A MÍSTICA DA CAMISA SETE
por André Felipe de Lima
Há coisas que só acontecem ao Botafogo. Ouço até hoje essa máxima. Porém, embora a frase tenha sido praticamente patenteada pelos alvinegros, nos últimos 12 anos sequestrei-a para mim. Explico o porquê. Logo que me transferi de mala, cuia e livros para a Tijuca, um, digamos, “espírito que anda” (e não é o Fantasma dos quadrinhos) me cerca vestindo uma camisa sete do Botafogo. A primeira vez que o encontrei foi na fila de um banco. Ele tentou puxar um papo. Não dei muita bola porque estava estressado e fazendo cálculos – aliás, minha vida é mais matemática que literatura ultimamente. Pedi licença ao botafoguense e que me deixasse calcular em paz. Dali em diante, em cada canto da Tijuca e até de Vila Isabel me deparo constantemente com ele e sua indefectível camisa sete.
O camarada parece me seguir. Hoje não foi diferente. Passeando com minha esposa e meu filho no shopping Tijuca, lá estava o cara novamente. Nossos olhares se fitaram, e concluí: trata-se do meu anjo da guarda. Não tenho dúvida disso. De algum lugar do céu, a camisa sete do Mané me acompanha. Passo a passo, ensinando-me a driblar essa tão difícil marcadora que se chama vida. Deveria ter dado atenção ao botafoguense naquele primeiro encontro. Há coisas que só acontecem conosco e, vá lá, ao Botafogo.
JOHAN CRUYFF. O GÊNIO INDOMÁVEL
por Israel Cayo Campos
Não posso falar de um universo tão grande como o de jogadores que já jogaram e ainda atuam no futebol atual. Mas com certeza, posso afirmar que dentro do status futebolístico que alcançaram, os dois jogadores mais inteligentes que eu já vi na história desse esporte foram o Doutor Sócrates e o holandês Johan Cruyff.
Infelizmente, como todos os gênios, o excesso acabou por lhes ceifar a vida. Respectivamente o álcool e o cigarro. Por mais que ambos tivessem plena consciência do caminho arriscado que escolheram seguir…
No dia 25 de abril de 1947, nascia em Amsterdã, capital da Holanda aquele que seria o maior gênio da história do futebol de seu país e um dos maiores jogadores da história do futebol. Seu nome era Hendrik Johannes Cruijff. Mas “aportuguesamos” seu difícil nome para Johan Cruyff.
Segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), o maior jogador europeu de futebol de todos os tempos e o segundo maior jogador do mundo só atrás de Pelé.
Ainda garoto, Jopie (apelido de Cruyff na infância), perdeu seu pai, Hermanus “Manus” Cruyff, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Sua mãe, Petronella “Nel” Bernarda Draaijen, que já trabalhava de maneira voluntária no Ajax, passou a exigir do clube uma remuneração. Além de procurar outro emprego para que pudesse sustentar a família.
Tal atitude de “Nel” associada a perda do pai moldou o caráter de Cruyff, o tornando um ser humano contestador e revolucionário. Mesmo com a ajuda terapêutica paga por Rinus Michels com o objetivo de contribuir na superação do luto, nada funcionou. Anos mais tarde, Cruyff admitiu que “Nunca aceitou uma ordem”. Se isso foi verdade, está explicado porque ele se daria tão bem com o “Baixinho” Romário tempos depois…
Ainda alternando as peladas na rua e os treinos no Ajax, Cruyff teve um problema na formação dos pés que quase o impediu de jogar futebol. Todavia, para sorte dos amantes do esporte, houve um grande erro médico e Jopie continuou a treinar no time que anos a frente lhe permitiria alcançar a projeção que conseguiu.
Em 1964, estreou pelo seu clube do coração com apenas 17 anos marcando um gol. Mas o time, que não enfrentava uma sequência vitoriosa desde os anos 1930, não fizera uma boa temporada.
Cruyff, já aquela época, possuía um senso de liderança admirável dentro do campo, sendo capaz de reorganizar o time no meio da partida, dar instruções com a bola no pé e atuar em várias faixas do campo durante os 90 minutos.
Certa vez, emprestou a camisa 9 que costumava usar a um companheiro de clube e vestiu a 14. Se sentiu tão bem usando esse número que nunca mais o largou! Em um mundo onde todos os craques querem vestir a camisa 10, dar ao número 14 tamanha importância foi criar uma marca registrada que dura até hoje! Cruyff, já no final dos anos 1960, entendia de marketing pessoal!
