25 ANOS DO TETRA
por Mateus Ribeiro
Há 25 anos, mais precisamente no dia 17 de julho de 1994, o Brasil se tornava tetracampeão mundial de futebol após o craque de bola Roberto Baggio mandar sua cobrança de pênalti na Lua, em uma clara comemoração aos 25 anos da missão Apollo 11 (que obviamente, 25 anos depois, completa meio século de vida).
As lembranças podem ser muitas, mas são basicamente iguais na cabeça de todo mundo: os gritos histéricos de “É tetra!” sendo repetidos exaustivamente, a gravata do Pelé, o Dunga falando todos os palavrões possíveis, a molecada na rua enchendo a cara de refrigerante enquanto os pais e parentes mais velhos tomavam litros de cerveja e muita festa pelas ruas.
Eu estava feliz pra caramba, comemorando junto da minha família, e na minha cabeça, o Brasil era invencível. Antes do início da Copa, meu pai me deu o álbum de figurinhas, me ensinou a fazer cola de trigo (a cola era cara, e mesmo que a nossa situação não fosse de pobreza extrema, luxos não eram exatamente permitidos ou incentivados) e me disse que o Brasil venceria. Venceu mesmo, e tal qual meu velho, não me decepcionou.
Eu estava emocionado, principalmente por ver o Viola ali no meio, e naquela época, ele era um dos meus principais ídolos. Hoje, é bem possível que se eu encontrasse metade do elenco de 1994, não faria a mínima questão de apertar a mão, por divergências de opiniões. Mas naquele domingo, aquela turma me fez a pessoa mais feliz do mundo.
Vinte e cinco anos depois, eu não torço mais (na verdade, desde idos de 2001 eu nem perco meu tempo), porém, esse dia não sai da minha cabeça. A maior Copa do Mundo da história tinha dono, e eu me senti um pouco campeão do mundo naquele 17 de julho de 1994.
Um quarto de século após um dos dias mais felizes da minha vida, reconheço que o futebol apresentado passou longe do espetáculo, e agradeço por isso, pois hoje sou um resultadista, com todo o orgulho do mundo.
Duas décadas e meia depois, sei o quanto identificação é importante e que traumas deixam marcas. Eu juro por tudo que é mais sagrado e que (não) acredito que entendo os adultos que já não ligavam mais em 1994, muitos deles atormentados por Paolo Rossi, penalidades máximas, Maradona e Caniggia.
E no final das contas, sabe o que tudo isso significa? Que depois do final do meu expediente (que começou muito cedo e vai acabar muito tarde), eu vou vibrar com a falta do Branco contra a Holanda, com o Bebeto se declarando para o Romário. Também vou sofrer com o empate dos holandeses e com a porrada que Leonardo deu em Tab Ramos. Vou relembrar como chorei na hora que o juiz apitou o final da prorrogação, temendo o pior.
Afinal de contas, não é todo dia que se comemora uma data tão especial. E não é todo dia que se volta a colaborar com esse projeto maravilhoso chamado Museu da Pelada.
Obrigado, Brasil. Obrigado, Museu!
O FUTEBOL DESANDOU
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Amigos, se vocês me acham ranzinza, reclamão, rabugento, ácido, nostálgico e saudosista vou logo avisando para não lerem essa coluna porque não estou nada bem. Acabei de sair de Fluminense x Ceará. Vocês queriam que eu estivesse como? Não existe esquema mágico se o nível dos jogadores for abaixo da média. E está abaixo da média, mas muito abaixo da média! Sério, vocês assistiram Palmeiras x Inter, Botafogo x Cruzeiro, Corinthians x CSA e Chapecoense x Atlético-MG? Dá para ficar de bom humor após esse show de horrores e de mediocridade?
Só o Flamengo jogou ofensivamente, mas precisamos vê-lo contra um adversário melhor do que o Goiás. Tomara que a filosofia de buscar o gol incessantemente seja mantida por Jesus, afinal só ele salva, Kkkk!!!! Se bem que o Nordeste também vem salvando porque até agora, para mim, os times mais leves do campeonato são Bahia e Fortaleza.
E para piorar o que já está ruim vem esse VAR. Pelo amor de Deus, alguém nos explique os critérios usados! A decisão final não era para ser do árbitro? Claro que isso não está acontecendo. O jogo do Fluminense x Ceará teve 10 minutos de acréscimo!!!! A torcida comemora e “descomemora”, abraça e desabraça. O futebol desandou.
