BARCELONA X SANTOS
por Serginho 5Bocas
Antes do jogo…
já havia uma “quase” certeza de que o Barcelona venceria o Santos, até com uma certa facilidade. Só não podíamos acreditar cegamente no óbvio porque o futebol vive nos pregando peças, é um dos poucos esportes em que o mais fraco pode vencer o mais forte. O Barcelona tem uma equipe fortíssima e tem no banco de reservas outros talentos que não deixam a “peteca” cair, já o Santos se agarra em dois ou três talentos individuais para resolverem tudo, é muito pouco. Infelizmente não deu a zebra que recentemente fez o Inter vencer o próprio Barcelona e o São Paulo vencer o Liverpool. O futebol não mudou, continua a ser um esporte simples e belo, o que mudou foi o ator principal, o protagonista, agora quem dá as cartas, são os espanhóis, não mais os brasileiros.
O jogo…
foi a vitória de um time sobre outro, não do talento individual de Messi ou de outro jogador, foi a vitória de um conjunto das individualidades. O Messi não consegue conduzir a Argentina ao topo não porque “amarela”, mas porque não tem tão boa companhia dos hermanos e os técnicos argentinos não conseguem formar uma grande equipe, apesar de possuir bons jogadores. Xavi e Iniesta sozinhos são bons jogadores, não são craques fabulosos, mas quando estão juntos ficam fortíssimos. Puyol, Abidal, Mascherano e todos os outros jogam na defesa azul e grená não são objetos de desejo de outros clubes, se saem bem porque existe um sistema de jogo que facilita e potencializa suas virtudes e mitigam seus defeitos, existem muitos zagueiros melhores do que eles. Acho que o mérito foi do futebol (ainda bem), pois dá uma tristeza muito grande quando equipes medíocres vencem as que jogam bola, perpetuando o futebol de resultados.
O estilo…
do Barcelona é tocar a bola com calma e qualidade, mantendo a posse dela em primeiro lugar, quando perde a posse, sai em bloco em busca de recuperá-la encurralando quem está com ela, assim, o adversário dificilmente dará seqüência de jogo e a bola fatalmente voltará a seus pés, num circulo vicioso, virtuoso e vital para atingir seus objetivos, pois só cria oportunidade quem está com a bola. Quando o ataque adversário supera sua linha de sete jogadores de “blitz”, os três que jogam de zagueiro não possuem o menor escrúpulo em fazer falta simples com o intuito de parar a jogada e dar tempo da equipe voltar por completo. Eles descansam quando estão com a bola e se esforçam muito, correndo demais para tê-la de volta quando a perdem, assim conseguem imprimir um ritmo forte até o final do jogo. Sempre que estão com a bola, os que não estão com ela no pé, se deslocam constantemente facilitando recebê-la, nada de novo, só que muito difícil de reproduzir, ou alguém esqueceu da velha máxima: “quem desloca recebe, quem pede tem preferência”, velho como amarrar cachorro com lingüiça.
Messi x Neymar
é até covardia comparar um com o outro por apenas este jogo. O Messi joga no melhor time do mundo e o Neymar joga num time que hoje não é nem o melhor do Brasil. Sem contar que Messi já tem mais de 24 anos, tendo ido a duas Copas do Mundi e vencido vários títulos que ainda faltam a Neymar. Hoje Messi é indiscutivelmente o melhor, se alguém ainda tinha dúvidas, neste domingo foram dirimidas. Neymar tem apenas 19 anos e já é um dos grandes, é uma grande promessa sem dúvida e quem sabe poderá suceder Messi no trono. Mas a estrada é longa.
Os times
Barcelona é um time rico que oferece a seu treinador o que há de melhor para jogar e o Santos é um time pobre que tem feito engenharias financeiras para tentar manter seu melhor jogador. Há um enorme abismo entre as duas equipes. O Santos poderia ter vencido por sorte num contra-ataque bem encaixado, assim como o São Paulo e o Inter de Porto Alegre fizeram recentemente, mas não mudaria a verdade óbvia de quem é o melhor time do mundo neste momento. Vimos que a cada ano fica mais difícil para os times do Brasil e da America do Sul vencerem a final do mundial, daí a virada dos europeus em número de conquistas mundiais. Infelizmente a tendência é a de que esses números se ampliem mais ainda com o tempo. No Brasil falta mais talento fora de campo do que dentro, infelizmente.
