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Mickey

O ARTILHEIRO PAZ E AMOR

Em sua primeira incursão a Balneário Camboriú, um dos principais polos turísticos de Santa Catarina, o Museu da Pelada foi encontrar o Artilheiro Paz e Amor para um bate-papo que reproduziu fielmente o apelido-slogan que Mickey ganhou na Taça de Prata de 1970. Ao marcar todos os gols do Fluminense nos últimos jogos da campanha vitoriosa que deu o primeiro título brasileiro ao Tricolor, e comemorá-los com o gesto símbolo dos hippies em pleno período ditatorial no país, o centroavante marcou seu nome na História não só do clube carioca, mas também do futebol nacional.

Ele nega qualquer cunho político quando levantava os braços com os dedos em V apontando para o céu. Porém, ao recordarmos que hoje muitos goleadores se fazem literalmente de artilheiros ao empunharem armas imaginárias dos mais variados calibres na celebração de seus gols, a simbologia de alguém que é verdadeiramente de paz e amor em tempos tão conturbados como o que vivemos não deixa de ser exemplar. E Adalberto Kretzer, o Mickey, apelido ganho por ter orelhas e nariz grandes que virou marca registrada, é um grande exemplo.

A entrevista foi marcada para a casa de um de seus filhos, Alexandre, que tem numa pequena sala de frente onde gravamos o nosso agradável e divertido papo, fotos, quadros, troféus e medalhas do pai. Um minimuseu em homenagem ao jogador-talismã tricolor, não só do Rio, mas também da Bahia, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. E de outros times também, inclusive da Colômbia.

Recebeu-nos com festa, eu, o cinegrafista Fernando Gustav e o motorista Vander Schons. Não só ele, mas os filhos, Alexandre e Beto, este também ex-jogador de futebol e que atualmente disputa torneios máster de futevôlei pelo país, noras e amigos. Um churrasco celebrava a amizade e acabamos como convidados de honra após o trabalho. Muitas histórias de futebol correram de mesa em mesa e um dos amigos de Mickey revelou algo que certamente a sua humildade não permitira contar perante à câmera: quando Carlos Alberto Parreira era preparador físico do Fluminense e morava na Baixada Fluminense, portanto a muitos quilômetros das Laranjeiras, Mickey cedeu-lhe um apartamento que tinha na Zona Sul do Rio para que o futuro técnico da seleção brasileira não precisasse fazer tamanho deslocamento diário.

Falar mais o quê sobre este grande entrevistado. Deixemos que ele fale e conte sua rica história. Clica no vídeo e assista, ninguém se arrependerá.
 

 

Copy of Bozó

bozó

Luiz Augusto de Aguiar ficou conhecido pelo futebol como Bozó. Campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani Futebol Clube, eternizou seu nome na história do clube e do futebol por ter realizado um dos feitos mais inéditos e que dificilmente será repetido, levar um time do interior do estado de São Paulo ao posto mais alto do futebol nacional.

Iniciou sua carreira no São Bento de Sorocaba, conheceu o Brasil de norte a sul jogando por 11 clubes durante a carreira. Ao chegar no Guarani, assistindo da arquibancada ao jogo entre Guarani x Bahia, foi recepcionado por Macedo com um golaço que mostraria que a disputa por uma vaga no time seria uma verdadeira batalha de craques. Gol que fez Bozó até a duvidar se iria ter uma oportunidade como titular do time, mas com muito trabalho e paciência como ele mesmo conta, recebeu a sua chance ao término da primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1978. E, quando entrou, não saiu mais do time.

O Campeonato Brasileiro de 1978 trouxe muitas mudanças, como o número de equipes participantes (74), a implantação do sistema de jogos ida e volta nas fases finais do campeonato e também fora a última a edição de um campeonato em que a vitória poderia valer dois ou três pontos dependendo do placar.


Em um dos jogos de maior destaque durante a campanha do título Bugrino contra o Internacional de Porto Alegre, a imprensa gaúcha tirou sarro do ataque formado por Capitão, Careca e Bozó, chamando-o de ataque de riso. O Guarani fez uma bela partida e venceu o jogo por 3 a 0. Credenciando-o como forte candidato ao título brasileiro daquele ano.

