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ROMANTISMO

por Rubens Lemos


Ninguém ouse duvidar de um romântico. Ser construído de paixão, irracionalidade e sentimento aberto. Não sou do tipo que ainda manda flores, embora sofra por amor e chore de saudade. Na vida e no futebol. E é tocando de primeira que vou exaltar o técnico Fernando Diniz, um meia hábil que escolheu de profissão de fé, o jeito belo de fazer um time jogar. Ah, foi demitido do Fluminense. O time do Fluminense, precário, ao menos, trocava passes.

Ia para a frente, com habilidade, buscando a vitória e não ser escravo da ditadura do 0x0. Fernando Diniz é chacoteado pela mídia tão tosca quanto aqueles que analisa. Um comentarista, que não vou pronunciar o nome por não saber, de tanta petulância diante de câmeras de TV por assinatura, decretou, para seus telespectadores, que o “romantismo acabou”. Imagino que transe por smartphone.

Recebeu uma senhora porrada, elegante, esnobe e refinada, do mais rebelde entre os românticos: Paulo Cézar Caju, o Paul Cézar, Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, condecorado, dois anos atrás, pelo então presidente François Hollande. PC, tricampeão mundial em 1970 e desbocado, ironizou: “O jornalismo esportivo está bem parelho com o futebol atual. Hoje um time jogar bonito é visto como romantismo. Quer dizer que nosso futebol permanecerá nesse nível? Que devo achar legal a convocação do Fágner? Por falar em convocação, Tite premiou a indisciplina ao chamar Neymar.”

Romântico é o drible. É o beijo. Romântico é o sorriso. A entrega. Romântico é o lançamento. O desejo. Romântico é o gol. O ápice. Românticos são irreversíveis. Plantam sementes, na fé infinita no florescer. O Brasil só foi Brasil quando o futebol significava amor. A vida seguia a alegria da bola.

Bozó

bozó

Luiz Augusto de Aguiar ficou conhecido pelo futebol como Bozó. Campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani Futebol Clube, eternizou seu nome na história do clube e do futebol por ter realizado um dos feitos mais inéditos e que dificilmente será repetido, levar um time do interior do estado de São Paulo ao posto mais alto do futebol nacional.

Iniciou sua carreira no São Bento de Sorocaba, conheceu o Brasil de norte a sul jogando por 11 clubes durante a carreira. Ao chegar no Guarani, assistindo da arquibancada ao jogo entre Guarani x Bahia, foi recepcionado por Macedo com um golaço que mostraria que a disputa por uma vaga no time seria uma verdadeira batalha de craques. Gol que fez Bozó até a duvidar se iria ter uma oportunidade como titular do time, mas com muito trabalho e paciência como ele mesmo conta, recebeu a sua chance ao término da primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1978. E, quando entrou, não saiu mais do time.

O Campeonato Brasileiro de 1978 trouxe muitas mudanças, como o número de equipes participantes (74), a implantação do sistema de jogos ida e volta nas fases finais do campeonato e também fora a última a edição de um campeonato em que a vitória poderia valer dois ou três pontos dependendo do placar.


Em um dos jogos de maior destaque durante a campanha do título Bugrino contra o Internacional de Porto Alegre, a imprensa gaúcha tirou sarro do ataque formado por Capitão, Careca e Bozó, chamando-o de ataque de riso. O Guarani fez uma bela partida e venceu o jogo por 3 a 0. Credenciando-o como forte candidato ao título brasileiro daquele ano.

Deixando para trás ainda outros gigantes do futebol como o Vasco na semifinal e o Palmeiras na decisão, o clube chegou ao título e também conquistou uma vaga na Copa Libertadores. Bozó destaca a união e a qualidade do time que era recheado de craques onde em três anos vestindo a camisa do Guarani, perdeu apenas duas partidas.