Os treinadores
Muricy ficou imobilizado, não sei se encantado ou apavorado com o que estava presenciando. Tudo que ele aprendeu durante estes anos foi pouco perante o time que enfrentou. Não dá para comparar as estruturas que ele e Guardiola possuem, mas ficou claro que o time catalão tem a cara do treinador. Um futebol simples e objetivo em que prevalece a qualidade técnica dos jogadores e muita movimentação. Reparem que no meio de campo deles, não tem nenhum daqueles cabeças-de-área (argh!) ou volantes de contenção, que estamos acostumados a ver desfilarem pontapés por aqui e acharmos normal e no ataque fiquei procurando o centroavante paradão esperando aqueles cruzamentos que dificilmente os encontram e não encontrei-o até o fim da partida. São vários jogadores chegando ao ataque e voltando rapidamente para defender. Volto a repetir que isso não é novo, estava esquecido, enterrado pelos grandes mestres do apocalipse do futebol romântico. Agora o melhor disso tudo é que não vimos aquela gritaria de beira de campo dos técnicos tão comum no campeonato brasileiro. Guardiola dava algumas instruções de vez em quando ao jogador mais próximo à linha lateral e Muricy ficou estático dentro do seu boné sem expressar aqueles palavrões que costuma proferir a beira do gramado. Ficou provado que técnico não ganha jogo esperneando a beira do campo, mas muito antes da partida começar, isso me deu saudades do mestre Telê, que durante a semana orientava bastante e durante o jogo, ficava quieto e estático no banco de reservas.
A lição
que bom que aconteceu em 2011, assim teremos tempo de refletir sobre o que temos jogado ou o que não temos jogado e pensamos que jogamos. O futebol brasileiro estava presente, só que do outro lado do campo. Agora é reaprender a andar.
A escola
O Barcelona não trouxe algo totalmente novo, exceto pela forte marcação que imprime o jogo todo e a doação de seus jogadores na mesma proporção. Fazer questão de ter mais posse de bola é uma característica antiga, que foi resgatada (graças a Deus) pelos catalães com muita propriedade. A Espanha depois de tantos “quases” em copas do mundo e competições européias, enfim iniciou uma fase de vitórias, vencendo uma Copa Européia de seleções e a última Copa do Mundo, sem contar os títulos do Barcelona. Eles vêm tentando criar uma escola de futebol, não que seja uma inovação, mas sim uma evolução de conceitos que estavam esquecidos por nós brasileiros e que nós torcedores tanto apreciamos, o tão propalado de forma ás vezes até jocosa, futebol arte, um viva aos espanhóis que ajudou a resgatar este conceito que muitos jovens não acreditavam que existiu, o futebol arte, OLÉ!
Um forte abraço do
Serginho 5bocas
DIA HISTÓRICO
por Wendell Pivetta
Dia 17 de dezembro é só o Sport Club Internacional que faz história.
Há 13 anos um clube gaúcho, vestido de branco, pintou o mundo de vermelho. Samurais gaudérios desbancaram o favorito clube catalão de Ronaldinho Gaúcho e uma esquadra multi campeã que menosprezou o olhar do capitão do clube gaúcho que, em um piscar de olho destemido ao apertar a mão de Ronaldinho, preparou seus colegas de equipe para a partida da vida deles.
Sangue foi derramado, literalmente pelo zagueiro Índio, começando ali a pintar o globo. No sul do Brasil era calor, Rio Grande do Sul estava paralisado naquela manhã de domingo, torcedores ansiosos mal podiam esperar pelo apito inicial de uma partida legendária para o futebol mundial. O clube do sul não tinha o estrelismo, tecnicamente era raçudo, porém jamais superior se compararmos os nomes, mas guardava na manga a sua experiencia de atletas como Iarley, anteriormente campeão do mundo com o Boca Juniors, fazendo a linha de frente com um jovem rapaz com um futuro promissor pela frente chamado de Alexandre Pato.
Ceará, lateral de máximo empenho físico, Edinho e Fernandão retornavam ao Brasil após passagem pelo futebol da França e demonstravam um conhecimento maior também. Era fácil naquele ano menosprezar o clube gaúcho, pouca informação se passava pelo passado de um clube roubado em 2005 no campeonato nacional, e que conquistara sua Libertadores em cima do atual campeão do mundo, o São Paulo. Os gremistas, rivais do colorado, falavam em massacre. Ficaram ainda mais fervorosos ao ver o clube gaúcho classificar na semifinal em um placar apertado, enquanto o todo poderoso Barcelona aplicava uma sonora goleada.
A cancha japonesa recebia em seu gramado o time iluminado, destemido e peleador, aonde numa boa roda de chimarrão quem conta sua versão da história só não é desmentido pois era um jogo televisivo. Galvão Bueno, Haroldo de Souza, Pedro Ernesto Denardini e demais comentaristas brasileiros que narravam aquele jogo não conseguiam esconder a magia maior do futebol, em que o atleta menosprezado pela torcida, mas protegido pelo seu treinador, entra no lugar de seu capitão e marca um gol que tem placa, tatuagem, quadro e a icônica frase: “me perdoa Gabiru”.
