futebol de botão respira!
A RIVALIDADE E O MARKETING
por Idel Halfen
A final da Copa Libertadores da América de 2018 tem provocado os mais diversos tipos de comentários, esses passam pelas críticas à Conmebol – entidade que rege o futebol sul-americano – aos torcedores deste continente e desfecham sobre a solução de abrigar a partida no estádio do Real Madrid na Espanha.
Discordar ou concordar com tais comentários não acrescentarão muito em termos da proposta do blog, por essa razão aproveitarei o assunto para discorrer sobre “rivalidades” e como essas se fazem importantes no ambiente mercadológico.
Claro que a existência de um competidor forte é incômoda em certos momentos, porém a falta dele(s) pode implicar não apenas em acomodação, mas também numa menor atratividade do ambiente em que se está inserido, isto porque a rivalidade, na pior das hipóteses, tem o poder de chamar a atenção sobre a “disputa” e, dessa forma, provocar mais interesse.
Apesar de terem chegado à final da Libertadores da América, não podemos afirmar categoricamente que Boca Juniors e River Plate sejam as melhores equipes do continente, tampouco as que possuem as maiores torcidas ou que tenham atualmente no plantel ídolos mundialmente reconhecidos. Contudo, ganharam a fama de ser a maior rivalidade da América do Sul e uma das maiores do mundo. Afinal de contas, qual a partida entre equipes sul-americanas jogada na Espanha seria capaz de esgotar previamente a carga de ingressos para os sócios do Real Madrid? Talvez um Fla-Flu pela mística e pelo fato de o futebol brasileiro ainda ter uma boa fama, quem sabe…
O que quero dizer é que a rivalidade não advém de aspectos exclusivamente “racionais”. Pegando por exemplo o mercado de fast food, temos que o Mc Donald’s é a rede com o maior faturamento, seguida por Starbucks, Subway e Burger King, já em número de lojas a ordem é: Subway, Mc Donald’s, Starbucks, KFC e Burger King.
Diante dessa condição, pareceria estranha em um primeiro momento a “briga” que acontece há anos entre Mc Donald’s e Burger King, até porque um fatura 3,7 vezes mais do que o outro e tem mais do que o dobro de lojas. É certo que podemos evocar a semelhança entre os produtos ofertados para justificar essa rivalidade, mas também não devemos desprezar que, pelo prisma de marketing, a disputa coloca as marcas e a categoria “burgers” bastante em voga, reforça essa visão o fato de a maioria das provocações partir do Burger King que, sendo menor, tem mais a ganhar ao confrontar o líder.
Uma das últimas provocações se deu em função dos recentes lançamentos do McPicanha e do McVeggie, que fez com que o Burger King usasse as redes sociais para alfinetar o rival com um anúncio de oportunidade que trazia a frase: “No sanduíche ou no Enem o melhor é não atrasar”, complementando o ataque com a informação de que seu sanduíche de picanha foi lançado em 2012 e o vegetariano em 2015.
Que se registre que em 2015, o Burger King propôs ao rival, através de um anúncio no New York Times, promover uma ação conjunta no Dia Internacional da Paz, sugestão que foi respondida pelo McDonald’s por meios das redes sociais com o seguinte dizer: “Caro Burger King, inspiração para uma boa causa…ótima ideia. Nós adoramos a intenção, mas acreditamos que nossas duas marcas podem realizar algo maior para fazer a diferença. Da próxima vez um telefonema resolve”.
Bem direto, não?
O que se pode concluir desta “disputa” é que rivalidades saudáveis, aquelas que não faltem com o respeito, nem mexam com a paixão, são peças importantes para serem contempladas em um plano de marketing.