Para piorar minha irritação vejo a CBF levando os campeões de 94 para comemorar o título com uma pelada na Granja Comary. Claro que com tudo pago, passagem, hospedagem etc etc etc. Tem que pagar mesmo! Mas por que convidaram os campeões de 70 para a final da Copa América sem dar nada, apenas a entrada do jogo? Porque o presidente da CBF, Rogério Caboclo, deve imaginar que essa turma dê mais audiência.
O astro da festa foi Carlos Alberto Parreira, para mim o maior responsável pelo engessamento do futebol brasileiro. Foi campeão, e daí? Se valeu de dois definidores extraordinários. E hoje virou o que virou, faz um gol e se protege. Mas a imprensa comprou essa historinha e ninguém contesta. Na entrevista, ele entregou de bandeja para Tite a receita para voltarmos a ser campeões mundiais: jogar com a faca nos dentes.
A seleção virou BOPE? Só falta os soldados, quer dizer os jogadores entrarem em campo fardados e darem continência aos professores! Parreira, nossa seleção já foi uma tropa de elite, sim, mas não essa que vocês continuam incentivando e valorizando. O Tite não precisa de seus conselhos porque já segue a sua cartilha, assim como o Fábio Carille, do Corinthians, segue a dele e assim por diante.
As seleções de 58, 62 e 70 nunca jogaram com a faca nos dentes, mas posso garantir que intimidavam os adversários. E intimidavam com arte. Nossas armas, a caneta, o lençol, a bicicleta e a folha seca eram aparentemente inofensivas, mas a história provou o seu efeito devastador.
MARACANAZO 69
por Israel Cayo Campos
Há sessenta e nove anos ocorria a maior tragédia da história do futebol brasileiro.
Jogo final do quadrangular que decidia o título de campeão do mundo de 1950.
Copa do Mundo realizada no Brasil.
A Seleção Nrasileira vinha de “malditas” goleadas sobre Espanha e Suécia e só precisava de um empate contra o Uruguai.
Mais de duzentas mil pessoas no estádio do Maracanã torcendo por nossos jogadores. Recorde em finais de Copas até hoje!
Uma preleção cansativa e cheia de políticos querendo fazer fama em cima dos jogadores que enfim trariam a Taça Jules Rimet para o solo brasileiro.
Um primeiro tempo tenso. Mas que acabara sem gols, o que era suficiente para os brasileiros.
Logo aos três do segundo tempo, Friaça abre o placar e leva à loucura a torcida brasileira. O título era nosso!
Ouvem-se berros! Era Obdúlio Varela empurrando sua seleção mesmo com o placar adverso.
Uns tapinhas que viraram “bofetões” no imaginário popular no lateral Bigode.
O Brasil já se vê pela primeira vez campeão mundial.
É aí que aos vinte e um Varela rouba a bola e toca para Ghiggia. O Seu Alcides passa por Bigode e em alta velocidade chuta cruzado, Schiaffino aparece no meio da área para empatar.
O titulo continuava a ser nosso! Mas em um lotado Maracanã podia-se ouvir os gritos de Obdúlio.
Aos trinta e quatro Ghiggia tabela com Pérez e escapa de novo pela marcação na direita do ataque e avança para área.
Barbosa pressente a jogada que ocasionou o primeiro gol uruguaio e dá um passinho.
Ghiggia chuta. E se por sorte ou esperteza ela entra exatamente no espaço do canto esquerdo do gol de Barbosa. A Celeste virava o jogo.
Há uma lenda de que o torcedor brasileiro se calou após a virada uruguaia. Não fora bem assim!
A torcida empurrou o time que quase empatou em um chute que explodiu no travessão de Maspoli.
Mas aquele não era nosso dia. Pontualmente aos quarenta e cinco, o árbitro inglês George Reader apitava o final do jogo.
Jules Rimet que havia descido um pouco antes das tribunas do Maracanã para entregar a taça aos brasileiros ao descer ao gramado se assustara com os uruguaios comemorando.
Mais de duzentas mil pessoas em um silêncio funebre que se espalhou por todo o Brasil…
Alegres só os uruguaios! Bicampeões mundiais!
Os jogadores brasileiros cabiam os prantos e a vergonha.
Uma série de ataques injustos e complexos foram atribuídos a aquela geração.
O Goleiro Barbosa foi o que mais pagou!
Apesar de até 1950, aquela ter sido a melhor campanha do Brasil em Copas. Vencer era obrigação!
Mas a obrigação virou tragédia… Sessenta e nove anos depois, o “Maracanazo” ainda vive.
