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Ivair, O Príncipe

O PRÍNCIPE DO CANINDÉ

por Paulo Escobar

Rumo ao Canindé, aonde uma vez tive a chance de jogar na base, fui com um misto de alegria e tristeza. Alegria pelos dias de glória que ali foram vividos, e tristeza em ver a Lusa longe do lugar onde deveria estar.

Fui encontrar um grande, um príncipe, dos anos de glórias da Portuguesa, subo no elevador e na tribuna vejo sentado olhando o campo Ivair. Que formou um dos times mais formidáveis da Lusa, que enfrentava de igual pra igual qualquer time, como me contava com aquele sorriso Ivair. Dos seus tempos de moleque na Zona Norte de São Paulo, até ser aquele atacante veloz com um sorriso no rosto e uma humildade que está em extinção em muitos dos craques de hoje.

Sorriso esse que me fez sorrir, ao lembrar daqueles histórias de bastidores, lembrando as cantorias do lado de Pelé e seu violão. Ou das chegadas mais fortes que levava dos seus marcadores, e como ele lembrou que o mais duro talvez tenha sido Pablo Forlan.

O Príncipe acredita em toda sua majestade no renascimento daquela Portuguesa e como sempre boa de base e revelação de ídolos, que abasteceu tantos times com talentos. Ivair aguarda por esse dia de poder ver sua Lusa no lugar onde deveria estar, e de onde nunca deveria de ter saído.
 

 

O ‘BOA PINTA’ DO CHACRINHA

por André Felipe de Lima


O técnico Yustrich tinha fama de durão, mas houve um goleiro que o peitou. Foi o Ubirajara da Silva Alcântara, que no auge da carreira (e da beleza) foi cotado para o escrete nacional e favoritíssimo ao título de “negro mais bonito do Brasil”, um disputadíssimo concurso promovido por Abelardo Barbosa, o Chacrinha.

Mas Yustrich não queria papo. Barrou Ubirajara no Flamengo e o proibiu de participar do concurso. Mas o arqueiro boa pinta não estava nem aí para a fama de durão do Yustrich. Foi ao Chacrinha e ganhou o concurso de beleza.

Hoje, dia 27, Ubirajara Alcântara faz anos. Aquele menino que nasceu no Centro do Rio, ainda pequeno integrava o grupo de teatro infantil do Colégio Eurico Dutra. Tinha vocação cênica, mas na veia prevalece o sangue de futebolista.

Com 13 anos, Ubirajara começou a levar o futebol a sério. Iniciou no time de futebol de salão do Greip (Grêmio Recreativo dos Industriários da Penha), da Penha, subúrbio carioca. Foi para o antigo Marvilis e dali para as divisões de base do Flamengo. Aos 20 anos assinou seu primeiro contrato. Em 1967, emprestaram seu passe ao Olaria. Voltou à Gávea e foi vice-campeão carioca e da Taça Guanabara. Em 1969, teve o passe novamente emprestado. O clube da vez foi o Fluminense de Feira de Santana, com o qual foi campeão baiano e talvez o melhor goleiro da história do clube. Voltou para o Flamengo e depois passou por América e Avaí.

Em 1970, quando brilhava intensamente embaixo das traves, Ubirajara fugia ao senso comum entre os jogadores de seu tempo. Estudava inglês e espanhol e preparava-se para estudar Educação Física. Mas, anos depois, acabou formando-se em Direito e se tornando juiz de paz.


“Foram os melhores que me consagraram. O Pelé nunca fez gol em mim. Não tinha Roberto Dinamite, Dé, Jairzinho, Rivelino, Paulo César (Caju), não tinha Pelé. Eu queria que tivessem dez Pelés em uma equipe”, disse em entrevista ao SporTV.

Ubirajara foi realmente um goleiro excepcional. Entrou para a história (e para o Guinness Book, o livro dos recordes) por ser o primeiro goleiro a marcar um gol. O feito memorável aconteceu no Estádio Luso Brasileiro na Ilha do Governador, durante partida do Flamengo contra o Madureira, no dia 19 de setembro de 1970. Ubirajara chutou a bola de sua área e ela cruzou todo o campo até o gol adversário.

