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O DIA EM QUE PAULINHO PERDEU O MEDO

por André Felipe de Lima 


Botafogo e Fluminense estavam a três dias da decisão do Campeonato Carioca de 1957. Entrariam no sagrado gramado do Maracanã no dia 22 de dezembro. Havia um clima de muita ansiedade. Um dos protagonistas do embate oque se avizinhava já estava devidamente confirmado. Era o craque Didi. Haveria outro, mas isso ninguém jamais suspeitava. Falava-se em Nilton Santos, em Garrincha. Mas Didi, sim, com sua inigualável clarividência de fazer inveja a um Zaratustra ou a um Houdini já sabia quem deveria ser coroado com ele no domingo.

Naquela tarde da antevéspera do jogo, Didi disse o seguinte à esposa Guiomar: “Esse menino, no dia em que perder o medo, e não quero dizer medo no sentido de covardia, falo melhor, no dia em que ganhar confiança em si, vai ser uma parada. Tem tudo para ser um bom jogador. Seu chute é uma pedrada”. Didi falava reservadamente sobre o rapaz “Paulinho” que os aguardava na sala de jantar. O convidado em questão chamava-se Paulo Ângelo Valentim, que frequentemente visitava o casal. Didi e Paulinho — como era carinhosamente chamado pelos amigos — jogavam juntos no Botafogo, que não conquistava títulos desde aquela polêmica final contra o Vasco, em 1948. Por isso a ansiedade, a magia que cercava aquele jogo. Afinal, seria a primeira decisão do Didi contra seu ex-clube, que deixara para trás com uma dose cavalar de mágoa na alma e no coração.


A superstição estava em alta em General Severiano. O letreiro do clube inexplicavelmente estava sem todas as letras “e”. Quem por ali passava, lia: “Botafogo d FutbolRgatas”. Um cenário simplesmente nonsense que só mesmo o Alvinegro carioca para promovê-lo. Durante um papo com o amigo Rafael Casé, autor, entre outros, do maravilhoso “O artilheiro que não sorria”, uma sedutora biografia do artilheiro Quarentinha, e de “Somos todos Carlito”, sobre o impagável cartola botafoguense Carlito Rocha, ele recordou que a história certamente teria começado com Carlito, figura notória pela superstição com tudo e todos. Dias após nossa conversa sobre o episódio, Casé enviou uma nota de um jornal de 57, confirmando que o dirigente foi a um pai de santo nas vésperas do jogo. Carlito se benzeu, mas também pediu para que a macumba “amarrasse” os pés dos tricolores. O religioso foi enfático: “Retire todos os “es” do letreiro no portão do estádio”. Missão dada, missão cumprida.

Mas o que, afinal, tanto assustava Paulinho? Guiomar foi incisiva e perguntou o que mais o atemorizava. Ele respondeu que estava inseguro por ter custado tanto ao Botafogo e que as vaias também o importunavam. Sentia-se desvalorizado e sem ânimo para continuar jogando futebol e não descartava a possibilidade de não entrar em campo no domingo, contra o Fluminense. Ou, talvez, nunca mais.

O sábio Didi, o mais efetivo “psicólogo histórico” do futebol brasileiro, procurava levantar o moral do Paulinho, dizendo a ele que também sentia temor, e que isso era normal. Tanto que até promessas fez para cumpri-las em caso de vitória na final. A primeira seria estender a camisa do jogo no altar da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, mas Didi — como é público e notório — só a cumpriria no ano seguinte, após o Brasil levantar o caneco mundial na Suécia; para cumprir a segunda, a mais complicada, teria de caminhar do Maracanã até General Severiano logo após o jogo, e com o uniforme completo, da chuteira à camisa: “Deixa isso para lá, rapaz, você tem jogo para muito tempo. Você leva jeito para o negócio. Precisa sair um pouco mais, aprender a desmarcar-se. O resto é fácil. Deixa que eu dou na frente.”

Mais calmo após o papo com Didi e Guiomar, Paulinho confessara que desejava jogar de meia e não de centroavante, como o escalara João Saldanha: “Já falei com Saldanha. No jogo de domingo contra o Fluminense eu vou tirar fotografia na posição de meia. Tenho certeza que isso dará sorte. Eu tenho minhas manias.”

