‘POPÓ ERA DANADO NA BOLA’. ASSIM FALAVA SANTA DULCE
por André Felipe de Lima
Lá pelos idos de 1920 havia, em São Paulo, Friedenreich. No Rio, então capital federal, havia Russinho. E na Bahia o maior de todos os jogadores do Brasil — pelo menos para fãs ilustres como Jorge Amado e Irmã Dulce, nossa Santa Dulce dos Pobres. Havia na boa terra Apolinário Santana, popularmente conhecido como Popó, um mítico craque do Botafogo de Salvador e, sobretudo, do Ypiranga, clube cuja charmosa camisa aurinegra era a mais amada na cidade até a popularização do Esporte Clube Bahia e do Vitória nos anos de 1930 e fins de 1940, respectivamente.
Aos 13 anos, Irmã Dulce, antes de se tornar a grande religiosa de Salvador, sempre ia ao Campo da Graça somente para ver Popó. “Se ele fosse vivo hoje eu acho que era Pelé. Era danado na bola”, disse ela, em entrevista dos anos de 1980.
Há alguns anos tive o imenso prazer — mesmo que por telefone — de bater um longo papo com o biógrafo de Popó, o professor e historiador Aloildo Gomes Pires, autor do livro “Popó: O craque do povo”, lançado em 1999 e, hoje, uma obra rara de se encontrar, inclusive em sebos. “Em meados dos anos de 1970, quase duas décadas depois da morte do jogador, lembro de minha sogra jogando futebol com minha filha, de apenas 2 anos. E gritava: Chuta, Popó! Chuta!”, disse-me Aloildo, descrevendo a cena também mencionada na biografia do ídolo.
Hoje, dia 9 de fevereiro, Popó nasceu em Salvador, mais precisamente no bairro Rio Vermelho. Lamentavelmente, as gerações mais recentes ignoram quem foi Popó, ídolo e orgulho da Bahia em passado remoto, sobretudo por comandar com genialidade e coragem a seleção baiana campeã brasileira interestadual em 1934, até então a principal competição nacional de futebol, derrotando na final o temido escrete paulista.
Em Salvador, os transeuntes que passam pela principal via do bairro Engenho Velho da Federação, a “Apolinário Santana”, sequer imaginam que o camarada que emprestou o nome para aquela rua foi um dia o mágico da bola Popó, que tanta cobiça despertou nos clubes cariocas, principalmente o Fluminense, que até uma excursão a Salvador incrementou para tentar seduzi-lo.
No dia 15 de abril de 1923, no inesquecível Campo da Graça, Popó, defendendo o escrete baiano, destruiu o poderoso Tricolor das Laranjeiras. Após o jogo, um cartola do Fluminense enviara ao Rio de Janeiro o seguinte telegrama que, laconicamente, dizia: Fluminense 4 x Popó 5”. Ou seja, os cinco gols foram dele, que foi um dos jogadores mais versáteis de seu tempo. Jogou de zagueiro, centroavante, mas brilhou mesmo como um elegante centromédio (hoje, volante).
Popó foi o gênio em “melar” (antigo significado para drible em Salvador). Diz a antiga quadrinha: “Chuta, chuta/ Popó chuta/Chuta, por favor/Mela, mela, mela, mela/Mela e lá vai gol”. Como bem o descreveu o cordelista Edosn Bulos, também citado por Aloildo na biografia do craque, Popó “foi Botafogo e Ypiranga/ não brigava ou tinha zanga/ era um Deus enaltecido”.
Considerando a paixão nos depoimentos, Popó deve ter sido mesmo tudo o que escreveram e falaram sobre ele.
NO VÍDEO ABAIXO, IRMÃ DULCE CONFESSA O AMOR PELO YPIRANGA E POR POPÓ:
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O NASCIMENTO DE UMA LENDA
por Jorge Eduardo Antunes
A caminhada épica da maior seleção brasileira de todos os tempos completa meio século em 2020. O tricampeonato mundial valeu a posse definitiva da Taça Jules Rimet – roubada no dia 19 de dezembro de 1983 da antiga sede da CBF, no Centro, e posteriormente derretida. Mas a trajetória daquele time fantástico rumo ao topo do planeta futebol foi acidentada, com percalços e injunções políticas. E é isso que esta série especialmente preparada para o Museu da Pelada pretende mostrar, meio século depois.
Até chegar ao dia 21 de junho de 1970 e aplicar os 4 x 1 na Itália, a seleção passou por tudo – da campanha fulminante nas eliminatórias à queda de João Saldanha, treinador que formou sua base, para chegar ao ápice na Cidade do México. Em capítulos, vamos contar como o imbatível esquadrão tricampeão do mundo tomou forma definitiva. Até hoje na nossa memória, nem todos os 11 titulares – Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino –, ocupavam uma vaga antes da campanha no México.