Mesmo depois de cinco Copas conquistadas!
Curioso ou não, nosso carrasco Alcides Ghiggia faleceu exatamente num dia dezesseis de Julho. Para que os brasileiros nunca esqueçam o seu nome.
Outros dezesseis de julho contra os uruguaios vieram e foram mais felizes.
Como a conquista da Copa América de 1989 nessa mesma data com um gol de Romário sobre a Celeste Olimpica.
Um título que não vinha a quarenta anos!
Mas não tem jeito. Dezesseis de julho é dia de “Maracanazo”. É dia da lembrança mais dolorida da história do futebol brasileiro.
A TRISTE REALIDADE. GÊNESE DO FUTEBOL
por Jonas Santana
(Foto: Alex Ribeiro)
Na teoria a prática é outra. Um estudo realizado pela CBF em 2016 demonstra que apenas um por cento dos jogadores consegue alcançar o ponto mais alto da carreira. Dessa maneira, o sonho de ajudar a família por meio do futebol (vide artigo anterior –Jogar Futebol. Ganhar dinheiro. Sonho de muitos. Conquista de poucos), acaba por se tornar um pesadelo vez que a possibilidade do sucesso é ínfima. Muitos jovens vão embalados no sonho, se dedicam, fazem base, passam por peneiras mas acabam em clubes sem expressão e muitas vezes passando necessidade.
Futebol é um esporte onde o tempo e a sorte caminham juntos: tempo para não ficar passado (com 30 o cara já é velho pra bola) e sorte de ser descoberto e ir para um time de porte. Nesse contexto, a busca por um lugar ao sol é capaz de fazer o jogador cometer coisas como pagar passagem e transferência para jogar em clubes de cidades que muitas vezes nem estão no mapa do esporte, tão somente para produzir “material” onde ele é o “produto”. Aliado a isso vem a incerteza de receber um salário, o que torna essa profissão bem atípica.
Outros jogadores se arriscam em terras estranhas desfilando seu talento para análise de algum clube que a revel da sorte pode lhe proporcionar algo melhor. Poucos conseguem, outros voltam e continuam anônimos, vagando por clubes sem expressão e muitas vezes passando necessidades, tantos outros acabam desistindo, com o prejuízo dos gastos sendo pago em parcelas. Isso quando vão e voltam sem serem enganados por falsos agentes ou empresas que na verdade são “vendedores de sonhos”.
E no meio de tudo isso assistimos a falência do nosso velho e amado “esporte do povo”. Jogadores que nunca passaram por um clube aqui ou foram às vezes reprovados em “peneiras ou testes”, seja pela idade ou pela falta de visão dos treinadores ou dirigentes acabam, no mais das vezes, despontando em outras terras, muitos se naturalizando e outros esquecendo até o caminho de volta. Fora aqueles que ficam por lá e acabam enveredando por outras carreiras.
Quanto aos que ficam, esses vão continuar insistindo, pulando de clube em clube para jogar mais um campeonato que geralmente dura três a quatro meses e o restante do ano, quando não se fixam vão trabalhar em “outa coisa”. Ainda tem o a incerteza, nos clubes pequenos, de receber salário. E assim passa o tempo, a sorte não veio, a idade vem e quando dá por si já é tarde.
O que deveria ser fomentado desde a base, ou seja, a consciência de que nem todos vão chegar ao topo, é trocado por promessas de ganhos estratosféricos em clubes, principalmente na Europa. Mas a realidade é dura e diferente do sonho que persegue o jogador de futebol. E essa é a triste realidade do nosso futebol.
A INCRÍVEL HISTÓRIA DE ZÉ ROSCA
por Jonas Santana Filho
Ninguém no bairro sabia seu nome. Todo o mundo só conhecia por Zé Rosca. Diferentemente do nome, o apelido descrevia exatamente uma característica do então recém-chegado naquele lugar.
Nas peladas ou onde houvesse uma bola e dois ou três correndo lá estava ele. Zé Rosca não perdia uma oportunidade de esbanjar seu talento no chute de três dedos com a parte externa do pé, conhecido como “trivela, três dedos ou de rosca”. Daí a origem de seu apelido. Não exista bola que resistisse ao pé de Zé Rosca. Ele poderia não ter o dom do drible, mas metia uma “rosca” na bola como ninguém.
Embora os amigos do futebol vivessem pedindo para ele jogar “normal”, eram olimpicamente ignorados quando o assunto se referia a “redonda”. Não tinha jeito. E Zé Rosca cresceu ali no bairro e foi conquistando a galera até conseguir uma vaga no meio-campo do time da Rua B.