Ficou famoso pelo gol inédito, mas também pela beleza. Após sair do programa do Chacrinha com o título de o negro mais lindo do Brasil, Ubirajara posou de modelo e foi assediado por figuras do cinema. A mais proeminente foi Carlos Imperial. Em anos de chumbo no país sob uma impiedosa ditadura, o cinema nacional amargou um bocado. Nas salas prevaleciam as pornochanchadas. Imperial, que era um dos figurões do gênero, convidou Ubirajara para participar de um deles. O goleiro topou.

Quando o quase mítico goleiro russo Lev Yashin, o “Aranha negra”, esteve no Brasil, em 1965, visitou o clube do Flamengo, na Gávea. Reparou, durante um treino do time de aspirantes, em um goleiro alto e ágil. Impressionou-se. Como Ubirajara contou à repórter Márcia Vieira, terminando o treino, antes de ir embora, Yashin virou-se para o rapaz e, naturalmente com a ajuda de um tradutor, disse: “Vai ser o futuro goleiro do Brasil”.

Por muito pouco Ubirajara realmente não foi o melhor. Mas, com absoluta certeza, está no rol dos ídolos imortais do arco rubro-negro.

MINHA CARREIRA COMO TORCEDOR DE ARQUIBANCADA

por Mário Moreira


Há pessoas que anotam todos os filmes que veem na vida. Outras preferem registrar por escrito os vinhos que bebem, com estrelinhas ao lado à guisa de cotação. Existem ainda as que elaboram listas para o futuro: experiências que ainda desejam viver, países que planejam conhecer… Tem pra todos os gostos.

Pois eu também faço cá minhas anotações. No caso, de todas as partidas do Fluminense a que assisto no estádio. Pode parecer meio bobo ou inútil. Mas é uma forma não só de manter vivas as memórias de torcedor de arquibancada como de registrar a minha própria história, já que cada jogo remete a uma fase vivenciada, a um momento inesquecível, à companhia da minha filha e de outras pessoas queridas, à celebração da vida, enfim.

E por que resolvi compartilhar isso agora? Porque cheguei à marca histórica (para usar um jargão do jornalismo esportivo) de 150 jogos torcendo e sofrendo ao vivo, junto com o time, pelo Tricolor. Reconheço que o número nem é assim tão expressivo, se considerarmos que tenho 53 anos. Mas é preciso lembrar que, desses, morei quase 15 em São Paulo, período em que acompanhei o Flu praticamente só pela televisão. Subtraindo essa fase, dá 38 anos, ou seja, quase quatro jogos por ano de vida… Não é ruim.

A marca épica (olha outro jargão aí!) foi atingida no início de fevereiro, no Maracanã, no frustrante empate em 1 a 1 com o Unión La Calera, do Chile, pela primeira fase da Copa Sul-Americana. Escolhi uma competição internacional para celebrar a efeméride, e vejam no que deu… A longa saga, porém, se iniciou há 45 anos, em uma segunda-feira, 21 de abril de 1975, feriado de Tiradentes e de Maracanã cheio. Já já eu conto…

Antes, algumas considerações. A primeira é que anoto as partidas da maneira mais rústica possível. Se você pensa que mantenho para isso uma pastinha no computador, ou mesmo um caderno passado a limpo, engana-se: registro tudo em folhas soltas, no verso de provas antigas do colégio ou da faculdade, guardadas sabe-se lá por quê, ou ainda de contratos de aluguel já encerrados ou de recibos de matrícula em cursos já frequentados. A cada jogo presenciado, anoto o placar, o público pagante e os autores dos gols do Flu. Só isso. Quando a folha que está em uso chega ao final, acrescento outra por cima e vou formando um pequeno calhamaço, que a esta altura já soma 12 folhas, guardadas numa gaveta da escrivaninha.

Feita essa confidência, divido com o leitor algumas estatísticas dos 150 jogos. Primeiro, uma nota metodológica: os dados não incluem as cinco partidas do Flu que presenciei como jornalista esportivo, já que estava ali a trabalho. Tampouco contemplam confrontos entre outros clubes e seleções – quando eu era criança, meu pai, botafoguense, me levou umas poucas vezes a jogos do seu próprio time. São 150 partidas só do Fluminense mesmo, quase sempre vistas do nível superior da arquibancada, junto ao escanteio, numa posição tal em que, na definição de um velho companheiro de Maracanã, afeito às coisas da geometria, a bandeirinha represente a bissetriz do ângulo do córner…

Mas vamos aos números. Nesses 150 jogos, vi o Flu vencer 67 (45%), empatar 47 (31%) e perder 36 (24%), marcar 194 gols (média de 1,29) e levar 142 (média de 0,95). Vi o clube conquistar 12 taças, relativas a dois Campeonatos Brasileiros, cinco Cariocas e cinco turnos do Estadual (incluindo quatro Taças Guanabara). Ou seja, por 12 vezes saí do estádio gritando “É campeão!”.