Durante a entrevista, dentro do estádio que o consagrou dentro das quatro linhas, mostrou todo carinho e gratidão que tem pelo time do coração. Ainda nos brindou com uma história curiosa em um jogo contra a Portuguesa em que sentou na bola, causando o maior sururu como ele mesmo define. E diz com toda certeza que o Guarani daquela época era uma máquina!
 

 

ASSIM NASCEU UMA MÁQUINA

por Zé Roberto Padilha


Aconteceu com a gente, em 1975, está acontecendo com o São Paulo, nos dias de hoje. De repente, um elenco promissor, que passaria outra temperada sem brilho, cumprindo tabela e se equilibrando entre o G4 e Z4, recebe um ser de luz. E muda a história de todo mundo. O nosso, chamava Roberto Rivelino. O do São Paulo, invicto desde que desembarcou, se chama Daniel Alves.

Pergunte a um ator teatral qual o seu desempenho quando entra em cena e encontra a casa cheia. E quanto sua atuação desaba quando a encontra vazia. Para nós, jogadores do Fluminense FC, desde o primeiro coletivo de sua apresentação, realizado no CEFAN, ficou claro que teríamos que buscar o nosso melhor para estar à altura do protagonista que chegava. À altura daquele monte de gente que começava a se espremer nas arquibancadas.

Nem eu ou Abel Baga, Rubens Galaxe, Cléber, Luiz Alberto, Carlos Alberto Pintinho, Herivelto, Edinho, Té, Marinho e Nielsen imaginávamos que poderíamos ir tão longe. Melhorar o nosso desempenho seguindo o elástico de um cometa.


E as peças foram sendo lapidadas, personalidades insufladas, autoestimas elevadas para nos colocarmos à altura dos novos desafios: saía o Hotel das Paineiras, inaugurávamos o Hotel Nacional. Voos rasteiros, em direção a uma gloriosa excursão pelo sul do país, foram trocados pelo Jumbo da Air France rumo ao Torneio de Paris. Tudo veio muito rápido. Os títulos. Uma performance que deu cria. E entrou para a história.

Daniel Alves tem feito o mesmo com o elenco do São Paulo, onde Pato, acreditem, virou Faisão. E todos passaram a jogar no seu limite para provar que merecem estar ao seu lado.

Desse jeito, o nosso Fluminense se tornou uma máquina. Desse jeito, com um maquinista deste quilate, com a camisa tricolor e o número 10 às costas, o São Paulo começa a andar nos trilhos. E sonhar o sonho sonhado de se tornar um time inesquecível. Como foi o nosso.

Falta o Nelson Rodrigues, que escrevia, João Saldanha, que comentava, Armando Nogueira, que imortalizava. Mas aí seria covardia. Querer no comando de um clube um outro Francisco Horta.

NATURALIZAÇÃO OU ESCULHAMBAÇÃO?

por Israel Cayo Campos


Para o futebol, esse negócio de naturalização virou uma esculhambação! 

Daqui a pouco teremos Brasil Verde Amarelo x Brasil naturalizado chinês. 

A FIFA tem que impor uma regra nisso. Mas se omite!

Pelo menos se até os seus avós nasceram em um país, faz sentido! Agora, só porque o cara passou cinco anos em uma determinada nação já pode ser chamado a defendê-la? Aí perdeu a lógica! 

Perde-se também o total sentido do duelo entre países. Afinal, algumas seleções só tem os torcedores como nascidos naquele solo? 

Acabem logo com a Copa do Mundo. Que sentido há em uma competições entre nações se as seleções são transnacionais?

Tem jogador que nem o idioma do país sabe, mas joga pela Seleção. Duvido que Elkeson e Ricardo Goulart falem chinês fluente… Pera lá…

Aí o pessoal vai falar da França em 2018. Que ganhou com muitos africanos.

Primeiro que a França não é exemplo de nada em questões sociais! Vide o que anda fazendo com seus imigrantes!

