SAUDADES DE JOÃO GILBERTO E MENDONÇA
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
No espaço de poucos dias perdemos dois artistas, um da bola e outro da música, Mendonça e João Gilberto. Dois homens tímidos, de poucas palavras, e com talentos extraordinários, de pura arte.
A habilidade de um estava nas mãos, a do outro nos pés. Um foi meu parceiro de time e o outro de toca-discos. Um criou a Bossa Nova, o outro o Baila Comigo, apelido do drible aplicado em Júnior Capacete. Um foi homenageado com um minuto de silêncio no final da Copa América, o outro, não.
A reverência não poderia ser feita aos dois? Claro que sim! Seria a chance desse torneio homenagear o futebol-arte, talvez a única chance. Tudo bem que João Gilberto levou o nome do Brasil para o exterior, mas no Maracanã, me perdoem os fãs do autor da belíssima “Wave”, Mendoncinha fez chover! Mesmo quem não torcia para o Botafogo se encantava com a magia do ídolo, que morreu pobre e lutando contra o vício.
Mendonça não era queridinho da imprensa, nasceu e morreu em Bangu. Atuamos juntos no chamado time do camburão, do Botafogo, e jogou uma barbaridade em nossa vitória contra o Cruzeiro, em Minas. Meu Deus, como jogava bola o Mendoncinha!
Mas pensando bem, nem ele, nem João Gilberto deveriam ser homenageados nessa Copa América. Essa competição não os representava, com jogos medíocres e organização de quinta categoria. Se estivesse na torcida, João Gilberto teria pego seu banquinho e seu violão e se mandado.
Me perdoem os trocadilhos musicais, mas o nosso futebol virou o “Samba de uma nota só” porque temos um técnico “Desafinado”.
O que foi o Tite tentando se desvencilhar de Bolsonaro e, em seguida, dando um caloroso abraço no presidente da CBF??? CBF que ele tanto achincalhou quando estava do outro lado do balcão!!!!
Pergunto a todos os dirigentes e políticos que estavam pegando carona na cerimônia: jogaram “aonde”, vestiram a amarelinha quantas vezes, assinaram quantas súmulas??? É uma vergonha!!!
Vocês acreditam que a CBF me convidou para assistir à final da Copa América, mas eu teria que arcar com a passagem aérea? Moro em Florianópolis e a maioria dos campeões de 70 também mora fora do Rio. A ideia era reunir esse grupo. A CBF ganha milhões e não consegue comprar passagem para os convidados? Pede para fechar!!!
Mas Tite e seus pupilos foram campeões e isso é o que importa! Daniel Alves foi o melhor do torneio porque deu um balãozinho seguido de um passe olhando para o lado oposto, é muita pobreza!!! Mas, viva o futebol brasileiro!!!
Hoje quem dá um caneta vira rei e o gol é comemorado com a dança do pombo. Me perdoem João Gilberto e Mendonça, mas os tempos mudaram. A garota de Ipanema virou Anita, a bossa é outra, mas como dizem por aí, aceita que dói menos, PC, e “Chega de Saudade”!!!
JOGAR FUTEBOL, GANHAR DINHEIRO. SONHO DE MUITOS, CONQUISTA DE POUCOS
por Jonas Santana
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? A música do “Skank” revela o segredo de milhares de jovens brasileiros: ser jogador de futebol.
Embalados pelo incentivo da mídia (antes pelo patriotismo exaltado nas conquistas da seleção), aliado ainda ao efeito causado pela aparição de jogadores nas hoje mais que onipresentes redes sociais ostentando a receita de sucesso, o futebol ainda é o anseio maior de muitos garotos, que buscam na realização de tais sonhos a solução para problemas como a falta de perspectiva de futuro, de oportunidades e de crescimento.
Qualquer menino que sonha em ser jogador tem como objetivo procurar dar uma melhor condição para sua família e para si, fruto da conclusão do que ele consegue abstrair ao ouvir os que alcançaram, por sorte ou talento, um lugar ao sol no mundo da bola.
