MANÉ GARRINCHA, O MAIOR DE TODOS
por Rodrigo Ancillotti
Quando eu tinha meus 7 ou 8 anos, lembro que o debate “Quem foi melhor: Pelé ou Garrincha?” era bem inflamado, com argumentos de lado a lado, defesas apaixonadas, etc.
Eu, na minha ingenuidade de botafoguense com alegrias mínimas proporcionadas pela time e sem o mínimo conhecimento da história do futebol, respondia sem medo: “Garrincha, é claro!!”
O tempo passou, o conhecimento veio devagarinho, o Botafogo dando algumas alegrias a partir daquele gol do Maurício em 1989 (vestindo a 7 do Mané), mas sempre passando muitos perrengues… Mas aquela pergunta meio que sumiu dos debates esportivos, e novos nomes apareceram e começaram a disputar com Pelé: Maradona, Messi, Ronaldos, Zidane, etc. Até mesmo nomes da “velha guarda” entraram na onda: Beckenbauer, Cruijff, Di Stéfano…
Mas a minha resposta ainda é aquela do menino lá da meiúca dos anos 80, mas com um pouquinho mais de embasamento: Pelé foi o jogador mais completo, não há dúvidas!! Um dos maiores atletas do século (não o maior, me desculpem!, mas isso ninguém tira de Muhammad Ali na minha modesta opinião)!!
Mas o Mané, ah, o seo Mané…
Ninguém foi mais extraordinário, ninguém foi mais Demônio (da Copa), ninguém humilhou tantos “joões” mundo afora, ninguém brincou tanto com o imaginário do torcedor, ninguém driblou a lógica e tantos adversários, ninguém personificou tão bem o “País do Futebol” quanto seo Manuel dos Santos…
Que me desculpem todos os outros, mas ninguém chega ou chegará aos pés daquele caboclo de pernas tortas!!
Mané Garrincha, ou simplesmente “A Alegria do Povo”!!
Amauri Vieira
A PUREZA DO ARTILHEIRO DOS PAMPAS
entrevista: Gabriella Scott | vídeo: Freddy Paz | edição: Daniel Planel
Com um sorriso no rosto e muita simpatia, Amauri Vieira primeiro nos recebeu na escolinha de futebol que agora dá aulas aos sábados. O ex-meia atacante comanda turmas de jovens jogadores em um projeto social na Lomba do Pinheiro, bairro da periferia de Porto Alegre.
Depois de vê-lo em ação fora das quatro linhas, foi hora de conhecermos o trabalho semanal do qual ele tanto se orgulha: ajudante de cozinha e atendente em uma padaria da região. Não faltaram elogios dos colegas para a simpatia do craque.
– Ele adora contar as histórias da época que jogava! – foi uma frase que ouvimos tanto dos colegas, quanto de clientes do estabelecimento. E de fato, gosta mesmo!
O nosso papo aconteceu na sala da casa dele e foi longo! Falamos desde a infância no interior do RS, até a época de ouro, nos anos 80, jogando no Vasco e Fluminense. Ele nos contou causos de viagens para o exterior, explicou o porquê do apelido Pantera (spoiler: não tem nada a ver com o animal pantera, e sim com o personagem Pantera Cor-de-Rosa) e se emocionou ao lembrar do episódio da adoção do filho mais velho.
Histórias e risadas não faltaram nessa tarde que se encerrou – após insistência do Amauri e de sua esposa (que joga e treina com os meninos na escolinha também!) – com um belo bolo da padaria que havíamos conhecido mais cedo e que conta com o pantera no time.
A ARTE PREVISÍVEL
por Marcos Eduardo Neves
Que me desculpem os coleguinhas da imprensa. Há anos, senão décadas, se espalha a máxima de que jogador de futebol brasileiro deixou de ser artista para ser atleta. Mais um tabu que o Flamengo vem quebrando desde 2019.
O que o time de Jorge Jesus vem jogando dá gosto de ver. É o melhor futebol da América, sem dúvida. Soma de gestão correta, criativa e ousada a crédito na praça e investimento alto, para retorno ainda maior. Um espetáculo por jogo. Ainda que diferentes.
Quarta-feira quem se endereçou ao Maracanã para conferir a estreia em casa do clube na Libertadores foi com uma expectativa e saiu saciado. O Flamengo entrega o que se paga para ver. Daí o embate com a Globo: o Rubro-negro dá ao espectador um programa de televisão bem ensaiado, produzido e finalizado. O que nem mesmo a própria emissora faz sempre.
