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O ACERVO PRECIOSO DE ORLANDO PINGO DE OURO

texto: Breno Mulinazzi | vídeo e edição: Daniel Plael

Com a ajuda da encadernadora Chris Lee, da Manufatura, e da colaboração de amigos Mauro Magalhães, Luis Fernando, Heraldo Nunes e André Paraizo, a equipe do Museu restaurou o acervo precioso de Orlando Pingo de Ouro, o segundo maior artilheiro da história do Fluminense, e entregou a caixa para Breno Mulinazzi, neto do craque.

Nunca tive muito contato com o meu avô. Ele morreu quando eu era muito novo, então o que eu sei dele, é por meio de historias, geralmente contadas pela minha vó e pela minha mãe. Dessa forma, a experiência que tive com o Museu da Pelada foi muito importante para conhecer o meu avô melhor. Todo o material que eles resgataram estava há muito tempo guardado e eu nem sabia da existência de algumas coisas. Vi contrato, cartões de colecionador, além de fotos que nunca tinha visto antes. Tudo muito bem restaurado e com um acabamento muito bem feito.

Então, eu só tenho a agradecer ao Museu da Pelada, por me permitir vivenciar isso, por preservar todo um passado. Muito obrigado a todos.

VINTE E UM DE JUNHO, O FIM DO JEJUM

por Leandro Costa


Vinte e um de junho de 1989, o Botafogo entra em campo para a segunda partida das finais do Campeonato Carioca contra o Flamengo. 

Nas mãos de Ricardo Cruz, a segurança de não ser vazado.

Na tranquilidade de Josimar, a certeza de boas jogadas.

Na raça de Gottardo, a vontade de dar fim à agonia.

Na classe de Mauro Galvão, a tranquilidade de um craque de Seleção.

Na regularidade de Marquinhos, a confiança em uma boa marcação.

Na categoria de Carlos Alberto, a saída de jogo com qualidade.

Na força de Luisinho, a paixão do torcedor em campo.

Na alma de Vitor, a garantia de muita entrega.

Nos dribles de Maurício, a mística da camisa 7.

No oportunismo de Paulinho Criciúma, a chance do gol.

Na habilidade de Gustavo, a força do ataque.

No comando de Espinosa, a estratégia da vitória.

Em casa, na geral, nas cadeiras ou nas arquibancadas, a esperança de toda uma torcida que há vinte e um anos não via seu time ser campeão. 

Os corações alvinegros disparam Brasil afora. Jogo duro, pegado, o adversário chega mais perto do gol. Gustavo sai contundido no final do primeiro tempo. Mazolinha entra em seu lugar com um ímpeto de incendiar a partida.


No intervalo, Maurício, com 40 graus de febre, pede para sair. O comandante Espinosa convence o ponta a continuar no jogo dizendo que havia sonhado que o Glorioso venceria com um gol dele. Anos mais tarde Espinosa revelou que não sonhou mas que não poderia perder Maurício naquele jogo. Realmente seria impensável o Botafogo sem o seu camisa 7 no jogo mais importante do clube em 21 anos.

Começa o segundo tempo e logo aos 12 minutos, Mazolinha, aquele mesmo que havia entrado no final do primeiro tempo, cruza para Maurício, o sete, que apesar da febre não saiu no intervalo, escorar a bola para o fundo das redes do adversário. 

Quando finalmente o árbitro encerra a partida, chega ao fim um jejum de 21 anos sem títulos. Vibra a criança, chora o homem, ri a mulher, se abraçam os jogadores, se liberta uma geração que não sabia o que era ser campeão. Comemora a torcida, por vinte e um dias, vinte um meses, vinte e um anos, ou trinta, como fazemos agora. Comemora porque não há nada mais Botafogo do que renascer. E se o clube tem três datas especiais para comemorar seu aniversário (dia da fundação do Regatas, dia da fundação do Football e dia da fusão dos dois clubes) por que não comemorarmos para sempre o dia do fim do jejum? Parabéns, Botafogo!! Ah, obrigado pelo presente de aniversário para o menino que acabara de completar nove anos na véspera da decisão. Inesquecível e incomparável a qualquer brinquedo da época ou de qualquer época. Coisas da bola, coisas do Botafogo.

