Escolha uma Página

ARTIME E O GOL COMO MELHOR AMIGO

por André Felipe de Lima


Os torcedores do Nacional de Montevidéu ficaram mal acostumados com os gols em profusão que o grande ídolo Luis Artime assinalava no começo dos anos de 1970. Gols que inclusive renderam ao arquirrival do Peñarol muitos títulos.

É natural que a paixão cega os mais afoitos. Que para defender o ídolo, alguns torcedores beiram às raias do inverossímil. Isso tudo é compreensível. Mas afirmarem que Artime marcara mais de mil gols, com o milésimo em um jogo contra o Peñarol, é um exagero inaceitável.

Mito. O argentino Artime sequer passou dos 300 gols oficiais em toda a carreira. Não há, porém, como negar que o Peñarol sofreu horrores com ele. Foram 16 jogos, com 10 vitórias do Nacional, seis empates e 10 gols de Artime.

Mas quem era esse craque tão badalado pelo torcedor uruguaio, que também fez sucesso defendendo o River Plate, o Independiente e o Palmeiras?

Artime não era um atacante alto, mas foi exímio cabeceador. A habilidade não era o forte do “trombador” Artime, mas fazia muitos gols. Por onde passou, deixou sua marca de artilheiro.

Foi quatro vezes goleador do campeonato argentino, duas pelo River Plate, em 1962 e em 1963, marcado 25 gols nas duas temporadas, e outras duas pelo Independiente, em 1966 [23 gols] e em 1967 [11 gols], ano em que conquistou o seu único campeonato argentino.

Estreou no Nacional no dia 16 de agosto de 1969 diante do Danúbio, em jogo válido pelo campeonato uruguaio. Marcou dois dos três gols na vitória de 3 a 0. Não há dúvidas de que Artime viveu seus melhores momentos na carreira defendendo as cores do Nacional, clube com o qual conquistou três campeonatos uruguaios, em 1969, 70 e 71, sendo artilheiro das três competições nas quais assinalou 24, 21 e 16 gols respectivamente. Foi também campeão da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes, em 1971.

Na fase de grupos da Libertadores, o Nacional precisava derrotar o Penãrol para seguir adiante. No dia 30 de março, os dois times entraram em campo. O Peñarol saiu na frente no placar. Mas nos últimos cinco minutos do segundo tempo, Artime apareceu. Fez um gol e, logo em seguida, sofreu um pênalti convertido por Mujica. Dali para frente, o Nacional fez uma bela campanha até o jogo final, no dia 9 de junho, contra o Estudiantes de La Plata, com gols de Espárrago e [claro] Artime.

O desafio seguinte seria o inédito título mundial já conquistado pelo rival, o Peñarol. E Artime novamente mostraria sua importância histórica para o Nacional.

Por pouco o Mundial Interclubes de 1971 não foi disputado por conta da grande confusão na final da edição do ano anterior, disputada na Argentina entre o Estudiantes e o Feyenoord, da Holanda,

O Nacional vencera a Libertadores em 1971, mas havia um impasse na Europa. O campeão continental, o Ajax, da Holanda, recusou-se a jogar a final contra o Nacional. Diante disso, a Uefa decidiu indicar o vice-campeão europeu, o grego Panathinaikos.

Nos dois jogos decisivos do Mundial, contra o Panathinaikos, Artime marcou três gols: 1 a 1, na Grécia, e 2 a 1 para o Nacional, em Montevidéu. O Nacional tinha um timaço. Para os mais antigos, o melhor da história do clube. Jogavam lá o goleiro brasileiro Manga, Ángel Brunell, Juan Masnik, Luis Ubiña, Julio Montero Castillo, Juan Carlos Blanco, Luis Cubilla, Ildo Enrique Maneiro, Víctor Espárrago, Luis Artime e Juan Carlos Mamelli.

O saldo no futebol uruguaio não poderia ser melhor. Até hoje Artime se mantêm como o sexto maior goleador da história do Nacional, com 158 gols, e o oitavo da história da Taça Libertadores, competição na qual dividiu a artilharia em 1971 com o compatriota Raúl Castronovo que defendia [vejam só a ironia] o Peñarol. Os dois marcaram cada um 10 gols.