No ano seguinte, Cruyff se uniu a um treinador de ginástica para crianças surdas chamado Rinus Michels. A forma de ambos enxergarem o futebol era comparável ao de um amor a primeira vista. A partir dessa união, surgia o conceito de “Futebol Total”, que Rinus e Cruyff jamais abandonariam.
Até hoje é difícil dizer qual era a posição do holandês dentro de campo. Horas estava marcando como um zagueiro ou lateral, horas armando o jogo como um volante, meia ou ponta, horas dentro da área definindo como um autentico camisa nove! O incrível era que nessa polivalência, o holandês conseguia ser um craque em todas as faixas do campo! O que dificultava ainda mais saber qual era sua principal zona de ocupação no gramado!
Particularmente, ficaria com a brilhante definição da Revista Placar. “Cruyff atuou em todas as posições, menos no gol”.
A partir daí, o Ajax passou por uma revolução. Foram oito campeonatos holandeses e cinco copas da Holanda em dez anos de duas passagens do craque pelo clube. O time voltara a ser a principal potência dos Países Baixos. Mas isso era pouco para Cruyff.
Michels fora contratado pelo Barcelona em 1971 e chamou Johan para o clube catalão, no entanto, Cruyff mesmo tentado decidiu ficar no clube de Amsterdã para conseguir três títulos seguidos da atual Liga dos Campeões da Europa: 1971, 1972 e 1973. Sendo essa última, com direito a eliminar o Bayern de Munique de Franz Beckenbauer.
Ainda vieram a Supercopa da UEFA e o Mundial Interclubes de 1972 (Só não vieram mais dois mundiais pois o Ajax declinou das disputas em favor dos vice campeões europeus).
Com as conquistas sendo o destaque da equipe, vieram também os títulos individuais. dentre eles, três Bolas de Ouro em 1971, 1973 e 1974. Cruyff assumia o bastão que antes fora de Puskas e Eusébio como o melhor jogador europeu.
Após ter mudado o Ajax de patamar, Cruyff se sentiu traído por seus companheiros que decidiram lhe tirar a braçadeira de capitão por sua forte personalidade. Com isso, migrou para o Barcelona, clube que já era treinado pelo seu grande amigo Rinus Michels.
Antes de chegar a Catalunha, o Real Madrid lhe fez uma boa oferta, mas Cruyff pediu um salário de 12 mil dólares anuais, o que foi considerado absurdo pelo clube merengue.
Com isso, o holandês seguiu para o Barcelona na metade de 1973 e na mesma temporada (73/74) já conquistou o campeonato espanhol. Um título que não vinha para o time catalão há 14 anos Aos dirigentes do Real Madrid, restou o arrependimento até hoje de não terem subido um pouco a oferta.
Tal atitude já denotava que Cruyff era um gênio indomável, e que sabia muito bem que o futebol por mais divertido que fosse era um trabalho, e que por isso mesmo deveria ser encarado de uma maneira profissional.
Apesar de um grau de entendimento de mundo superior a média da maioria dos futebolistas, um vício o seguia desde garoto no Ajax: Os cigarros! Em uma declaração de 1991, Cruyff disse que chegava a fumar 20 cigarros por dia!
Ainda no período entre Ajax e Barcelona, chegava mais uma eliminatória para a Copa do Mundo. Dessa vez a Holanda iria tentar uma vaga no mundial da Alemanha Ocidental, coisa que não conseguia ha 40 anos, quando foi ao mundial de 1934 disputado na Itália.
Apesar do forte time montado com base no Ajax e no Feyenoord, a Seleção holandesa só conseguiu a vaga no mundial pelo saldo de gols ser superior ao de seus arquirrivais belgas. Tendo empatado em número de pontos e em jogos diretos contra o país vizinho! Mesmo assim, Cruyff conseguia mais um feito, recuperar o futebol holandês de seleções para o mundo!
Chegava o mundial da Alemanha Ocidental de 1974, Michels havia pego uma espécie de licença do Barcelona para treinar a seleção holandesa (Dizem alguns que fora influência direta de Cruyff). Estava montada a espetacular “Laranja Mecânica”, um time que misturava o talento individual ao vigor físico e que revolucionaria o futebol mundial a partir de conceitos estabelecidos na ideia do futebol total de anos antes. Tais como o jogo em alta velocidade, marcação mais dura, toque de bola, dribles sempre em projeção do gol e posse de bola.
Mas antes da Copa, Cruyff teve que mostrar mais uma vez sua personalidade. A seleção holandesa era patrocinada pela Adidas, e para estampar seu patrocinador resolveu colocar as três listas características da marca nas mangas de suas camisas.
