GUINA, A JOIA QUE NÃO FOI LAPIDADA
por Luis Filipe Chateaubriand
Aguinaldo Roberto Gallon, o Guina, era um meia armador que tinha tudo para ser craque, porém não chegou a atingir esse patamar.
No ano de 1976, começou a se destacar, no Comercial de Ribeirão Preto. Não tardou para que o Vasco da Gama adquirisse seu passe, e a promessa se transferiu ao cruz maltino em 1977.
Ainda em 1977, jogou o Mundial sub-20, onde a Seleção Brasileira obteve a terceira colocação. Foi um dos destaques do time, tendo sido artilheiro do certame e, assim, conquistado a Chuteira de Ouro.
Este escriba lembra que, ainda garoto, apreciava o futebol de Guina. Jogador técnico, passava a bola muito bem. Tanto sabia chegar próximo à área, para tabelar com os atacantes e ajudar a fazer gols, como também sabia recuar e fazer lançamentos precisos aos homens de frente.
Sem ser a estrela da companhia, que atendia pelo nome de Roberto Dinamite, sabia ser um excelente coadjuvante, que fazia o time produzir e ajudava os companheiros, estrelas ou não, a brilhar.
No jogo da volta de Roberto Dinamite ao Maracanã jogando pelo Vasco da Gama, depois de uma frustrante passagem pelo Barcelona, o artilheiro fez cinco gols no Corinthians. Foi bastante ajudado por Guina, que, com passes e lançamentos preciosos, criou oportunidades de todos os tipos para o consagrado centroavante concluir.
Em 1980, com 22 anos, Guina se transferiu para o pequeno Real Murcia, da Espanha. E, a posteriori, perambulou por modestos clubes de futebol na Espanha e em Portugal. Ficou, assim, relegado ao ostracismo.
Assim, Guina é um exemplo do que vemos várias vezes no futebol: um jogador com grande potencial, mas que não chega a exercê-lo na plenitude, e sequer em patamares próximos a isso.
Temos um exemplo mais recente e cristalino da mesma situação no futebol brasileiro, o de Paulo Henrique Ganso, com a diferença que este retornou ao futebol brasileiro – mas, ao que parece, apenas para proferir patéticos xingamentos a treinadores, quando é substituído…
No caso de Guina, poderia ficar mais alguns anos em um clube de porte, camisa e repercussão, como era o Vasco da Gama e, mais à frente, poderia sair para o estrangeiro, quem sabe para um clube mais consolidado, onde seu futebol continuaria sendo alvo de atenção.
Hoje, Guina é secretário particular do ex-lateral da Seleção Brasileira Roberto Carlos. Poucos lembram que jogava muita bola. Seu exemplo mostra como é importante jogadores saberem gerenciar suas carreiras, para seu próprio bem.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.
ACEITA-SE CURRÍCULO
por Eliezer Cunha
“Passado, Presente, Futuro”. Confesso que relutei por alguns dias em escrever sobre o assunto, até mesmo em respeito ao tema, mas, como a mim nada ainda foi censurado por esse canal de comunicação e entretenimento, irei expor minhas considerações, vamos lá.
Recentemente no futebol brasileiro tem-se adotado a prática de contratações de treinadores estrangeiros. Tudo bem, afinal o futebol é praticado em vários países tomado por regras universais. Essas contratações me parece ter incomodado alguns técnicos brasileiros, até mesmo pelo atual sucesso destes treinadores em seus times.
Estamos ás vésperas, pelo que tudo indica, da troca do atual treinador da seleção brasileira. Os resultados da nossa seleção na última Copa foram pífios e os atuais resultados dos amistosos nada convenceram. Olhando internamente hoje para os trabalhos de nossos técnicos não enxergamos nenhum nome que inspire confiança para assumir o comando da nossa seleção. Percebo que nossas esperanças de voltar a sonhar com títulos e ter uma seleção competitiva é uma luz cada vez mais afastada do final do túnel.
Temos um personagem que pelos últimos trabalhos tem nos chamado atenção: Renato Gaúcho. Apesar de ser seu admirador como jogador, pela sua passagem pelo Flamengo e pelos outros títulos conquistados, confesso que a mim não agrada, ainda não o vejo maduro para o cargo maior de treinador, a seleção. Seus depoimentos em relação aos colegas de profissão como aos dirigidos ao treinador Jorge Jesus, sua recusa em participar do encontro dos principais técnicos nacionais no início do ano, suas entrevistas, os altos e baixos do seu time no Campeonato Brasileiro e até as suas atitudes e comportamentos nada exemplares de quando era jogador, que inclusive o afastou da Copa de 1986, sendo ele uma peça fundamental no elenco.
