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Danilo Menezes + Erandy

RESENHA VASCAÍNA

Um encontro agendado pelo tempo. A resenha de um gringo e de um sertanejo em Natal (RN), a esquina da América do Sul que eles escolheram para viver. Uma resenha vascaína com muita história para contar pelo meia uruguaio Danilo Menezes e o atacante Erandy.

O jornalista Rubens Lemos, correspondente do Museu da Pelada e o historiador Sérgio Trindade descobriram casos importantes e reveladores que mostram porque o futebol vai perdendo sua arte.

Assista ao vídeo acima e curtam essa resenha de alto nível!

 

Mozer

ARMADURA RUBRO-NEGRA

“Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Nunes e Lico”. A escalação do esquadrão do Flamengo de 81 está na memória não só dos rubro-negros, mas também dos amantes do futebol arte! Por isso, dá um orgulho danado quando temos a oportunidade de entrevistar as feras desse elenco e relembrar a magia daquele time que conquistou o mundo.

Às vésperas da decisão da Libertadores, entre Flamengo e River Plate, a equipe do Museu foi até a Gávea bater um papo com Mozer, a muralha rubro-negra.

– Aqui é minha casa! Não só minha, mas daquela geração toda! – disparou logo de cara.

Considerado um dos maiores zagueiros da história do clube, o “Vampiro” fez história também no Benfica, no Olympique de Marseille e no Kashima Antlers. O que muitos não sabem, no entanto, é que Mozer nunca quis ser zagueiro.

Na realidade, o craque começou como ponta de lança na base e o lendário Modesto Bria foi o responsável pela dica que mudaria a sua história:

– Ele me disse que se eu jogasse de centroavante no Flamengo, e não marcasse gols em todos os jogos, terminaria no Flamengo-PI!

Embora a dica não tenha sido bem aceita inicialmente, Bria enxergava em Mozer qualidades fundamentais para um bom zagueiro e o tempo provou que ele estava mais do que certo. Não por acaso, o ídolo rubro-negro o considera a pessoa mais importante da carreira!

Sua trajetória no clube todos conhecem, foram sete anos de titularidade, com inúmeros títulos ao lado de grandes jogadores. Caçula do elenco, Mozer revelou que era paparicado por todos e se aproveitava dessa situação.

– Aprendi a me dedicar aqui!

Um episódio que marcou muito Mozer ocorreu no final de um treino, quando, ainda garoto, se apressava para ir embora do clube e chegar logo em casa. Ao olhar para o campo, já escuro, notou a presença solitária de Zico, cobrando inúmeras faltas.

– Fiquei envergonhado e corri de volta para o vestiário!

Depois de muitas glórias, a trajetória no clube como jogador terminou de forma inusitada. Depois de não conseguir jogar o Mundial de 86 por problemas no joelho, retornou ao Flamengo e foi surpreendido com a notícia que havia sido vendido. A explicação foi convicente: a diretoria precisava renovar o contrato de ninguém menos que Zico, Júnior, Leandro e Adílio, e a solução encontrada para fazer caixa e cobrir as despesas foi abrir mão da Muralha.

Neste momento, Mozer conheceu o português Manuel Barbosa, empresário que intermediou não só a sua negociação para o Benfica, como a de muitos outros brasileiros. Adaptado à pressão de jogar em um clube grande, o zagueiro caiu no gosto dos “adeptos” e, como de costume em sua carreira, levantou o caneco em Portugal.

Foi por lá, inclusive, que o craque formou dupla com Ricardo Rocha, eleito seu maior parceiro de zaga de todos os tempos. Embora tenha jogado ao lado de grandes defensores, a parceria com Ricardo Rocha foi importante para quebrar um paradigma:

– Fomos considerados a melhor dupla de zaga da Europa. Havia uma fama que os defensores brasileiros não eram competitivos e isso foi bom para provar o contrário. Demos a nossa contribuição e, depois disso, vários zagueiros brasileiros foram jogar lá!

Do Benfica, foi se aventurar no futebol francês para vestir a camisa do Olympique de Marseille, onde também foi campeão. Dos 11 titulares, sete faziam parte da seleção francesa e Mozer era o único brasileiro do elenco.

– Era um timaço! Eu costumo dizer que tive a sorte de só jogar em grandes times!