O tempero da Guiomar e a “psicologia” do Didi injetaram no rapaz uma vontade incontrolável de brilhar, de ser a representação mais esfuziante da estrela solitária. Naquele dia 22 de dezembro de 1957, a “mandiga” do Paulinho, o letreiro louco de General Severiano, as promessas do Didi e os conselhos que o jovem ponta-de-lança recebeu do próprio Didi e da Guiomar funcionaram.


Botafogo e Fluminense entraram em campo diante de cerca de 100 mil torcedores. Após o apito final do juiz Alberto da Gama Malcher, estava lá, no placar do estádio: Botafogo 6, Fluminense 2, com cinco gols do renascido Paulinho Valentim.

No vestiário, Guiomar beijou calorosamente o marido Didi. “Tudo que sou devo a você, Guiomar, e à nossa Rebequinha (a filha do casal)”. Após as entrevistas, Didi cumpre a primeira das duas promessas e, vestido ainda com o uniforme alvinegro completo, caminha do Maracanã até sua residência cercado de uma multidão incrivelmente feliz em preto e branco.

Quanto ao Paulinho, foi amar — com todas as cores possíveis — sua querida Hilda.

BRAGANTINO 1989/1991

por Marcelo Mendez


Naquele sábado eu fui para Bragança Paulista em uma missão que me parecia tão somente protocolar.

Era o ano de 1989 e o meu Palmeiras havia varrido com todo mundo no Campeonato Paulista daquele ano, venceu uma Taça dos Invictos com 23 partidas sem perder, se classificou em primeiro lugar, nos quadrangulares caiu num grupo formado pelo décimo primeiro e o Décimo segundo e tudo parecia muito bem até que, chegou o dia de ir pra Bragança.

Da janela do ônibus eu vi um estádio pequeno, meio apertado, completamente abarrotado e em campo um primeiro tempo que vinha sendo nosso até que um tal de Almir abriu o placar. Depois Zé Rubens e depois Galo. Incrível 3×0 que tirou o meu time, o melhor do Paulistão.

Foi a pior forma para mim, o jeito mais dolorido de conhecer o timaço de hoje.

Com vocês, Bragantino de 1989/1991 em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO

INTERIOR FORTE

No final dos anos 80, o interior estava em ascensão em São Paulo.


Uns anos antes a Inter de Limeira já tinha conseguido um título, o São José, do artilheiro Toni e do atacante Tita, chegaria para o decidir título e agora, em 1989, surgia um time de preto e branco em Bragança Paulista. De lá pouco se sabia. Apenas que tinha um patrono, o poderoso Nabi Abi Chedid, um técnico talentoso, jovem e vibrante de nome Vanderlei Luxemburgo e a partir daí veio a montagem de um time poderosíssimo.

Astuto e ligeiro, sem gastar muito, Nabi saiu pelo interior recrutando a rapaziada. Primeiro, foi na cidade próxima em Campinas e de lá veio com um pacote do Guarani. O Zagueiro Nei, o goleiro Marcelo, o volante Mauro Silva, Sousa, Ivair vieram para formar o timaço. Do Fluminense, João Santos, Franklin, da Lusa o experiente Luis Muller e do Rio, os craques Tiba e Mazinho. Era essa a estrutura do time que faria história naquele começo de década no Brasil.


Marcelo, Gil Baiano, Nei, Junior e Biro Biro na zaga. Mauro Silva, Ivair, João Carlos e Alberto na meiuca; Mazinho e Tiba. Esse foi o time base que conseguiu um título paulista numa decisão inédita contra o Novo Horizontino em 1990, que se firmou para disputar um ótimo Brasileirão em 1991.

Naquele ano, a Lingüiça Atômica de Bragança chegou a final do Campeonato Brasileiro de 1991, sendo batido pelo São Paulo de Tele Santana.

Claro que quando falamos de um grande time, nunca é legal a gente terminar falando de um vice. Acontece que aqui, em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO, muitas outras coisas valem além do titulo que se conquista. O Bragantino ousou estar num lugar que diziam não ser o seu. E é essa ousadia que aqui homenageamos.