Segundo que todos os 23 jogadores que ganharam a Copa do Mundo ou nasceram ou tem pais ou avós que lá viveram. O que faz sentido! Há uma raíz que liga determinado jogador ao território. Ligação essa que não custou um contrato caro das federações com seus jogadores naturalizados!

Se pensarmos dessa forma Pelé não poderia jogar pelo Brasil, mas por algum país de matriz africana, por exemplo. O que discuto não é poder se naturalizar. Mas que tal situação tenha um sentido, que não seja o financeiro! 

O que não dá é um cara que joga 3, 4 ou 5 anos num país, mesmo sem ter nem um tataravô nascido lá, defender as cores de um povo que não é o dele! Até porque nas primeiras férias 99.9% desses naturalizados vão a suas terras matrizes! 

Ou alguém acha que o maranhense Elkeson tem raízes chinesas? Isso é transformar as seleções nacionais em clubes, que contratam quem “lhes dão” na telha! Tudo isso virou um grande balcão de negócios! 

Que façamos seleções continentais então! Pois as multinacionais já disputam torneios e jogos eliminatórios a todo tempo! 

Do jeito que o futebol brasileiro anda mal das pernas, vamos ter um campeão nascido no Brasil antes que o próprio Brasil seja campeão do mundo novamente! 

Como ocorreu nos anos 1930, com o ex-corintiano Anfilogino Guarisi, o “Filó”, campeão do mundo com a Itália em 1934. 24 anos antes do Brasil conquistar seu primeiro título mundial em 1958! 

Naquele período, o jogador podia defender até três países em jogos oficiais, como o caso de Di Stéfano! Ou seja, o cara se naturalizava por ser muito bom de bola!

Hoje, o “cara” e seus empresários percebem que a concorrência em uma posição é muito alta e aí procuram naturalizar seus atletas em outros países que possuem carências nesse mesmo espaço do campo. Claro, por uma boa verba! Ou seja. Inverteu o papel. O cara é ruim de bola para sua seleção e aí se naturaliza! 

Virou um comércio que faz não existir o menor sentido a existência de jogos entre países. Pois o senso de nacionalidade já não existe mais!

VEVÉ, O DIDI DA VÁRZEA

por Jonas Santana


Charge: Eklisleno Ximenes

Ele era tão rápido quanto um galgo correndo atrás do coelho e tão ágil como um gato quando se tratava de se esquivar das pancadas desferidas pelos adversários contra suas finas canelas. Era verdadeiramente um artista da bola.

Com a elegância de um Didi (clássico meia do Botafogo na década de 60), Vevé desfilava nos campos de pelada suas habilidades. Querido pela torcida e pelos companheiros de time, o menino de jeito moleque aproveitava os domingos pela manhã para povoar o campo – estádio para alguns, com seus dribles desconcertantes e suas arrancadas fulminantes que, invariavelmente   resultava em tabela com Dirran, Zé Rosca ou o grande Nêrroda, amigo e companheiro de pelada.

Ele só sossegava durante a semana, quando dividia seu tempo entre o trabalho (era office boy de uma empresa de entrega), a escola onde estava terminando o científico (ensino médio) e  Fabiane, filha de seu Valdivino, mestre de obras mais sabido que muito engenheiro e quase o construtor da maioria das reformas das casas daquele bairro.

Quem olhasse para aquele rapazola não imaginava que ele já estava na casa dos seus vinte e poucos anos, pois sua carinha de menino, com bigodinho de recém chegado à adolescência jamais denunciaria um jovem cheio de sonhos e que chegou inclusive a treinar no time profissional da cidade, mas a necessidade falou mais alto e ele teve que trabalhar para ajudar sua mãe, abrindo mão dos seus sonhos mas não de sua habilidade com a bola.