Luis Artime iniciou a carreira no Independiente de Junín, e, posteriormente, com a recomendação de Osvaldo Zubeldía e “Coco” Luis Alberto Mannini transferiu-se para o Atlanta, em 1958, quando atuou ao lado daquele que para muitos foi o melhor time da história do clube, que contava, entre outros, com Errea, Gatti, Clariá, Griguol, Bettinotti, Gonzalito e Guenzatti.

Mas foi no River Plate, a partir de 1962, que Artime tornou-se craque renomado. Em 1965, antes, portanto, de ir para o Independiente, Artime teve o passe cedido por meio ano ao Real Jaén, um clube da terceira divisão do futebol espanhol. Retornou ao River para deixá-lo em definitivo em 1966, sem conquistar títulos, mas mostrando-se um goleador extraordinário. Marcou 71 gols pelo clube.


No Independiente, Artime não só manteria o posto de artilheiro, mas conquistaria o seu primeiro título Argentino, em 1967. No clube “Rojo” formou um ataque avassalador com Raúl Emilio Bernao, Raúl Armando Savoy, Héctor Yazalde e Aníbal Tarabini. Uma turma da pesada que mantém até hoje o recorde de pontos corridos na era do profissionalismo no futebol argentino, com 86,67% dos pontos disputados. Foram 15 jogos, com 12 vitórias, dois empates e apenas uma derrota, para o San Lorenzo. No Independiente, Artime marcou 45 gols em 72 jogos.

No período em que esteve no clube “Rojo”, Artime teve mais oportunidades na seleção argentina. Disputou a Copa do Mundo, na Inglaterra, em 1966, chegando às quartas de final. No ano seguinte, jogou a Copa América, competição da qual foi o principal goleador da Argentina, com cinco gols.

Com o escrete argentino, Artime manteve excepcional média de 0,96 gol por partida, em 25 jogos.

Luis Artime nasceu em Mendoza, na Argentina. A data de seu nascimento é 2 de dezembro de 1938. Inexplicavelmente, quando chegou ao Brasil em julho de 1968, para defender o Palmeiras, informaram à imprensa paulista que Artime teria nascido no dia 25 de novembro de 1941.

Ficou pouco tempo no Parque Antártica [até julho de 1969], mas tempo suficiente para se sagrar ídolo da torcida ao lado de Ademir da Guia na “Academia”. Segundo os pesquisadores Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Artime vestiu a camisa do Palmeiras em 57 jogos, com 32 vitórias, 13 empates e 48 gols assinalados [mais uma média sensacional do craque] e conquistou o “Robertão” de 1969, a Taça de Prata que equivale ao que é hoje o campeonato brasileiro.

Uma de suas grandes façanhas aconteceu vestindo o manto verde, no dia 16 de janeiro de 1969. Artime marcou os cinco gols da goleada de 5 a 0 no Rapid Viena.

Em julho de 1969, o craque foi brilhar no Nacional, onde permaneceu até o dia 3 de maio de 1972, quando disputou seu último clássico contra o Peñarol. Saiu de campo ovacionado após marcar os três gols da vitória de 3 a 0 sobre o rival. Artime trocaria o Nacional pelo Fluminense.

Nas Laranjeiras, a diretoria do Tricolor movimentava-se para montar um time forte. Trouxera Artime, em maio de 1972, e Gerson.

Com a chegada de Artime para ocupar a vaga de Flávio Minuano, Gerson arriscara um vaticínio. O “Canhotinha” afirmara que ganhar jogo com aquele time do Tricolor seria “mole”, que ele, Gerson, receberia a bola do volante Denílson, lançaria a pelota ao ponta-direita Cafuringa e correria para abraçar Artime, que na certa faria o gol. Não foi bem assim. Artime reclamava, em entrevistas, que era boicotado pelos colegas, o Fluminense acabou em 14º lugar no campeonato brasileiro de 1972 e foi mal no campeonato carioca.

Quando Artime chegou ao Fluminense, o primeiro jogador a boicotá-lo foi o ponta-esquerda Lula, como assinalara o repórter Marcelo Rezende, doze anos depois da efêmera passagem do jogador argentino pelas Laranjeiras: “Lula deixou claro que não gostava dele, de seu salário mais alto que dos demais e da badalação que se armou em torno do seu nome. Resultado: só lhe cruzava bolas erradas. E boicotou-o tanto que quando o argentino foi embora tinha marcado, em 12 meses, apenas um gol. E seu passe custara nada menos que 100.000 dólares [cerca de um milhão de cruzeiros, na época].”