Grande Bragantino 1989/1991

COMO CONHECI PC CAJU

por Luis Filipe Chateaubriand 


Em 1980, aos dez anos de idade, entrava no Maracanã pela segunda vez para assistir um jogo de futebol, mas iria assistir pela primeira vez um jogo do clube do qual sou torcedor. Jogavam, em um domingo, América x Vasco da Gama, no Maracanã.

O jogo foi bom, movimentado, disputado. Tanto o time do América como o time do Vasco eram bons.

O ponta direita Wilsinho fez 1 x 0 para o Vasco no final do primeiro tempo. O centroavante Luisinho empatou para o América, 1 x 1, por volta de 20 minutos do segundo tempo, e o lateral esquerdo Marco Antônio fez, de falta, o gol da vitória vascaína, 2 x 1, faltando uns dez minutos para o jogo acabar.

Foi divertido assistir ao jogo, ver meu time vencer, meio estranho ver a torcida xingar o juiz (o garoto de dez anos ainda não era acostumado com essas malcriações…), mas o que foi legal mesmo foi ficar observando Paulo Cesar, o Caju, em campo.

O primeiro detalhe que me chamou atenção foi que, enquanto os outros jogadores jogavam com a camisa para dentro do calção, PC colocava a camisa para fora. A camisa, assim, cobria o calção todo, parecia que o Caju esta usando um vestido com a cruz de malta. O visual engraçado mostrava a irreverência do craque…

Mas havia outro detalhe que merecia mais atenção ainda: ao contrário dos outros jogadores, que quando recebiam a bola sempre davam passes laterais curtos ou até para trás, ao recebê-la o Paulo Cesar sempre tentava algo inusitado, diferente, inesperado. Ou era um passe em profundidade. Ou um drible inventivo. Ou um arremate inesperado.


O cara não corria muito, mas botava a bola onde queria! Parecia que tão somente sua presença majestosa já intimidava os adversários.

Esse foi um jogo comum de Paulo Cesar Caju, já caminhando para o fim de carreira. Dizem que, no Vasco, jogou muito pouco em relação ao que havia jogado no Flamengo, no Botafogo, na Seleção Brasileira e, especialmente, na Máquina Tricolor – times que não tive o prazer de acompanhar, ou porque não era nascido, ou porque ainda era muito novo e não entendia futebol.

O fato é que fico cá a pensar com meus botões: se o PC Caju majestoso que vi no Maracanã em 1980, já com mais de 30 anos, era essa bola toda, o que não teria sido o PC Caju de antes? Minha Nossa Senhora!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

60 TONS DE VERMELHO E PRETO E UM POUQUINHO DE VERDE AMARELO

por Marcos Vinicius Cabral e Mario Helvecio


Certa vez, em 1987, sentado numa bola, Leandro observava seus companheiros correndo no gramado da Gávea.

Apesar do olhar triste – o mesmo que lembrou o episódio quando foi considerado acabado para o futebol e reprovado nos exames médicos do empréstimo ao Internacional em 1979 – nada abalaria mais o jogador aos 28 anos.

Vítima de problemas crônicos nos joelhos – artrose no direito e tendinite no esquerdo – o imortal camisa 2 rubro-negro poderia ter ido mais longe na carreira.

– Cada partida disputada por Leandro é uma obra de arte do departamento médico do clube – diria certa vez o falecido GiuseppeTaranto.

O craque da camisa 3 era diferenciado, tanto que não treinava em dois turnos como os demais e fazia apenas exercícios específicos de peso, como por exemplo, fortalecimento muscular em que levantava 25 kg com a perna direita e 15 com a esquerda 250 vezes.

Ainda se submetia às ondas eletromagnéticas – a famosa corrente russa -, laser, ultra-som e gelo, muito gelo em ambos os joelhos.

Tudo isso para combater (ou tentar) o “mal de cawboy”, que segundo especialistas, só seria possível se o jogador tivesse usado gesso com aparelho ortopédico entre os 2 e os 5 anos e ser submetido a uma cirurgia até os 10 anos, em que teria que quebrar as pernas e engessá-las novamente.

