O BAILE DE BOLA E O BOCA SUJA DO TERRÃO
por Marcelo Mendez
(Foto: Custodio Coimbra)
A plenos suores corria a final de um Festival de Várzea num bucólico sábado á tarde em Santo André.
Por entre sonhos amiúde e ilusões curtas, la iam os homens dos times cujos nomes, pouco importa, tratemos aqui como o Time de Vermelho, contra um outro de camisa amarela espalhafatosa e bela, com mil símbolos e outros tantos patrocínios já inativos. Ambos estavam ali a pelear por uma centelha de vitórias em meio a um terrão que subia ali no campo do São Paulinho. E vejam bem caros leitores:
Um Festival de futebol de várzea.
O que faz com que homens maduros e suas chuteiras coloridas, se preparem e saírem de casa num sábado à tarde para jogar uma final de Festival de várzea? O olhar apurado sobre essa situação já valeria mil laudas. Afinal de contas, falamos do que flerta com o épico, com a real grandeza das coisas.
Em um mundo onde tudo pode valer mais que a poesia, onde se põe preço em absolutamente todas as coisas, o fato de jogar futebol por apenas um amor intrínseco e inexorável já é grande. É quase que um ato revolucionário. Dessa forma, os times foram a campo.
No terrão pleno, tínhamos um time sobrando em campo; O Time de Vermelho. Seus meias passeavam em campo e seus habilidosos atacantes açoitavam com dribles e canetas, os pobres e taciturnos zagueiros do Amarelo Espalhafatoso.
Havia, portanto no Time de Vermelho, aquela petulância que os grandes do mundo ludopédico tem quando enfrentam os menos favorecidos de recursos técnicos. O que se via no Baetão era muito mais que um baile de bola de um time sobre outro.
Era uma total esculhambação de bola!
Durante o primeiro tempo inteiro o que se viu foi um time bailando e o outro, aos solavancos, apenas sofrendo.
Nesse momento, com a força da voz de um milhão de Howlin Wolfs, se ouve um grito vindo da grade do Baetão:
– Juiz arrombado, maldito, desgraçado, apita essa porra direito… Faz alguma coisa!!
Estranhei. Nada havia acontecido para tamanho descalabro contra Sua Senhoria o árbitro do match. Nenhum lance sub judice. Decidi chegar perto do alambrado.
Vi que na torcida do outro time estava nosso xingador. Vociferando mil pragas contra o árbitro, rogando demônios e pronunciando toda a pornografia que vinha à mente, lá estava o torcedor a xingar. Com o gol feito pelo Time de Vermelho então, aí que ele disparou todo um cordel de xingos. Nesse momento um outro chamou sua atenção:
– Mas a zaga toma tudo que é gol e você vai xingar o juiz? Ta doidão?
Sem pestanejar, o xingador respondeu:
– Oras, tamo tomando um vareio de bola, não vamos reagir, o time deles é melhor… Tenho que ver se dou outro jeito, po. To no desespero e vou xingar mesmo! – Disse o sujeito, enquanto seguia seus impropérios de drama e desespero. Aliás, quanto a isso nada demais. São coisas fundamentais.
Afinal de contas, sem essa porção necessária de desespero, o futebol seria um folhetim qualquer. É o drama que faz com que um jogo de futebol de várzea passe então a ter a grandiosidade épica que há no primeiro beijo na boca, dado por um adolescente ex-virgem.
É o que explica nosso amigo xingador.
Seus xingamentos no alambrado o elevavam a um plano onírico, dionisíaco e libertário, capaz de livrá-lo por completo das amarras da razão, dos fatos, dos frios fatos. A privação de sentidos atingida por ele com seu relicário de impropérios o fez romper com a realidade, lhe causou a privatização de sentidos necessária para suportar a dor de ver seu time sendo judiado ali em campo. Foi por alguns momentos sua única chance de ser feliz ali naquele estádio.
Olhando para ele, tive certeza absoluta que ele foi… Foi feliz.
RONALDO É UM FENÔMENO
por Serginho 5Bocas
Ronaldo era uma máquina programada para matar, o jogo. Dos jogadores brasileiros que vi jogar, foi possivelmente o que mais se aproximou do rei Pelé no cenário mundial, pois também foi a quatro Copas mas em vez de três, venceu duas, em contrapartida fez mais gols em Copas, conseguindo inclusive uma artilharia, é muita coisa para quem jogou em alto nível por um tempo bem menor, por conta dos problemas físicos.
Mas por que Ronaldo era chamado de fenômeno?
Porque em 1993, aos dezesseis anos, já era o principal jogador do time do Cruzeiro e foi o artilheiro da equipe no Campeonato Brasileiro, inclusive fazendo 5 gols em uma partida contra o Bahia do “goleirassu” uruguaio Rodolfo Rodrigues. Além disso, marcou 44 gols em 47 jogos pela equipe mineira.
