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CORINTHIANS 1998/1999

por Marcelo Mendez


São vários os aspectos que formam um bom time de futebol.

Grana, sorte, uma geração privilegiada, uma boa gestão, planejamento ou absolutamente nada disso. O time de hoje, por exemplo, vem formado por uma das grandes magias do Futebol Brasileiro e assim se fez.

O Brasil queria um time como esse que falaremos aqui.

ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO chama todo mundo para falar do Corinthians de 1998/99

O COMEÇO

Na metade dos anos 90 as coisas mudaram para o Corinthians.

O time de Parque São Jorge que vinha tropeçando pra tudo que era canto, foi pra uma decisão de Campeonato Paulista em cima do Palmeiras. Se perdesse seria o terceiro vice pro arquirrival e de todo jeito tinha que mudar a coisa. Conseguiu…

Um gol de Helivelton em Ribeirão Preto fez a torcida do Palmeiras silenciar e a Fiel fazer a primeira festa de 1995. A segunda seria a Copa do Brasil em cima do Grêmio e tudo rumava para o futuro brilhante.

Veio em partes.

O mesmo Grêmio tirou o Timão da Libertadores em 1996, as campanhas de Paulista e Brasileiro também não foram boas e em 1997, Alberto Dualib dá o primeiro sacode na gestão administrativa do clube.

O BANCO DO TIMÃO


Eis que no dia do torcedor surge um tal Banco Excel despejando um tanto de grana em cima do Corinthians. No começo deu ruim, o time com Tulio Maravilha e Donizete Pantera venceu um Paulista e depois foi ladeira abaixo no Brasileirão. Foi mal. Mas serviu para algo muito bom.

Em 1998 o Banco liberou as contratações de Edílson, Rincón, Ricardinho, Gamarra e afins. Também trouxe Vanderlei Luxemburgo e pronto:

Daí pra frente a história seria outra…

A MÁQUINA

As contratações, somadas a Vampeta, Mirandinha, Silvinho e outros que lá estavam, criaram uma base sólida, forte, parruda. O Corinthians passou a ser visto de uma outra maneira e seus jogos, verdadeiros espetáculos. Força, aliada a muita tecnica, Marcelinho Carioca voando, goleada pra todo lado e o título inevitável.

Em três partidas contra o Cruzeiro, um título vencido com excelência.

Em 1999, mais títulos

Paulista, Bi Brasileiro, bailes de bola. O Corinthians que teve como base Dida, Indio, Gamarra, Batata, Kleber, Rincón, Vampeta, Ricardinho, Marcelinho, Luizão e Edilson fez história e merece estar aqui.

Corinthians 1998/99 um baita time em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.

SE PORÉM FOSSE PORTANTO

por Eliezer Cunha


Polêmicas à parte vamos aos fatos. Foi ou não pênalti nos últimos minutos na decisão do estadual em 1985 a favor do Bangu contra o Fluminense? Teria ou não Maurício empurrado o lateral Leonardo na decisão do Estadual entre Botafogo e Flamengo em 1989, encerrando um jejum de 21 anos do time Alvinegro? Na decisão do estadual de 1971 teria mesmo o lateral Marco Antônio deslocado o goleiro Ubirajara dentro da área?

Fatos recheados de controvérsias e questionamentos que alimentam como matéria prima até hoje os programas de tv, debates entre torcedores nos bares da vida e, ainda, conteúdos para discussões nesta e outras páginas ligadas ao esporte.

Vivemos em um momento de tecnologia avançada e disso poucos seres e atividades não podem se esquivar. Mas… A arte, o artista e público, digo no futebol, estão hoje reféns desta tecnologia designada como VAR. Nenhum espetáculo ao vivo é passível de edição, seja uma peça de teatro ou um show de música. É como que a história fosse sempre reredicionada para um óbvio. Assistimos passíveis decisões serem alteradas por conta de opiniões “extra campo”. Se a adoção do Árbitro de Vídeo fosse um consenso no esporte já tinha se estendido a outras modalidades. Como disse Caetano “Alguma coisa acontece em meu coração quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João”. E é essa emoção que nos foi sucumbida.


E ainda pergunto: A reputação do esporte, sua mágica, e as histórias dos clubes foram atingidas sem a prática do VAR?Não.

Imaginemos o Árbitro de vídeo decidindo um Campeonato Brasileiro aos 45 minutos do segundo tempo. Seria hilário, não é mesmo? Para torcedores, jogadores, imprensa e juízes.

Os árbitros de vídeo se tornaram deuses e simplesmente comandam as decisões. Raramente o árbitro da partida vai de encontro com uma solicitação do VAR. Os artistas deixaram de ser a peça principal do espetáculo e se tornaram coadjuvantes. 

Será que tecnicamente e tecnologicamente os questionamentos do VAR possuem consistências? Isso já foi meramente comprovado? Será que não existe o chamado erro de paralaxe nas decisões, entre outros possíveis erros?

