PEDRO PRETO. O FOGUETE NEGRO DA LATERAL ESQUERDA
por Jonas Santana
Foto: Alex Ribeiro
“Esse lateral corre demais!!”. Era assim que todos diziam quando Pedro Preto pegava a bola e saía em louca disparada pela linha limítrofe do campo. Os torcedores diziam que ele, pela sua imponência em campo, assemelhava-se ao célebre Marco Antonio (grande lateral esquerdo da seleção de 70).
Entretanto, quando baixava a cabeça e imprimia velocidade máxima, ninguém segurava aquele foguete negro até ele chegar na linha do fundo e cruzar para o meio da área, ainda concentrado na bola que conduzia e com quase um palmo de língua de fora, que era rapidamente recolhida e iniciava a carreira de volta. Era desse jeito que Pedro Preto (apelido ganho por motivos óbvios) fazia suas partidas no campo do fundo do conjunto habitacional cuja atração maior era o time da rua A.
Aos domingos, o campo, ou estádio, como faziam questão de frisar alguns moradores, ficava pequeno para assistir as exibições da equipe. Era um verdadeiro show, bem diferente do pachorrento futebol de fim de tarde transmitido na tevê.
E Pedro Preto se destacava, principalmente quando danava a correr. Viesse quem viesse, não escapava do talento, principalmente Orlando Touro, sempre com as travas da chuteira a tentar escrever o nome nas canelas daquele negão liso como pau de sebo e ágil como um gato em perigo. Seus dribles eram desconcertantes e não se detinha por nada quando a bola lhe era lançada e se tornava refém dos pés do “meia-colher” (ajudante de pedreiro), craque nos fins de semana. Ele, juntamente com seus parceiros, trazia àquela comunidade uma esperança, talvez a única, refletida nas jogadas e alegrias voláteis das partidas de futebol.
E o nosso atleta também gostava das excursões, comuns ao time e sempre ao interior, onde, nos campinhos de grama tratada e aparada pelos animais, se apresentava em espetáculos apoteóticos de futebol, coisa rara nos gramados “profissionais” modernos.
E numa dessas viagens, como sói acontecer, sempre há um local ou um fato inusitado a permear a vida daquele time. E com nosso lateral não foi diferente..
Certa feita, jogando num desses campinhos, onde a linha de fundo de um dos lados do campo era adornada por pés de jurubeba e a outra por um descampado arenoso, que ficava apinhado de gente para ver o time jogar, Pedro foi protagonista de um fato peculiar.
Como é sabido, a jurubeba é uma planta conhecida por suas propriedades medicinais, sendo famosa pelo seu “lambedor” (xaropes feitos com a planta, açúcar e água, que serve para combater diversos males e muito utilizado pelos nossos avós). É conhecida também pelos seus espinhos curvos e pontiagudos que, dado o local onde estava plantada, se tornara vilã e responsável pelo término intempestivo das partidas, como também pelos acidentes com inúmeros jogadores que se aventuravam por aquele ”jurubebal”, seja correndo dos bois que vez ou outra invadiam o local da peleja o campo, seja para buscar a bola que muitas vezes caía no local. Sem contar que rentes aos pés de jurubeba brotavam urtigas, conhecidas pelas suas qualidades.
O fato é que nosso atleta recebera de Dirran uma bola, como ele mesmo dizia: “ao gosto”; disparando da lateral do meio campo, ligeiro como leopardo em direção à presa, com o objetivo de chegar mais próximo da linha de fundo e executar seu ofício: cruzar a redonda para o chute ou cabeçada certeira de Nêrroda ou quem ali se apresentasse.
E lá vai Pedro Preto, focado, cabeça baixa quando encontra seu primeiro adversário. Sem diminuir o ritmo ou sequer levantar a fronte, dá um toque de lado e o seu algoz fica atônito, sem saber por onde ele passara. De igual modo o segundo e nosso craque imprime ainda maior velocidade a sua corrida e, assim, com um toque na bola, se aproxima da linha de fundo. Cada vez mais veloz e mais perto…
Vencidos os seus oponentes, intensifica mais ainda sua corrida, e quando se prepara para alçar a pelota à área adversária, ignorando o insistente apito do juiz, sente como se alguém lhe puxasse a camisa e, para se livrar do pretenso zagueiro, alça maior velocidade e, num átimo, toma uma trombada que o fez perder a bola e o senso. Levanta a cabeça e se dá conta de que havia ultrapassado e muito a linha de fundo e se lançado no meio dos pés de jurubeba e caído entre as urtigas.