Porque no ano seguinte chamou a atenção do técnico Parreira que acabou convocando-o, e logo em seguida estreou na seleção e marcou contra a Islândia, seu primeiro gol, credenciando-se para ir a Copa dos Estados Unidos como reserva de Romário, onde sagrou-se campeão do mundo pela primeira vez, apesar de não jogar um minuto sequer.
Porque foi para o PSV da Holanda, fez 54 gols em 57 jogos e jogou tanta bola que chamou a atenção do Barcelona rapidamente e por isso foi comprado sem nem ter tempo de aumentar seus números e feitos na Holanda.
Porque foi rei na Espanha muito jovem, jogando pelo Barcelona, fazendo uma super temporada que o credenciou para receber seu primeiro título de melhor jogador do mundo ainda aos 20 anos, após ter feito inúmeros gols de placa, como o contra o Compostela, quando arrancou do meio de campo sem ninguém conseguir pará-lo, feito uma locomotiva a todo vapor.
Porque ao chegar no duro campeonato italiano, logo em sua primeira temporada, foi o estrangeiro que fez mais gols na temporada de estreia até então, anotando 25 gols, superando o recordista anterior, que era ninguém menos que Zico que detinha a marca de 19 gols desde 1983. Aliás, foi por essa razão que recebeu a alcunha de “fenômeno”, muito merecida por sinal.
Porque foi considerado o principal culpado pela derrota do Brasil na Copa de 1998 na França, sendo chamado de amarelão, e mesmo após ter ficado quase dois anos sem jogar por motivo de contusões gravíssimas nos dois joelhos, quando ninguém mais acreditava, voltou em grande estilo, como uma ave fênix, sendo campeão do mundo de 2002 na Coréia/Japão, sendo o artilheiro da competição, além de ter abocanhado todos os prêmios de melhor jogador do ano de 2002, uma aula de superação.
Porque mesmo quando visivelmente fora de forma em 2005, conseguiu dar suas arrancadas fulminantes e deixar sua marca com seu estilo inconfundível, nas eliminatórias da Copa de 2006 contra a Argentina, quando arrancou três vezes e sofreu três pênaltis, marcando os três gols e decidindo a partida.
Porque ainda teve fôlego de ir a sua última Copa, a de 2006 e lá fez três gols, com direito a pedalada no goleiro gânes, quebrando o recorde de gols em Copas naquela época, que depois foi superado pelo alemão Klose.
Que com todo o excesso peso e já em seu ocaso, conseguiu fazer gol no São Paulo, ganhando na corrida desde o meio de campo do zagueiro Rodrigo e vencendo o goleiro Bosco.
Porque apesar de todas as contusões que abreviaram sua carreira, tornou-se o segundo maior artilheiro da seleção brasileira com 67 gols, a frente de Zico e de Romário e atrás apenas do rei Pelé, além de ser o segundo maior artilheiro da história das Copas do Mundo com 15 gols em 3 copas jogadas.
Ronaldo era diferente e se distinguia como centroavante, pois ninguém no mundo teve estilo parecido, ou fez jogadas rápidas e inteligentes com a qualidade que ele produziu. Ronaldo conseguia carregar a bola colada aos seus pés em altíssima velocidade, aliada a dribles curtos e muitos gols. Só mesmo um fenômeno poderia fazer coisas deste porte e ser tanto em tão pouco tempo.
Ô saudade boa da bola indo na direção da locomotiva e ela arrancando em direção ao gol ou alguém já se esqueceu da sua atuação contra a Holanda na semifinal da Copa de 1998? Impressionante como os zagueiros Stam e Frank De Boer ficaram loucos com o moleque de 21 anos.
Sinceramente, não fossem os problemas nos joelhos nem sei aonde poderia ter chegado…queria muito saber!
TODO MENINO É UM REI
por Eliezer Cunha
Um sonho de menino, jogar pelo rubro-negro. Um sonho de adolescente, Jogar no Maracanã. Um sonho de jogador vestir a camisa dez do manto sagrado. Nesta minha existência poucas coisas me impressionam mais do que possuir um sonho e realizá-lo quando adulto. Temos vários casos em que o sonho se transformou em realidade, e, com Arthur Antunes Coimbra não foi diferente. Começou como Galinho de Quintino jogando pelas ruas de seu bairro e se transformou em um Rei, conquistado toda torcida Flamenguista, se transformando no maior artilheiro do Estádio Mario Filho e da história do clube.
Ele quando menino passava pelo Maracanã e sonhava em um dia balançar as redes daquele Gigante. Dar alegria simplesmente a enorme nação rubro negra. Inverteu todos os históricos contra o clube. Fez o que era para nós flamenguistas o quase impossível, ter o maior número de vitórias frente ao Botafogo. Claro que em suas veias corriam o DNA de uma família de grandes jogadores, a família Antunes.