E quem terá sido o maior artilheiro da epopeia? Washington, que formava o Casal 20 com Assis, o Carrasco: 17 gols. Na sequência, vêm Romerito (dez gols), Assis e Fred (nove cada), Rafael Sóbis e o meia Wagner (oito) e, num honroso sétimo lugar, o zagueiro Gum (sete). A maior goleada? 5 a 0, duas vezes: sobre o Coritiba, em 1984, e sobre o Horizonte (CE), 30 anos depois. Já a maior derrota foi para o Botafogo: 4 a 1, em 86.

Os 150 jogos registraram, em média, 37.500 pagantes. Mas qual foi o maior público? Os 153 mil presentes ao Flu 1 x 0 Fla que decidiu o Carioca de 84 – número hoje impensável, depois que o Maracanã foi criminosamente reduzido à metade. E o menor? Os heroicos 1.600 que fomos ao estádio das Laranjeiras numa quarta-feira à noite testemunhar a opaca vitória de 2 a 1 sobre o Picos, do Piauí, pela Copa do Brasil de 92 – com direito a pênalti perdido pelo lateral tricolor Carlinhos Itaberá, cujo nome fora gritado em coro pela torcida para fazer a cobrança, um sarcasmo não compreendido pelo jogador.

O adversário mais frequente nessa odisseia particular foi o Vasco, com 27 confrontos – infelizmente para mim, mas para gáudio do editor-chefe do Museu da Pelada, com ampla vantagem cruzmaltina: 12 vitórias a 6. O segundo adversário nesse quesito é o Flamengo: 23 embates, com 6 vitórias tricolores e 7 rubro-negras. Contra o Botafogo, foram 11 jogos, com 5 triunfos do Flu e 4 do Alvinegro. Dentre os clubes de outros Estados, os rivais mais frequentes foram Corinthians e São Paulo (cinco vezes), Cruzeiro, Atlético-MG e Grêmio (quatro). 

Ao todo, vi o Fluminense encarar 52 adversários: 12 do Rio de Janeiro (seis da capital e seis do interior), 28 de outros 11 Estados brasileiros e 12 de nove países estrangeiros, incluindo um amistoso em Volta Redonda contra a seleção italiana, às vésperas da Copa de 2014. É curioso como o perfil dos adversários foi mudando ao longo do tempo. No início, eu ia quase somente a clássicos cariocas ou a jogos contra os pequenos do Rio (incluindo Bangu e América, outrora grandes). Aos poucos, vieram adversários paulistas, mineiros, gaúchos e outros. Mais recentemente, tenho presenciado partidas contra times sul-americanos, em partidas de competições continentais. 

Mas um balanço como este não pode reduzir-se a estatísticas. Até porque o que fica, mesmo, são os momentos, as alegrias, a comemoração dos gols, as emoções extraordinárias que só o futebol é capaz de proporcionar. O que me remete de novo ao primeiro jogo da lista, no tal 21 de abril de 75…

Tinha eu oito anos e quatro meses quando ex-alunos (tricolores) do meu pai na faculdade de Direito convidaram a mim e a um irmão botafoguense (três anos mais velho) para aquele Fluminense x Botafogo, válido pela Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Carioca. O jogo era importante: faltavam duas ou três rodadas para o fim do turno, e quem perdesse ficaria sem chances de levar a taça.

Eu, que até então só acompanhava as partidas pelo rádio, morri de medo de que a estreia resultasse em derrota. Dia de calor e com 110 mil pagantes no Maracanã, os fatos se encarregaram de desfazer meus temores, e da maneira mais cabal: com dez minutos de jogo, o Flu já vencia por 2 a 0. O primeiro gol, do meu maior ídolo no futebol até hoje, uma obra-prima inusitada, tratando-se de Rivelino: uma bomba de pé direito da entrada da área, de voleio, no ângulo. No segundo, após uma arrancada espetacular de Búfalo Gil em direção à área, a bola sobrou limpa para o centroavante Manfrini empurrar para a rede. Enlouquecido, só me faltava subir pelas paredes como as lagartixas profissionais. O Botafogo veio pra cima no segundo tempo, mas só conseguiu reduzir a diferença. No final, vitória por 2 a 1 e uma tarde absolutamente inesquecível.