E era nos domingos que Vevé extravasava  através do futebol todos os seus sonhos e projetos. Ali, no campo de futebol situado no fundo do conjunto habitacional onde morava ele se realizava quando a galera, depois de um drible desconcertante e adversário no chão entoava “olé, olé, olé com a bola no pé só Vevé, Garrincha e Pelé. E  o jovem sonhava… E corria… E driblava… E sonhava até o outro domingo.

Mas Vevé também tinha suas peripécias no futebol. Contam que numa ocasião o time foi jogar no interior e ele e Pedro Preto resolveram  fazer um “tour’ pelas redondezas. Pedro Preto era o único do grupo que tinha ido de carro pois tinha que voltar pra trabalhar depois do  jogo. E os dois saíram e foram num baile na cidade vizinha. Lá pelas tantas  o carro quebra e eles só chegaram quase na hora do jogo, com penas de galinha pelo  corpo, fedendo a titica, esbaforidos, ofegantes, com sono. Quando o treinador  perguntou porque não vieram de carona eles explicaram que somente o carro das galinhas foi que se compadeceu deles e o único lugar vago no caminhão era junto das gaiolas onde se transportavam as aves. 

E era nos jogos de interior que eles sempre ganhavam um “ troquinho a mais”, principalmente quando era torneio e os nossos astros participavam. 

E foi num desses torneios que o fato aconteceu. Neste dia nosso atleta estava  com a “chuteira nos cascos”, arrebentando com a bola no pé. O campo era daqueles típicos campos de interior, com as marcações feitas  por troncos de coqueiro cortados e fincados nas linhas de escanteio, meio campo e laterais. Era um campo aberto e toda a  torcida ficava em volta, formando um “caldeirão de gente” gritando e torcendo, numa agitação digna de feira de interior. 

De repente, a turba começa a abrir espaços e a gritaria aumenta. Uma vaca recém parida, agitada com o barulho se solta e resolve interromper o jogo. Ora, a bola estava com o time de Vevé e o animal, incontinenti, partiu para cima, como se fosse mais um jogador do adversário. Mas o jogo estava muito “pegado’ e ninguém queria parar.  E a bola corria de um lado para o outro, e a vaca atrás. O jogo estava se tornando uma tourada, cada um procurando se esquivar do animal que parecia  estar gostando daquilo. E a torcida indo a loucura e gritando “olé” enquanto  os dois times proporcionavam  um espetáculo  surreal! Jogo contra o time adversário e contra a vaca!! Algus dizem que foi propositado!! Mas ninguém se atreveu a provar até hoje. 

E eis que Dirran, numa  desabalada carreira fugindo do bovino,  toca a bola para Vevé, que estava posicionado na ponta.  A vaca, qual  Lila em suas disparadas  contra os  seus oponentes, parte para cima de Vevé  buscando roubar-lhe a pelota, com a chifraria baixada e pronta para  desferir o golpe, fosse no jogador, fosse na bola.  E mesmo diante dos gritos de “cuidado!!! É vaca parida, nosso craque não perde a oportunidade. 

Quando o animal se aproxima, o jogador ginga na sua  frente e, enquanto a vaca observa atônita e bufando  aquele  ser espigal  joga a bola por lado ao tempo em que corre pelo outro, dominando a pelota  e partindo em disparada, seguido pela vaca que, refeita do inusitado drible, mais velocidade imprimiu a sua furiosa corrida, convicta de que lograria êxito no intento de acabar com o jogo.  E foi com esse drible na vaca  que acabou o jogo,  pois naquela altura ninguém, nem jogadores nem torcedores, ficou para registrar  o feito.

Todos correram e a vaca idem. O resultado do jogo menos importou e sem o episódio do drible de Vevé.       

Depois desse  evento, Vevé ainda perambulou por alguns times no interior, mas voltou a sua vidinha de segunda – feira, se formou e virou empresário no ramo de carnes.

 

Jonas Santana Filho é  gestor esportivo, escritor, funcionário público, apaixonado por futebol.

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