Todo arranhado, camisa rasgada, ainda zonzo, corpo coçando por causa das urtigas e dolorido por causa do tombo, se levanta e, sem perder a classe faz sinal de substituição, prontamente atendido.
Deste dia em diante o time perdeu um lateral, mas ganhou um excelente meio campo.
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.
Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50
REINALDO, O QUE SERIA O MELHOR DEPOIS DE PELÉ
por Luis Filipe Chateaubriand
Reinaldo Lima, o Rei da torcida do Atlético Mineiro, é um dos maiores jogadores da história de nosso futebol.
Dono de um futebol extremamente técnico e envolvente, aliava rara habilidade com a bola a um raciocínio para decidir lances fora do comum.
Seu domínio de bola incrível resultava em dribles desmoralizantes, lençóis precisos e conclusões a gol certeiras.
Fazer gols de cobertura, especialmente com “paradinha” à frente dos goleiros, tornou-se uma de suas maiores especialidades.
Um momento marcante de sua carreira foi em 1976, quando seu Atlético bateu o grande Cruzeiro, campeão da Libertadores da América, pelo título do Campeonato Mineiro. Comandados por Reinaldo, os garotos do Galo deram um “chocolate” no consagrado rival mineiro.
No ano seguinte, 1977, o Atlético Mineiro fez campanha excepcional no Campeonato Brasileiro, sendo finalista, e, embora não tenha conquistado o título, merecia. Reinaldo fez inacreditáveis 28 gols em 18 jogos.
Em 1980, o Rei ajudou o Galo a chegar a nova final do Campeonato Brasileiro e, nos dois jogos finais, azucrinou a defesa do Flamengo, tendo feito três gols nos dois jogos – um deles com distensão muscular e mal conseguindo andar!
Na Seleção Brasileira, foi injustiçado duas vezes. Na Copa do Mundo de 1978, ao ser barrado. Na Copa do Mundo de 1982, ao sequer ser convocado.
Ainda assim, fez grandes jogos pela Seleção. O maior deles foi contra a Bolívia, na altitude asfixiante de La Paz, em 1981, onde só faltou fazer chover…
Este redator teve a oportunidade de estar pessoalmente com Reinaldo, no final dos anos 1980, em uma história que ainda será contada. Foi uma grande emoção, estar com um dos maiores jogadores que viu em ação – aquele que Zico disse que, não fossem as graves contusões que teve ao longo da carreira, seria o jogador que, tecnicamente, mais se aproximaria de Pelé.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com
O ARTICULADOR SOBERANO
por Eliezer Cunha
Competições, aonde elas não existem nós as inventamos. Fazem parte de nossas vidas competirmos; com os nossos vizinhos, um amigo de classe ou um namorado de uma ex. Desta forma é uma das molas que movimentam e fazem parte de nossas rotinas.
Durante a minha adolescência no pacato subúrbio, nos reuníamos, amigos de pelada, nas esquinas, nas beiras dos campos, nas quadras de salão de futsal, para discutirmos, sobre as inúmeras vitorias do Flamengo nos finais de semana (70/80), mas, sobretudo, discussões que tendiam a igualar jogadores, quanto a forma de atuar e/ou como sendo quem seria o melhor, ou seja, quem é mais importante jogador dentro do elenco? Evidentemente, nosso Galinho ficava de fora das discussões, mas tinham dois que sempre vinham à roda para as comparações, sendo eles: Adílio e Tita. Confesso que minha simpatia era enorme sempre pelo Tita, porém também existiam aqueles outros torcedores que eram pró e evocavam por Adílio.
Não venho aqui como também não possuo competência para tal, em dissecar sobre a carreira deste grande atleta chamado Adílio. Outros já o fizeram com maior maestria. Vim, sim, me retratar a um craque e reparar minhas opiniões que tinha no passado.
Hoje consigo enxergar o Flamengo sem os seus maiores ídolos. Hoje consigo enxergar substitutos para Andrade, Tita, o grande Zico, os laterais e os vários centroavante que tivemos, mas, hoje não enxergo e não vejo um substituto para Adílio. A sua conexão com o ataque não tinha preferência de lados, a sua visão era 180º do meio de campo pra frente, poucas bolas perdidas e muito poucos passes errados.