É, da tensão do início da partida, até o esplendor e alívio do apito final, um jogo de futebol se tornara o maior ato de fé, colocando nos incrédulos que o impossível é sim possível, e baldes de refrigerante dos colorados que apostaram sem medo na vitória contra os torcedores do rival.
DISTRIBUIÇÃO OU DESCONHECIMENTO?
por Idel Halfen
A cada mudança de fornecedor de material esportivo ocorrida nos clubes de futebol costuma-se escutar os mesmos discursos exaltando o novo e “espetando” os antigos.
Ainda que ignoremos os aspectos éticos que são desprezados quando as críticas públicas atingem alguma relação do passado, não podemos ficar cegos quanto à fragilidade de tais discursos no que tange ao embasamento sobre o assunto.
Dentre as “frases prontas e sem nexo” que recheiam tais falas está a que promete uma distribuição de produtos melhor que a realizada outrora.
Ao prometerem tal façanha certamente acreditam que o fornecimento de material esportivo é similar ao de bens de consumo com giro rápido e prazos de validade curtos, onde a logística é essencial para que o produto chegue aos canais de vendas através de melhores rotas, de veículos com as capacidades adequadas e pontos de armazenagem estrategicamente bem localizados e dimensionados. Devem crer ainda que o varejo só não tem o produto em sua área de vendas porque o fornecedor não entregou.
Como já foi escrito outras vezes, as marcas esportivas baseiam sua produção nos pedidos que são feitos previamente pelos varejistas, além das estimativas dos gestores de suas lojas e e-commerce próprios, portanto, eventuais rupturas têm como causa principal o aspecto comercial e, se fôssemos elencar uma causa secundária poderíamos citar o lead time (período que compreende o tempo decorrido do pedido de um cliente até a efetiva chegada), o que nesse caso tem muito mais a ver com o tempo da produção. Para ficar mais claro usaremos o case do Fluminense, que acaba de anunciar a Umbro como sua nova fornecedora de material esportivo, acontecimento que criou uma enorme expectativa quanto a uma maior disponibilidade de produtos em comparação ao que era no passado. Esse anseio pode até fazer algum sentido em função de a Umbro possuir operação fabril, ao contrário das marcas anteriores que terceirizavam essa etapa, o que, consequentemente, proporciona em tese capacidade superior para produzir mais rapidamente os pedidos extras – aqueles que “corrigirão” as estimativas de demanda pessimistas feitas na ocasião da pré-venda.
Todavia, essa suposta vantagem não garante que as rupturas não acontecerão, até porque a expectativa do varejo é ainda a principal variável para se deixar o produto disponível ao consumidor, ou seja, se esse canal for muito conservador na gestão do seu capital de giro, as chances de ruptura continuarão a existir, e por favor não responsabilizem a Umbro por isso, mesmo porque a marca não possui lojas próprias. O ponto negativo que vejo na parceria diz respeito ao fato de a marca inglesa ter um portfólio restrito basicamente ao futebol, o que pode vir a ser um fator de fragilidade nas negociações com as key accounts.
Por outro lado, é de se esperar que haja uma maior flexibilidade em relação ao desenho dos materiais. No cômputo geral achei a decisão excelente, principalmente diante da atual conjuntura desse mercado.
Com esse parceiro, o único clube brasileiro detentor da Taça Olímpica continua a ter como fornecedor uma marca de relevado reconhecimento e importância, assim como são Adidas e Under Armour, o que fortalece o conceito de co-branding e dá visibilidade ao clube.
ESQUECERAM DE MIM
por Zé Roberto Padilha
Desde que vim a campo quando inventaram o futebol, tenho vivido entre tapas e beijos dos homens que disputam a minha posse. Seja no Aterro do Flamengo ou no Morumbi. E não são poucos. São 22. Alguns me cercam de carinho, dormem comigo desde a adolescência e conhecem meu ponto G. De gol. Como Nelinho, Marcelinho, Rivelino, Fred, Gabigol e Otero.
Outros, apenas nos tem agredido, arremessado nosso corpo inerte e indefeso com violência e sem qualquer direção. Digão e Manoel são alguns dos que, recentemente, conheceram meu ponto C. De chutão. E abusam dele.
Aos carinhosos, retribuo dormindo alinhada nas redes adversárias. Aos violentos, denuncio maus tratos, e recebem cartões amarelos. Se insistirem, aciono a Maria da Penha. E ficam sem pisar o gramado por alguns jogos.