Lula sempre negou haver atrito com o argentino: “Artime é nosso amigo, só que não deu sorte aqui”. A verdade era inexoravelmente decepcionante para Artime, que perdia gols fáceis. Acabou no banco de reservas, por determinação de um insatisfeito treinador Pinheiro. Pediu um “tempo” à diretoria do clube e, simplesmente, escapou dez dias das Laranjeiras para, supostamente, curar “problemas estomacais” e ver como estavam seus negócios na Argentina: uma metalúrgica, uma financeira e uma loja de eletrodomésticos. “Em quinze anos de futebol, em todos os clubes que passei, nunca deixei de ser o artilheiro. Não sei o que está acontecendo comigo.”

Considerado “velho” para futebol, o craque argentino não rendeu no Fluminense como nos tempos de River Plate, Independiente, Palmeiras e Nacional. Em outubro de 1972, a diretoria do Tricolor já esboçava uma despedida para o jogador.


O ex-técnico da seleção brasileira e radialista João Saldanha entrevistou Artime para um programa de rádio. O craque confessou ao “João sem medo” que a maioria dos gols que assinalara na carreira acontecia porque errava o arremate tanto com o pé quanto com a cabeça. Pensava num canto e a bola era disparada no outro. Para quem não acredita em milagres…

Artime deixou as Laranjeiras no final de 1972, devolveu ao clube parte das “luvas” que recebeu e foi imediatamente repatriado pelo Nacional, onde sempre fora “rei”. Lá, o ídolo encerrou a gloriosa carreira recheada de gols, em 10 de fevereiro de 1974, quando o time enfrentou o Olímpia, do Paraguai, pela Taça Libertadores da América. Artime deixou sua marca, após balançar as redes do time adversário, e, no vestiário, após a partida, anunciou que aquele era o seu último gol na carreira. Ponto final da brilhante trajetória de um dos maiores goleadores da história do futebol sul-americano.

Se os gols que marcou foram “sem querer”, pouco importa. Eles alegraram estádios e deram títulos aos clubes por onde passou Artime, que hoje goza sua merecida aposentadoria em Buenos Aires, mantendo uma rede de lojas de material esportivo.

SAUDADES DO PERI

por Francisco José Vasconcelos


Peri, o menino do futuro do Corinthians: foi assim que surgiu o bom e consagrado ponta esquerda Peri. O menino canhoto encantava a imprensa com a sua técnica e astúcia, como atacante. Embora não tenha conquistado título no Corinthians, foi personagem marcante em grandes clubes brasileiros, clubes esses que tinham grandes times. Foi assim com os timaços do: Bahia, Sport (Seleção do Nordeste), e o Operário de Mato Grosso (com grande campanha no Campeonato Brasileiro).

Para o menino de 13 anos (eu), em 1975, foi maravilhoso saber que no grande time que o Sport estava formando, tinha sido contratado o bom ponta esquerda Peri. O Sport era um timaço! Do Goleiro ao ponta esquerda: Tobias, Louro, Pedro Basílio, Alberto e Cláudio Mineiro, Luciano Qualhada, Assis Paraiba e Garcia, Miltão, Dadá Maravilha e Peri.

Com o passar do tempo, o Sport se reforçou com a chegada de outro bom ponta esquerda, o português Peres. Tive a felicidade de assistir no Maracanã, esse timaço do Sport vencer o Flamengo, em que jogava Zico e Geraldo, por 1 X 2. Dois gols de Miltão, um gol mal anulado de Dadá Maravilha, e o gol do Flamengo foi de Zico.


Jamais imaginária que aos 17 anos encontraria o Peri em uma pelada na praia de Boa Viagem (o Peri tinha parado de jogar no futebol profissional), e entrosados ficaríamos pelo bom futebol que eu (garoto) jogava, e ele um jogador de futebol profissional consagrado também jogava. Eram dois canhotos habilidosos em uma pelada de praia. Um garoto e um consagrado.

O entrosamento levou a amizade e o carinho que tive do Peri quando jogamos juntos na praia foi admirável pela sua refinada educação! Esse carinho recebido por mim fez com que a minha admiração por Peri aumentasse e de ídolo, ele passou a ser ídolo, parceiro de pelada e amigo.