Estamos perdidos sem saber para aonde atirar e, isso faz com que o atual treinador da seleção Tite se prolongue no cargo até que chegue a um momento em que optar por ‘A’; “B” ou “C” já não resolva mais. O tempo corre. O Presente se faz e o Futuro chega.
Os comandantes do nosso futebol tem que agir rápido.
DE VOLTA ÀS ORIGENS
A equipe do Museu da Pelada reuniu Fred Marinho, PC Caju e Carlos Roberto, pegou a estrada e participou de um encontro bacana da Paracambi Fogo, com direito à pelada, churrasco, resenha e muita emoção! Para quem não sabe, Paracambi foi a cidade em que Marinho, pai de PC e Fred, deu seus primeiros passos no futebol, mais precisamente no Tupy de Paracambi.
Por isso, ao serem convidados pelo Museu, PC e Fred nem pensaram duas vezes antes de topar. Mais do que participar da festa, era a oportunidade de reencontrar familiares que não viam há muito tempo.
– Vai ser bacana! Eu nunca fui a Paracambi! – confessou PC!
Tradicional clube da cidade, o Tupy abriu as portas para o evento do grupo alvinegro e, assim que os craques desceram do carro, tiveram uma recepção calorosa de fãs e familiares:
– Uma honra muito grande conhecer o PC e o Fred! – disparou um deles.
Primo da dupla, Fernando revelou que o último encontro havia sido há mais de 40 anos. Além disso, fez questão de relembrar a trajetória de Marinho:
– Tudo começou aqui no Tupy de Paracambi! Depois ele seguiu a trajetória dele por Bangu, Botafogo, foi jogar na Colômbia e retornou para o Flamengo!
Quem também não escondia a felicidade pelo encontro era Eridan, atual presidente do grupo e um dos grandes responsáveis pela festa.
– O trabalho de vocês é lindo e vocês conseguiram trazer dois filhos da cidade para nos prestigiar!
Para abrilhantar o encontro, ainda encontramos um sósia do craque Afonsinho, que, sem modéstia alguma, disparou:
– Se tiver outro, é falso!
Outra fera que marcou presença foi Jarbas, responsável por confeccionar belíssimos troféus. Se toda aquela resenha e emoção já não fossem o bastante, tivemos a honra de ser presenteados pelo amigo com uma caixa de troféus e uma linda tábua personalizada para churrasco.
A nossa vontade era permanecer até o fim da resenha, mas prometemos voltar na próxima com a presença da dupla!
Valeu, rapaziada!
Sérgio Ramírez
UMA CORRIDA, UM VIOLÃO
entrevista e texto: Eduardo Lamas | vídeo: Fernando Gustav | edição de vídeo: Daniel Planel
Salve simpatia! Tomo emprestada a saudação musical de Jorge Ben (para mim vai ser sempre sem o “jor” no fim) para abrir esse texto de apresentação da entrevista que fiz com Ramírez. Por algumas razões. Para começar, o sorriso largo permanente no rosto do uruguaio e a mistura de futebol e música que o caracteriza também tão bem. E pode-se acrescentar o fato de o ex-lateral do Flamengo, clube do coração do consagrado cantor e compositor e com o qual Ramírez mais se identifica, ter revelado como nasceu uma das muitas músicas do Benjor (vá lá, sem radicalismos!). Para um pesquisador de músicas de futebol que criou um projeto multifacetado sobre tema é uma preciosidade.
Mas eu vestia a camisa do Museu da Pelada e este foi apenas um dos presentes que ele ofereceu no nosso bate-papo em sua casa, em Palhoça, município da região metropolitana de Florianópolis. Outro motivo ele nem precisou me contar, só cantar depois. Ao entrar em sua sala logo vi uma série de violões, cavaquinho, teclado. Ficou clara a sua intimidade com a música, o que os fãs do Museu da Pelada poderão constatar.
Ramírez não se opôs a contar sorrindo o episódio de sua breve loucura que entrou para a eternidade futebolística. Quem se lembra, vê a corrida enfurecida atrás de Rivellino, mas quase todos se esquecem do seu quase linchamento perante milhares de olhares sedentos de vingança e de bocas gritando “porrada, porrada”. Ele não se esqueceu, nem da sua loucura, nem da dos brasileiros que o espancaram. Muito menos de ter milagrosamente escapado. E só quem não o conheceu, mesmo que por instantes, e nunca jogou sequer uma reles pelada não o perdoaria. Rivellino teve mais esta grandeza. São amigos.