Agora temos que alterar aquela famosa frase de uma música: Domingo tem Maracanã e o árbitro de vídeo.

 

 

Júnior Baiano

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

entrevista: Sergio Pugliese e Mauro Leão | texto: Mauro Leão | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Minha estreia no Museu da Pelada não poderia ser melhor. Foi a escolha perfeita.

Entrevistar o zagueiro-zagueiro Júnior Baiano sempre foi sinônimo de sonoras gargalhadas e ótimas lembranças, dos tempos do futebol sem mimimi.

– Hoje está muita frescura. Não se pode mais dar nem um chega para lá no atacante! – reclama o ex-jogador.

Júnior Baiano se notabilizou pelas temidas tesouras voadoras, que aplicava sem pena e sem dó nos pobres dos atacantes.


A galera ia à loucura e inflamada cantava a plenos pulmões:

– Uh! Júnior Baiano é mau. Pega um, pega geral!!!

E rindo muito, ele não esconde que pegava mesmo.

– Não podia era perder a viagem! – se diverte.

Nesse gostoso bate-papo regado à cerveja gelada, o ex-craque de Flamengo, São Paulo, Werder Bremen, da Alemanha, e Vasco, fala da carreira, das alegrias, das decepções, dos atacantes matadores que enfrentou, do mestre Telê Santana…

Confiram no vídeo acima!

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Mauro Leão é jornalista, e cobriu seis Copas do Mundo, com passagens pelo Jornal O Dia, Rede Record e FM O DIA.
 

 

Zenon

O CAMISA 10

entrevista: Paulo Escobar | texto: Marcelo Mendez | vídeo: Johnny Jamaica

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

E funda o trem da minha vida

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

E funda o trem da minha vida

O ano de 1978 começou da maneira mais bucólica provável na minha vida de menino de 8 anos de idade.

Havíamos acabado de nos mudar para nossa casa, só nossa, mas a saudade do quintal cheio de meus primos ainda era enorme e eu seguia por lá, junto deles na casa da Tia Leoni. As primas mais novas, Marlene, Silmara, junto de minha Tia Cida e da Tia Leoni se revezam entre afazeres de casa e outros trabalhos.

No rádio ligado, a música “Romaria” de Renato Teixeira, era sucesso na voz de Elis Regina, na trilha sonora da novela e eu que era bem afeito às coisas dos sons e do rádio já conseguia memorizar bem a canção. A vida de um só, em um destino de sonho e de pó e outras agruras que a música narrava, formava em minha mente um conjunto de imagens belíssimo.

Um orgulho enorme de ser Caipira, Pirapora Nossa. Como o time que vamos falar hoje, também do interior, também Caipira, também Gigantesco.

Esquadrões do Futebol Brasileiro volta 41 anos atrás para falar de um time esplendoroso; O Guarani de 1978.

O MINEIRO E A AVENTURA

A História do Guarani de 1978 pode ser contada por vários vieses. Mas acredito que optar por contar a coisa pelo momento em que o técnico Carlos Alberto Silva, oriundo da Caldense, chega em campinas, trazido pelo presidente Ricardo Chuffi, representa bem todas essas nuances.

Era começo de trabalho, o jovem treinador que havia feito bonito no Campeonato Mineiro, trouxe consigo o preparador físico Helio Mafía, com quem alias trabalharia a vida toda, para poder começar os trabalhos. Pelo Dirigente, foi informado que a grana era curta, que a moeda era escassa pelos lados do Bugre, mas que a base era muito boa.

Por lá, Silva encontrou jogadores como Manguinha, Renato, Mauro, Miranda, Adriano e um jovem de 17 anos que era um gênio; Careca. Juntou essas feras ao goleiro Neneca e ao meia Zenon que estavam no clube desde 1976, trouxe o zagueiro Gomes, o atacante Capitão e o craque de bola Zé Carlos, campeoníssimo pelo Cruzeiro e a partir daí montou uma base forte e sólida para a maior aventura de um time do interior do Brasil…

O BUGRE DE CAMPINAS VIRA O BUGRE DO BRASIL

O Campeonato Brasileiro de 1978 foi uma zona.

Desistências, inchaços com dezenas de clubes convidados, regulamento abilolado, um verdadeiro faroeste pelo Brasil afora. Nele, o Bugre deu lá suas osciladas para se classificar, mas chegando nas cabeças, foi passando por cima de Geral. Sport, Internacional, Santos, Vasco.. Cada qual com um épico para contar.

Contra o Internacional, o Grande Internacional dos anos 70, o Bugre foi ridicularizado por todos do sul por conta do que eles chamaram de “Ataque de Risos” em função do nome dos seus titulares; Capitão, Careca e Bozó. Resultado, um chocolataço de bola e 3×0 para os Campineiros.