Pendurou as chuteiras em 1995 e quando curtia as férias em Algarve, região no extremo sul de Portugal, recebeu uma ligação de Zico para jogar no Kashima Antlers, do Japão. Apesar de ter explicado que já havia parado e as dores no joelho incomodavam demais, o Galinho insistiu e Mozer topou. Assinou um contrato de dois anos, mas só conseguiu atuar por uma temporada:

– A japonezada corria demais, não dava! Meu joelho não aguentava!

Mesmo assim, conseguiu atuar em alto nível e ajudar a equipe a conquistar o título japonês.

A resenha terminou com um passeio no Museu do Flamengo, na Gávea, onde o craque reviu os troféus, as camisas dos jogadores da final do Mundial de 81 e relembrou cada jogador daquele time, sem esconder a admiração por eles.
 

 

O FLAMENGO E UM DILEMA HAMLETIANO

por Luis Filipe Chateaubriand


Era uma vez um menino de 11 anos que, em 1981, torceu para o Flamengo ser campeão sul americano e mundial, apesar de seu clube de predileção ser o Vasco da Gama. 

Esse menino ficou alegre quando o Flamengo foi campeão de ambos os certames, pois era um clube brasileiro que levava o título.

O menino cresceu e, aos 28 anos, viu torcedores do Flamengo criarem uma torcida especial, a Fla / Madrid, para torcer a favor do Real Madrid na disputa pelo título mundial, contra seu amado clube, o Vasco da Gama.

Aquele homem ficou injuriado!

Esse homem, com quase 49 anos atualmente, e torcedor do maior rival do Flamengo, tende a torcer para que o River Plate vença o Flamengo, na disputa do título da Libertadores de 2019.

Ao mesmo tempo, esse homem de quase 50 anos é, atualmente, alguém que é mais um apreciador do futebol, do que um torcedor. 

Entende que, independentemente do clube em questão, o que importa é se ver um espetáculo bem jogado, competitivo, que enleve a alma.

Nesse sentido, admira o futebol que o Flamengo vem praticando. 

Entende que seu técnico Jorge Jesus, sem ser espetacular, conseguiu dar ao time uma forma de jogar ofensiva, aplicada tecnicamente e, em muitos momentos, exuberante.

Entende, também, que virtudes como essas, em um futebol brasileiro empobrecido tecnicamente e taticamente como o atual, merecem ser recompensadas e, por isso, o Flamengo deve ser campeão.

O homem, enquanto torcedor, que ver o Flamengo derrotado, pois o rival não pode prevalecer. 

O homem, enquanto apreciador do futebol, que ver o Flamengo vencedor, pois isso significa premiar a Instituição que sabe, brilhantemente, se reinventar.

Sheakspeare – ao longo de toda sua brilhante obra, mas especialmente em “Hamlet” – mostrou que o dilema é uma das grandes aflições que consomem o ser humano. 

Mas, contraditório que é, também faz parte de sua mais sublime beleza.

Em meio ao dilema que vivo, em verdade vos digo: se o Flamengo vencer, não sofrerei, ganhou que vem merecendo pelo conjunto da obra; se o Flamengo perder, não sofrerei, o rival tem mais é que “entrar pelo cano” para parar com essas gracinhas de Fla / Madrid.

E estamos conversados! Ou não?

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.

VALEU, MUSEU!

por Guilherme Careca


Hoje, faz quatro anos que o Museu da Pelada nasceu para relembrar a essência do nosso futebol aos que viram e aos que não viram os áureos tempos do esporte no Brasil. Nasceu da cabeça, mãos, pernas e pés de um tarado ou de um inveterado pelas peladas e histórias do futebol chamado Sérgio Pugliese, da coluna do Globo “A pelada como ela é”.

Lembro claramente da primeira vez que fui ao Maraca com 10 anos, quase 150 mil na arquiba e a final do Carioca entre Botafogo e Fluminense, no dia 27 de julho de 1961. Levado, entre tantas vezes, pelo “Seu Waldyr”, vascaíno que prezava pelo bom futebol e adorava uma pelada aos domingos na Rua Heber de Bôscoli, em Vila Isabel. Assim continuei, sendo levado também por outro vascaíno “Seu” Hilton e, aí sim, pelos botafoguenses portugueses da família Rodrigues, Domingos e Belchior, e que era dividida por outros tantos vascaínos. Depois, já adolescente, ia com a galera de BE (Boca de Espera, onde ficávamos no portão 18 a espera de um ingresso sobrando) ou pular o muro. Época maravilhosa! 