Porém Cruyff, que era patrocinado pela Puma se recusou a fazer propaganda gratuita do patrocinador rival! Sua camisa era a única que só tinha duas listas ao invés das três tradicionais!
Começa o mundial e o “Carrossel Holandês”, apelido dado pela tática em que os jogadores não guardavam posições fixas, em especial o próprio Cruyff, começou a “passar o trator” por todos os adversários.
O uruguaio Pedro Rocha, uma das vítimas de Cruyff, chegou a dizer que só pediu por sua mãe duas vezes na vida! Uma em sua estreia como profissional e a outra quando enfrentou a seleção holandesa de 1974! Os marcadores uruguaios que haviam “jurado” Cruyff antes da partida saíram dela reclamando que não conseguiam sequer chegar perto do camisa 14.
Além do Uruguai, a seleção laranja passou por Suécia, Bulgária, Argentina, Alemanha Oriental e Brasil. Com Cruyff atuando muito bem em todas as partidas!
Contra o Brasil em especial, mesmo em um primeiro tempo de muita pancadaria, Cruyff fez Leão fazer a mais bela defesa da Copa do Mundo!
Mas no segundo tempo debaixo de chuva, o camisa 14 cruzou para Neeskens marcar e em seguida, ele mesmo fechou o caixão brasileiro. Em sua segunda Copa na história, Cruyff, Neeskens, Krol, Rep, Resembrink e Michels conseguiram levar a Holanda a final do torneio com total favoritismo, mesmo que o adversário fosse a dona da casa, a Alemanha Ocidental.
Antes de prosseguir na história vale um adendo sobre a Seleção brasileira: Desde 1950, os brasileiros têm o costume de nunca reconhecerem o mérito adversário, mas sim erros próprios! Foi assim com Barbosa em 50, O complexo de vira-latas em 54, o goleiro Manga e pancadaria europeia em 66, o roubo argentino em 78, os erros individuais de Cerezo e Valdir Peres em 82, o pênalti perdido de Zico em 86, Lazaroni em 90, a convulsão de Ronaldo em 98, a falta de pulso de Parreira em 2006, Felipe Melo em 2010, Felipão em 2014, e Fernandinho em 2018.
A única Copa em que os jogadores e imprensa da época reconhecem que o Brasil não perdera por seus erros, mas sim pela total superioridade do adversário fora a derrota de 1974 para a Holanda e para Cruyff. Se tratando de Brasil, onde sempre nos consideramos superiores no futebol, isso é um mérito e tanto para Johan.
Voltando a final do mundial de 1974, mal o jogo havia começado e Cruyff recebeu a bola como um zagueiro. Foi avançando, driblou seu marcador individual Vogts, entrou na área e acabou derrubado, era pênalti para a Holanda sem sequer a seleção alemã ter tocado na bola! Neeskens bateu e abriu o placar.
No primeiro tempo, Cruyff ainda deixou Rep na cara do gol. Poderia ser o segundo e decisivo gol holandês. Mas o atacante foi parado pelo goleiro Sepp Maier, talvez na maior atuação de um goleiro em finais de Copas do Mundo.
Após o gol de empate e virada da Alemanha ainda no primeiro tempo, Cruyff parecia bastante irritado, o que acabou por desestabilizar o time como um todo. Ao fim da primeira jornada, tomou um cartão amarelo após áspera discussão com o árbitro. Tal instabilidade aliada a uma partida irreparável de Maier fizeram o jogo de Cruyff desaparecer e consequentemente a Alemanha segurar o jogo até o final, o que garantiu o bicampeonato mundial do país.
Para Cruyff, restava o vice campeonato e o prêmio de melhor jogador da Copa e do ano de 1974 como já citado antes!
Citando Israel Cayo Campos em outro texto: “Acho engraçado ler de alguns especialistas que Cruyff era um jogador tático, porém não talentoso como outros grandes gênios do futebol! Além da consciência tática que possuía, o holandês também tinha um talento absurdo! Passes precisos, dribles desconcertantes para ambos os lados sempre em direção ao gol, movimentos giratórios que deixavam zagueiros no chão, velocidade, arranque, ótimos cruzamentos e um faro de gol que faria inveja a qualquer camisa nove de ofício”.
Para os mais jovens, se pudéssemos comparar épocas, um jogador que lembra o estilo de jogo de Cruyff é o argentino Lionel Messi. A exceção é que Messi não volta para marcar, Cruyff fazia isso com primor!
Claro, o argentino é mais talentoso e vitorioso durante sua ainda não terminada carreira, mas Cruyff não fica tão atrás no jeito de jogar, além de ter um conhecimento tático como jogador bem superior ao do argentino.