Muitas vezes o sonho não é levado adiante por diversos fatores: condições de família, tempo, visão e até mesmo o objetivo do candidato a atleta. Muitos pensam que apenas talento leva ao sucesso ou acham que todo jogador de futebol ganha bem. Aos primeiros, mesmo talentosos muitas vezes não chegam nem a profissionalizar, bastando uma lesão ou alguma outra situação e o sonho “puff”!! Outros que imaginam que todo jogador tem dinheiro se decepcionam com a realidade e também “puff!!
Disciplina, determinação, treinamento duro e diário fazem parte do sonho. Mas não se deve menosprezar ou esquecer que existem outras coisas na vida e que se deve ter um plano B. Vai que o sonho não se realiza.
Assim, mesmo para quem sonhou em ser jogador de futebol é fundamental lembrar que a carreira é de risco e que o estudo nunca é demais. Sabemos que isso não é fácil. Muitas vezes por conta do sonho o jovem sacrifica várias coisas, principalmente o seu futuro, vez que muitos se dedicam a jogar e não lembram de estudar. E quando se tornam profissionais do futebol e não logram o êxito esperado, depois de encerrada a carreira ficam sem perspectiva. Era apenas sonho que se esvaneceu.
A carreira de jogador é curta, não esqueçam que se deve dar apoio, mas também alertar afinal, quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol??
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.
Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50
AS ÉPICAS DEFESAS DO URUGUAIO ELÁSTICO
por Luis Filipe Chateaubriand
Rodolfo Rodriguez foi um goleiro uruguaio que, além de ter sido titular da Seleção Celeste, atuou no Brasil – primeiro, no Santos, depois, no Bahia.
Dos maiores goleiros de todos os tempos, fazia da excelente colocação “debaixo dos paus” seu maior trunfo. Isso não queria dizer, contudo, que não possuísse excelente elasticidade.
Em um jogo pelo Campeonato Paulista de 1984, na Vila Belmiro, o Santos recebeu o América de São José do Rio Preto. Em determinado momento, o jogador americano chutou de fora da área rasteiro, bem no canto esquerdo de Rodolfo. Este se esticou todo e espalmou a bola, que ainda bateu na trave.
No rebote, outro jogador americano, de cara para o gol, chutou “a queima roupa” e Rodolfo abafou.
Em novo rebote, o jogador americano, da pequena área, chutou forte e Rodolfo, novamente, espalmou.
A bola, com força, saiu da pequena área e ficou à feição de novo americano, que chutou novamente rasteiro no canto esquerdo de Rodolfo, que novamente espalmou.
A bola sobrou no canto direito da pequena área para outro americano, que chutou forte – para nova espalmada de Rodolfo Rodriguez!
Não foram uma, nem duas, nem três, defesas. Foram cinco. Cinco! Cinco defesas seguidas!!! Este camarada que vos escreve nunca viu nada parecido na vida.
Se o paredão uruguaio já era naturalmente um goleiro brilhante, naquela noite santista foi divino!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebolhá 40anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.
O ZICO ALVINEGRO
por Marcos Vinicius Cabral
Ilustração: Dan
O Botafogo faria seu coração bater mais forte, quando júnior do Bangu, não quis seguir os passos do pai – que foi na década de 1950 um bom e temido zagueiro da equipe alvirrubra ao estilo “bola pro mato que o jogo é de campeonato”- de quem herdara apenas o nome.
Nem pudera, pois Milton da Cunha Mendonça era técnico demais para ser defensor, estabelecendo assim limites éticos, teóricos e comportamentais, milimetricamente calculados em jogadas, dribles, gols, lançamentos e batidas na bola.
Não era, definitivamente e sem sombra de dúvidas, um Antoine Lavoisier (1743-1794), químico francês e criador da teoria de conservação da matéria que disse a célebre frase “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Mas Deus criou Mendonça, um talento descoberto por Telê Santana ainda nos juvenis que não se perdeu nos descaminhos da carreira e se transformou em craque.