Esse saudosismo só pra lembrar, como era maravilhoso ver um futebol melhor, repleto de craques até nas partidas preliminares. Nesta época, víamos inclusive os jogos dos adversários.


Atualmente, fico pensando que memória desse fraco futebol de hoje terão as crianças, adolescentes e marmanjos no futuro. Para começar, o Maraca é tiro, porrada e bomba, futebol de baixa qualidade e poucos craques.

Só me resta parabenizar e agradecer ao Museu da Pelada, pois, não só trouxeram meus ídolos à torna, como possibilitaram minha aproximação com os craques PC Caju, Afonsinho, Nei Conceição, Carlos Roberto, Jairzinho, Gerson, Nilson Dias e Amarildo! Posso dizer que meus ídolos viraram meus amigos.

Graças ao Museu da Pelada, hoje posso dizer que tenho ídolos. E a juventude de hoje, quais serão seus ídolos do futebol no futuro?

 

A PIRÂMIDE INVERTIDA DE REMUNERAÇÃO

por Idel Halfen


Os que acompanham o noticiário esportivo já devem ter reparado que grande parte das demissões dos técnicos de futebol traz como justificativas a “insatisfação” do elenco. Nesse contexto até suspeitas de boicotes fazem parte das suposições. 

Querer que num ambiente repleto de pessoas não exista nenhum tipo de insatisfação chega a ser utópico, contudo, é inadmissível que as eventuais contrariedades venham a contaminar o ambiente profissional, ainda mais quando isso ocorre de forma voluntária, deixando explícita a insatisfação através da falta de empenho e de situações conflituosas. Atos extremamente lamentáveis que deixam evidentes os princípios e valores de quem os comete. 

Todavia, mesmo reconhecendo a fragilidade de personalidade dos que se utilizam de tais artifícios, temos que reconhecer que no futebol a estrutura organizacional dá margem para que tais incidentes ocorram com relativa facilidade e frequência.

Antes de detalhar as razões que nos levam a considerar o “futebol” fora do padrão, vale entender o conceito de uma gestão de cargos e salários.
É fato que o processo de busca pelo desenvolvimento profissional costuma ter como um de seus alicerces a hierarquia, o que faz com que os cargos mais altos também sirvam como meta e estímulo, contudo é fortemente recomendável que a estrutura de cargos guarde estreita relação com a remuneração. Vale lembrar que grande parte das insatisfações advém das inevitáveis comparações que são feitas tanto internamente quanto externamente no ambiente corporativo, daí a necessidade de se instituir políticas que permitam uma proporcionalidade justa e coerente entre cargos e salários. Tal advento serve não apenas para minimizar as prováveis sensações de injustiça, como também para instituir um aspecto motivacional ao colaborador, além, é claro, de reforçar os desenhos hierárquicos.


Voltemos então ao futebol e veremos uma pirâmide invertida norteando os cargos e salários, reparem que o salário de grande parte dos jogadores costuma ser maior do que o do técnico, o qual hierarquicamente está numa posição acima e comanda os jogadores. O técnico, por sua vez, tem uma remuneração superior à do diretor de futebol, que é seu superior imediato. Este diretor responde ao presidente que por exercer um cargo estatutário nada recebe.

É claro que a remuneração não deve ser vista como o único fator para se exercer autoridade, se assim fosse estaríamos ignorando o conceito de liderança, mas também não podemos desprezar que na maioria das organizações a hierarquia está ligada à remuneração.

No caso dos técnicos a relação fica ainda mais desequilibrada pela maior facilidade de desligá-lo quando comparada à que se tem com os jogadores, ou seja, como a multa pela rescisão é função da remuneração os custos são mais baixos quando se demite quem ganha menos, isso sem falar que é menos complexo desligar uma pessoa do que várias.

Encontrar soluções para a correção desse problema no futebol não me parece viável sob o prisma de cargos e salários, entretanto, a possibilidade de minimizá-lo passa também pela área de RH, mais especificamente pelo recrutamento & seleção e pela avaliação de desempenho. Ainda assim, não acredito que seja algo factível, visto ser improvável que os clubes venham a contratar por aspectos que não sejam estritamente técnicos e/ou que sofram a influência de empresários, lembrando que dentro do modelo que rege os clubes brasileiros nem o presidente é recrutado e sim eleito.