Deixando para trás ainda outros gigantes do futebol como o Vasco na semifinal e o Palmeiras na decisão, o clube chegou ao título e também conquistou uma vaga na Copa Libertadores. Bozó destaca a união e a qualidade do time que era recheado de craques onde em três anos vestindo a camisa do Guarani, perdeu apenas duas partidas.

Durante a entrevista, dentro do estádio que o consagrou dentro das quatro linhas, mostrou todo carinho e gratidão que tem pelo time do coração. Ainda nos brindou com uma história curiosa em um jogo contra a Portuguesa em que sentou na bola, causando o maior sururu como ele mesmo define. E diz com toda certeza que o Guarani daquela época era uma máquina!
 

 

FORÇA, ABEL

por Zé Roberto Padilha


Abel Braga, 67 anos, meu amigo, partiu para disputar o mundial de clubes, em 2006, não com Diego Alves, Rafinha, Felipe Luís, Arrascaeta e Gérson com bagagem internacional. Foi enfrentar, em Yokohama, o poderoso Barcelona de Valdez, Rafa Marques, Puyol, Deco, Xavi, Iniesta e Ronaldinho Gaúcho com Ceará, Índio, Edinho, Rubens Cardoso e Iarley. E venceu o mundial com um gol não de Gabigol. Mas de Gabiru. Com todo o respeito.

Se Vanderlei Luxemburgo anda tirando leite das pedras, tirou uísque 12 anos do assentado asfalto japonês.

Neste momento de sua saída do Cruzeiro pelo túnel dos fundos, mais desvalorizado que o Real frente ao Dólar, gostaria de lhe dizer que o futebol, onde iniciamos juntos nossa trajetória aos 16 anos, nas Laranjeiras, continua sendo cruel e impiedoso com seus personagens. Mereçam eles ou não.

Neste momento de plena glorificação de um novo Messias, perda de tempo lembrar aos entorpecidos e anestesiados rubro-negros que foi você quem montou a base deste espetacular time. Levou-o, na pré-temperada, ao túnel de vento com Bruno Henrique e Gabigol, e olha que não havia chegados os pneus laterais de última geração, Rafinha e Felipe Luís.

Mesmo assim venceu na Flórida, levantou o estadual e classificou o time para a Taça Libertadores.

Traído por Landim após Caim, viu seu substituto encontrar o Diego Ribas no departamento médico, que acabou com a dúvida de todo mundo se era ele quem começava ou Arrascaeta. O Gerson chegar e os laterais se assentarem na pista.

Não é questão de tirar os mérito de Jorge Jesus. É de lembrar a todos que Moisés já havia chegado antes, aberto o mar ao meio e levado sua gente à terra prometida. Enquanto deixaram você dirigir o time.

Se deixou uma base sólida no Flamengo, encontrou a do Cruzeiro com prazo de validade vencida. Mano Menezes não foi capaz de renovar seu time, deixando-o mais envelhecido que sua escalação caberia direitinho no time de máster do Luciano do Valle, caso este ídolo ainda estivesse entre nós. Infelizmente, Fábio, Edilson, Egídio, Henrique, Fred e Thiago Neves eram titulares por lá. E aí…

Sei que já está no Leblon. Então, tome um bom café e vai caminhar. E aprecie a paisagem. E saiba que se o futebol é cruel e injusto, seus amigos estarão sempre de plantão para elevar o seu astral. Afinal, amigo jornalista é para essas coisas. Como, por exemplo, tentar lhe fazer justiça. E exaltar o seu valor como um dos treinadores mais vitoriosos da história do futebol brasileiro.

Afinal, apenas cinco deles alcançaram um título mundial de clubes entre os 783 registrados, hoje, na CBF. Não é pouco!

