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RECORDE MUNDIAL DE GOLS FAZ 60 ANOS

Por Odir Cunha, do Centro de Memória

Estatísticas por Guilherme Guarche


Ao vencer o Bahia por 2 a 0, em Salvador, em 30 de dezembro de 1959, o Santos estabeleceu o recorde absoluto de 342 gols em um ano. Isso em apenas 99 jogos, o que resultou na média de 3,45 gols por jogo. Vivia-se o auge do futebol arte, o Brasil gozava o prestígio de ser campeão mundial e o Santos se consagrava como a maior expressão do futebol bonito e ofensivo daqueles tempos de sonho.

Dos 342 gols marcados pelo Santos em 1959, 183 foram obtidos em 51 jogos oficiais e 159 em 48 “amistosos”. Ou seja, a média de gols em partidas oficiais – 3,58 – foi maior do que a dos amistosos – 3,30.

Colocamos aspas em amistosos porque na época torneios como o Teresa Herrera, o Valencia e o Pentagonal do México eram relevantes, não tinham a conotação atual para um amistoso e conquistá-los era motivo de orgulho. Pois o Santos ganhou as três taças, marcando 27 gols em sete jogos, com média de 4,3 gols por jogo. Nesses eventos goleou o Botafogo de Garrincha por 4 a 1, a Internazionale, da Itália, por 7 a 1, e o América, do México, por 5 a 0.

Outros “amistosos” de 1959 foram jogados contra equipes de prestígio e respeitável nível técnico, como Barcelona, a quem goleou por 5 a 1 em pleno Camp Nou, Real Madrid, Anderlecht, Feyernoord, Fortuna Dusseldorf, Valencia, Sporting, Nuremberg, Standard Liége, Seleção da Bulgária, Colo-Colo,Vasco, São Paulo, Palmeiras, Fluminense e outros mais.

Quanto aos compromissos oficiais de 1959, o Santos fez 38 jogos pelo Campeonato Paulista, competição em que marcou 151 gols durante o ano e que terminou em segundo lugar, após uma super decisão com o Palmeiras disputada no início de 1960.

O Alvinegro marcou ainda nove gols pelo Torneio Rio-São Paulo, taça que ergueu pela primeira vez ao derrotar o Vasco por 3 a 0, e quatro gols pela Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro, cuja final só seria realizada em 1960 e apontaria o Bahia campeão e o Santos, vice.

Artilharia pesada, uma antiga tradição

Além do recorde absoluto de gols, obtido com os 342 tentos marcados em 1959, por nove vezes o Santos marcou mais de 200 gols em um ano, quais sejam:

338 gols em 1961
270 em 1957
252 em 1958
245 em 1962
240 em 1965
228 em 1968
225 em 1960
223 em 1970
216 em 1956

O Santos detém ainda a maior média de gols em uma temporada, primazia alcançada em 1927, quando fez 179 gols em 29 jogos, média de 5,93 por partida. Mas não foi um fato isolado.


Desde 1913, ano em que se iniciou nas competições, até 1970, portanto em um período de 57 anos, o Santos só não conseguiu média superior a dois gols por partida nos anos de 1921, 1922, 1923 e 1937.

Em 20 desses anos alcançou média superior a três gols por partida, casos de 1913, 1914, 1915, 1917, 1918, 1926, 1927, 1928, 1929, 1930, 1931, 1936, 1941, 1942, 1957, 1958, 1959, 1961, 1962 e 1963.

Hegemonia prossegue neste milênio

Desde 2002 o Santos já marcou mais de 150 gols em três temporadas: 151 gols em 2003; 166 em 2004 e 180 em 2010. Nesta última, lembrada pela explosão do time de Neymar, Paulo Henrique Ganso, Robinho & Cia, excluindo quatro gols feitos em amistosos, o saldo foi de 176 gols em 74 jogos oficiais, média de 2,35 gols por jogo.