Assim como no Ajax, Cruyff e Michels revolucionaram o estilo de jogo do Barcelona. Um clube que tinha a cara do holandês, Revolucionário! Mais um título da Copa do Rei veio em 1978 e chegava a hora da Copa do Mundo da Argentina.
A Holanda conseguira de novo a classificação, mas dessa vez, Cruyff anunciara que não disputaria o torneio! Aos 31 anos e ainda em seu auge, a ausência do melhor jogador do mundo a época não fora entendida e explicada por ninguém!
A Holanda foi novamente vice-campeã, mas já não lembrava o futebol maravilhoso do mundial anterior sob a capitânia de Johan.
Muito se especulou sobre a recusa de se jogar aquela Copa. Alguns disseram que Cruyff não teria ido como afronta a ditadura militar argentina da época! Outros alegaram que foi por motivos relacionados a patrocinadores como ocorrera em 1974. Mas anos depois o próprio Cruyff contou que fora um sequestro pelo qual ele e sua família passaram um ano antes do mundial da Argentina que acabou gerando o trauma que o fizera querer sair dos holofotes mundiais por um tempo.
A alegação apesar de demorada nunca foi contestada, e por isso ficou como a explicação oficial para a não ida do craque holandês a Copa de 1978.
Em 1978 resolveu se aposentar, mas acabou voltando atrás após problemas financeiros. Em 1979, acabou indo jogar na Liga dos Estados Unidos, onde segundo o próprio, teria mais sossego e anonimato! O que em partes comprova seu argumento sobre o sequestro!
Após o reestabelecimento financeiro, Cruyff voltou para o seu Ajax de coração aonde conquistou mais uma liga holandesa! Mas ao fim da temporada, o clube não quis pagar o que o craque achava merecer receber e o dispensou! A vingança de Cruyff foi assinar um contrato com o arquirrival Feyenoord, que em 1984, com Cruyff como principal jogador, ganhou o campeonato holandês em cima do Ajax!
Aos 37 anos, era o fim de sua carreira como futebolista em grande estilo!
Cruyff terminou a carreira de jogador com 660 jogos e 514 gols por clubes, além de 48 jogos e 33 gols pela seleção holandesa. Números excelentes para uma carreira de vinte anos de futebol profissional!
Mais uma prova de que Cruyff era um sujeito de personalidade forte se deu ainda anos 1980 quando a seleção holandesa não conseguira se classificar para as Copas de 1982 e 1986 mesmo sendo vice-campeã nas duas dos anos 1970.
Fora feito um congresso de treinadores holandeses para resolver o problema da Seleção em 1987. Entre os membros do debate estava Rinus Michels. Cruyff apareceu meio que de penetra e começou a dizer tudo que estava errado no futebol holandês dos anos 1980, inclusive para o seu mestre Michels. A partir dali, a Holanda se reestruturou e montou uma base forte que culminou no título da Eurocopa de 1988 com a nova versão da “Laranja Mecânica”.
Seleção holandesa que era novamente comandada por Rinus Michels, mas que se recuperara graças aos conselhos do antes aluno Johan Cruyff!
O conhecimento futebolístico do ex-camisa 14 o levou para a carreira de treinador. Em 1986 assumiu o Ajax, e conquistou duas Copas da Holanda em 1986 e 1987.
Logo foi chamado para dirigir o Barcelona, que não vinha mostrando um bom futebol desde a época em que o próprio Cruyff era jogador.
Em 1988, Cruyff voltava a Barcelona para fazer história, dessa vez como técnico. No time catalão ele passou a inserir um estilo de jogo que dura até hoje. Onde a posse de bola, o futebol bonito, a técnica e objetivo do gol são as principais características!
Se o Real Madrid foi, e continua a ser mais vencedor, o Barcelona graças ao estilo Cruyff se tornou um futebol mais belo de ser observado enquanto espectador! Mas um belo com resultados que fizeram a distância em conquistas para o clube da capital espanhola diminuir!
Só com Cruyff como treinador, foram quatro campeonatos espanhóis, uma Copa do Rei, quatro Supercopas, sendo três da Espanha e uma da UEFA. E a tão sonhada Liga dos Campeões de 1992, título que até então era inédito para o clube. Cruyff é um dos poucos que podem dizer que revolucionaram um clube como jogador e como técnico!
Ao contrário de quando era jogador, quando “cuspiu cobras e marimbondos” pela derrota na final da Copa de 1974 com a famosa frase “A Alemanha não ganhou a Copa do Mundo. Nós a perdemos”, Enquanto treinador, aprendeu a reconhecer quando uma equipe era superior a sua. Foi assim com o São Paulo de Telê Santana no Mundial de Clubes de 1992 e com o Milan de Fábio Capello na final da Champions de 1994.