SAMPAOLI: O RESGATE DE SI, DA LEVEZA E ALEGRIA DO FUTEBOL SANTISTA

por Ivan Gomes


Estamos nos dias finais para encerrarmos o primeiro semestre de 2019. Nesse quase meio ano, quem torce para o Santos Futebol Clube pode acompanhar o renascer de um técnico que, com seu renascimento, resgatou a alegria e a leveza da prática do futebol no alvinegro praiano, algo que não víamos há alguns anos.

Um dos clubes mais vitoriosos e respeitados do futebol brasileiro e mundial precisou que um argentino, deixado quase no ostracismo após mau desempenho na Copa do Mundo de 2018 com sua seleção, resgatasse aquilo que todo santista sempre gostou: ousadia, gols e belas jogadas. 

Desde as primeiras apresentações do time de Sampaoli notamos que poderíamos ter algo diferente. Muitos disseram, após alguns jogos, que ele não havia inventado a roda. Óbvio que não! Sampaoli fez somente o básico. Estudou, buscou se aprofundar na história do clube. E o que ele fez não é invenção, mas sim o resgate dos bons tempos, que todo torcedor sente falta. E esse jeito que gostamos de ver nosso Santos jogar, encaixa perfeitamente com o estilo de jogo que o argentino gosta de proporcionar ao torcedor/espectador.

Quem acompanhou o moribundo Santos de 2018 e vê o Santos em 2019 não acredita que o time é quase o mesmo, sem citar que perdeu dois atacantes considerados importantes: Gabriel e Bruno Henrique. A diferença de um ano para outro é abissal. O alvinegro praiano, se não me falha memória, estava na zona de rebaixamento na nona rodada do Brasileiro passado, este ano é vice-líder.

Com reposição de algumas peças e o trabalho no dia a dia, Sampaoli transformou aquele time que teve somente apresentações pífias com Jair Ventura e Cuca em um time que pratica um futebol leve, que ataca, que não se dá por satisfeito, mesmo quando o placar aponta vantagem considerável. Não tem esquema de atacar em casa e jogar fechado fora, é sempre o padrão de busca pelo gol, não há qualquer custo, mas com um jeito que foi muito difundido nos primeiros meses dele na Vila: amor pelo balón. 


Outra obviedade é que não se consegue mudar tudo de hora para outra, a aposta no tempo é essencial. Críticos dirão que o Santos foi eliminado de quase tudo neste ano. Que a equipe sofreu algumas goleadas. Não negamos isso. Mas acreditamos que são percalços inerentes ao crescimento e mudança de estilo e padrão de jogo. 

Talvez as sementes plantadas por Sampaoli este ano ainda não rendam frutos. Espero que a torcida não seja tão imediatista, assim como a diretoria, e deixem o argentino trabalhar e lhe deem condições para isso. O próximo ano pode ser melhor, um exemplo, apenas uma analogia, o Liverpool investiu no tempo quando contratou Klopp. O retorno começa a ser dado algumas temporadas e derrotas depois.

Claro que queremos ver nosso time campeão todo ano se possível, mas não é assim que “a banda toca”. Quem acompanhou o Santos ano passado pela TV, rádio, internet ou arquibancada, sabe o quanto foi sofrido. Este ano, ao menos, vemos um time com vontade, com ímpeto, que se impõe, que respeita a camisa e toda história feita pelos gigantes que um dia passaram e fizeram história na Vila Belmiro.

A Sampaoli fica o agradecimento por tudo que ele fez. Enquanto ele resgatou nosso futebol, nós o resgatamos como técnico. Que a partir de agora, o alvinegro não saia dessa trajetória, pois como bons santistas que somos, não nos basta apenas vencer, mas sim convencer, assim como foram nossos títulos à época do rei Pelé, assim como em 2002 com os Meninos da Vila. 

 

 

 

DONA ALZIRA E SEUS DOIS AMORES

Não é só de ídolos que se vive o Museu da Pelada. O personagens por trás dos espetáculos, aliás, são os que mais gostamos e, por isso, ficamos muito honrados com o convite para conhecer a história de Alzira Mattos.