Time com mais gols marcados no futebol mundial – 12.613 até o final do Campeonato Brasileiro – recentemente o Santos se tornou também o primeiro clube a fazer mil gols no Campeonato Brasileiro desde a prevalência dos pontos corridos, em 2003. Nesse quesito, a classificação atual é a seguinte:

1º – Santos,1.008 gols.
2º – Cruzeiro e São Paulo, 978 gols.
4º – Flamengo, 916 gols.
5º – Atlético-MG e Fluminense, 903 gols.
7º – Grêmio, 859 gols.
8º – Athletico Paranaense, 855 gols.
9º – Internacional, 832 gols.
10º – Corinthians, 823 gols.

Paulinho Criciúma

O POETA DA BOLA

Embora seja Drummond o predileto do craque, é a prezada Cecilia, onde quer que ela esteja além dos corações e das mentes daqueles que só mentem para fingir as dores que deveras sentem – e já vou fazer o mesmo a Pessoa -, que peço permissão para começar este texto, distorcendo levemente seus versos, quase da mesma forma que fez Caetano. E que o baiano Veloso me conceda por sua parte também.

Nem alegre, nem triste, poeta. Poeta da bola. Paulinho Criciúma, 10 na camisa, na posição em campo e na nota no trato com a pelota e com as pessoas, devia estar meio ressabiado e me driblou várias vezes. Porém, gentilmente cedeu à marcação, certamente só para não causar uma desfeita. E, podem crer, foi a melhor coisa que fizemos: ele ao aceitar o convite para este papo que você tem aí à sua disposição, e eu – perdoem-me pela citação em primeira pessoa – por não ter desistido de trazer a sua voz de inteligente sensibilidade e um pouco de sua valiosa História no futebol para o público fã do Museu da Pelada.
Depois de mais de um mês de idas e vindas, dribles daqui e dali, ele rolou a bola para mim e tabelamos desde o nosso encontro numa manhã de sexta, no início de dezembro, em frente ao edifício em que mora, onde fui apanhá-lo com o motorista Vander Schons para seguirmos até onde já se encontrava – preparando tudo – o nosso cinegrafista, Fernando Gustav. Ali, cercados de verde por todos os lados e observados por crianças que pararam sua pelada matinal para saber o que acontecia, traçamos uma resenha sem firulas, mas com aquela destreza de quem lida com prosa e versos com a mesma facilidade com que (ele) tratava a bola. E foi assim que este bate-papo fluiu, como um bate-pronto da entrada da área, daqueles que pega na veia e a pelota morre no barbante depois de quase matar a coruja dormindo.
No fim, o autor deste golaço ainda me pediu desculpas, como se fosse preciso. Porém, diante da solicitação do craque aceitei, acatei, é claro, porque gentileza gera gentileza, já dizia o profeta. E, que se preze, todo e qualquer poeta.
Caso queira ler na íntegra a poesia “Botafogo”, de Paulinho Criciúma, é só clicar aqui: http://mundobotafogo.blogspot.com/2014/11/paulinho-criciuma-poema-do-poeta.html

O PRIMEIRO BRASILEIRO A CONQUISTAR UMA COPA DO MUNDO

por André Felipe de Lima


O ano era 1958. O primeiro protagonista, seu Filó, ou Amphiloquio Guarisi Marques, proprietário de uma modesta mercearia, a Santa Clara, no Jardim Paulista, zona nobre de São Paulo. A segunda personagem principal, a seleção brasileira, que se preparava para disputar a Copa do Mundo, que se realizaria nos gélidos campos suecos. Novamente, como acontecia há duas décadas, a imprensa montava guarda na porta do estabelecimento daquele senhor, que nutria o sobrenome “Marques”, herança do pai português Manuel Augusto, segundo presidente da história da Portuguesa de Desportos, e o “Guarisi”, benção da mãe italiana Wanda. Um senhor que desde o “Maracanazo” de 1950 não queria saber de futebol.