A maturidade, o nome na história, e os títulos conquistados trouxeram mais tranquilidade ao gênio holandês! Mas não só isso. Sua saúde passou por um risco em 1991, quando por causa do tabagismo precisou fazer uma cirurgia cardíaca! A partir dali, largou o inveterado vício em cigarros e passou a cuidar mais da saúde. Fez até propagandas antitabagistas onde dizia que só teve dois vícios: O futebol, que lhe deu tudo que ele possuía, e os cigarros, que quase lhe tiraram a vida!
Mesmo assim, quase 25 anos depois de ter parado de fumar, Cruyff foi diagnosticado com câncer de pulmão. Que rapidamente se alastrou em seu corpo e o fez nos deixar, segundo seus familiares de maneira tranquila, no dia 24 de março de 2016 em Barcelona.
Chegava ao fim a vida de um dos cinco maiores jogadores de todos os tempos (Na opinião do escritor do texto), mas seu legado fica até hoje para jovens do mundo todo em vários projetos sociais promovidos pelo craque! Alguns inclusive no Brasil!
Em pesquisa popular de um programa inglês, Cruyff ainda fora eleito o sexto maior holandês de todos os tempos, atrás de nomes como Erasmo de Roterdã, Antonie van Leeuwenhoek (O verdadeiro inventor do telescópio, e não Galileu Galilei), Willian de Orange e Pim Fortuyn. Pra se ter uma ideia, nessa mesma pesquisa no Brasil, um país com bem menos tempo de história que a Holanda, Pelé, o maior jogador de todos os tempos, ficou apenas em décimo segundo!
O estádio do Ajax mudou de Amsterdã Arena para Johan Cruyff Arena. O Ajax aposentou a camisa 14! E só nos restou o “espírito” desse gênio do futebol aprisionado naqueles que puderam aprender com ele. A maioria saídos das “canteiras” do Barcelona…
No mais, nunca mais veremos outro gênio igual Johan Cruyff a desfilar seu talento nos gramados! Um gênio contestador, Um gênio com as palavras, Um gênio com a bola nos pés! Um gênio político! Um gênio indomável!
O PRESENTE
por Claudio Lovato
“Quase que não consigo!”, ele diz para si mesmo, esbaforido, num sussurro de alívio, de pé no metrô, a caminho de casa. “Caraca”.
Véspera de Natal, quatro e meia da tarde, e só agora ele conseguiu tomar o caminho de casa.
A saída apressada da seguradora em que trabalha como auxiliar administrativo. A ida de ônibus para o estádio, para a loja do clube – porque a compra tinha de ser feita lá, na loja do estádio.
Compra parcelada em seis vezes no cartão de crédito que ele vinha cuidando de manter rigorosamente em dia desde setembro.
Do estádio para o metrô, que chacoalha. Ele se preocupa com a sacola que tem o distintivo do clube em tamanho grande, quase gigante; cuida para que ninguém, na aglomeração do trem lotado, amasse ou rasgue ou suje aquela embalagem que, por si só, já significa muito, já é praticamente o presente.
O metrô chega à estação de todo o final de dia, e ele, saindo do vagão, olha para dentro da sacola, para checar se o conteúdo ainda está ali. (E se não estivesse? Não, ele não consegue nem por um segundo pensar nessa hipótese.)
Na praça, a duas quadras de casa, ele sente que conseguiu, sente uma inédita onda de euforia que faz com que tenha vontade de sorrir e apressar o passo, correr.
Agora ele está quase correndo mesmo, a sacola com o distintivo do clube bem segura na mão direita, e, quando vira a esquina e vê que o menino está na porta da casa, tenta se controlar, tenta aparentar o pai que é, ou o pai que imagina ser, e então reduz a velocidade e contém o sorriso e respira fundo, mas é tudo muito forte, um fluxo de emoção potente demais, de maneira que só o que ele consegue fazer quando chega diante do menino, a menos de um metro dele, é dizer “toma, é o teu presente”, e o menino abre a sacola e de dentro dela tira uma camisa oficial do clube, o clube que aprendeu a amar indo ao estádio e vendo jogos na TV com aquele homem que está ali à sua frente, seu pai. E é nesse exato momento que, lá dentro da casa, assistindo a tudo, uma mulher – esposa, mãe – sente uma onda de profundo amor que é maior do que tudo que já sentiu na vida.
