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QUANDO O PERIGO VEM DO ALTO

por Eliezer Cunha


O Brasil é uma terra abençoada “por Deus e pela mãe natureza”, mas, porém, “nem tudo que reluz é ouro”, e também nem tudo que vem do alto nos beneficia. 

Historicamente no futebol aprendemos a lidar com a pelota rolando pelo gramado e a valorizar e precisar o passe certeiro com destino ao gol, objetivo principal de um confronto esportivo. Nossas características futebolísticas nos empurraram sempre a essa regra ou tendência. Futebol é bola no chão e, através desde pensamento e característica, conquistamos o mundo durante alguns anos. 

Mas o mundo muda através das pessoas e do tempo e, as pessoas mudam formas e características. O futebol não foge a essa regra, as seleções e os times europeus são evidências contextual disso, estão dinamicamente voltadas a mudanças e aperfeiçoamentos táticos e, por isso nossa oportunidade de ganhar mais uma Copa do Mundo está se diluindo a cada ano que se passa. 

Estamos passando por vexames nunca antes visto como a goleada em casa frente à Alemanha e o empate contra o Panamá no último jogo. Fatores? … são tantos. Mas um me chama muito a atenção: gols tomados pelo alto, ou seja, gols desferidos por cabeça através de faltas, cruzamentos ou escanteios. 

Não me perguntem de quem é a culpa. Solicitem as especialistas e, acho pouco provável que encontrem algo plausível ou contundente para explicar o porquê que a seleção brasileira leva tantos gols de cabeça adversária. Recordando as histórias das Copas temos; sem ir muito longe, Paolo Rossi em 82, dois de Zidane em 98, Holanda em 2010, Alemanha 2014, Bélgica em 2018,…  E por aí vai. Gols são feitos no Brasil inclusive por pés na pequena área após escanteio, coisa rara de se ver.


Posicionamento dos zagueiros? Falta de impulsionamento dos zagueiros? Zagueiros de baixa estatura? Falta de treinamento tático? Treinadores omissos? Goleiros despreparados? Sinceramente não sei.

O desafio está lançado, por que tantos gols de cabeça tomamos que interrompem o caminho de nossas conquistas? No último amistoso com o Panamá foi mais um episódio disso na qual me conduziu a escrever este texto.

Cada falta próximo da área ou qualquer escanteio é eminente perigo de gol para a Seleção Brasileira.

Precisamos atentar para este fato e reduzir esta estatística ao mínimo possível. Treinadores, por favor, ajam!

BOTAFOGO 1957

por Marcelo Mendez


Era um outro Brasil.

O ano era 1957, a capital federal ainda era no Rio de Janeiro e por lá as coisas de um novo Brasil começavam a ser arquitetadas. Literalmente arquitetadas, no caso de Oscar Niemeyer e sua arquitetura de curvas e soluções no urbanismo e na forma de pensar as cidades, com Lúcio Costa, nos Morros Cariocas de onde a música descia para o asfalto para criar umas novas bossas…

Tudo vinha sendo preparado para um estouro que faria o mundo descobrir o Brasil. No futebol não seria diferente.

O futebol brasileiro encenava uma renovação que um ano depois daria ótimos frutos em terras escandinavas. Até então, os campos do Brasil apresentavam um pouco de como isso seria feito. No Rio de Janeiro mesmo, um Cartola supersticioso, mais um Jornalista que virou técnico, fariam história com um timaço de futebol que apresentaremos agora em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.

Com vocês, o Botafogo Campeão Carioca de 1957.

O ANO DA VIRADA

A coisa não tava boa para o Fogão naquela primeira metade dos anos 50.


Em 1955, o time fez um campeonato vexatório, ficando atrás inclusive do São Cristovão, tomando taca de tudo que era time. Faltava uma mudança, tinha que acontecer algo. Foi então que o Presidente Paulo Azeredo levantou uns tostões e conseguiu a duras penas trazer Didi, Quarentinha, renovar com Nilton Santos, encontrar Garrincha e daí sim ter uma base. Afinal, tinha Garrincha, que surgia fortemente naquele ano.

A alegria sorria para o Botafogo nas tardes quentes do Rio de Janeiro naquela época.

Não perdeu para ninguém!