Contra o Sport, Neneca garantiu o 2×0 fora e o time deu um baile de bola em casa, com um 4×0 Clássico no Brinco de Ouro. O Vasco viu Zenon calar o Maraca na semi com os dois gols do jogo sacramentando o 2×0 final. Faltava pouco, apenas a final. E aí que entra minha história…

O BRASIL DESCOBRE CAMPINAS

Em 1978 seguramente posso afirmar que é o ano de afirmação de meu Palestrianismo.

Meu Tio Bida e meu Pai me enchiam de camisa do Palmeiras, de bola do Palmeiras, de meia do Palmeiras e nem precisaria de nada disso. Eu já era Palmeirense desde muito antes deles saberem. Mas por aqueles dias eles estavam especialmente aflitos.

O Palmeiras que havia perdido a primeira da decisão do Brasileirão teria que ir decidir em Campinas sem Leão no gol, expulso por uma cabacice após agredir Careca, o que resultou em pênalti e 1×0 contra.

Do que me lembro daquela decisão foi a gente ir assistir ao jogo na casa da Tia Dete em São Matheus, na zona leste de São Paulo, onde havia por lá uma TV colorida. Isso era algo muito novo para época e então lá fomos, eu feliz da vida porque era sempre muito bom ir na casa da Tia Dete, meu Tio e meu Pai tensos, porque em campo, o Palmeiras ia ter um problemão para resolver.

O Guarani, sem o craque Zenon, suspenso por cartão, mas com todos os outros jogadoraços que fizeram essa campanha histórica deram um baile de bola no Palmeiras e coube a Careca, pegar um rebote de Gilmar para meter o gol que faria do Guarani o único campeão Brasileiro do interior do Brasil até então.

Uma festa, uma honra, uma coisa divina e ímpar poder ter visto aquele time jogar.

Esquadrões do Futebol Brasileiro os homenageia, portanto.

Guarani de 1978, um timaço!
 

 

A ESCOLINHA DO PROFESSOR DINIZ

por Zé Roberto Padilha


Thiago Silva, Marcelo, Carlos Alberto, Diego Souza, Roger, Pedro, João Pedro, entre tantos, dá até para montar uma seleção, foram revelados na Escola de Formação de Xerém. Quando não são vendidos aos 17 anos, chegam ao topo, isto é, à equipe profissional, graduados em todos os fundamentos. Dominam bem a bola, sabem chutar e cabecear, são disciplinados e experientes pois já rodaram o mundo disputando torneios desde os sub-15. Porém, só não trazem no currículo o aprendizado de uma inovação tática que foge aos padrões comuns.

Vão precisar de uma pós-graduação com o professor Fernando Diniz, mas esta não pode ser realizada no Estádio da Fonte Nova, sob pena de um atacante rodado, como o Gilberto, tomar a bola de um aluno que não sabe bem a lição, mas que foi orientado a sair jogando com os pés. Muito menos no caldeirão do Atlético Paranaense, onde um Aírton, cheio de cacoetes do ensino fundamental, dá seu carrinho tradicional e joga toda a concepção moderna de uma ocupação inteligente de espaços para os últimos lugares da tabela.

Nosso receio é que os seguidos maus resultados tirem Fernando Diniz, um professor tão promissor, das Laranjeiras. Vocês conhecem, como eu, como são nossos cartolas. Nunca jogaram bola, surgem do quadro social, se destacam na piscina, no salão nobre, nas quadras de saibro e convencem um grupo de amigos da sauna a elegerem o presidente. E saem distribuindo desconhecimento vestiários afora.

Basta que pichem os muros da Rua Álvaro Chaves que eles retiram sua incompetência da reta. E a transferem para o treinador que sai do clube carregando toda a culpa de uma má gestão. É mais fácil, prático, é só contratar um outro e pintar o muro de novo.


Melhor deixar, neste momento, sob risco de não viver a lutar outra vez para não cair, no comando dos profissionais tricolores o Abel. Já rodado e respeitado, tem sido o melhor mediador entre os garotos que chegam e os Bruno Silva que os empresários vivem a empurrar goela abaixo nas diretorias. E levar o Fernando Diniz, e sua revolucionária planilha, para o ensino fundamental do Colégio de Xerém.

Daqui a dois anos, ele retornará ao Maracanã com a geração que irá formar na ponta da chuteira. Aquela que além de ter a posse de bola, realizada desde o goleiro que irá treinar desde os juvenis, dos Aírtons que passarão a jogar com a cabeça em pé, terá também a posse da taça. E do respeito ao clube de volta.

Em Xerém, do nosso vizinho Zeca Pagodinho, existe uma máxima: deixa a vida te levar. Por lá, Fernando Diniz não tentará levar a vida do jeito que seu modo de jogar quer. Deixará a tradição tricolor, de vitórias e conquista, lhe conduzir ao pódio que sempre o tricolor viveu a ocupar.