Grande abraço

O XODÓ DE MOURINHO E JORGE JESUS

A pedido do parceiro Marcus Mattos, a equipe do Museu foi até Cabo Frio bater um papo com Macigol, campeão mundial pelo Porto e xodó de Mourinho e Jorge Jesus! Apreciando uma bela Caldeireta no restaurante Vira Verão, batemos um papo para lá de divertido com o goleador.

Vale ressaltar, no entanto, que até chegar à glória, o artilheiro rodou por vários times do Brasil, como Cruzeiro, Ituano, Bangu e Volta Redonda. No Voltaço, durante um Campeonato Carioca, ocorreu o jogo que mudaria a sua vida.

– Fomos enfrentar o Flamengo, que tinha Gamarra e Juan na zaga, e logo depois surgiu o convite para jogar em Portugal!


Embora tenha perdido por 1 a 0, o goleador revelou que nunca correu tanto, mesmo com o sol escaldante do Rio de Janeiro. O convite para Portugal era de ninguém menos que Jose Mourinho, treinador do União de Leiría na época. O técnico português ainda não era o fenômeno que conhecemos, mas todos já sabiam que o sucesso era questão de tempo.

Com moral com o português, Maciel chegou sob desconfiança dos demais. Tanto que assinou um contrato com um valor bem abaixo do esperado, mas bastou um jogo para conquistar o respeito e ganhar o salário esperado.

Após uma temporada de sucesso, Mourinho foi convidado a treinar o Porto e prometeu levar o atacante junto. Inicialmente, não foi possível por conta do excesso de contratações, mas meses depois o atacante chegou para fazer história no clube português.

– Ganhamos o Campeonato Português, a Liga dos Campeões e o Mundial!

Assista ao vídeo acima e confira a resenha completa com o artilheiro!

DINAMITANDO GERAL

por Luis Filipe Chateaubriand


O redator destas linhas não costuma escrever sobre assuntos anteriores, no futebol, a 1978, ano em que começou a acompanhar este apaixonante esporte.

Mas toda regra tem sua exceção, e esta parece valer a pena…

Em 1976, Vasco da Gama x Botafogo jogavam pelo primeiro turno do Campeonato Carioca.

Era um jogo fundamental para ambas a equipes, se quisessem conquistar o título do turno. 

Um empate deixava ambos os clubes sem condições de conquistar o título, apenas quem vencesse teria alguma chance de disputar a taça com o Flamengo.

O Botafogo vencia por 1 x 0 quase até o final do jogo, até que Roberto Dinamite – sempre Roberto Dinamite – empatou.

A partir desse momento, o Vasco da Gama tomou conta do jogo e foi em busca do tento que lhe daria a vitória e a possibilidade de se manter vivo na disputa do título.

Jogo acabando, derradeiros momentos, Zanata faz um cruzamento ao lado direito da grande área, com o pé trocado – todo torto mesmo, com pressa de cruzar, pois o jogo está no fim.

A bola sobe, descai no centro da grande área, vindo em direção a Roberto Dinamite.

O muito bom, mas muito pretensioso, Osmar Guarnelli, zagueiro botafoguense, chega para bloquear o atacante vascaíno.

Com frieza, e muita categoria, Dinamite mata a pelota no peito, dá um chapéu indescritível em Osmar, avança, vê a bola descair novamente em sua frente, e fulmina de direita para as redes do clube de General Severiano!

Um golaço! Aço! Aço!

Roberto Dinamite – sempre Roberto Dinamite!

O Vasco da Gama, com este gol antológico, vencia o Botafogo por 2 x 1 e iria decidir o título do turno com o Flamengo – onde se sagrou campeão, mas isso é outra história…

Não vi in loco, tinha apenas cinco anos quando aconteceu, ainda nem sabia o que era futebol. 

Mas, desde que comecei a acompanhar futebol, aos oito anos, vi muitas vezes – na televisão, depois no vídeo tape, depois em dvd, depois no youtube.

Tecnologias se sucedem. 

O golaço fica. 

Fica e ficará eternamente. 

Tal qual o gol, o seu autor é eterno.

Dinamite sempre!

Dinamite forever!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.