Na campanha do Carioca daquele ano, com o time engrenado, o Botafogo amassou todo mundo e chegou com força na decisão contra o Fluminense. Foi o dia que o Brasil descobriu um matador:

Paulinho Valentim…

PAULINHO CINCO VEZES

Foi um dos maiores bailes de bola da história dos Campeonatos Cariocas.


Com um partidaça de Garrincha e Didi, o Fogão desde o começo deixou bem claro que não sairia sem o titulo do Maracanã. Mas nessa decisão, o brilho ficou por conta de um outro cara, uma figura lendária da história do futebol Brasileiro. Um camisa 9 típico:

Paulinho Valentim.

Valentim foi, sem dúvida, o atacante mais valente da história do futebol brasileiro. Nunca se viu um camisa 9 mais brigador que ele em todos os sentidos. Pela Seleção Brasileira, para se ter uma idéia, numa decisão de Campeonato Sul-Americano, ao lado de Almir, Pelé e das tesouras voadoras de Didi, bateu em toda seleção Uruguaia, comendo a pátria oriental toda no cacete. Quando chegava para jogar contra os botinudos no interior do Rio, já mandava o verbo:

– Meu irmão diga lá como vai ser; Vai jogar bola, ou vai querer brigar? Tem pra você o que você quiser!

Mas nessa decisão, seus outros dotes apareceram. Na decisão que terminou 6×2 para o Botafogo, Valentim meteu 5 gols! O último foi o de Garrincha. Uma goleada!

Para história, fica marcado esse time que começou a era em que o Botafogo foi um Esquadrão. Dali, vários jogadores seriam campeões mundiais na Suécia no ano seguinte. O Fogão formou outros tantos Esquadrões que aqui estarão. Mas começamos aqui:

Com o Botafogo, Campeão Carioca de 1957

 

Mauro Shampoo

O MELHOR DO PIOR

entrevista e texto: Evandro Sousa | fotos e vídeo: André Duque

Criado nas ruas de Boa Viagem, bairro nobre do Recife, engraxate, de rua, tinha o sonho de todo menino de família pobre: ser um jogador de futebol. Se alegrava quando era convidado por empresários para jogar nos times amadores, onde ganhava um trocado e comida.

Quando na sua caminhada surgem duas oportunidades, uma de tornar-se jogador de futebol profissional pelo Íbis e a outra de tornar-se cabeleireiro. Não teve dúvida, agarrou as duas, uma para sustento, cabeleireiro, outra por paixão do futebol, Íbis.

Camisa 10 do pior time do mundo da década de 80/90, Mauro Shampoo, como foi batizado no futebol, fez apenas um gol em dez anos de Íbis, mesmo assim um gol sem memória, pois não tinha público, não ouve transmissão de TV, nem rádio. R:esultado o Ìbis perdeu de 8 a 1, afinal de contas era o Íbis.

– O único título que conquistei foi o título de eleitor!

Com a marca de pior time do mundo e o preconceito de ser cabeleireiro naquela época, Mauro Shampoo tornou-se o maior ídolo da história do Íbis, o Pássaro Preto como é conhecido.

– Eu sou uma estrela, uma estrela apagada, mas sou uma estrela, eu sou 10!

Hoje, com 62 anos, com três filhos, Shampoo, Creme Rinse e Secador, casado com Márcia Pente Fino, ex-goleira de futebol, companheira desde os tempos inglórios, quando lavava o uniforme do íbis em casa. Também cabeleireira, por influência de Mauro Shampoo, tem salão na mesma galeria, que Mauro chama de CT, e o dele se chama Arena Shampoo.

– Eu tenho duas mulheres , a Márcia Pente Fino e a segunda que é a Bola!

Em uma história de superação, podemos dizer que Mauro Shampoo saiu do pior para o melhor, onde a bola e a tesoura até hoje fazem parte da sua vida vitoriosa.

É possível dizer também que a paixão (a bola) e a razão (cabeleireiro) foram os trilhos da vida de Mauro Shampoo que nunca se separaram e que até hoje conduz sua vida.

– Jogador, cabeleireiro, artista de cinema, celebridade, famoso, liso, camisa dez do pior, cabeleireiro macho!

Assim é Mauro Shampoo, camisa dez do pior time do mundo.

 

 

A BOLA TROCADA PELA BÍBLIA

por Marcos Vinicius Cabral


O automóvel é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores invenções do século XIX.