Embora com todas essas dificuldades, não lhe faltam títulos e isso se deve porque Leandro é dotado de uma qualidade técnica inesgotável.

Clássico, jamais foi desleal – em 415 jogos na carreira, foi expulso uma única vez, em 23 de novembro de 1983, quando se desentendeu com o ponteiro Ado do Bangu, no Campeonato Carioca.

Encerrou sua brilhante carreira vestindo apenas a camisa do Flamengo – com exceção da seleção brasileira – ao longo de doze anos como profissional.

O Museu da Pelada elaborou sessenta motivos para parabenizar esse ídolo da galeria dos imortais do Clube de Regatas do Flamengo, que hoje sopra velinhas de aniversário:

1) No dia 17 de março de 1959, nascia na cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, um dos raros jogadores a passar toda a carreira vestindo apenas uma camisa: o lateral-direito e zagueiro LEANDRO.

2) Em 1969, aos 10 anos de idade, se interessa pelo futebol e começa a encantar, por sua habilidade com a bola, os amigos e a todos que presenciaram seu inicio no mundo da bola.

3) Acompanhou a tristeza do pai, quando, ouvia pelo rádio, o Flamengo perder para o Fluminense por 2 a 1. Depois do segundo gol do Fluminense, disse que ia ao banheiro, mas foi, na verdade, para a sala ajoelhar e rezar pelo empate. Quando voltou, saiu o gol de empate. Foi uma grande alegria para o menino Leandro. “Me senti realizado por papai do céu atender ao meu pedido”, disse Leandro.


4) Entre 1973 e 1975, vem diversas vezes ao Rio de Janeiro, junto com o pai, para assistir no Maracanã a jogos do Flamengo. Se apaixona pelo Rubro-Negro carioca e elege Zico, seu ídolo e exemplo.

5) Em 1976, aos 17 anos, veio com o primo Nonato ao Rio de Janeiro, prestar vestibular e foi convencido por este primo a fazer um teste nas categorias de base do FLAMENGO, seu clube de coração.

6) Fez testes no Campo da Base dos Fuzileiros Navais,

6) Fez testes no Campo da Base dos Fuzileiros Navais, na Ilha do Governador, juntamente com Vitor, futuro volante do Flamengo. Imediatamente integrado à equipe juvenil do Flamengo, Leandro ficou nesta categoria até fevereiro de 1978. Américo Faria o levou para treinar na Gávea.

7) Impressionou a todos no Clube pela qualidade de seu futebol e no fino trato com a bola. Foi aprovado.

8) Nesta época ganhou dos colegas da base do Flamengo o apelido de “Peixe-Frito”, que o acompanha até os dias de hoje.

9) Foi promovido pelo técnico Claudio Coutinho ao time profissional do Flamengo, estreando no empate de 1 a 1 com o América, em partida amistosa em 22 de março de 1978 no Estádio Caio Martins em Niterói/RJ. Atuou como volante.

10) Em 10 de maio de 1978, atuou pela primeira vez como lateral-direito, posição que o consagraria, na partida amistosa Flamengo 3 X 1 Atlético-BA em Alagoinhas, Bahia.

11) Sua primeira partida como titular do Flamengo foi em 05 de julho de 1978, no empate de Flamengo 1 X 1 Palmeiras no Maracanã, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Atuou como lateral direito.

12) Seu primeiro jogo internacional foi no empate Flamengo 0 X 0 Talleres-ARG, no Estádio Chateau Carreras em Córdoba na Argentina, em partida amistosa no dia 27 de julho de 1978. Atuou como lateral direito.


13) Seu primeiro jogo oficial (valendo 2 pontos) nos profissionais do Flamengo foi na derrota de 2 a 0 para o Real Madrid da Espanha no Estádio Razor em La Coruña na Espanha pelo Troféu Teresa Herrera em 13 de agosto de 1978.

14) Sua estreia no Campeonato Carioca foi na vitória de 3 a 0 do Flamengo sobre o Bangu, no Estádio Proletário, válido pela Taça Guanabara em 24 de setembro de 1978.