Como o primeiro jogo da seleção em 1970 só foi disputado em 4 de março de 1970, contra a Argentina, em Porto Alegre, a série começa com uma retrospectiva da chegada de Saldanha ao comando. Para isso, é preciso recuar até 1969, mais precisamente para 4 de fevereiro daquele ano. Naquele dia, João Alves Jobim Saldanha, o gaúcho de Alegrete mais carioca de que se tem notícia, foi anunciado oficialmente como o novo treinador. Uma escolha que pegou muita gente de surpresa.
Saldanha havia sido jogador por breve tempo e treinara o vitorioso Botafogo de 1957, que atropelou o Fluminense com um sonoro 6 x 2 na partida final do Carioca. Jornalista dos bons, entedia de técnica e tática como poucos. E, desde o fiasco na Copa de 1966, quando a seleção brasileira foi eliminada na fase de grupos, reclamava que o torcedor não sabia o time-base canarinho.
E estava certíssimo. Na Copa da Inglaterra, o Brasil experimentara três escalações distintas. Na estreia com vitória (2 x 0) contra a Bulgária jogou com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denilson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Na derrota para os húngaros (1 x 3), Tostão entrou no lugar do contundido Pelé e Gerson fez o meio com Lima. Já no jogo do desespero, contra Portugal (outro 1 x 3), a mexida feita por Vicente Feola, campeão mundial em 1958, fora completa: Manga, Fidélis, Britto, Orlando Peçanha e Rildo; Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná.
Mesmo sendo um celeiro de bons jogadores, essa indefinição do 11 titular perturbava Saldanha e o torcedor brasileiro. Em 1967 e 1968, com a seleção nas mãos de Aymoré Moreira o panorama seguiu inalterado. O ciclo do técnico campeão mundial em 1962, no Chile, chegou ao final após um 3 x 3 com a Iugoslávia, no Maracanã, em 17 de dezembro de 1968. No jogo seguinte, dois dias depois, a seleção já estava sob o comando de Yustrich, que a dirigiu apenas naquela partida.
A chegada de Saldanha acabou com a indefinição. Já na coletiva que confirmou sua contratação, anunciou que tinha um time-base que só seria alterado em caso de contusão – e não o revelou no mesmo dia pois preferiu conversar primeiro com os jogadores. Em 7 de abril daquele ano, o Brasil veria o 11 em ação contra o Peru, com Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé (Edu) e Tostão. Vitória por 2 x 1 no antigo Beira-Rio, com gols de Jairzinho e Gerson.
Dois dias depois, já no Maracanã, outra vitória sobre os peruanos, desta vez por 3 x 2, gols de Pelé, Tostão e Edu, com o Brasil alinhando Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé e Tostão. Saldanha apenas mexeu diferente no time durante o jogo, colocando Joel Camargo no lugar de Piazza, Edu no de Dirceu Lopes e Paulo Cézar Caju na vaga de Tostão.
Em 12 de junho, contra a campeã mundial Inglaterra, Saldanha mexeu pela primeira vez no seu 11. Escalou Gylmar para sua despedida da seleção ao lado de Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu, com Paulo Cézar Caju substituindo o ponteiro esquerdo. Vitória por 2 x 1 sobre os ingleses, com gols de Jairzinho e Gerson. Do meio para frente, quase todos seriam titulares do time campeão do mundo um ano depois.
Julho de 1969 foi usado por Saldanha para dar polimento ao selecionado. Vitórias tranquilas sobre o Bahia (4 x 0) e sobre as seleções de Sergipe (8 x 2) e Pernambuco (6 x 1). Félix voltou ao gol e Clodoaldo só não jogou contra os pernambucanos, cedendo a vaga a Piazza. Entre os reservas, Saldanha testou o goleiro Cláudio, os laterais Zé Maria (direita) e Everaldo (esquerda), Rivellino como meia e Paulo Borges no ataque, além de Caju, o 12° jogador do time.
O 11 de Saldanha estava na ponta dos cascos para as eliminatórias. Mas isso é assunto para outro texto.
A FALÁCIA DA COPA DO MUNDO DE 1978
por Luis Filipe Chateaubriand
Muitas vezes, o fato de historicamente o futebol brasileiro ser dos melhores do mundo dota a torcida brasileira de uma arrogância que não faz sentido.
É como se tivéssemos saído do “complexo de vira latas” de Nelson Rodrigues para a auto suficiência dos pavões.