Isso se dá em 1769, com a criação do motor a vapor em que automóveis são capazes de transportar humanos.

Mas depois de 117 anos, especificamente em 1886, é considerado o ano de nascimento do automóvel moderno – com o Benz Patent-Motorwagen, inventado pelo alemão Karl Benz.

Mas o que seria dos automóveis sem um motor?

E o que seria de cada equipe de futebol, seja ela amadora ou profissional, sem um “motorzinho”?

Aquele jogador que acelera na hora de atacar ou pisa no freio para se defender.

Eis que surge em 26 de setembro de 1988, na Casa de Saúde Vila Paraíso, em São Gonçalo, Thiago Leite Silva, esse jogador.

Filho caçula de seu Luís Carlos Vitalino Silva – um clássico camisa 8 que dava gosto ver jogar – e de dona Rosemeri Leite, o garoto desde cedo conviveu com o futebol.

– Minha paixão pelo futebol se dá por causa do meu pai que me levava para assistí-lo no Águia Negra, no Campeonato Comunitário do Gradim – recorda.


Apesar dos seis anos de idade, Leitinho – assim os mais chegados o chamavam – mostrava desenvoltura com a bola e uma habilidade muito parecida com a de seu Luís em seus tempos áureos nos campos gonçalenses.

Em seu DNA (composto orgânico cujas moléculas contêm as genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos), continha vitalidade, habilidade e um desejo de ser alguém no futebol, distribuídos em 1,68m de altura.

Em 1999, aos onze anos de idade, levado por seu pai, ingressou no pré-mirim do CFZ (Centro de Futebol Zico) e conviveu com Adílio, Jayme, Andrade e Zico, extraindo o melhor de cada um nessa experiência enriquecedora.

– Foi uma pena não poder continuar por causa da situação financeira do meu pai – diz dos dois anos em que foi treinado pelos professores Gaúcho e Lima.

Se dentro de campo era um jogador encapetado, fora dele era um garoto que costumava ir à igreja com dona Isidora, sua avó paterna.

Nessa mesma época, dava seus primeiros passos na fé e aceitava Jesus como seu Único e Verdadeiro Salvador.

– Eu buscava ajuda no Senhor para restaurar o casamento dos meus pais e mesmo com 13 anos subia aos montes para orar pela vida conjugal deles – revela sem nenhum arrependimento.

Um ano depois, em 2002, chegava ao Combinado Cinco de Julho, no Barreto em Niterói, para treinar na escolinha comandada por Jeremias (ex-atacante do América/RJ, Fluminense, Vitória de Guimarães/POR e Espanyol/POR), que se encantou com o moleque.

– Apesar de baixinho era muito bom jogador. Muito pegador no meio, marcava e criava com a mesma eficiência – diz o eterno ídolo do Mecão, aos 70 anos.

Jogador de extrema polivalência, era utilizado sempre na categoria infantil – de 14 a 15 anos – por causa da idade e às vezes na infanto-juvenil – de 15 a 16 anos – por causa da bola que jogava.


Certa vez, enfrentou o América/RJ, no Clube de Campo do Luso-Brasileiro em Campo Grande e só faltou fazer chover.

– Estava voando. O professor Jeremias me colocou nos dois jogos e arrebentei nesse dia. Perdemos por 2 a 1 no infanto e metemos 3 a 1 no infanto-juvenil – relembra.

Convidado para treinar no tradicional clube de Campos Sales, ficou quase um ano.

A distância e a falta de recursos, acabariam desligando o “motorzinho” da camisa 8 de seu sonho.

Em 1994, tentava a sorte no Club de Regatas Vasco da Gama e no campo anexo de terra batida que fica atrás das arquibancadas, treinou tão bem que seria inimaginável não se tornar atleta do clube cruzmaltino.

– Vendo os treinos, os outros pais me diziam que era certo o baixinho ficar – diz seu Luís sobre o filho.

Passar na exigente peneira não seria problema para o jogador que era, porém, nos quatro meses que treinou em São Januário, ele e seu Luís conviveriam com o submundo dos empresários (o famoso apadrinhamento), fora das quatro linhas.

– Foi decepcionante para mim saber disso. Não ser aproveitado por não ter um empresário – lamenta.

Acabaria dispensado.