15) Seus primeiros títulos como profissional foram a Taça Rio e o Campeonato Carioca, ambos em 1978.

16) Em 11 de fevereiro de 1979, em partida válida pela Taça Guanabara, primeiro turno do Carioca (Especial). O Flamengo venceu o América por 4 a 0 com gols do ponta Reinaldo, Adílio e dois gols de falta de Zico. Leandro teve atuação soberba como volante. Este jogo marcou a inauguração do placar eletrônico do Maracanã.

17) Seu primeiro gol como profissional do Flamengo, foi na partida Flamengo 3 X 0 Portuguesa/RJ, em 29 de setembro de 1979 no Maracanã, pelo 3o turno do Campeonato Carioca. O seu gol foi o terceiro do Flamengo.

18) Em 1979, Leandro conquistou com o Flamengo o Campeonato Carioca (Especial) e também o Campeonato Carioca. Neste ano, devido a unificação dos Clubes da Capital e do Interior do Estado, imposto pela então pela recém-criada Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, foram disputados dois Campeonatos Cariocas. O Flamengo venceu as duas Competições.


19) Em novembro de 1979, se envolveu em um acidente de carro e fraturou a perna, desfalcando o Rubro-Negro da Gávea. Até sua recuperação total, em setembro de 1980, só disputaria duas partidas amistosas, ambas contra o Atlético-MG em fevereiro e maio do mesmo ano. Mesmo contundido, fez parte do elenco que conquistou o Campeonato Brasileiro de 1980.

20) Neste período, ainda buscando afirmação, foi sondado pelo Internacional de Porto Alegre, sendo vetado pelo médico do Clube, Dr. Neylor Lasmar que mais tarde seria o médico da seleção Brasileira e que teria declarado que errara na avaliação na época do Internacional. Sorte do Flamengo.

21) Em 24 de setembro de 1980, na vitória de 1 a 0 sobre o Volta Redonda no Estádio Raulino de Oliveira, Leandro volta ao time, jogando de ponta esquerda, ao substituir Júlio Cesar UriGeller.

22) A partir de então, assume de vez a condição de titular da lateral-direita do Flamengo, deixando no banco o excelente Carlos Alberto.

23) No segundo semestre de 1980, realizou o sonho de jogar junto com o zagueiro Luís Pereira, no Flamengo.

24) Em Janeiro de 1981, renova seu contrato com o Flamengo até o final da Copa do Mundo de 1982, deixando claro que o Clube acreditava que Leandro chegaria à Seleção Brasileira em breve.

25) Em 15 de setembro de 1981, em partida amistosa que marcou a despedia oficial de Paulo César Carpegiani, o Flamengo de Zico venceu ao Boca Juniors-ARG de Maradona no Maracanã por 2 a 0. Após a partida, o astro argentino foi perguntar a Zico quem era o “craque” da camisa 2 do Flamengo.

26) Suas atuações no Flamengo o levaram a ser convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez para o amistoso contra um Combinado Irlandês em 23 de setembro de 1981, no Estádio Rei Pelé em Maceió. Entrou no segundo tempo no lugar do lateral Perivaldo. O Brasil venceu por 6 a 0.

27) Sua primeira partida como titular da Seleção Brasileira foi em 28 de outubro de 1981 na vitória da Seleção de 3 a 0 sobre a Bulgária no Estádio Olímpico em Porto Alegre. Leandro marcou o terceiro gol após belo passe de Sócrates, no segundo tempo. Leandro assumiu de vez a titularidade da lateral direita da Seleção Brasileira. Após este jogo o Dr. Neylor Lasmar, médico da Seleção Brasileira, que o havia condenado para o futebol, se rendeu ao talento de Leandro.

28) Na decisão da Taça Libertadores em 23 de novembro de 1981, no Estádio Centenário de Montevidéu, contra o Cobreloa-CHI, Leandro atuou como volante e numa partida soberba, comandou o meio campo do Flamengo, na vitoria de 2 a 0, garantindo o titulo para o Flamengo.