De menino a Rei, e Rei da maior torcida do país, Rei do Maracanã, Rei dos melhores princípios éticos, familiares, esportivos e profissionais. Trabalhava incondicionalmente nos treinamentos, permanecia no clube após os treinos para aperfeiçoar os princípios básicos de bater faltas e pênaltis. Os maiores agraciados com a sua existência também foram seuscompanheiros de clube, que viam nele uma referência de jogador. Seus centroavantes, principalmente Claudio Adão e Nunes que terminavam sempre na segunda colocação como artilheiros dos campeonatos cariocas. Não se opunha em fazer um gol se tivesse um jogador em melhor colocação para fazê-lo. Subiu para o profissional em um tempo de grandes craques, lutou para permanecer no time e conquistar a tão cobiçada camisa 10 da Gávea. Louvado por vários artistas que acharam nele a inspiração para traduzi-lo em música.
Fica aqui enfim minha homenagem a um dos maiores jogadores que pessoalmente vi atuar. Inspirado nele também tinha o seu mesmo sonho, porém, a minha camisa 10 era colocada em uma simples camisa de qualquer cor pela minha mãe costureira. Era o suficiente para me tornar um Rei também.
Todo Menino é um Rei, pelo menos enquanto sonha, mas, poucos possuem a capacidade de transformar o seu sonho em realidade.
GÊNEROS E REMUNERAÇÕES
por Idel Halfen
A Copa do Mundo de futebol feminino jogou luzes sobre um assunto que constantemente vem rondando as discussões acerca do esporte: a equiparação entre gêneros no que tange à remuneração.
Antes de desenvolver o artigo, vale deixar registrado que conceitualmente sou contra esse tipo de imposição, até porque ela criaria uma limitação para as mulheres, ou seja, ficariam restritas a alcançar no máximo algo similar à remuneração masculina, quando na verdade deveria se deixar o mercado regular, havendo situações em que seria mais apropriado receberem mais.
Não custa lembrar que as atividades econômicas buscam prioritariamente a lucratividade e, como tal, a atenção à estrutura de custos é fator decisivo. Nada adiantará impactar os custos com salários se as receitas não compensarem.
Por outro lado, fica evidente que faltam investimentos para que a indústria do esporte feminino atinja o grau de maturidade que hoje existe no masculino, salientando que em algumas modalidades isto já é uma realidade, onde se encontra mulheres que ganham mais do que homens no mesmo esporte.
O investimento mencionado, no entanto, não pode ser visto como uma mera aplicação de verba em competições ou mesmo divulgação destas. Antes de qualquer aporte é preciso que se reflita sobre o seguinte questionamento: será que o produto “esporte feminino” tem uma formatação adequada?
Vemos, por exemplo, no voleibol a rede do feminino ter uma altura inferior à da masculino, isso certamente dá mais qualidade ao evento. Na mão inversa, temos a mesma altura para as tabelas de basquetebol independentemente do gênero. Claro que existem limitações que não permitem algumas adequações, entretanto os formatos precisam ser avaliados em prol de uma maior atratividade que permita melhores receitas e consequentemente remunerações.
No universo corporativo esse tipo de discussão também é bem frequente, chegando ao ponto de haver uma espécie de cota por gêneros em diretorias e conselhos em algumas empresas, o que também não concordo se o argumento da “igualdade” nortear essa exigência, contudo, acho importante que haja diversidade para que as discussões e debates englobem o maior número possível de visões.
Creio que ninguém tenha dúvida de que existam diferenças entre os gêneros, porém isso não significa que existam supremacias de características ou de conjuntos de características. O que ocorre é que, dependendo do momento, alguém é mais apropriado para certa posição, independentemente do gênero.
Os pleitos de justiça são válidos, não cabe discussão, todavia, qualquer iniciativa que seja tomada deve vir com a visão de longo prazo, de modo a permitir uma equidade de oportunidades sustentável e não apenas um modismo de contestação.
FESTA DO FLUMINENSE
A equipe do Museu da Pelada foi até as Laranjeiras para celebrar o aniversário de 117 anos do Fluminense e fez questão de convidar os parceiros Dario Batalha e Evaldo Santana para comandar a resenha com grandes ídolos do tricolor.
por Evaldo Santana
Queria agradecer imensamente a equipe do Museu pelo convite de participar da festa do meu time de coração. Fiquei emocionado de encontrar craques de várias gerações e inclusive o Luizinho Índio, que jogou comigo no dente de leite do pavunense. Fui pego de surpresa ao ser convidado para entrevistar o lateral Marco Antônio e o craque Carlos Alberto Pintinho, dois ídolos da época da Máquina Tricolor.
Por fim, a satisfação do meu filho Felipe Santana de participar do evento e conhecer pela primeira vez aas dependências do clube. Outra satisfação foi ver a participação do meu amigo Luiz Angu, o melhor camisa 10 da baixada, na roda de pagode cantando com meu amigo de infância Luizinho indio.
Um dia inesquecível na minha vida!