Mas os jornalistas queriam ouvi-lo. Precisavam extrair dele o sentido de ser campeão mundial de futebol. Afinal nenhum outro brasileiro ostentava algo parecido. Com exceção de seu Amphiloquio, que, na distante data de 10 de junho de 1934, dia em que a Azzurra conquistou sua primeira Copa do Mundo, tornou-se o primeiro jogador de futebol do Brasil a sentir o gostinho de fazer parte do melhor esquadrão do planeta. Tampouco importava se o pavilhão que defendera era pintado com as cores verde, vermelho e branco ou se a Itália, sua nova nação, estivesse sob a ditadura fascista de Benito Mussolini. Nenhum outro teria o mesmo status de Filó, este o apelido que o consagrou nas canchas brasileiras, pelo menos até surgirem, em julho de 1958, Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos e Cia.

Desejosos em saber como era ser o melhor do mundo, os repórteres o enchiam de perguntas sobre os tempos em que fora um ponta-direita dos mais habilidosos na primeira metade do século XX.

O grande Filó nasceu na rua Araújo, no Centro paulistano, no dia 26 de dezembro de 1905. Ele respondia aos jornalistas com orgulho, mas quase didaticamente. Falava linearmente, ou seja, do início, quando começou aos 12 anos, em 1917, no time infantil do aristocrático C.A. Paulistano, onde jogava o craque Rubens Salles, um dos grandes ídolos da moçada paulistana nos primórdios do futebol no Brasil, para somente depois recordar sobre sua breve passagem pelo time infantil do São Bento, em 1918.

Enchia-se de orgulho ao narrar sua estreia, com apenas 17 anos, no time principal da Portuguesa de Desportos, no dia 30 de abril de 1922, para onde foi levado pelo pai, cartola da Lusa. De cara, deparou-se com o temido Paulistano. E o resultado não seria outro senão a vitória do poderoso clube da aristocracia: 2 a 0. Mas o menino não se importou. Apesar da pouca idade, jogava ao lado de alguns dos primeiros ídolos da Portuguesa, como o goleiro Mesquita; os zagueiros Remo e Gaúcho; a linha média formada por Meirelles, Aloya e Canhoto e os atacantes Salerno, Dino, Coelho e Mancuso. O jovem Filó firmou-se como o novo craque da Lusa.

No Campeonato Paulista de 1924, seu time empatou em 5 a 5 com o Brás. Filó saiu de campo consagrado ao assinalar os cinco gols da Portuguesa. No mesmo ano, lembraram-se dele para compor a seleção paulista. Estreou no dia 9 de novembro, quando os paranaenses conheceram o poder de fogo de Filó, que marcou dois gols da goleada de 5 a 0 aplicada no escrete adversário. Estava cada vez mais difícil mantê-lo na Portuguesa.

Filó, cujo apelido era “Maquininha” devido à versatilidade em campo — cedeu ao assédio dos cartolas do Paulistano, sobretudo o de Antonio Prado Junior, que articulara com representantes esportivos franceses uma excursão inédita de um time brasileiro à Europa.

O futebol sul-americano estava na crista da onda. Os uruguaios conquistaram a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e, no ano seguinte, Nacional de Montevidéu, Boca Juniors e Paulistano arrumaram as malas de seus craques para uma longa viagem ao Velho Continente. Filó e todos os seus companheiros de Paulistano, como Friedenreich, Araken Patusca, Clodô, Barthô e Mario de Andrada, embarcaram no dia 10 de fevereiro de 1925, em Santos, no navio Zeelandia, do Lord Real Holandês, rumo a Cherburgo, na França.

O Paulistano disputou 10 partidas e venceu nove. Autor de quatro dos trinta gols marcados pela equipe brasileira, Filó foi um dos destaques da extraordinária campanha.

O estádio de Búfalos, em Mont Rouge, Paris, estava lotado, no dia 15 de março de 1925, para o primeiro jogo do Paulistano em solo francês, e logo contra um escrete bleau, blanc et rouge. Na arquibancada havia muita gente de nome, dentre as quais representantes políticos da França e os brasileiros Washington Luís [então governador de São Paulo], Souza Dantas [diplomata] e o príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança. Mas o que ninguém esperava — nem mesmo os ilustres brasileiros — era uma goleada de 7 a 2 do Paulistano, com Filó balançado as redes uma vez.