Filha do saudoso Aniceto Mattos, roupeiro do Flamengo por mais de 50 anos, e casada com José Alves de Carvalho, o homem que não deixava o Maraca sem luz, Alzira respira futebol e coleciona histórias de tirar o fôlego.

A equipe do Museu da Pelada foi recebida com muito carinho na casa do casal e ouviu histórias sensacionais sobre o verdadeiro Maracanã e o futebol raiz, além, é claro, de conhecer a coleção de camisas que deixaria qualquer colecionar de boca aberta!

NEM A DISTÂNCIA SEPARA

por Wendell Pivetta


Amor pelo clube do coração é algo inexplicável. Não existem fronteiras para dedicação do torcedor, ainda mais aquele que mora longe do estádio, que muitas vezes acaba falecendo e nunca teve a oportunidade de assistir o clube do coração na cancha futebolística. Algumas cidades ainda fazem excursões, porém o custo é alto, até porque os estádios ficam cada vez mais elitizados e não compreendem talvez que boa parte do público venha de longe.

No caso de hoje, conto a história da minha cidade, Tupanciretã, fixada no centro do Rio Grande do Sul, com a torcida Camisa Vermelha, que em média, 1 vez por mês marca presença no Beira Rio. Eliandro Amarante, criador do movimento, começou a divulgar e reunir pelos bares com transmissões dos jogos e via Whatsapp a ideia de ir para o estádio, ver pela primeira vez seu time de coração atuar no gramado que, ao vivo, era muito mais verdinho. A cidade costumava ir apenas uma vez ao ano para o estádio, e hoje a realidade já é outra, tendo em média um micro ônibus mensal, dobrando inclusive o quadro de sócio torcedor da cidade pelo Clube do Povo do Rio Grande do Sul.

A viagem tem o total de 800 quilômetros, cerca de 5 horas de viagem, para até então, ter participado de 13 jogos, nenhuma derrota e apenas um empate assistido que foi neste ano, diante do River Plate pela Libertadores da América (dados levantados antes da parada da Copa América). Famílias percorrem a longa estrada para vislumbrar o grande evento que é uma partida de futebol da capital, algo que não tem preço para os organizadores das excursões que passam semanas organizando e reunindo o dinheiro, contatando empresas com transporte, e garantido o ingresso de todos para dentro do jogo. 


Nossa primeira partida que a excursão vislumbrou foi o jogo Internacional 2×1 Corinthians pelo Brasileirão de 2018. Lotaram uma van de 15 pessoas, um dos transportes mais difíceis para percorrer 5 horas de viagem, porém naquela data o nosso país enfrentava a greve dos caminhoneiros, e a falta de gasolina era algo que cada vez mais iria se tornando realidade entre os transportes. Quando chegamos e entramos no estádio, era possível ver o aglomerado de pessoas, e sem perceber o sangue ia fervendo, o coração mal parava de bater e isso tudo só de entrar estádio a dentro, então, quando você passa pelo corredor, o Beira Rio no setor inferior conta com escadas para você subir até a parte do gramado, e subindo pela primeira, e ainda até hoje, não existe colorado que não se arrepia todo ao ver a imensidão do estádio, da beleza fenomenal do interior e aquele sol que bate no gramado e o torna ainda mais verde. O torcedor se sente completamente em casa. Sem falar as histórias do pré jogo, como por exemplo ao passarmos por dentro da Porto Alegre vazia, visualizamos o ídolo e ex-zagueiro Índio andando a pé para o estádio, ou no clássico gre-NAL que ao estacionarmos nosso ônibus, começamos assar a carne do almoço e fazer uma cantoria, logo chega torcedores de outra cidade, Horizontina, para tocar com nós e em menos de 2 minutos o local encher de torcedores vislumbrando do mesmo momento mágico.

Encarar frio, chuva, falta de sono e preços absurdos ao totalizar passagem, ingressos e alimentação realmente é algo que prova a força das excursões do interior do estado para assistir aos espetáculos, e a Camisa Vermelha de Tupanciretã é uma ótima representante destes momentos que só o torcedor passa.