E que craque, convenhamos!
No Botafogo, clube de uma estrela no peito e várias em campo, foi naquele setembro de 1977, início da primavera, um dos que ajudaram a construir a impressionante invencibilidade de 52 jogos, permanecendo até o fim do inverno, em julho do ano seguinte.
O Glorioso é, quiçá, o único clube no mundo que mais tempo ficou sem perder, superando os 26 jogos do Palmeiras de Ademir da Guia em 1972/73, os 35 jogos do Santa Cruz em 1977/78, e os 24 do Internacional de Falcão em 1978/79.
Grande, ou melhor, gigantesco feito.
Enquanto o gol, explosão máxima no futebol, foi presenciado pela massa alvinegra, Mendonça fez história 116 vezes.
É o 14° artilheiro da história do clube, fundado pelo remador Luiz Caldas, conhecido como Almirante, com média de 0,34 por jogo.
Não há como negar, por exemplo, sua elegância nas 340 partidas disputadas e sua importância no arquivamento do inconsciente do torcedor, com sua tradicional chuteira Adidas e camisa fora do calção.
Mais um feito a ser aplaudido de pé.
Não conquistou nenhum título na carreira, é verdade, mas um gol marcado, representou mais que isso.
E ele ocorreu nas quartas de final do Campeonato Brasileiro de 1981, contra o poderoso Flamengo, campeão nacional um ano antes.
No lance, Mendonça deu um drible seco em Júnior e tocou na saída de Raul, decretando a vitória por 3 a 1 e a jogada ficou conhecida como “Gol Baila Comigo” (canção interpretada por Rita Lee que, à época, também dava nome a uma novela da Rede Globo).
– Acho que ele (Júnior) também nunca vai esquecer aquele dia. Tenho certeza que toda vez que deita para dormir ele pensa em mim -, disse certa vez chorando de tanto rir.
Artista da bola, numa das pernas pintava obras à lá Leonardo da Vinci (1452-1519) e na outra à lá Van Gogh (1853-1890), como na vez em que fez dois golaços de voleio pelo Palmeiras, um com cada perna.
À noite, o Fantástico que elegia o gol mais bonito do fim de semana abriu uma exceção e premiou os dois, o que jamais havia acontecido.
Mendonça era assim: quebrava paradigmas e surpreendia a todos.
Em entrevista ao Museu da Pelada, certa vez chegou a dizer:
– Não sei porque a torcida do Botafogo gosta tanto de mim. Nunca dei um título a eles -, dizia olhando para o nada buscando explicação.
Mesmo não sendo campeão em nenhum dos clubes que defendeu, tornou-se respeitado em alguns deles mas ídolo de verdade, só no clube de Marechal Hermes.
Não à toa, seu retrato está ao lado de monstros sagrados como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Jairzinho, Heleno de Freitas, Mauro Galvão, Wilson Gottardo, Túlio e muitos outros, no painel pintado bem em frente à sede de General Severiano.
Bela homenagem que era visto à distância pelo ex-meia, de passos curtos, olhos avermelhados e pele castigada pelo tempo.
A doce voz e o fino trato às pessoas, resistiam ao corpo franzino absorvido pelo álcool, que lhe comprometeu os rins.
Internado há cerca de dois meses no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, o camisa 8 do Botafogo nas décadas de 70 e 80 era apenas Milton da Cunha Mendonça, segundo seu prontuário médico no CTI.
Fechou os olhos em definitivo e deixou um legado de genialidade no Botafogo, Portuguesa, Palmeiras, Santos, Internacional de Limeira, Bangu, Al-Sadd, São Bento, Grêmio, Internacional-SM, Fortaleza, América-RN e
Barra Mansa.