E o Paulistano do Filó não parava de ganhar jogos. Um atrás do outro. Os jornais franceses não falavam em outra coisa senão sobre “les rois du football” [Os Reis do Futebol]. As reportagens do Américo Rocha Neto, do jornal O Estado de S. Paulo, e de Mário Vespaziano de Macedo, do São Paulo Esportivo, também apontavam o Paulistano como um esquedrão imbatível. Quando o Paulistano, no último jogo da campanha, aplicou um rotundo 6 a 0 na seleção português, aí não havia mais dúvida: os caras eram mesmo os maiorais. Mas a peleja contra os lusitanos teve de acabar aos 30 minutos do segundo tempo. Caso a delegação não deixasse logo o estádio, perderia o navio de volta ao Brasil.

Naquele mesmo ano da estupenda campanha do Paulistano pela Europa, Filó vestiu a camisa da seleção brasileira pela primeira vez. Atuou na vitória do Brasil por 5 a 2 sobre o Paraguai, no dia 6 de dezembro de 1925, e fez um dos gols do match. O escrete brasileiro formou com: Tuffy, Penaforte e Clodô; Nascimento, Floriano e Fortes; Filó, Lagarto, Friedenreich, Nilo e Moderato. Filó jogaria mais quatro partidas pela seleção do Brasil.

Em 1926, o ponta-direita ajudou o Paulistano a conquistar o Campeonato Paulista e encerrou a competição como artilheiro, com 16 gols. Na temporada seguinte, faturou o bicampeonato, mas pela Liga Amadora Futebolística [LAF]. No ano de 1929, Filó foi duas vezes campeão paulista. Pelo Paulistano, que disputou o torneio realizado pela LAF, e pelo Corinthians, que disputou a competição organizada pela Associação Paulista de Esportes Atléticos [Apea]. Pelo clube alvinegro, conquistaria o bicampeonato em 1930.

A ITÁLIA NA VIDA DE FILÓ

Com os craques brasileiros se destacando aqui e em jogos no exterior e, claro, com a insatisfação reinante com o amadorismo no futebol, o mercado europeu começou a atrair muitos jogadores. Especialmente a Itália, o novo eldorado. E nem precisaria de sobrenome italiano para que algum craque ingressasse no calcio. Burlavam-se certidões de nascimento e um “Da Silva” se tornaria um “Giuseppe” da noite para o dia. “Oriundi” torto, mas que funcionava. “Qualquer jogador, branco, mulato ou preto podia ir embora. Bastava jogar bem futebol, querer fazer a Europa. O jogador branco, então, tinha todas as facilidades. Era branco se trocasse de nome, se arranjasse um sobrenome italiano, ninguém na Itália daria pela coisa”, destacou Mario Filho. O Guarisi, da mãe, garantiu o passaporte de Filó sem nenhum subterfúgio. Para o cronista, o assédio ao Filó era, descaradamente, o mais acintoso: “O caso de Amphiloquio Marques, o Filó do escrete paulista, do escrete brasileiro. Quem não sabia em São Paulo, os jornais cansados de publicar biografias dele, que Filó era filho de portugueses? Pois chegou a jogar na azurra, posando para os fotógrafos de braços levantados. Aquele ali, de braços levantados, não era o Filó, Amphiloquio Marques, era o Guarisi, Amphiloquio Guarisi.”

***

Esta introdução da biografia de Filó integra o primeiro volume de “Ídolos & Épocas – A Era do amadorismo, de 1900 a 1933”, contemplando biografias de craques com iniciais de A a F, a ser lançado em breve.

HABITUADOS A PERDER

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Em 1950, jogamos de igual para igual com o Uruguai, na decisão do Mundial, perdemos de 2×1 e vivenciamos o maior choro da história do Maracanã.

Em 1982, com uma seleção dos sonhos, jogamos de igual para igual com a Itália, levamos de 3×2 e desabamos em lágrimas.

Em 1974, o Brasil jogou de igual para igual com a Holanda, perdi um gol feito – até hoje tenho pesadelos com esse lance – e fomos eliminados da Copa.

Depois disso, o Brasil curvou-se aos europeus e há 20 anos tomamos pancadas nas principais competições internacionais. E o pior disso é que nos acostumamos a perder.