Eram tão poucos afastamentos por contusão que sinceramente não me lembro de um sequer. Na decisão do mundial no Japão, foi ovacionado por um jogador do time inglês, classificado como liso, ágil, vibrador, visão de jogo, etc. Talvez tenha sido uma das maiores injustiças do futebol brasileiro não ter sido titular da seleção do Brasil da época, mas, para um menino franzino, pobre, que um dia saiu da comunidade de uma certa ‘Cruzada’ para conquistar um lugar ao sol daquele grande e elitista time já o satisfazia. Talvez tenha o faltado os olhos azuis, a cor amarelada da pele e os belos cachos louros bem vistos da época.
Jankel Schor
SENHOR EMBAIXADAS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: Leandro Costa | fotos e vídeo: Daniel Planel
Quem frequentou o Maracanã até o ano de 2013 certamente se lembra do Vovô das embaixadas, Jankel Schor. Dono de uma habilidade invejável, esse senhor de 92 anos nos remete as nossas melhores memórias afetivas do antigo Maracanã.
Sergio Pugliese, Jankel Schor e Leandro Costa
Vê-lo fazendo embaixadas de um lado para outro do gramado no intervalo das partidas era, de fato, uma atração à parte no jogo, ou melhor, ouso dizer que aquilo era o verdadeiro espetáculo. Perco a conta de quantos jogos modorrentos tiveram o brilho do futebol arte somente nos 15 minutos em que o Sr. Jankel era o protagonista e roubava para si o olhar atendo e admirado de milhares de espectadores.
Do alto da sabedoria de nove décadas, com um andar rápido e uma lucidez impressionante, o Vovô das embaixadas nos contou que uma hérnia provocou sua aposentadoria mas que se encontrasse um bom cirurgião tinha vontade de operar e voltar aos gramados. Enquanto isso não ocorre, fomos brindados com um mini flash back. Obrigado, Sr Jankel! A resenha foi maravilhosa.
Luizão
MÃOS MILAGROSAS
Quem nos acompanha sabe o quanto gostamos dos personagens que ficam à beira do campo. Por isso, estávamos há um bom tempo atrás de Luizão, um dos massagistas mais vitoriosos do mundo, para relembrar sua trajetória!
Em seu currículo, consta nada menos do que quatro Copas do Mundo, Olimpíadas, Pan-Americano e títulos pelo mundo inteiro. O primeiro mundial foi em 1982, mas engana-se quem pensa que o massagista acompanhou aquela seleção que encantou o mundo.
– A primeira foi com o Kuwait, em 1982, com o Parreira!
A relação de Luizão com o técnico vem desde a juventude, quando o massagista ainda tentava ser jogador e teve a oportunidade de ser treinado por Parreira em Padre Miguel, no Rio de Janeiro.
Os anos se passaram, Luizão largou o futebol e passou a servir o exército. Quis o destino, no entanto, que o futebol cruzasse seu caminho novamente, mas de uma maneira inusitada:
– Tudo começou com uma necessidade de um oficial equatoriano. Ele tinha três dias pra permanecer no curso de Guerra na Selva ou seria cortado. Liguei para o meu irmão (massagista), que me deu as instruções e eu passei três dias fazendo tratamento nele.
Resultado: o rapaz se recuperou, Luizão vibrou e decidiu que levaria aquela profissão para o resto da vida!
– Fiz o curso e estou aí há 40 anos! – lembrou!
A segunda Copa do Mundo foi em 1990 e teve um gosto especial, já que vestiu a amarelinha e fez parte da delegação de Lazaroni.
Mas nada se compara ao mundial seguinte, quando Luizão reencontrou Parreira, seu velho conhecido, e o desfecho todos conhecem.
– Com toda a sinceridade, acho que a ficha não cai imediatamente após o apito final! Recentemente, fizemos um encontro na Granja para celebrar os 25 anos do Tetra!
Durante o papo, descobrimos que o massagista conta com um acervo precioso que reúne belas fotos, camisas e muito mais! Imagem por imagem, Luizão lembrou cada momento e ao ser perguntado sobre o clube do seu coração não teve dúvidas:
– Tenho um carinho por todos, mas o São Paulo me acolheu no momento que eu mais precisava! Sofri um acidente na Dutra e tive todo o suporte deles! Cuidaram de mim de uma forma sensacional.
No fim da resenha, ainda deu tempo do nosso craque Guilherme Careca tirar uma casquinha do massagista e aproveitar uma sessão das mãos milagrosas!
Que resenha boa! Assistam ao vídeo completa!