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Pelada do Jorginho

PELADA DO JORGINHO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Como manda a tradição, fim de ano é época de reunir os amigos e os boleiros aproveitam para organizar a boa e velha pelada. A equipe do Museu procura ir em todas, mas o convite para o jogo beneficente de Jorginho, ex-volante do Flamengo, fez os nossos olhos brilharem.

Tudo começou na festa de fim de ano do Areia Leme, na Praia de Copacabana, quando o parceiro Denis nos abordou e contou sobre o evento que rolaria em Anchieta, bairro da Zona Norte do Rio. Para quem não lembra, Jorginho foi peça fundamental na equipe rubro-negra do final dos anos 90 e início dos anos 2000.

– Sou nascido e criado aqui em Anchieta, onde dei meus primeiros tapas na quadra de salão. Depois fui para o Olaria, Flamengo e aí foi só alegria.

A tradicional pelada rola há seis anos no clube e, além de reunir craques do passado, tem como objetivo arrecadar alimentos. Nesta edição, Donizete Pantera, Beto, Leandro Ávila, Maurinho e até João Marcos, o sósia do Roberto Carlos, marcaram presença e levantaram a galera.

– A gente jogou junto com ele, fomos campeões e nada melhor do que reunir essa rapaziada e ajudar ao próximo! – disse Leandro Ávila.

Antes da bola rolar, Ademar Barbosa, presidente do Anchieta Esporte Clube, fez questão de demonstrar todo o seu carinho por Jorginho:

– Aqui é a casa do Jorginho e é sempre um prazer recebê-lo. Não abro mão de ceder o campo para essa pelada!

Aproveitamos a boleirada toda reunida para armar aquela resenha animada. Apesar de ter atuado no Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense, Beto enfatizou sua passagem pelo Napoli. O motivo é mais do que especial:

– Tive a felicidade de usar a 10 do Maradona lá. Além disso, fiz gol na semifinal da Copa Itália e foi uma felicidade imensa!

Ao perguntarmos ao sósia do Roberto Carlos se a potência do chute era a mesma, a figuraça rebateu:

– A perna é do Roberto Carlos cantor!

Como é bom matar a saudade dos craques do passado e ouvir um pouco da história do nosso futebol com esse clima descontraído!
 

 

A GLÓRIA DO LOCO

por Paulo Escobar


Em Minas, uma pequena cidade do Uruguai , nasce Washington Sebastián Abreu Gallo, que viria a ser conhecido no mundo do Futebol como Loco Abreu.

Podemos dizer que o Loco é um daqueles jogadores que mesmo em curto tempo nos clubes por onde passou deixou sua marca, e não foram poucos os times defendidos: no total 28 até agora. Mesmo sendo este nômade do futebol deixou marcas profundas em alguns clubes.

Além da Seleção Uruguaia, Nacional, San Lorenzo, River, La Coruña e Botafogo devem ter sido os lugares onde o centroavante talvez tenha deixado a sua marca. Mas não podemos esquecer que são títulos e artilharias que ele carrega no seu extenso currículo também.

Homem de área, de presença e que sabia aguentar a pressão como poucos atacantes, frio e decisivo em muitos momentos. Abreu não é um daqueles loucos sem noção ou idiotas na sua forma de ser, mas a inteligência e as posições firmes do lado de fora dos gramados também são suas marcas.

Formado em Jornalismo, lembramos bem da sua passagem pelo Botafogo, onde foi um terror daqueles que muitas vezes se escondem por trás dos microfones para emitir opiniões sem conteúdos ou desconexos de contextos.

A química gerada entre Abreu e Botafogo é sem dúvidas umas das paixões que até hoje a torcida da estrela solitária sente saudades. Impossível esquecer aquelas tardes de Maracanã nas quais o camisa 13 fazia as redes balançarem e levava os torcedores do Bota, carentes de ídolos e títulos às lagrimas. Vale lembrar que a fera honrou o Glorioso até na sua comemoração do título da Copa América de 2011, quando levantou a bandeira do Botafogo em campo.


Uma das lições mais bem aprendidas pelo Loco sem duvida foi a famosa cavadinha nas cobranças de pênaltis, como ele mesmo gosta de apontar que aprendeu olhando Djalminha fazê-las. E é justamente talvez aí que habite um dos gestos que deve ter causado mais de um pré infarto por aí.