Passou o tempo e com o tempo passou a minha adolescência. Perdida no tempo ficou a minha parceria de pelada e a minha convivência com o Peri, mas não passou a minha idolatria a um belo ponta esquerda, não passou a minha admiração a um belo ser humano!

Quando soube da morte do Peri (por ter caído de uma escada), a dor que senti no coração fez com que uma lágrima caísse lentamente em meu rosto, como se fosse um gol do Peri em câmara lenta. Guardo a dor da saudade de um ídolo e de um amigo! Ídolo e amigo que moram em meu coração e irão morar para a eternidade!

Mickey

O ARTILHEIRO PAZ E AMOR

Em sua primeira incursão a Balneário Camboriú, um dos principais polos turísticos de Santa Catarina, o Museu da Pelada foi encontrar o Artilheiro Paz e Amor para um bate-papo que reproduziu fielmente o apelido-slogan que Mickey ganhou na Taça de Prata de 1970. Ao marcar todos os gols do Fluminense nos últimos jogos da campanha vitoriosa que deu o primeiro título brasileiro ao Tricolor, e comemorá-los com o gesto símbolo dos hippies em pleno período ditatorial no país, o centroavante marcou seu nome na História não só do clube carioca, mas também do futebol nacional.

Ele nega qualquer cunho político quando levantava os braços com os dedos em V apontando para o céu. Porém, ao recordarmos que hoje muitos goleadores se fazem literalmente de artilheiros ao empunharem armas imaginárias dos mais variados calibres na celebração de seus gols, a simbologia de alguém que é verdadeiramente de paz e amor em tempos tão conturbados como o que vivemos não deixa de ser exemplar. E Adalberto Kretzer, o Mickey, apelido ganho por ter orelhas e nariz grandes que virou marca registrada, é um grande exemplo.

A entrevista foi marcada para a casa de um de seus filhos, Alexandre, que tem numa pequena sala de frente onde gravamos o nosso agradável e divertido papo, fotos, quadros, troféus e medalhas do pai. Um minimuseu em homenagem ao jogador-talismã tricolor, não só do Rio, mas também da Bahia, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. E de outros times também, inclusive da Colômbia.

Recebeu-nos com festa, eu, o cinegrafista Fernando Gustav e o motorista Vander Schons. Não só ele, mas os filhos, Alexandre e Beto, este também ex-jogador de futebol e que atualmente disputa torneios máster de futevôlei pelo país, noras e amigos. Um churrasco celebrava a amizade e acabamos como convidados de honra após o trabalho. Muitas histórias de futebol correram de mesa em mesa e um dos amigos de Mickey revelou algo que certamente a sua humildade não permitira contar perante à câmera: quando Carlos Alberto Parreira era preparador físico do Fluminense e morava na Baixada Fluminense, portanto a muitos quilômetros das Laranjeiras, Mickey cedeu-lhe um apartamento que tinha na Zona Sul do Rio para que o futuro técnico da seleção brasileira não precisasse fazer tamanho deslocamento diário.

Falar mais o quê sobre este grande entrevistado. Deixemos que ele fale e conte sua rica história. Clica no vídeo e assista, ninguém se arrependerá.
 

 

Copy of Bozó

bozó

Luiz Augusto de Aguiar ficou conhecido pelo futebol como Bozó. Campeão brasileiro em 1978 pelo Guarani Futebol Clube, eternizou seu nome na história do clube e do futebol por ter realizado um dos feitos mais inéditos e que dificilmente será repetido, levar um time do interior do estado de São Paulo ao posto mais alto do futebol nacional.

Iniciou sua carreira no São Bento de Sorocaba, conheceu o Brasil de norte a sul jogando por 11 clubes durante a carreira. Ao chegar no Guarani, assistindo da arquibancada ao jogo entre Guarani x Bahia, foi recepcionado por Macedo com um golaço que mostraria que a disputa por uma vaga no time seria uma verdadeira batalha de craques. Gol que fez Bozó até a duvidar se iria ter uma oportunidade como titular do time, mas com muito trabalho e paciência como ele mesmo conta, recebeu a sua chance ao término da primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1978. E, quando entrou, não saiu mais do time.