SERGINHO, DO PAVIO CURTO AO ARTILHEIRO ALTRUÍSTA
por André Felipe de Lima
O repórter José Maria de Aquino sempre soube das coisas. Em dezembro de 1974, o grande mestre do jornalismo esportivo escreveu sobre quem disputaria a vaga de centroavante deixada por Mirandinha, que sofrera contusão gravíssima no mês anterior. Especulou quatro nomes: Picolé, Terto, Silva e a jovem promessa Serginho, o nome que mais agradava o técnico Poy, goleirão que fez história no Tricolor paulista campeão de 1957. Foi Poy quem lançou o rapaz no time de cima. Serginho não estranhou tanto. Embora atuando mais como ponta-esquerda no time juvenil, sentiu-se à vontade no meio do ataque. Humilde, Serginho reconhecia suas limitações, mas sempre se mostrou altivo — o que ao longo da carreira confundiam com arrogância. Mesmo assim, Serginho, convenhamos, sempre foi pavio curto. Aquino ouviu o rapaz:
“Sou mais lento, mas sei jogar perto da área, tenho bom domínio de bola, gosto de limpar o lance, chuto forte e prefiro só tentar o gol quando sinto a chance concreta de fazê-lo. Espero que passem bolas curtas e não na corrida. Bola no pé e não na frente, Façam isso e deixem o resto com o Serginho aqui. Só vou lamentar, como já estou, que minha chance tenha surgido dessa maneira, com o Mirandinha machucado. Mas vou aproveitá-la porque sei que ele vai estar torcendo por mim.”
O menino tornou-se homem e artilheiro. Um dos mais singulares do São Paulo em todos os tempos. Brilhou também no Santos e contou, nos dois clubes, com os melhores garçons que poderia ter para seus infindáveis gols. No Tricolor, creio que Renato (ídolo também do Guarani) tenha sido o melhor deles; no Santos teve dois excepcionais passadores de bola: Paulo Isidoro e depois Pita. Mas como esquecer-se do Serginho da seleção brasileira de 1982? Com Reinaldo e Careca fora do escrete de Telê Santana, que, por sua vez, não era muito fã de Roberto Dinamite, Serginho foi o titular na Copa do Mundo realizada na Espanha. Não brilhou naquele time que contava com gênios da estirpe de Junior, Leandro, Falcão, Sócrates e Zico. Inclusive perdeu gols incríveis e até se indispôs com Zico em um lance capital no jogo contra os italianos. Partida, aliás, em que marcou um de seus três gols naquele Mundial. Os outros foram contra Nova Zelândia e Argentina. Mas não há como negar que Serginho foi marcante no futebol brasileiro. “Não sou craque. Sou um goleador. Os gols que marco não são bonitos nem feios. Podem ser até importantes e decisivos. Para mim são apenas gols”, respondia aos críticos de plantão.
Foi grande goleador, mas também enfrentou a fama de rebelde e indisciplinado em várias ocasiões, como aquela em que chutou, sem dó, a canela de um bandeirinha. E tome “gancho”. Chulapa jamais receberia um prêmio Belfort Duarte. Mas há um Serginho que pouca gente conhece: o altruísta. Certa vez ele acolheu um jovem conhecido como Bimbão. Praticamente o adotou e fez dele seu secretário.
Serginho sempre deixou confusos jornalistas e torcedores com o seu estilo bateu-levou que se misturava ao do cara gente fina, de coração ilimitado e de alteridade fora da curva. Ajudava sempre os meninos pobres das divisões de base dos clubes que defendia. Separa uma parte do “bicho” que recebia após os jogos e a doava aos garotos. Uma vez, um menino o abordou em um restaurante e pediu uns trocados para comer. Serginho o convidou para que se sentasse à mesa com ele, mas o gerente vetou a entrada do pedinte no estabelecimento. Serginho teve apenas uma reação: levantou-se e, surpreendentemente, saiu do restaurante e ingressou em outro com o menino.
Esse é o Serginho, um paulistano do bairro Casa Verde. Hoje ele faz anos. Nasceu em 1953.
As notórias desavenças e brigas em campo representam, em números, pouco quando comparadas às vezes em que balançou as redes. Só no São Paulo, que defendeu de 1973 a 1983, foram 243, em 401 jogos, com 210 vitórias e 113 empates. Marca que o faz o maior goleador da história do Tricolor. Deixou o Tricolor apenas em 1973, quando foi emprestado por alguns meses ao Marília. Retornou e ajudou o São Paulo a ser campeão paulista em 1975, 80 e 81 e brasileiro em 1977. Ano, aliás, em que ficou suspenso por quatorze meses por chutar a canela do tal bandeirinha. O resultado da destemperança foi ficar fora da lista dos convocados para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina.