Quem nunca enlouqueceu num campo de futebol que atire o primeiro radinho de pilha da geral. Isso em outros tempos, claro. Atualizando: quem nunca… que atire o primeiro celular das cadeiras de qualquer arena ou da arquibancada de qualquer campinho. Posso dizer que, embora tenha encontrado naquela tarde de quarta-feira o Ramírez pela primeira vez em minha vida (embora tenha visto o cara com sua garra jogar no Maracanã e provo, vocês vão ver), conversamos como amigos de longa data. Não à toa, ele contou muitas histórias dos bastidores e soltou seu vozeirão, ao violão.
Peço por fim permissão para uma indiscrição e contar que foi tudo tão bom que terminou em pizza. E cerveja. Literalmente. Gracias, Ramírez. Muchas gracias.
MASOQUISMO
por Rubens Lemos
Jogo e treino de seleção brasileira – de qualquer categoria – são atividades decisivas para o currículo de qualquer masoquista juramentado. É assistir, se irritar, chamar palavrão, desligar e ligar de novo a televisão para ver nulidades sem recurso e passeando lerdas pelo gramado.
Em especial o Brasil de Tite, conseguiu construir uma ponte imaginária entre defesa e ataque. A bola só sai de um setor até o outro na base do chutão e na canelada. É que mataram deixando em decúbito dorsal o meio-campo, área nobre de uma peleja, onde pontificaram craques e monstros sagrados.
É masoquismo olhar para Casemiro, pobrezinho, o camisa 5 atual e lembrar Clodoaldo de 1970 ou Paulo Roberto Falcão, dominando a bola do alto até o chão no biquinho da chuteira, sem fazer força, a bola querendo ficar e os craques desejando o fluir do ataque.
A gente olha para a camisa 8 de Arthur e é uma tremenda sacanagem com: Zizinho, Didi, Jair Rosa Pinto, Gerson, Sócrates, Geovani, Adílio, Silas, Paulo Isidoro, Mendonça, Pita, Jorge Mendonça e Jair, do Internacional tricampeão com Falcão.
Arthur foi escolhido após pesquisas científicas. Em busca da mediocridade imbatível, estudaram, colheram dados físicos e traços de personalidade até que o bicho deu em Arthur.
Arthur é a negação dos talentosos natos. Erra o passe a 1 metro de distância do companheiro e é figura proeminente do recurso mais em voga no Sul do país: o carrinho, pela frente ou por trás, para derrubar com dor o adversário de categoria superior.
Philippe Coutinho, mais para chatinho, sujeito emergente que ficou irritadinho, todo fresquinho, não-me-toques, é um abuso à história de Rivelino, Jairzinho, Paulo César Caju, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zico, Alex, Djalminha, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, enfim, um atentado ao bom senso e um reforço a quem sofre por convicção e navega nas agonias mais nefandas.
Bem, chegamos ao ataque. Se vocês me dão licença estou rindo alto e sem conseguir chegar ao teclado do computador. Só de pensar que caindo pela direita está Roberto Firmino, o alagoano casado com uma linda loiraça, prova do amor Real $. Roberto Firmino percorrendo caminhos que já foram de Mané Garrincha.
Imaginemos o diálogo fictício:
Mané: É fácil, garoto, parte pra cima “dos” homem e é “só” driblar um a um.
Firmino: Mas seu Mané, não dá para alguém me ajudar não a fazer o dois toques?
Mané(moleque): Quem? (apontando para Casemiro), aquele gordinho é o maior grosso, um passe dele desemprega atacante. Faz o seguinte, pra te ajudar. Corre em linha reta, sem marcação, corta para o meio e bate para o gol, aproveita que está sem goleiro…
Compenetrado diante do alto grau de dificuldade, Firmino, aos tropeços na bola, consegue chegar à marca do pênalti e chuta de joanete, longe da trave nua. Garrincha desiste e volta para a nuvem que ocupa nos céus de Pau Grande (RJ).
É a vez de Neymar, ou “Júnior”. Com cara de quem está querendo urinar ou levou um beliscão, o camisa 10 vai pedalando sobre a bola desde a intermediária, xingando beques que só ele vê.
Chega na área, levanta a bola e solta o voleio. Berra, esperneia, chora, grita “Eu sou melhor que Pelé, eu sou melhor que ele”. Surgem dois gigantes enfermeiros. Aplicam sedativos no rapaz que vai apagando não sem antes suplicar: “Eu quero a camisa 1000, a 10000, a 1 milhão. Eu sou o melhor. O melhor do mundo.“ Ri agora um sorriso abobalhado, patético, de fim de carreira.