Deixou, portanto, nos corações dos amigos, torcedores e familiares, um vazio em forma de saudade e o reconhecimento dos adversários:
– Mendonça, meu camarada, você lutou como poucos pela vida. Que tenha uma passagem iluminada, como foi na sua carreira. Ter sido driblado por um craque como você, pra mim, não foi nenhum demérito. Muita luz! -, escreveu Júnior em sua rede social.
O DIA QUE JAMAIS ACABARÁ
por Marco Antonio Rocha
A final da Copa América começou muito, muito antes lá em casa — mais ou menos com uma semana de antecedência, quando meu filho foi convidado para entrar em campo com as seleções de Brasil e Peru. Foi a partir daí que os dias para ele se arrastaram, as noites ficaram mais longas (às vezes em claro).
Mateus tem 9 anos e carrega no olhar o brilho infantil da imaginação. Futebol para ele é tema recorrente, seja nos desenhos que cria, seja nas pouco prováveis escalações de videogame, seja nas idas a São Januário. Mas essa decisão passou a pontuar sua rotina como nenhuma outra partida: no café da manhã se questionava se entraria com Coutinho, na ida para a escola se perguntava se estaria ao lado de Cebolinha, antes de dormir pensava como seria cantar o hino perto de Gabriel Jesus.
No dia da final, estávamos ele, eu e minha mulher às 11h em ponto no portão 3 do Maraca. Era preciso chegar cedo para ensaiar a entrada no gramado, o posicionamento, a saída… Cresci indo ao velho Maracanã e jamais meu coração ficou tão disparado quanto naquela manhã de 7 de julho. De alguma forma me via nele, de todas as formas me realizava nele. Sua emoção era minha, era nossa.
Mariana e eu almoçamos perto do estádio enquanto ele descobria que, a poucos quilômetros de casa, havia uma Disney de sonhos muito mais inimagináveis do que a americana. Lá pelas 15h segui para o plantão no jornal, minha mulher partiu para o Maraca. A esta altura Teteu e outras crianças já sabiam o que deveriam fazer, tinham feito fotos com a mascote e trocado ideia com… Cafu! “Poxa, você jogou muita bola, hein? Ergueu a taça da Copa do Mundo!”, elogiou o moleque que nasceu sete anos depois daquele gesto. Naqueles segundos com um craque, ele também era 100% Jardim Irene.
Às 16h50, a TV no trabalho mostra as duas seleções perfiladas no corredor que leva ao campo. Tento espichar a cabeça entre um jogador e outro para encontrá-lo. Passa Alisson, vem Guerrero, seguido por Arthur e Cueva. Por ser alto para a idade, a organização deixou Teteu para o fim, ao lado do peruano Advíncula — que tem nome de algum osso pouco conhecido no corpo humano mas que, desde então, ganhou significado especial. Começa o hino do Peru e o moleque, grande que só, quase esconde o Cueva. Aparece em primeiríssimo plano, sério, concentrado, mas não o bastante para evitar uma indefectível olhadinha de rabo de olho no telão. CR7 ficaria orgulhoso, não mais do que eu…
A bola rola e sigo trabalhando de ouvido ligado no andamento da decisão. O empate peruano me assusta, mas logo Jesus tranquiliza o coração de pai. Já no segundo tempo, Mari me manda uma mensagem: “Amor, não vamos cedo para casa, não. Estamos sentados perto da mãe do Coutinho. Teteu foi conversar com ela e em poucos minutos havia conquistado a família inteira. Ela disse para ele não ir embora, porque depois do jogo vai apresentá-lo ao filho”. Não acreditei, temi que algum problema no meio do caminho jogasse o final (ainda mais) feliz para escanteio.
Bem depois da entrega da taça, meu telefone toca. Era Teteu, aos prantos: “Pai, eu falei com o Coutinho, conversei com ele, ele fez uma foto comigo. Eu tô muito, muito feliz”, disse, entre soluços e sorrisos. Na foto com o ídolo, as lágrimas deixaram o olhar infantil com brilho ainda maior. O menino chorou copiosamente no fim de um dia que jamais acabará.