No entanto, aos dezesseis anos, e mesmo machucado por dentro, ia se acostumando com as feridas causadas pela bola.

E a história se repetiria bem longe de São Gonçalo, desta vez em Xerém, quando treinou no Fluminense Football Club.

Com uma carta de apresentação nas mãos calejadas de seu pai, se apresentou no tricolor.

A carta em si não que garantira aprovação mas estendeu dos três treinos habituais para oito.

Mais uma vez treinaria bem mas faltou o famoso (padrinho) empresário.

Numa última tentativa, com dezessete anos, disputou a Copa Light pelo União Central Futebol Clube, da terceira divisão do Rio de Janeiro.

Depois de muito esforço, conseguiu a federação pelo modesto clube da Penha, Zona Norte da cidade, mas resolveu deixar o sonho de lado em nome da fé.

– Achei melhor ir jogar no Ases de Ouro do Gradim, trabalhar como mecânico e me dedicar à obra de Deus – confidencia.


Atualmente é casado com Vanessa desde 2013, pai da pequena Débora e trabalha com seu Luís na oficina Pai e Filho, no Porto Velho em São Gonçalo.

– Thiago é muito especial na minha vida. Quando mais precisei ele me ajudou com uma palavra edificante – revela o amigo Davison Marques de 21 anos.

E completa:

– Além do coração enorme que tem é um cara que não gosta de perder, seja nos jogos de futebol ou nas adversidades da vida cristã.

Hoje, prestes a completar 31 anos, jogar aos domingos no Grêmio Recreativo e Esportivo Barabá no Porto Velho e ir aos cultos da Igreja Evangélica Semeando no Gradim, são os curativos para sua alma.

ADÍLIO

por Serginho 5Bocas


Adílio foi um dos meus ídolos da infância. Jogava de meia-direita e muitas vezes de falso ponta caindo pela extrema esquerda.

Jogava muita bola, apesar do chute não ser tão bom. Não batia com precisão em direção ao gol, mas seu passe era sensacional e seus dribles uma arma desconcertante e imprescindível para aquele time do Flamengo. Zico que o diga, quantas assistências do neguinho da cruzada, o galinho converteu em gol.

Adílio parecia flutuar em campo tal era a leveza de suas passadas elegantes, tinha futebol de craque e se impunha pela habilidade. A bola quando conduzida por Adílio parecia não ter peso, nunca vi ninguém tirá-la de seus pés, como protegia a redonda, aliás, uma das principais armas do Flamengo quando a vitória estava apertada era mandar a bola para ele gastar o tempo, sem contar os gols e passes em jogos altamente decisivos. Além de tudo, fazia gols em jogos importas como na final do Brasileiro de 1983 e na final do mundial interclubes em Tóquio. No total, ele fez 129 gols em sua carreira, quase todos pelo Flamengo,


Tanto talento e intimidade com a bola não foram suficientes para se firmar na seleção e jogar uma Copa do Mundo. Adílio jogou com a amarelinha apenas duas partidas: uma pela seleção de novos em 1979 e outra pela seleção principal quando vivia sua melhor fase. Ironia do destino foi justamente quando estávamos próximos da Copa de 1982 que aconteceu o jogo de sua vida. A dois meses da Copa, teve sua grande e última (única) chance: enfrentaria a Alemanha Ocidental no Maracanã.

Naquele dia ele fez uma partida memorável, comandando as ações do meio de campo e dando um passe primoroso e suave para Junior marcar o único gol daquele jogaço contra os campeões europeus de 1980 e vice mundial da Copa que estava por vir. Se alguém tivesse visto aquela partida e depois soubesse que ele não foi convocado para a Copa da Espanha, teria dificuldades para entender o porquê dele não estar na relação final dos convocados. Fico me perguntando até hoje, por que o Telê fez aquilo com o Adílio e com a Copa, será que nem entre os reservas ele poderia ser chamado?


Adílio, ainda jovem, jogava como um veterano, mandava na cancha, gastava a bola. Apesar da alegria de menino no olhar e no bailar, era futebol de gente grande mesmo, coisa de craque, futebol de encher os olhos.

Adílio nunca foi a uma Copa do Mundo, uma pena!

Pena para Adílio, para a Copa, para nós que amamos a bola e para o futebol.

Na época não entendi nada e hoje muito menos.

Alguém poderia me explicar?