Um exemplo disso é nossa justificativa para não termos vencido a Copa do Mundo de 1978: fomos roubados!
O raciocínio é simples, ou melhor, simplista: a Argentina só foi à final de uma Copa do Mundo realizada na Argentina porque meteu 6 x 0 no Peru, que se vendeu.
Não há provas que o Peru se vendeu, mas é provável, com efeito, que tenha se vendido. Mas não foi por isso que a Argentina foi à final da Copa, no lugar do Brasil…
O real motivo que o Brasil deixou de ir à final da Copa foi que, quando jogou com a Argentina, não venceu o jogo.
Tivesse vencido da Argentina, quando jogou com a anfitriã da Copa, iria à final, no lugar desta.
O capitão Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu o erro de achar que o empate com os argentinos seria bom resultado. E, assim, escalou o defensivo Chicão no lugar do ofensivo Toninho Cerezo.
Conseguiu o empate que queria – e foi exatamente esse empate, e não a pretensa armação de “hermanos” e peruanos, que nos tirou da final.
É bem verdade que o Brasil jogou melhor que a Argentina. Poderia ter vencido, mas o brilhante goleiro Fillol foi extremamente feliz ao defender chutes na cara do gol de “Búfalo” Gil e de Roberto Dinamite (dois, mas um impedido), além de um chute de longe de Zico.
Em resumo, o Brasil não foi à final porque não teve competência para vencer a Argentina. Mas, arrogantes que somos, não admitimos isso, preferimos acreditar que não chegamos à final porque fomos “garfados”.
Como a garotada costuma dizer, é muito mimimi!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais 40 anos e é estudioso do calendário do futebol brasileiro e do futebol europeu. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.
CAMISA DO OURO PRETO
por Tazio de Carvalho
Me chamo Tazio de Carvalho e sou filho do Augusto Brandão de Carvalho. Durante muitos anos meu pai foi conhecido nas areais de Copacabana como Gugu ou Brandão. Atuou no Ouro Preto, um dos times mais tradicionais da época de futebol de praia nos anos 50. Mais tarde ele jogou pelo Radar, outro time famoso de Copa.
Pelo Radar, conheci alguns dos amigos dele: Tininho, Cesar Humberto, Paulo Amaral, Sansão, todos do Lido (local de encontro).
Meu pai, meus tios e os amigos dele sempre comentavam a técnica apurada que ele tinha, jogava com as duas pernas e era habilidoso. Meio campista clássico, Camisa 8.
Guardo há mais de 50 anos a camisa que ele vestiu e honrou, pois o Ouro Preto era temido por outros times. Gostavam de brigas. Tininho (jogador), o Paulo Amaral e o Sansão eram os seguranças. Estes viviam brigando. Assim contavam eles.
Guardo até hoje em casa algumas fotos ou notícias da época. Também tenho uma camisa com mais de 60 anos do time TAP 2 (Turma das Antigas do Posto 2), cujo o símbolo é uma garrafa de Pitu (cachaça). O time também era conhecido como “Tomamos Pinga Toda”. São relíquias que guardo para o resto da vida.
No poster do Ouro Preto, o meu pai é o primeiro ao lado esquerdo do Goleiro. Nesta foto, Tininho está em cima (segundo) e o Humberto no meio agachado.
Desde já agradeço a oportunidade de mostrar esta bela camisa.
Muito obrigado!
PUNIÇÃO PELO DESRESPEITO
por Marcos Eduardo Neves
O árbitro francês não puniu Neymar pela lambreta. Nem pelo cabelo ridículo. Puniu pelo desrespeito. Não ao zagueiro que levou o drible. E sim a ele próprio.
Como bem escreveu em seu blog o ex-árbitro Péricles Bassols, a autoridade máxima em campo deve ter percebido nas quatro linhas algo que vai além ao que os espectadores veem. Provavelmente alertou o atacante brasileiro quanto ao que suas atitudes poderiam vir a acarretar.
Óbvio que Neymar recebe muita pancada o jogo todo. Cabe ao árbitro punir os infratores. Assim como cabe a ele conduzir a partida para que ela termine bem. Acredito que o “conselho” que deu a Neymar se encaixe mais por aí.
O fato é que foi graças a esse cartão que Neymar chamou a atenção neste fim de semana. Não foi pela lambreta mal executada. Foi graças à atitude desrespeitosa que ele gerou toda essa mídia novamente em torno do seu nome. E, assim, fez o mundo conhecer seu novo penteado, essa crina estilo “Priscilla, A Rainha do Deserto”. Parabéns, meninão Peter Pan que se recusa a crescer. Você continua o mesmo.