Claro que não foi a única. A do primeiro título carioca, em 1980, com um gol de falta de Edinho sobre o Vasco, foi outra. A do gol de Assis aos 45 minutos do segundo tempo, no Fla-Flu que decidiu na prática o Campeonato Carioca de 83, mais uma, especialíssima. A do outro gol de Assis que decidiu o Carioca de 84, contra o mesmo Flamengo, outra ainda. A do empate que garantiu o título brasileiro sobre o Vasco, meses antes, outra mais. Pensando agora, que fase aquela!

Evidentemente, também tive tristezas e decepções ao longo da minha carreira de torcedor de arquibancada. A maior delas, inigualável, a perda da Libertadores de 2008, nos pênaltis, para a LDU – um bom time até, mas tecnicamente inferior ao Flu, que amargou o vice em razão de um primeiro tempo desastroso no jogo de ida, em Quito. Dói até hoje.

Houve também situações curiosas, como sair do Maracanã com água pelo joelho após um vitória sobre o Goiás num sábado de chuva torrencial, em 85. Ou, no dia do já citado Fla-Flu de 84, omitir da minha mãe que eu passara muito mal durante a madrugada, informação que certamente a levaria a tentar me demover da ideia de ir ao jogo. Mas valia o bicampeonato carioca… Fiquei na moita, me mandei pro estádio, descolei um escasso ingresso para as antigas cadeiras azuis (a arquibancada já estava lotada) e acabei recompensado com uma das mais belas conquistas da história do Fluminense. Tantos anos depois, imagino minha mãe, que também era tricolor, lá do alto, sorrindo dessa minha pequena travessura adolescente e dizendo, naquele jeito doce: “Seu moleque…”.

OBRIGADO, ESPINOSA!

por Claudio Lovato Filho


Quando comecei a frequentar o Olímpico, em 1972, aos 6 anos de idade, recém chegado de Santa Maria, onde nasci, ele já estava lá: era o nosso lateral direito. Tinha 24 anos, era cabeludo e costumava usar uma touca peruana que combinava bem com sua pinta de jovem rebelde e com seu nome completo: Valdir Atahualpa Ramírez Espinosa.

No Grêmio ele jogou de 1970 a 1973, e quis a vida que, exatos 10 anos depois de sua despedida do clube como jogador, conduzisse o Tricolor, como técnico, àquela que é até hoje sua conquista mais importante, o campeonato mundial interclubes, comandando um elenco que tinha Renato Portaluppi, Hugo de León, Tarciso, Mário Sérgio, Paulo Cezar Caju e outros heróis de quem a nação azul-preta-e-branca jamais se esquecerá e a quem será eternamente grata.

Há quem diga que o acaso é um dos disfarces de Deus. Espinosa e Renato chegaram a treinar juntos no Esportivo de Bento Gonçalves, cidade da Serra gaúcha. Renato havia começado nos (à época) juvenis (hoje juniores) do clube em 1978. No ano seguinte, Espinosa era o técnico e promoveu Renato, então com 17 anos, ao time principal. Em 1980, quando de uma curta passagem como técnico do Grêmio, Espinosa mandou buscar Renato em Bento Gonçalves. Renato se tornaria profissional do Grêmio em 1982, com Ênio Andrade, mas foi pela mão de Espinosa que o guri endiabrado nascido em Guaporé chegou ao Olímpico, para se tornar, algum tempo depois, uma lenda viva.  

Foi com o Esportivo de Bento o primeiro título de Espinosa como técnico: campeão do interior gaúcho, em 1979. No ano seguinte, depois da já mencionada breve (mas histórica) temporada no Grêmio, foi campeão cearense com o Ceará, e, em 1981, campeão paranaense com o Londrina. Então vieram a Libertadores e o Mundial com o Tricolor de Porto Alegre, em 1983, e, na sequência, a carreira no exterior: foi campeão saudita em 1985, com o Al-Hilal, e campeão paraguaio com o Cerro Porteño em 1987 (repetindo o feito em 1992).