Nas peladas de fim de semana, quando se enfrentavam os times da Rua A contra a rua B (onde Zé Rosca morava) ele mostrava sua arte. Bola no pé de Zé Rosca era certeza, tanto para a galera quanto para os companheiros de time, que ali viria um “três dedos”, muitas vezes salvador, fulminante, muitas vezes matador. Sim, quando acertava era uma maravilha aqueles lançamentos longos que Vevé (Everaldo era seu nome) dominava e partia para cima do marcador, que geralmente era Zé Luís (mais conhecido como Todo Duro), um zagueiro que batia mais que dona Zefa no bife de segunda. Quando Vevé, Lila, ou Pedro Preto pegavam na pelota, geralmente recolhendo um lançamento de “rosca” era quase impossível o adversário não levar o gol. Também quando errava a torcida não poupava o camisa 8 (sim, ele jogava com a oito) de elogios, capaz de enrubescer até os caras do stand up comedy de hoje.
A galera gostava e a rua B era a sensação do conjunto residencial, naquele campo de grama cuidada naturalmente pelo tempo, fincado bem na última rua da COHAB, onde a diversão do domingo de manhã depois da missa era assistir a jogos da Rua A Contra B ou contra C.E quando tinha torneio era sopa de letrinhas. Para a grande maioria dos proletários do lugar ali era diversão, possivelmente a única. E o campo lotava e Zé Rosca se empolgava. Quando acertava um drible então, com a elegância e altivez de Nilton Santos ele erguia a cabeça e a la Gerson soltava a trivela (não tinha jeito ele era o cara da “rosca”). E tome Vevé a correr e dominar o capotão. E tome Zé Rosca a exibir sua especialidade.
E foi numa dessas manhãs, em que o sol já está a pino que o fato inusitado aconteceu: jogo contra a rua Z, finaldo Torneio Seu Maneca, o patrocinador e nome da bodega do local. Enquanto Vevé, Todo-Duro (já estava jogando com a rua B, pois havia casado com a filha de seu Gumercindo, o polícia), Lila e todo o time suavam para garantir o empate, Zé Rosca estava inspirado. Bola prá lá, bola prá cá, a rua B na final e a bola cai na área. Lila domina e toma um tranco de Orlando Touro (o nome já diz) que nem de VAR o juiz precisou: Pênalti claro. Quem vai bater? Todo o estádio se levanta gritando o nome de Zé Rosca. E ele pega a bola e coloca na marca fatal, o juiz apita e o chute sai assoviando, até chegar nas mãos de Quiabo, o goleiro comprido e magrelo, mas muito efetivo até ali. Bola encaixada, decepção total.
Toda a torcida começa a vaiar o batedor, a vitória garantiria o troféu, uma caixa de cerveja e mil reais para otime campeão. Nessa altura todo o time já estava em cima de Zé Rosca, afinal o relógio marcava quarenta e cinco do segundo tempo e seria provavelmente o último lance. E Zé Rosca tranquilo enquanto os apupos e xingamentos atingia até sua oitava geração, principalmente de Todo –Duro, que a todo custo tentava dar uns empurrões no craque.
O empate daria o troféu para o time da rua Z que tinha em Progoló o seu melhor jogador e que tinha sido até “profissional do juvenil” do clube da cidade. E eles já comemoravam. Enquanto isso Zé Rosca demonstrava uma tranquilidade inexplicável diante de tão contundente complexo fato.
Ânimos acalmados, Quiabo vai repor a bola para recomeçar o jogo. (Vale dizer que o juiz nunca tivera tanto desejo de terminar assim que a bola rolasse). Assim o goleiro coloca a bola dentro da pequena área para alçar o petardo quando, de repente, a bola começa a assoviar de novo e entra. Incontinente o juiz dá gol da rua B e aponta o centro do campo. O dantes xingado é carregado nos braços, todos gritando “É campeão”, jogadores se abraçando, alguns chorando, outros ajoelhados, emoção à toda.
Zé Rosca caprichou no chute. E deu um chute de rosca, como sempre fazia. Mas fez com tanta perfeição que deu a “rosca” interna e quando o goleiro foi recolocar a bola em jogo esta deu seguimento a sua trajetória. E viva Zé Rosca.
Depois daquele título Zé Rosca ainda tentou, mas futebol não era sua prioridade. Soube por esses dias que ele estava num interior, onde tem uma padaria.
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.
Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50