Sou poderosa, sei disso. Pois o Vasco pode trocar Luxemburgo por Abel, o Dudu vestir a camisa do Flamengo, aposentarem o Mano e o Felipão e até decidirem se vai ser jogo de torcida única que a partida acontece. Só não acontece se eu faltar. Não há como ter futebol sem a presença de uma bola. Mesmo assim me subestimam.
Por ser discreta, não dar entrevista nem mudar o penteado, estão esquecendo de mim. Seguem o jogo pelos rumos que tomo, dos pés que me conduzem, mas apenas falam de quem me conduz. E ignoram a importância de quem é conduzida.
Não tem mais a narração do simpático “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, o questionável “Bola pro mato que o jogo é de campeonato”, a reverência de Waldir Amaral “Desce com a bola o Rei Pelé”. Mesmo de plástico sintético, cara toda vida e bem leve, é como fosse invisível. Como não mais existisse.
“Segue o jogo!”, como se ele pudesse seguir sem mim. “Sabe de quem?”, sabemos, Luiz Roberto, que nunca serei eu.
Apenas filmam minha entrada em campo pelas mãos do juiz, não como uma saudação e respeito, mas para mostrar a logomarca do patrocinador que carrego no peito.
Consultei meu sindicato. E os mais velhos, de meia, couro e até os que foram de plástico, os Dentes-de-leite, dizem que está mesmo na hora de fazer greve. Pois se os caminheiros que transportam alimentos vão parar, porque eu, que transporto paixões, provoco emoções e decido quem vai trabalhar feliz dia seguinte no país do futebol, não posso cruzar os passes?
Me aguardem pela minha ausência. Quero ver jogar futebol sem mim.
MANUAL PRÁTICO DO “QUEM NÃO FAZ TOMA”
por Luis Filipe Chateaubriand
No domingo de 12 de Abril de 1987, Fluminense e Vasco da Gama se enfrentavam pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, a Taça Guanabara, já em uma de suas últimas rodadas, com este sujeito nas arquibancadas.
O favorito Vasco da Gama, invicto até então, tinha uma linha de frente poderosa: Mauricinho, Geovani, Roberto Dinamite, Tita e Romário. Poderia, se vencesse o jogo, sagrar-se campeão do turno com três rodadas de antecedência.
O Fluminense, sem o maestro Delei, tinha, no entanto, um time que não podia ser desprezado, com o craque paraguaio Romerito e o “Casal 20”, Assis e Washington, entre outros bons jogadores, como o lateral Branco e o jovem João Santos.
O jogo começa com o Vasco pressionando bastante. Liderado pelo cracaço Geovani, o Pequeno Príncipe, o time domina o jogo e perde gols.
Até que, por volta de metade do primeiro tempo, a zaga vascaína corta uma bola para o lado esquerdo de ataque da grande área e Assis desfere um chute cruzado, indefensável para o bom goleiro Acácio.
Fluminense 1 x 0 Vasco.
O Vasco volta a dominar, Geovani liderando as ações. Chances de gol se sucedendo, ou chutadas para fora, ou defendidas pelo excelente goleiro tricolor Paulo Víctor. O gol não sai e, assim, termina o primeiro tempo.
O segundo tempo começa com o Vasco mais em cima ainda. Liderados pelo genial Geovani, o Pequeno Príncipe, os vascaínos seguem dominando o jogo… e seguem perdendo gols.
Por volta de dez minutos da segunda etapa, Washington e João Santos saem tabelando desde o meio do campo, sem que sejam alcançados pelos defensores cruz maltinos e, na entrada da área, João Santos chuta rasteiro, sem chances para Acácio.
Fluminense 2 x 0 Vasco.
E, após tomar novo gol, o Vasco parte para cima de novo. Liderados pelo divino Geovani, o Pequeno Príncipe, os alvi negros vão em busca do gol novamente.
Até que, para desespero da torcida vascaína, o então técnico iniciante Joel Santana – que ainda não era o Papai Joel – resolve sacar do time… Geovani! Os gritos de “burro” da torcida cruz maltina, predominante no estádio, são incessantes.
Mesmo sem o cérebro do time, o Vasco domina o jogo. Mas, em descuido da defesa, e já no final do jogo, Washington aparece na entrada da área, para fazer mais um gol tricolor.
Fluminense 3 x 0 Vasco.
E assim termina o cotejo.
Ao final do jogo, se constata que o Vasco deu uma aula de como dominar uma partida, e o Fluminense deu uma aula de como vencer uma partida. O time que teve mais a bola, mais chances de gol, mais visibilidade em campo, foi goleado pelo colosso de objetividade e clarividência.
“Quem não faz, toma” não é mito, é parte bem visível deste esporte apaixonante, chamado futebol.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.