Mesmo com poucos minutos jogados na Copa de 2010, talvez daqui a dez anos você ainda se lembre daquele pênalti do jogo Gana x Uruguai. E, claro, toda história que envolveu talvez um dos jogos mais emocionante da história das Copas.

Abreu jogou 15 minutos daquela Mundial, mas, como costuma apontar Lugano, que sofreu muito com as cavadinhas do Loco, procurou o seu momento de glória propositalmente. Buscou entrar para a história das Copas e foi atrás do momento que fosse único.

O Loco não vinha sendo colocado nos jogos daquele torneio, mas por uma daquelas paradas do destino foi escalado para entrar em campo naquele mítico jogo. Pela ordem de batedores do maestro Tabárez, o Loco seria o terceiro batedor daquela série, mas ele olha para o técnico e pede para ser o ultimo batedor, num olhar do maestro de alguns segundos que devem ter parecido uma eternidade concede o desejo de Abreu.

Lugano, que já sabia que o Loco faria a Cavadinha, pede por favor para não fazer naquele jogo, mas Abreu segue firme na sua decisão para fazer história. Naquele quinto pênalti decisivo, el Loco manda aquela cavadinha infartante, colocando em risco um capítulo histórico e a volta do Uruguai ao cenário mundial.

Vale lembrar que meses antes, numa final contra o Flamengo, converteria também um pênalti da mesma forma, inclusive com a bola batendo no travessão e entrando. Num momento também em que o Botafogo vinha de três finais perdidas contra o Flamengo, Abreu saca uma dessas que deve ter feito desmaiar mais de um torcedor botafoguense.

Para um louco de coletivas acaloradas com os jornalistas, que não tinha meias palavras, errar uma cavada daquelas seria sem dúvidas um motivo para ser massacrado. Mas a frieza e convicção de Abreu faz um momento que durou alguns segundos parece uma eternidade.


Ao entrar no Museu do Futebol no Uruguai, há uns anos atrás no Estádio Centenário de Montevideo, vi numa redoma de vidro a chuteira com a qual o Loco bateu aquele pênalti. Durante muitos anos ainda a torcida do Glorioso também lembrará da camisa 13, a chuteira e, claro, das glórias de um loco que passou como uma estrela fugaz.

Naquele ano de 2010 o Uruguai teve a melhor defesa da Copa, o melhor jogador e um time inesquecível, mas tudo isso passou a ser um detalhe, pois o que muitos com certeza irão contar a seus netos é a cavadinha de Abreu.

SPORT 1987


Todas as vezes que se fala sobre 1987 vem o trevo, o assunto que fica quicando nas mentes dos torcedores todos.

Lógico que a polêmica urge, salta aos olhos e os versos. Todo mundo já deve ter ouvido falar que a CBF, quebrada, entregou o Campeonato Brasileiro para os clubes, se recusando a fazê-lo por falta de grana. Os Clubes, 13 deles, fizeram o que sempre fizeram; Se juntaram na elite e danem-se os outros.

Guarani, vice-campeão brasileiro de 1986, ficou de fora da afamada Copa União de 1987. América-RJ, terceiro colocado, idem. Todo mundo foi para a chave do módulo amarelo e por lá ficou acordado que no final do ano, o módulo verde (Copa União) teria o cruzamento do módulo amarelo (Campeonato da CBF) para que soubéssemos quem seria o campeão brasileiro de 1987. Pois…

No final, Flamengo e Internacional se recusaram a jogar o cruzamento e, após a vitoria do Rubro-Negro na Copa União,  se auto intitularam campeão brasileiro, por conta e juízo próprio. Já que se recusou a entrar em campo, deixa o Flamengo pra lá. Aqui, vamos falar de quem ficou e jogou., do verdadeiro Campeão Brasileiro de 1987.

Esquadrões do Futebol Brasileiro, fala hoje do Sport de 1987.

CAMPEÃO DE DIREITO


A coisa toda começa com a eleição de Homero Lacerda, que primeiro trouxe o consagrado goleiro Emerson Leão, como jogador e depois o efetivou como técnico. Leão foi quem deu cara para o time, levando para a titularidade jogadores como Ribamar, Neco e Robertinho.