Em 1983, Serginho chegou ao Santos sob críticas contundentes de cartolas da oposição que preferiam o jovem Careca a ele. Na Vila, o comportamento continuou o mesmo: polêmico e cheio de gols dentro de campo, generoso e doce fora dele. Logo no primeiro ano, Serginho fez 21 gols com a camisa do Peixe no Brasileiro, uma marca ainda não superada por nenhum jogador do time da Vila Belmiro. Qual santista hoje na faixa dos 50 anos não se recorda do gol de Serginho na final do Paulistão de 1984, que pôs fim ao sonho dos corintianos de serem tricampeões? “Tiramos o tricampeonato do Corinthians e, pelo sabor especial, assim que cheguei no vestiário tomei mais da metade de uma garrafa de uísque. Fiquei até mal de tanto que bebi.”
Gols, títulos e sopapos. Foi assim a trajetória de Serginho no Santos. A decisão do campeonato brasileiro de 1983 entre Flamengo e Santos, no Maracanã, é emblemática. Possesso, o centroavante partiu para cima de um fotógrafo. Chulapa foi condenado a três anos de prisão, mas cumpriu dois em liberdade. Dessa, ele não escapou e teve a imagem desgastada no Santos, que negociou o passe do jogador em 1985 com o Corinthians. Pelo clube da Vila Belmiro, é o maior artilheiro da era pós-Pelé, com 104 gols. Já pelo Timão, disputou 38 jogos, venceu 15, empatou 14 e marcou 14 gols. Ao deixar o Parque São Jorge para regressar ao querido Santos, disse ironicamente: “Estou de volta, depois de um ano de férias no Corinthians.”
E o craque realmente não era muito afeito ao Parque São Jorge. Desde a época em que defendeu o São Paulo. Aliás, no clássico entre os dois times, Serginho é o segundo maior goleador, com 15 gols. Só perde para Teleco, atacante do Timão, que marcou 25 entre os anos de 1930 e de 40. Mas contra o Santos, apesar da “paixão” pública pelo clube praiano, Serginho, nos tempos de Tricolor, balançou a rede 21 vezes, só perde para Pelé, que marcou 31 gols contra o time do Morumbi no clássico “SanSão”. Também contra o Santos, nos dois jogos — da final do campeonato paulista de 1980 — ambos terminaram 1 a 0 para o Tricolor —, Serginho fez dois gols. São Paulo, Santos, Corinthians e… Santos, novamente. A segunda incursão foi, contudo, breve. Seguiu para o Marítimo, de Portugal. O clube da Vila Belmiro o repatriou em 1988. Não demorou muito, reiniciou a peregrinação comum de jogadores em fim de carreira. Passou pelo Atlético de Sorocaba [1989], Santos, novamente [1990], Portuguesa Santista [1991] e São Caetano [até 1993], clube no qual encerrou a carreira.
Terminada a carreira de jogador, o irascível Serginho tentou a sorte como treinador. E mais confusão no currículo. Bastou uma pergunta de um repórter para tirá-lo do sério. Acertou uma cabeçada no rapaz e disse na época um “ponderado” Serginho: “Tenho momentos de explosão, mas quem não os tem? Fui profissional, trabalhador e nunca me preocupei com esse negócio de imagem”. Em outra ocasião, deixou o banco de reservas e partiu para cima de Zé Teodoro, que havia feito uma falta violenta em Sérgio Manoel. Um quiproquó monumental que lhe rendeu mais uma suspensão no seu currículo. 120 dias de gancho. Treinador no Guarani, Serginho se desentendeu com o cartola bugrino José Giardini e chutou-lhe a parte que todo o jogador protege quando está em uma barreira diante de um cobrador de faltas.
Mas a trajetória de Chulapa foi feita, sobretudo, de gols. E foram 482, como apontam dados da revista Placar. Além dos 243 pelo São Paulo e dos 104 pelo Santos, Serginho marcou 42 com a Portuguesa Santista; 20, com o Marília; 37, no São Caetano; 14, no Corinthians; nove pela seleção brasileira; nove pelo Marítimo; dois com o Atlético Sorocaba, em 1993 e dois pelo Jabaquara, em 1994.
Serginho entrou para a história do futebol brasileiro. Queiram ou não.
