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DONA ALZIRA E SEUS DOIS AMORES

Não é só de ídolos que se vive o Museu da Pelada. O personagens por trás dos espetáculos, aliás, são os que mais gostamos e, por isso, ficamos muito honrados com o convite para conhecer a história de Alzira Mattos.

Filha do saudoso Aniceto Mattos, roupeiro do Flamengo por mais de 50 anos, e casada com José Alves de Carvalho, o homem que não deixava o Maraca sem luz, Alzira respira futebol e coleciona histórias de tirar o fôlego.

A equipe do Museu da Pelada foi recebida com muito carinho na casa do casal e ouviu histórias sensacionais sobre o verdadeiro Maracanã e o futebol raiz, além, é claro, de conhecer a coleção de camisas que deixaria qualquer colecionar de boca aberta!

NEM A DISTÂNCIA SEPARA

por Wendell Pivetta


Amor pelo clube do coração é algo inexplicável. Não existem fronteiras para dedicação do torcedor, ainda mais aquele que mora longe do estádio, que muitas vezes acaba falecendo e nunca teve a oportunidade de assistir o clube do coração na cancha futebolística. Algumas cidades ainda fazem excursões, porém o custo é alto, até porque os estádios ficam cada vez mais elitizados e não compreendem talvez que boa parte do público venha de longe.

No caso de hoje, conto a história da minha cidade, Tupanciretã, fixada no centro do Rio Grande do Sul, com a torcida Camisa Vermelha, que em média, 1 vez por mês marca presença no Beira Rio. Eliandro Amarante, criador do movimento, começou a divulgar e reunir pelos bares com transmissões dos jogos e via Whatsapp a ideia de ir para o estádio, ver pela primeira vez seu time de coração atuar no gramado que, ao vivo, era muito mais verdinho. A cidade costumava ir apenas uma vez ao ano para o estádio, e hoje a realidade já é outra, tendo em média um micro ônibus mensal, dobrando inclusive o quadro de sócio torcedor da cidade pelo Clube do Povo do Rio Grande do Sul.

A viagem tem o total de 800 quilômetros, cerca de 5 horas de viagem, para até então, ter participado de 13 jogos, nenhuma derrota e apenas um empate assistido que foi neste ano, diante do River Plate pela Libertadores da América (dados levantados antes da parada da Copa América). Famílias percorrem a longa estrada para vislumbrar o grande evento que é uma partida de futebol da capital, algo que não tem preço para os organizadores das excursões que passam semanas organizando e reunindo o dinheiro, contatando empresas com transporte, e garantido o ingresso de todos para dentro do jogo. 


Nossa primeira partida que a excursão vislumbrou foi o jogo Internacional 2×1 Corinthians pelo Brasileirão de 2018. Lotaram uma van de 15 pessoas, um dos transportes mais difíceis para percorrer 5 horas de viagem, porém naquela data o nosso país enfrentava a greve dos caminhoneiros, e a falta de gasolina era algo que cada vez mais iria se tornando realidade entre os transportes. Quando chegamos e entramos no estádio, era possível ver o aglomerado de pessoas, e sem perceber o sangue ia fervendo, o coração mal parava de bater e isso tudo só de entrar estádio a dentro, então, quando você passa pelo corredor, o Beira Rio no setor inferior conta com escadas para você subir até a parte do gramado, e subindo pela primeira, e ainda até hoje, não existe colorado que não se arrepia todo ao ver a imensidão do estádio, da beleza fenomenal do interior e aquele sol que bate no gramado e o torna ainda mais verde. O torcedor se sente completamente em casa. Sem falar as histórias do pré jogo, como por exemplo ao passarmos por dentro da Porto Alegre vazia, visualizamos o ídolo e ex-zagueiro Índio andando a pé para o estádio, ou no clássico gre-NAL que ao estacionarmos nosso ônibus, começamos assar a carne do almoço e fazer uma cantoria, logo chega torcedores de outra cidade, Horizontina, para tocar com nós e em menos de 2 minutos o local encher de torcedores vislumbrando do mesmo momento mágico.

Encarar frio, chuva, falta de sono e preços absurdos ao totalizar passagem, ingressos e alimentação realmente é algo que prova a força das excursões do interior do estado para assistir aos espetáculos, e a Camisa Vermelha de Tupanciretã é uma ótima representante destes momentos que só o torcedor passa. 

O POVO FOI BARRADO NO BAILE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Abro o jornal e leio que Michel Platini, ex-presidente da UEFA, foi preso por suspeitas de corrupção envolvendo a Copa de 2022. Ele é um dos tantos investigados na operação que apura possíveis irregularidades na escolha do Catar como sede do próximo mundial. Joguei muito contra esse craque quando eu atuava no Olympique de Marselha e essa era a recordação que gostaria de guardar. Tenho uma foto de nós dois trocando camisas no final de uma dessas partidas.