Na zaga o Leão da Ilha tinha Marco Antonio, jovem, vigoroso, talentoso, fazendo a dupla com o experiente Estevan Soares, hoje técnico de futebol. Bons laterais como Betão e Zé Carlos Macaé e meias velocíssimos como Zico e Rogério, além de um ataque infernal com Robertinho, Nando e Neco.

No meio do bagunçado ano de 1987 e o seu campeonato todo escangalhado, o Sport voou. Em 20 partidas, venceu 12, empatou 5 e perdeu apenas 3 jogos. Fez uma final contra o Guarani onde aconteceu de tudo!

Teve a decisão por pênaltis em que após inacreditáveis 11×11 as duas equipes simplesmente pararam de bater as cobranças, por conta própria, dividindo assim o titulo do módulo amarelo. Teve o WO de Flamengo e Inter que se recusaram a jogar no cruzamento do regulamento e, com isso, teve a final entre Guarani e Sport.


Nela, o Sport empatou a primeira em Campinas e depois venceu na ilha do Retiro, com o 1×0 necessário para ter o titulo mais importante de sua história.

No que pese toda discussão necessária, o que Esquadrões do Futebol Brasileiro faz é homenagear esse timaço de bola, que colocou o Nordeste no mapa do futebol nacional. É dar o devido tratamento para um ótimo time, que por direito é o Campeão Brasileiro de 1987.

Sendo assim, saudamos o Sport, Campeão Brasileiro de 1987

AH, O FUTEBOL DE PRAIA…

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Se tem algo que não dá para reclamar é da minha memória, mas ela falha, não tem jeito. Em minha última coluna sobre futebol de praia esqueci de citar o Dínamo, dos queridíssimos Tião Macalé e João Carlos Barroso, e recebi uma enxurrada de mensagens, uma delas de Jean-Pierre, o Francês, goleiro do Dínamo, e outra de Jorge David, o Baba, produtor do espetacular “Ao som do mar, à luz do céu”, dirigido por Pedro Amorim. Quem não viu esse documentário é uma excelente dica para o início do ano.

O Chicão Carneiro enviou uma informação importantíssima: o futebol de praia está prestes a completar 100 anos! Data linda!!! O Chicão também informou que o Paula Freitas foi campeão invicto de 2018. Parabéns!!! Cassius Cunha lembrou do Colorado. Foram belas mensagens e viajei lendo cada uma! Na verdade, na correria de escrever a coluna, não falei da qualidade do futebol de Ronaldo Boó, considerado o “Zizinho da Praia” por vários jornais da época, inclusive pelos colunistas Don Rossé Cavaca e Othelo Caçador.

Mas dessa família de boleiros, o futebol que mais me encantava era o de Rogério Boó, que sempre me dava carona ao final dos jogos a pedido de meu pai, Marinho. Rogério mandou mensagem dizendo que o Eurico foi grande no Grêmio e no Ouro Preto, não no Radar, como eu havia dito. Lembrou de Paulinho Tovar, campeão pelo Botafogo, em 48. Quantas recordações maravilhosas!!! Ah, lembrei um jogo em que meti três no Lagoa! Desculpa, Dadica, Kkkkkk!!!!

O amigo Careca também lembrou dos tempos na Montenegro quando Jorge Ben levava a bola para disputarmos dupla de praia, e das apostas promovidas pelo saudoso Doval. Foram áureos tempos! Olha, após essa coluna fui abençoado e recebi mensagem até de Jesus!!! Calma, não é milagre! Jesus é antigo amigo do Colégio Francisco Alves, em Botafogo, onde, sem modéstia, eu já dava os meus showzinhos!!!


Ele afirma que os craques da praia teriam vaga em qualquer time profissional. Não tenho dúvida, tanto que muitos foram aproveitados. Em outra mensagem, essa carregada de emoção, Rubens Freitas disse que chorou lendo a coluna e relembrou algumas de suas passagens pelo futebol de praia. Lembrou da Pelada do Manoel, na subida da Niemeyer, e quando o técnico do time 44 o chamou para jogar. Também lembrou que Pedro Paradella narrava os jogos pela Rádio Continental. Lembrou de Tubarão, Mazinho, Felipe, Silvio Parodi, Pepa, irmão de Lula, e do árbitro Reinaldo Serra.