O Campeonato Brasileiro de 1978 trouxe muitas mudanças, como o número de equipes participantes (74), a implantação do sistema de jogos ida e volta nas fases finais do campeonato e também fora a última a edição de um campeonato em que a vitória poderia valer dois ou três pontos dependendo do placar.


Em um dos jogos de maior destaque durante a campanha do título Bugrino contra o Internacional de Porto Alegre, a imprensa gaúcha tirou sarro do ataque formado por Capitão, Careca e Bozó, chamando-o de ataque de riso. O Guarani fez uma bela partida e venceu o jogo por 3 a 0. Credenciando-o como forte candidato ao título brasileiro daquele ano.

Deixando para trás ainda outros gigantes do futebol como o Vasco na semifinal e o Palmeiras na decisão, o clube chegou ao título e também conquistou uma vaga na Copa Libertadores. Bozó destaca a união e a qualidade do time que era recheado de craques onde em três anos vestindo a camisa do Guarani, perdeu apenas duas partidas.

Durante a entrevista, dentro do estádio que o consagrou dentro das quatro linhas, mostrou todo carinho e gratidão que tem pelo time do coração. Ainda nos brindou com uma história curiosa em um jogo contra a Portuguesa em que sentou na bola, causando o maior sururu como ele mesmo define. E diz com toda certeza que o Guarani daquela época era uma máquina!
 

 

FORÇA, ABEL

por Zé Roberto Padilha


Abel Braga, 67 anos, meu amigo, partiu para disputar o mundial de clubes, em 2006, não com Diego Alves, Rafinha, Felipe Luís, Arrascaeta e Gérson com bagagem internacional. Foi enfrentar, em Yokohama, o poderoso Barcelona de Valdez, Rafa Marques, Puyol, Deco, Xavi, Iniesta e Ronaldinho Gaúcho com Ceará, Índio, Edinho, Rubens Cardoso e Iarley. E venceu o mundial com um gol não de Gabigol. Mas de Gabiru. Com todo o respeito.

Se Vanderlei Luxemburgo anda tirando leite das pedras, tirou uísque 12 anos do assentado asfalto japonês.

Neste momento de sua saída do Cruzeiro pelo túnel dos fundos, mais desvalorizado que o Real frente ao Dólar, gostaria de lhe dizer que o futebol, onde iniciamos juntos nossa trajetória aos 16 anos, nas Laranjeiras, continua sendo cruel e impiedoso com seus personagens. Mereçam eles ou não.

Neste momento de plena glorificação de um novo Messias, perda de tempo lembrar aos entorpecidos e anestesiados rubro-negros que foi você quem montou a base deste espetacular time. Levou-o, na pré-temperada, ao túnel de vento com Bruno Henrique e Gabigol, e olha que não havia chegados os pneus laterais de última geração, Rafinha e Felipe Luís.

Mesmo assim venceu na Flórida, levantou o estadual e classificou o time para a Taça Libertadores.

Traído por Landim após Caim, viu seu substituto encontrar o Diego Ribas no departamento médico, que acabou com a dúvida de todo mundo se era ele quem começava ou Arrascaeta. O Gerson chegar e os laterais se assentarem na pista.

Não é questão de tirar os mérito de Jorge Jesus. É de lembrar a todos que Moisés já havia chegado antes, aberto o mar ao meio e levado sua gente à terra prometida. Enquanto deixaram você dirigir o time.

Se deixou uma base sólida no Flamengo, encontrou a do Cruzeiro com prazo de validade vencida. Mano Menezes não foi capaz de renovar seu time, deixando-o mais envelhecido que sua escalação caberia direitinho no time de máster do Luciano do Valle, caso este ídolo ainda estivesse entre nós. Infelizmente, Fábio, Edilson, Egídio, Henrique, Fred e Thiago Neves eram titulares por lá. E aí…

Sei que já está no Leblon. Então, tome um bom café e vai caminhar. E aprecie a paisagem. E saiba que se o futebol é cruel e injusto, seus amigos estarão sempre de plantão para elevar o seu astral. Afinal, amigo jornalista é para essas coisas. Como, por exemplo, tentar lhe fazer justiça. E exaltar o seu valor como um dos treinadores mais vitoriosos da história do futebol brasileiro.

Afinal, apenas cinco deles alcançaram um título mundial de clubes entre os 783 registrados, hoje, na CBF. Não é pouco!

Grande abraço