Uma pena, mas alguém duvida que rolou muito dinheiro para a escolha do país sede? E é justamente essa ganância, clubes, federações e confederações infestados de empresários e dirigentes corruptos, que estão destruindo o futebol. Mas uma hora a conta chega, como chegou para Michel Platini, Sergio Cabral, José Maria Marin e outros da turma. Alô, foras da lei do futebol, a sua hora vai chegar!!!

Mas, por falar em país sede, como o Brasil conseguiu trazer essa Copa América, Copa das Confederações, sei lá como chamam isso, mesmo depois dos escândalos na Copa do Mundo e Olimpíadas? Que moral esse governo e esses dirigentes esportivos têm para ganhar alguma concorrência?

Como a arrecadação de uma partida horrível, como Brasil x Bolívia pode ter rendido quase R$ 23 milhões se nem cheio o estádio estava???? Como pode um ingresso ser vendido a R$ 500,00???? O futebol é do povo, esqueceram-se? Essa elitização será a pá de cal no futebol, podem anotar. Quem investiga isso??? Será que nenhuma autoridade brasileira, Ministério Público, Defesa do Consumidor, ninguém vai fazer nada? Continuaremos vendo a maior paixão nacional continuar na mão desses crápulas? Acabou a paixão!

Quem paga R$ 500,00 para assistir um jogo desses? Onde estão os torcedores que saíam se acotovelando dos trens da Central, que sofriam, choravam e se esgoelavam por seus ídolos??? Onde estão esses ídolos???


Phillipe Coutinho, meu preferido da seleção, tem o semblante triste. Os jogadores estão milionários, só querem dançar e fazer dancinha nas redes sociais, nenhum deles mora no Brasil e os que moram estão loucos para ir embora. Nenhum deles entende o significado de vestir a camisa da seleção brasileira. Preferem as Calvin Kleins e Lacostes da vida. Por que não montar uma seleção nacional com os jogadores com quem os torcedores mais convivem?

Dirigentes, entendam algo bem simples. Mesmo vencendo a Copa América ou qualquer outro torneio, essa turma do Tite nunca encantará, pois a empatia com a torcida é zero. O discurso do Tite causa arrepios, sua data de validade expirou. Lembrem-se: os que amam o futebol de verdade, desfraldavam bandeiras gigantes e socavam o bumbo com vontade eram os mais pobres e, sem dó nem piedade, eles foram barrados no baile. Mas futebol sem alma, podem ter certeza, não é futebol, mas é isso que está aí.

MARTA, A ARTILHARIA E A REPRESENTATIVIDADE

por Josie Rodrigues


Eu gosto de clichês, apesar de óbvios eles funcionam para traçar paralelos da vida, do cotidiano, daquilo que parece tão lógico que precisamos de expressões e frases para dar um certificado a alguns sentimentos. Um dos meus clichês favoritos é que o futebol é uma paixão. Mas não é qualquer paixão, é talvez a única capaz de durar a vida inteira, aquela que te dará um êxtase, uma pulsão a mais, um frescor. Tenhas tu oito ou oitenta anos.

Mas paixões nunca são fáceis. A minha por futebol não havia de ser diferente. Nasci e cresci em uma sociedade que apesar de ter no esporte bretão o mais popular do país, sempre renegou às mulheres o direito igualitário de se fazer presente. Idiotas da objetividade dirão que não, uma vez que até a expressão “torcer” tem como origem uma homenagem dos cronistas esportivos – do início do século XX – às nervosas moças que “torciam” luvas e roupas enquanto assistiam às partidas de futebol. Mas a verdade é que tirando os estereótipos de musa, torcedora ou a terrível expressão Maria Chuteira, o campo futebolístico nunca foi acessível para nós, mulheres.

A primeira Copa que guardo na memória foi a de 1994, estava empolgadíssima com Romário e Bebeto, decidi junto com uma amiga que iríamos começar a jogar futebol. O único problema é que nas aulas de educação física nos era oferecido apenas dois esportes: o inútil handebol e o odioso voleibol. Futebol só para os meninos. Não é esporte de mulher.

E de fato não era. Mulheres batendo uma bola era prática proibida através do Decreto-Lei 3199 de 1941 de Getulio Vargas, decreto esse que durou até 1979. Esse importante ano na história ludopédica, que além de liberar o futebol feminino, também conheceu o único campeão invicto brasileiro: O Glorioso Colorado de Porto Alegre, mas isso é assunto para outra crônica.