Em 1989 ele daria à torcida do Botafogo um presente havia muito desejado e, por isso, para sempre inesquecível: o campeonato carioca de 1989, depois de 21 anos de fila. Gaúcho de Porto Alegre, foi então adotado pelo Rio de Janeiro. Gremista, passou a dedicar seu amor também ao clube da estrela solitária. Gaúcho e carioca, gremista e botafoguense, como João Saldanha. Gaudérios cariocas. Ambos sem medo de defender suas convicções e de ir em busca de seus sonhos.


No Rio, depois do Botafogo, Espinosa foi auxiliar de Renato no Vasco da Gama, de 2005 a 2007, regressando ao clube da cruz de malta no mesmo ano, como treinador principal. Em 2009 foi novamente auxiliar de Renato, dessa vez no Fluminense, clube do qual também viria a ser técnico. Treinou ainda o Duque de Caxias.

Entre um clube e outro, trabalhou na imprensa esportiva. Foi comentarista dos canais SporTV e PFC, da Rádio Manchete e da Rádio Globo. Sem conseguir ficar longe da “casamata” (como alguns no Rio Grande do Sul ainda denominam o reservado destinado aos reservas e à comissão técnica na beira do campo), Espinosa atendeu em 2016, o chamado de Renato, que voltava a ser treinador do Grêmio, para ser coordenador técnico. Ficou até 2017 e deu uma contribuição decisiva para a sequência de títulos que o clube viria a conquistar, entre os quais o de uma Libertadores da América. Era a segunda vez que Espinosa e Renato conquistavam juntos o título mais importante do continente. Em dezembro de 2019, Espinosa assumiu o cargo de gerente de futebol do Botafogo, seu último trabalho.

Valdir Espinosa morreu na manhã desta quinta-feira, 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro, aos 72 anos, por complicações decorrentes de uma cirurgia realizada três dias antes. Seu legado para o futebol deve ser medido não apenas por seus títulos, que foram muitos. Valdir Espinosa deixou para todos nós, amantes do futebol, a mensagem essencial de que sem respeito e apreço pelos companheiros de jornada e sem paixão verdadeira pelo que se faz nenhuma vitória é possível. Pelo menos nenhuma vitória que realmente valha a pena.

A MÁQUINA AINDA EMOCIONA

por Wendell Pivetta


Estava sendo uma final acirrada, equipes tecnicamente e extremamente equilibradas, porém em um piscar, ou melhor, em um clique a emoção maior tomou conta.

O momento máximo do gol realmente é a comemoração. Um toque na bola pra dentro da rede e os segundos seguintes resultam na expressão que toma conta do momento sublime do jogador de futebol. Já pensou na comemoração que você poderia fazer em uma final de mundial? Todo jogador com certeza já sonhou momentos antes de uma final no melhor estilo de comemorar.

No ano de 2019 contei com a satisfação de fotografar competições futebolísticas através da Secretaria de Esportes e Lazer de Cruz Alta, e com elas, inúmeras fotos foram moldando um acervo municipal. Em uma das finais municipais, ficou reservado o momento único, que jamais vislumbrei seja na TV ou ao vivo. O Ginásio Municipal estava fervendo na final do Citadino Série Bronze 2019 entre Barça x União da Vila. Jogo quente, pegado do inicio ao fim. Em um lateral cobrado, Andrio Tolentino pega a defesa do União da Vila de surpresa, chutando na entrada da pequena área acertando o ângulo adversário. Indefensável o chute. Um gol preciso no qual o camisa 10 se atirou de carrinho ao chão para alcançar a bola e proporcionar o melhor chute.


Este era o segundo gol do artilheiro na partida. Todos esperavam sua tradicional comemoração acenando para o alambrado, procurando visualizar alguém que estava na parte mais alta dos assentos. Quando de repente, o atleta que costumeiramente apenas acenava, vai correndo a beira da grade de proteção que reparte o piso da quadra entre a torcida, de encontro a quem ele sempre acenou. Lá do alto, cabelos longos ao vento, de passo curto e dificultados para superar os degraus do ginásio vinham descendo com um sorriso maior do que a goleira que recepcionou aquele gol. Abraço. Um sincero e afetuoso abraço do artilheiro com sua filha marcou as comemorações e a sinceridade daquele momento de felicidade em que o pai espera para compartilhar da sua felicidade com a pequena torcedora presente ali. 

O cartão amarelo pelo atraso do reinício da partida aconteceu. O árbitro teve de punir, fazia parte da sua regra, porém não interferiu na magia do esporte.