Essa derrota do Flamengo para o Liverpool foi a prova incontestável de que estamos em outro patamar no futebol mundial. Antes mesmo de o Flamengo entrar em campo muitos torcedores rubro-negros e a própria mídia destacavam o poder de força do time inglês. Ou seja, o time do Mister já estava feliz por ter ido tão longe. Jogou de igual para igual com o River e até mesmo com o Al Hilal.

Jogar de igual para igual já está de bom tamanho para o futebol que um dia foi o. melhor do mundo. Os alemães nos colocaram na roda e tiraram o pé para não nos dar de 10 o que não bastou para enterrar, ali, a Era Felipão. Agora, outro alemão, Jürgen Klopp, reforça que ainda falta muito para voltarmos a ser os melhores do planeta. Estamos alguns bons patamares abaixo. Enquanto o time inglês voltou para a Inglaterra sem festas e carros de bombeiro esperando no aeroporto, o noticiário da tevê brasileira abriu informando que o Flamengo perdeu jogando de igual para igual. Mas não bastou! No último domingo, no intervalo do Faustão, um ao vivo despertou minha atenção, afinal chovia muito e pensei em alguma catástrofe, mas era, pasmem, uma repórter, de capa amarela, sozinha, em um lugar ermo, informando que o avião do Flamengo acabara de pousar no Galeão.

Nunca um vice-campeonato foi tão festejado, nunca aceitamos tão passivamente uma derrota, nunca assinamos um atestado de segundo escalão, talvez terceiro, quem sabe quarto, do futebol mundial. Mas na mesa ao lado da minha, no bar, um torcedor jovem comentava com o outro, orgulhoso, “mas ganhamos milhões, o clube está com muito dinheiro”. Me preocupa essa postura, que não se concentra apenas naquela mesa de bar. O futebol brasileiro precisa contratar um bom psicanalista, deitar-se no divã e rever os seus conceitos.

A derrota deve ser chorada, sofrida. Do contrário, nos acostumaremos com ela e oficializaremos esse ridículo de igual para igual como nosso mantra. Pergunte para algum jogador brasileiro da Copa de 78 se eles concordam com o título dado a eles de campeão moral.

Campeão é quem está no alto do pódio, como fez o Liverpool e sua louvável miscigenação, com o egípcio Mohamed Salah, o senegalês Sadio Mané, o holandês Virgil van Dijk, o brasileiro Roberto Firmino e o inglês John Alexander-Arnold.

O Brasil mais uma vez bateu palmas para os vencedores. Se continuarmos com essa filosofia acabaremos lustrando suas chuteiras e os carregando nos ombros durante a volta olímpica.

A MÍSTICA DA CAMISA SETE

por André Felipe de Lima


Há coisas que só acontecem ao Botafogo. Ouço até hoje essa máxima. Porém, embora a frase tenha sido praticamente patenteada pelos alvinegros, nos últimos 12 anos sequestrei-a para mim. Explico o porquê. Logo que me transferi de mala, cuia e livros para a Tijuca, um, digamos, “espírito que anda” (e não é o Fantasma dos quadrinhos) me cerca vestindo uma camisa sete do Botafogo. A primeira vez que o encontrei foi na fila de um banco. Ele tentou puxar um papo. Não dei muita bola porque estava estressado e fazendo cálculos – aliás, minha vida é mais matemática que literatura ultimamente. Pedi licença ao botafoguense e que me deixasse calcular em paz. Dali em diante, em cada canto da Tijuca e até de Vila Isabel me deparo constantemente com ele e sua indefectível camisa sete.

O camarada parece me seguir. Hoje não foi diferente. Passeando com minha esposa e meu filho no shopping Tijuca, lá estava o cara novamente. Nossos olhares se fitaram, e concluí: trata-se do meu anjo da guarda. Não tenho dúvida disso. De algum lugar do céu, a camisa sete do Mané me acompanha. Passo a passo, ensinando-me a driblar essa tão difícil marcadora que se chama vida. Deveria ter dado atenção ao botafoguense naquele primeiro encontro. Há coisas que só acontecem conosco e, vá lá, ao Botafogo.