29) Em 06 de dezembro de 1981, o Flamengo venceu o Vasco por 2 a 1, conquistando o Campeonato Carioca. Ainda no primeiro tempo, numa disputa de bola com Roberto Dinamite no meio de campo, Leandro “rolou” a bola entre as pernas do craque vascaíno e iniciou mais um ataque do Ribro-Negro. Lindo lance que levou a galera do Flamengo ao êxtase.

30) Em 13 de dezembro de 1981, Leandro atingiu o ápice da carreira aos 22 anos. O Flamengo venceu o Liverpool-ING por 3 a 0 e sagrou-se Campeão Mundial de Clubes. Leandro teve atuação destacada encarando o astro escocês Kenny Dalglish, atacante do time inglês. Leandro o marcou com excelência e ainda construiu lindas jogadas de ataque, deixando o lado esquerdo do Liverpool desnorteado.

31) Em 1981 e 1982, foi o líder de assistências na temporada do futebol brasileiro, jogando pelo Flamengo.

32) Em 24 de janeiro de 1982, o Flamengo foi a Recife encarar o Nautico no Estádio do Arruda. Em um jogo muito duro, o Flamengo venceu por 4 a 3 e Leandro marcou um golaço de perna esquerda de fora da área.

33) Em 31 de março de 1982, Flamengo foi a Recife encarar o Sport pelas quartas de finais do Campeonato Brasileiro. O Clube pernambucano venceu por 2 a 1. Leandro marcou um golaço de fora da área, encobrindo o goleiro País, aproveitando belo lançamento do zagueiro Marinho, classificando o Rubro-Negro carioca para as semifinais, já que no primeiro jogo no Maracanã, o Flamengo venceu por 2 a 0.

34) Em 1982, Flamengo e Grêmio decidiram o Campeonato Brasileiro em três jogos. 1 a 1 no Maracanã, 0 a 0 no Olímpico em Porto Alegre e também no Olímpico em Porto Alegre, 1 a 0 para o Flamengo, garantindo o título para o Rubro-Negro da Gávea. No segundo jogo desta decisão, o tricolor gaúcho impunha uma pressão fortíssima em cima do Flamengo e toda a bola que chegava ao goleiro Raul, este chutava para a frente e era repreendido por Leandro, que dizia: “Vamos sair jogando, não adianta dar chutão. Só devolve a bola pra eles”. Irritado com a insistência do lateral, Raul jogou com violência a bola na direção de Leandro. A partir daí foi só arte. Leandro deu um passo atrás, matou a bola no peito, deu um “chapéu” em Vilson Tadei, driblou Paulo Isidoro, fez linda jogada pela direita, foi ao ataque e criou jogada que quase resultou em gol do Flamengo. Voltou para defesa e gritou para Raul: “Ei, Velho…psiu…quando eu pedir a bola, pode dar…eu jogo pra caralho”…o goleiro do Flamengo de olhos arregalados, imediatamente, fez sinal de positivo, concordando com Leandro.

35) Leandro foi o titular da Seleção Brasileira em toda a campanha na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

36) Integrou a Seleção da Copa de 1982, eleição feita pela revista France Football.

37) Após a Copa do Mundo de 1982, ao saber do interesse de Clubes da Europa, Leandro assinou contrato em branco com o Flamengo, garantindo sua permanência no Rubro-Negro.

38) Ganhou sua primeira Bola de Prata da Revista Placar em 1982.

39) Em 1983, foi vice-campeão da Copa América pela Seleção Brasileira.


40) Em 06 de fevereiro de 1983, o Flamengo foi a Belém-PA encarar o Paysandu no Estádio Mangueirão. Em um jogo muito duro, o Flamengo venceu por 3 a 2 e Leandro marcou o segundo gol do Flamengo de perna esquerda após confusão dentro da área do Paysandu.

41) Marcou o segundo gol do Flamengo, de cabeça, após centro de Zico, na vitória de 3 a 0 sobre o Santos, na decisão do Campeonato Brasileiro de 1983, garantindo o título para o Rubro-Negro.

42) Em 19 de julho de 1984, no empate do Flamengo 0 a 0 com o Grêmio, pela Taça Libertadores da América, Leandro jogou sua última partida na lateral direita.