Enfim, ficaríamos falando aqui eternamente e sempre esqueceríamos de alguém porque o futebol de praia era um celeiro de craques. Não é fácil mostrar qualidade conduzindo a bola na areia fofa, mas essa rapaziada tirava de letra e atraía milhares de torcedores. Não existe modalidade mais carioca do que o futebol de praia porque reúne duas de nossas grandes paixões.

Fui um privilegiado por ter jogado bola sob o sol dessa cidade um dia maravilhosa. Depois, um mergulho e a resenha com os amigos. Hoje, as lembranças, intactas, douradas, eternas.

SONHOS RENOVADOS

por Marcos Vinicius Cabral


Dessa vez não fui despertado pelo celular que fica embaixo do meu travesseiro (graças a ele eu não perco a hora das peladas nos domingos).

Nele, marcava 4h57 da manhã da última quinta-feira, 27 de dezembro e ao olhar pela janela, uma escuridão tomava conta do céu.

O silêncio lá fora contrastava com o daqui de dentro do meu quarto, já que na ponta dos pés – como um bailarino ensaísta – dei os habituais vinte passos até o banheiro preocupado em não acordar Raquel minha esposa e Mel nossa cachorrinha da raça Shit-zu, que dormiam um sono angelical.

No regresso ao quarto, tentei dormir novamente e não reencontrei o sono.

Sem motivo algum comecei a pensar no Museu da Pelada, espaço virtual que resgata histórias de quem jogou bola e quem não jogou, de quem foi profissional ou de quem foi perna de pau nas peladas da vida e de quem marcou gols antológicos sendo aplaudido de pé e de quem perdeu outros feitos tendo na figura materna alvo de xingamentos.

Na verdade eu não estava pensando e sim sonhando com os olhos abertos, acreditem!

Já passava das 5h da manhã, deitado com olhos fixados no ventilador de teto, sonhei com o dia que conheci Sérgio Pugliese, pelos idos dos anos 90, quando visitei a redação do O Globo, na Rua Irineu Marinho, 35 – Centro – Rio de Janeiro.

Na ocasião, à procura de trabalho como ilustrador, o máximo que consegui aos 20 anos de idade foi conhecer Chico Caruso, segundo maior chargista desse país – ninguém supera o semovente Ique que se reinventa a cada ano.


Passados 23 anos, o reencontro na sede da Approach em Botafogo, Zona Sul da cidade, naquele segundo semestre de 2016.

Eu como estudante do quinto período de jornalismo e ele como Diretor.

Não falamos sobre outro assunto que não fosse os caminhos da Assessoria de Imprensa no século XXI, em que o dono da “canhota mais habilidosa do Albertão” foi sabatinado por minha colega de grupo Raquel Miranda.

Sonhei com minha adoração ao futebol do ex-camisa 2 rubro-negro e seleção brasileira Leandro, quando escrevi uma experiência vivida no “Enquanto todos queriam ser o Źico eu preferia o Leandro”, que foi minha primeira matéria para o Museu da Pelada.

Naquela ocasião, me senti como um garoto recém saído dos juniores e que treina bem durante a semana aguardando o momento de entrar na partida.

– Sensacional amigo, ela vai ser postada! – disse Serginho, como se fosse meu treinador e me chamasse para ser incorporado ao time do Museu.

E convenhamos, fazer parte de um grupo talentosíssimo como este e que tem Paulo César Caju, é um privilégio para poucos!

E foi assim que vi a publicação tendo curtidas, compartilhamentos e comentários, porém, após ser incorporado, a titularidade ainda estava longe.

O jogo estava só começando!

Comecei a escrever, escrever, escrever, pois era o mesmo que treinar, treinar e treinar.

Com isso, fui ganhando forma, assim como Rivellino na Copa do México em 1970, em que colocou uma “pulga” atrás da orelha do treinador Zagallo, que teve que arrumar uma vaga para o craque da camisa 10 do Corinthians e Fluminense, naquele time.

Aos poucos, fui me tornando uma grata surpresa, para Serginho e André – seu auxiliar técnico – assim como foi Josimar, lateral botafoguense que foi à Copa de 1986 – Leandro não estava no voo para o México – e fez história com dois golaços contra Argélia e Polônia respectivamente.

Oba, agora eu vestia o manto – não o rubro-negro – mas do Museu da Pelada!

O ano começou e com ele os sonhos foram renovados.

Que possamos escrever histórias cada vez mais bacanas de quem tem muito o que nos contar!

Feliz ano novo a todos!