GRUPO CARIOCA LEONINO AMIGOS DO SPORTING
No ano de 2012, durante as boas atuações da equipe do Sporting Clube de Portugal na Liga Europa da temporada 2011/2012, os amigos Sergio Rodrigues de Frias, João Carlos Guimarães Beltrão e Rodrigo Moura Quintas, todos admiradores e fãs da história do Sporting Clube de Portugal, das cores e do emblema do Sporting, tiveram a ideia de criar uma confraria sportinguista na cidade do Rio de Janeiro. Foi assim que no dia 29 de março de 2012, após uma vitória da equipe de futebol do Sporting num jogo contra a equipe do Metalist pela Liga Europa, foi criado oficialmente o Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting.
A finalidade principal do Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting é a de ser uma confraria de amizade social, esportiva e cultural sportinguista, congregando todas as pessoas que gostem do Sporting Clube de Portugal e de sua história e que também gostem das cores, da camisa oficial e dos símbolos do Sporting Clube de Portugal, sejam elas sócias do Clube ou nem sejam sócias do Clube, sejam elas brasileiras, portuguesas ou de qualquer outra nacionalidade, com o propósito de promover encontros de confraternização, festas e almoços de confraternização no sentido de unir todos os participantes em prol da valorização da história e do sentimento de admiração por esse grande Clube português, e ao mesmo tempo, em prol do sentimento de amizade e respeito entre todos os membros participantes da nossa confraria sportinguista, sendo também a nossa confraria mais um elo representativo da cultura luso-brasileira tão presente e tão viva em nossos corações.
Com o passar do tempo novos confrades juntaram-se a nossa confraria, entre eles o publicitário Ilton Fernando Dias Peixoto (criador da logo oficial da nossa confraria e da nossa bandeira) e sua mãe Regina Peixoto e os nossos amigos Hélion Caldas Moura Filho, Rubão in memoriam, Luiz Carlos Cal Rocha Dias e seu filho Daniel Rocha, Sergio Henrique Freire Marinho, Adílio Jorge Marques, Flávio Eduardo Chagas, Heliton de Souza Oliveira (Juruna), Felipe Coutinho (Cabeça), Vinícius Moura Quintas, Fernando Soares Quintas in memoriam, Amândio Rodrigues de Frias, Rogério Rodrigues de Frias, Osório Lamartine Neto, Fernando Conceição, Júlio César Pires da Silva, Albino Sérgio Ramos Moreira e sua mãe Maria de Oliveira Ramos, Artur Jorge de Oliveira Costa e sua mulher Nete Costa, Leandro Gonçalves Gaignoux, Guilherme da Silva Ribeiro, Renata Peva Rego, Kátia Sofia de Souza Oliveira, Josete Rainha, Bruno Tiago Ramirez, Aritson Mateus Martins Rodrigues, João Morais, Márcio Garrett, Fabrício Garrett, Hugo Santos, Felipe Lee, Adauri Nascimento, Edi Wilson, Pedro Coelho, Antonio Bento Jacinto Abraços, Paulo Oliveira Figueiredo, Mario Alves de Moraes Neto, André Tiago Pinheiro de Melo Fernandes, Anísio Júlio Mateus Infante, Rogério Ferreira e sua mulher Maria Aparecida, Raphael Loureiro, William Jorge Júnior, José Ricardo da Silva Vaz, Luiz Mário e seu filho Luiz Mário Junior, Eduardo Vicente do Couto e muitos outros amigos e amigas fãs do Sporting.
Nós temos como ideologia e missão divulgarmos a história do Sporting Clube de Portugal e os seus grandes feitos esportivos em todas as modalidades esportivas do Clube e incentivamos as pessoas a serem sócias do Sporting e a apoiarem as boas ações do Clube.
Como adeptos sportinguistas que somos, sendo inclusive alguns dos nossos confrades associados do Sporting Clube de Portugal, nós apoiamos e incentivamos através da nossa página no Facebook o projeto que o Sporting criou há alguns anos chamado Missão Pavilhão, em prol da construção do novo Pavilhão das Modalidades de Quadra do Sporting Clube de Portugal, o Pavilhão João Rocha, que foi inaugurado em 2017. O nome do Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting e do Bloco Carnavalesco Amigos do Sporting estão gravados no Mural do Pavilhão João Rocha, o que para todos nós é motivo de orgulho.
Nosso trabalho é simples e feito com muita humildade, mas acreditamos que estamos conseguindo através da nossa página no Facebook e algumas ações e eventos que realizamos, fazer com que mais pessoas conheçam a história do Sporting e tornem-se fãs, sócios e adeptos do Clube. Convidamos a todos os que gostem do Sporting Clube de Portugal a curtirem a nossa página, a darem um “Gostei” nela e a divulgarem aos seus amigos:
Facebook: Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting – Brasil