A partir daí, assumiu a condição de zagueiro do Flamengo, possibilitando a Jorginho, seu sucessor, a oportunidade de se firmar com a camisa 2.

43) Em 11 de dezembro de 1985, em partida válida pelo triangular decisivo do Campeonato Carioca, Leandro marcou um dos gols mais bonitos da história do Maracanã, no empate de 1 a 1 entre Flamengo e Fluminense. Um golaço de fora da área, de pé direito.

44) No dia 08 de junho de 1985, Leandro marcou seu segundo e último gol pela Seleção Brasileira. Foi no amistoso Brasil 3 X 1 Chile no Estádio Gigante do amistoso Brasil 3 X 1 Chile no Estádio Gigante do Beira-Rio, em Porto Alegre.

45) Ganhou sua segunda Bola de Prata da Revista Placar em 1985.

46) Em 1986, formou com Mozer, uma das melhores duplas de zaga da história do Flamengo. É até hoje a dupla de zaga menos vazada da história do Campeonato Carioca. O Flamengo conquistou o título deste ano.

47) Em 07 de maio de 1986, Leandro disputou seu ultimo jogo pela Seleção Brasileira. Foi no amistoso Brasil 1 X 1 Chile no Estádio Pinheirão em Curitiba. A partida fazia parte da preparação da Seleção para a Copa do Mundo de 1986.

48) Em 1986, após participar de quase todo o processo de preparação e eliminatórias para a Copa do Mundo, Leandro se recusa a embarcar para o México, abandonando a Seleção Brasileira, alegando, que com o corte do amigo, o ponta Renato Gaúcho, o esquema de 1982 seria repetido, e seria prejudicado novamente sem nenhum apoio pelo lado direito e, que seus joelhos não agüentariam o vai e vem pela lateral. Lembrando que Leandro já jogava na quarta zaga já há quase dois anos. Leandro também atribuiu sua decisão a um gesto solidário ao mesmo Renato Gaúcho, já que o atacante foi cortado após os dois terem chegado tarde à concentração. Segundo Leandro, não seria justo apenas Renato ser cortado.


49) Em 1987, formou com Edinho, outra zaga de muito respeito e sucesso. Conquistaram a Copa União, o Tetra Brasileiro para o Flamengo.

50) Em 24 de fevereiro de 1988, Leandro marcou seu último gol como jogador profissional. Foi no jogo Flamengo 3 X 1 Volta Redonda, no Estádio da Gávea e Leandro marcou o segundo gol do Flamengo, num chute forte de pé direito de fora da área.

51) Em 1988 e 1989, com sua experiência e talento, foi fundamental na formação do zagueiro Aldair, Campeão da Copa do Mundo de 1994 pela Seleção Brasileira e considerado por muitos, como um dos maiores zagueiros da história da Seleção.

52) Em 06 de fevereiro de 1990, disputou o jogo Flamengo 2 X 2 World Cup Master, no Maracanã, jogo que marcou a despedida de Zico no futebol.

53) Em 07 de julho de 1990, disputou seu último jogo oficial, a derrota do Flamengo de 2 a 1 para o Bangu, no Estádio Proletário em jogo válido pela Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Carioca.


54) Em 10 de setembro de 1990, disputou seu ultimo jogo como profissional, na partida Flamengo 4 X 2 Seleção Carioca, que representou a despedida do atacante Nunes no futebol, no Estádio Caio Martins em Niterói.

55) Leandro conquistou pelo Flamengo as Taças Guanabara de 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1984, 1988 e 1989; as Taças Rio de 1978, 1983, 1985 e 1986; os Campeonatos Carioca de 1978, 1979, 1979 (Especial), 1981 e 1986; os Campeonatos Brasileiros de 1980, 1982, 1983 e 1987 (Copa União); a Taça Libertadores da América e do Mundial de Clubes, ambos em 1981, além de Torneios menores onde se destacam a Copa Punta Del Este, Torneio Internacional de Nápoles, ambos em 1981, Troféu Naranja em 1987 e Copa Kirin e Troféu Colombino em 1988.