Mas voltando a minha infância, quando eu estava começando a me apaixonar por futebol, fazia apenas quinze anos que ele deixava de ser proibido para mulheres. Não havia escolinhas, nem quadras, nem tradição que permitisse uma menina jogar. Restou-me apenas a paixão por um clube e minha obsessão por participar de todas as formas possíveis. Seja criando times com as crianças da escola, batendo boca com os meninos para provar o que era impedimento, pesquisando, escrevendo, indo a estádios. Essa era a única forma de viver minha paixão.


Corta para 2019, ano de Copa Feminina. Parei para ver a seleção brasileira jogar. E pensei o quanto queria ter visto isso com dez anos de idade! Queria que minha geração pudesse ter a Marta como ídolo. Poder assistir e me identificar, sonhar em ser jogadora, ter um nome feminino nas costas de uma camisa. Aquilo que chamamos de representatividade e toda a força e identificação quando temos um exemplo que “parece com a gente”.

Chorei quando a Marta marcou seu 17º gol, ultrapassando Klose como a maior artilharia de todas as Copas. E eu só conseguia pensar em quantas forças tentaram impedi-la de estar lá. Quantas vezes ficou sem clube para jogar, quantas vezes pensou em desistir, em quantas meninas que, assim como a que fui, amam futebol, mas que nessa tarde de terça-feira viram uma mulher ganhando um jogo em Copa do Mundo, se tornando a maior artilheira de todas os tempos. Fica a certeza que ainda existe um árduo caminho pela frente para as mulheres e o futebol, mas por hoje Marta nos fez acreditar que tudo é possível.

O JOGO, O ESPORTE E O MARKETING

por Idel Halfen


Que o segmento de apostas esportivas é um setor que paulatinamente vai ganhando espaço todos percebem. Basta reparar os patrocinadores másters dos clubes que disputam a Premier League que veremos nomes relativamente desconhecidos do grande público, tais como: W88, Betway, Fun88, Opesports, Dafabet, SportPesa, ManBetX, Laba360, mas que são bastante populares entre os apostadores.

É visível também que as restrições legais para a divulgação de empresas deste setor aos poucos vão sendo reduzidas ou até dribladas, assim como vão aumentando as possibilidades de se “consumir” o serviço.

Talvez a última esperança de reversão deste quadro tenha se esgotado quando a Suprema Corte dos EUA aboliu a lei de proteção ao esporte profissional e amador, permitindo que tanto a NCAA como as quatro principais ligas norte-americanas possam explorar as apostas em suas plataformas.

Atualmente, sete estados, além de Nevada, permitem apostas esportivas, gerando receitas na ordem de US$ 8 bilhões, o que é um indicativo de que em breve outros estados aderirão à atividade.


Apesar de promissora, a atividade é fruto de inúmeras preocupações, dentre as quais podem ser destacadas:

  • a compulsão de certos apostadores, o que exigirá das empresas investimentos na proteção e tratamento destas pessoas;

  • os players piratas de apostas que já existiam e, por atuarem sem permissão, não têm relacionamento com as ligas, nem recebem nenhuma espécie de controle.

  • os eventuais problemas com corrupção que, em função do maior volume de apostas e consequentemente mais dinheiro, pode trazer problemas quanto à idoneidade das competições.

  • a relação comercial das empresas de apostas com as ligas, pois muitas delas entendem que precisam ser remuneradas de alguma forma pelo conteúdo que oferecem.

São preocupações extremamente coerentes e que devem ser enfrentadas com o máximo de racionalidade, pois, desde que exista o devido controle, trata-se de uma atividade que pode trazer remunerações significativas à cadeia esportiva. Por outro lado, caso sejam ignoradas, corre sérios riscos de ser encarada como uma operação contaminada e, dessa forma, não atingir o potencial de crescimento estimado.

Potencial esse que pode ser comprovado através da entrada de players até então estranhos ao mercado, como é o caso da Fox Sports que lançará um aplicativo de apostas esportivas, sendo que tanto este canal como a ESPN têm programas sobre apostas esportivas em sua grade.

Tamanha movimentação certamente trará reflexos no Brasil, onde, ainda que existam as loterias, as corridas de cavalos e o acesso a sites internacionais, o jogo ainda não é liberado.


Trata-se sem dúvida de um motivo de esperança, principalmente para os clubes de futebol que podem passar a receber verbas dessas empresas a título de patrocínio, entretanto, é importante que todas as preocupações listadas acima sejam discutidas, visto não ser salutar, nem correto, que o patrocínio seja visto como uma mera compra de mídia. Conforme é sempre preconizado aqui, o patrocínio deve também ser encarado como uma forma de se associar os valores do patrocinado com os do patrocinador, em função disso, as empresas de apostas precisam cuidar para que suas atividades sejam percebidas como benéficas e não como causadoras de dependências e/ou plataformas de falcatruas.