56) Disputou pelo profissional do Flamengo, entre 1979 e 1990, 415 jogos e marcou 14 gols.


57) Zico sempre dizia: “O Leandro marca poucos gols, mas sempre quando marca, é um gol importante”.

58) Leandro é considerado por muitos jogadores, treinadores e críticos esportivos como o maior lateral- direito que o Brasil já produziu.

59) Disputou pela Seleção Brasileira, entre 1981 e 1986, 29 jogos e marcou 2 gols. Integrou a equipe que disputou a Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

60) Américo Faria: “Em minha longa carreira no futebol, foi, sem dúvida alguma, o jogador de maior talento com quem trabalhei”.

Eurico Miranda

A ÚLTIMA BAFORADA

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Rubens Lemos | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Aos 10 anos incompletos, sofri bullying dos amigos flamenguistas. Era 1980, o Flamengo anunciava a contratação de Roberto Dinamite, meu ídolo no Vasco, para formar dupla com Zico.

Chorei lágrimas de desespero, imaginando os dois invadindo a área e partindo céleres ao gol. Um tal cartola Eurico Miranda soube da negociação, meteu a sua vascainagem na trama e Roberto voltou ao Vasco (estava no Barcelona da Espanha).


Vibrei por Roberto, passei a cultuar Eurico como símbolo de um clube que se libertava. Roberto fez os cinco gols na rentrée contra o Corinthians (5×2).

No final da década de 1970, início dos anos seguintes, o Flamengo ostentava o melhor time do Brasil e uma simpatia exagerada da arbitragem. Sempre surgia um pênalti aqui, uma anulação de outro do adversário, a expulsão de meio time rival (Atlético Mineiro foi vítima em 1980 no Brasileiro e 1981 na Libertadores) para incrementar as vitórias rubro-negras incontestáveis pelo toque de bola hipnótico de suas estrelas.

Eurico, inimigo do Presidente Antônio Soares Calçada, queria seu lugar, perdeu eleições e os dois uniram-se, com Eurico assumindo o futebol. O Vasco a contar com um guarda-costas sem pinta de Kevin Costner e os jogos passando a ser decididos apenas na bola. Eurico rugia, se transfigurava, partia com seu figurino de Capo sobre quem ousasse trapacear o Vasco.

Eurico gostava de comprar, Calçada, de vender. Eurico trouxe do Espírito Santo (ES), Geovani, ainda juvenil, para despontar como o grande meia da Colina em todos os tempos. Repatriou Geovani da Itália, tirou Bebeto e Romário do Flamengo.


Bancou Edmundo, mandou buscar Juninho Paulista, Ramonzinho, Denner, Luizão, Donizete, Evair, Mauro Galvão, Ricardo Rocha, Jorge Mendonça, Arthurzinho, Mário Português, Mauricinho, Cláudio Adão, Luis Carlos Winck, Paulo Roberto, Elói, Tita, Marcelinho Carioca, Pet, feras que nos garantiram a virtude do toque de bola e do amor-próprio.

Até 2000, o Vasco deve o incalculável a Eurico. Campeonatos Cariocas: 1982/87/88/92/93/94/98/03/15/16 (os dois últimos sem brilho nem craques), três Brasileiros: 1989/97/00, a Libertadores de 1998, o Rio-São Paulo de 1999, para deixar na conta os indiscutíveis.

Eurico Miranda, de guardião, transmutou-se com seu assombroso charuto em sinônimo de antipatia ao Vasco. De truculência, de desaforo substituindo argumento, de Valdiram, Valdir Papel, Jonilson, Gomes, Fábio Braz, Tadic, Ciro, Allan Delon e outra frota de caminhões de perebas laboratoriais. Vexatórias campanhas, eliminações ridículas, status de Olaria com Cruz de Malta na camisa.

Estava Eurico dedicado à politicagem mais tacanha, vencendo eleições sob suspeita de fraude, impondo nepotismo, tratando mal quem encontrava pela frente e reduzindo o Vasco à Série B. Desmanchou glórias em pó de fracasso.

A morte nem santifica nem crucifica o morto. A Eurico, o que é de Eurico. Vida que segue.