A vitória desta noite, por exemplo, nada mais foi do que outro capítulo qualquer de novela. Dispensável, digo mais, não fosse a indispensável audiência. Tipo, Até o próximo capítulo! Se perdeu esse, não tem problema, você vai entender a trama no próximo.
Sim, não era um capítulo imperdível, como o final de novela que foi a decisão contra o River Plate. Aliás, aquilo foi filme. Com direito a séria concorrência no Oscar: possibilidades de melhor filme, melhor roteiro, melhor diretor e melhor ator. Um thriller avassalador, de final surpreendente.
Aquele jogo fugiu à regra devido à atuação do elenco, fora do scritpt. Hoje foi normalidade, mesmice. Naquela tarde o Flamengo foi irreconhecível até os minutos finais. Contra o Barcelona do Equador, igualzinho ao último ou ao penúltimo. Previsível.
A ponto de parecer teatro ou show: as pessoas indicam por ser bom, os fãs não perdem porque são fanáticos, e seja pela TV, pelo rádio ou no estádio, a plateia se divertirá, o evento será dentro de campo agradável, um programa bacana onde os atores, ao fecharem a cortina, agradem em conjunto ao público. As pessoas vão sabendo o que verão e até mesmo o final. A diferença é que numa peça ou no show não faz ideia de quando o espetáculo terminará, se daqui a uma hora e meia, duas ou três. Já um jogo do Flamengo não se sabe de quanto vai ser. A única dúvida é acertar o placar.
Contra o Liverpool o filme foi midiático, mas, para as duas equipes, dramático. Houve um mocinho vitorioso no fim, mas o vilão não convenceu no papel: criou empatia monstra. Na noite de quarta, entretanto, o time jogou com a intensidade de sempre e conquistou o placar de quase sempre. E, quer saber, mesmo que perdesse, ou porque a bola não entrou ou porque o árbitro errou, seria apenas um capítulo melodramático de novela. Do estilo, Aguarde o próximo, segue o jogo e, cuidado, olha lá com as brincadeiras. Quem ri por último ri melhor.
Novela, filme, teatro… ver jogo do Flamengo é certeza do que vai apreciar, que nem circo. Mesmo sem um ou outro jogador a coisa acontece, funciona. Como circo com ou sem palhaço, ou sem globo da morte mas com trapezista, ou sem animal mas com mágico. Pague para ver – e receba. Ou não pague e azar o seu.
Claro, uma peça pode ser ruim, um circo, um filme, uma novela até. O Flamengo de hoje, não. Pode até estar em uma manhã, tarde ou noite ruim. Porque ser ele não é. Estar, pode até ser. Mas é incomum.
Dessa forma, o Flamengo prova hoje que seus atletas ainda fazem arte, sim. São artistas. Não mais fumam, se drogam ou exageram fora de campo, como nos anos 60, 70 ou 80: são ‘paulísticamente’ trabalhadores, responsáveis, profissionais – outro tabu quebrado. Mas são artistas.
E no que tange à produção, efeitos visuais e adereços, são até mais, top de linha. Não duvido que, além de comissão técnica, roupeiros, massagistas, seguranças e todo o séquito que normalmente já envolve um time de futebol, faça parte da folha do clube também um ou mais cabeleireiros e camarins, talvez na concentração, para que antes de pegarem o ônibus os astros deem aquele tapa no visual. Afinal, não consigo acreditar que, não bastassem os exímios músicos sinfônicos de uma orquestra encantadora, ainda encontrem tempo e, principalmente, competência para fazer por conta própria os cabelos com que sobem ao palco. Narcisos egos a aproveitarem a colossal vitrine para mostrar o quão vaidosos são não apenas com a bola, mas com a própria imagem.
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MARCA QUASE PRÓPRIA
por Idel Halfen
Como já foi explorado em outros artigos, a marca própria em uniformes vem ganhando um espaço bastante expressivo no futebol brasileiro. Por estar mais familiarizado com esse conceito em empresas do segmento varejista, tendo a estranhar um pouco essa “solução” para uniformes ainda que, aparentemente, esteja propiciando aos clubes que a adotaram resultados melhores do que os que obtinham quando eram supridos por marcas já estabelecidas no setor.
Para ficar mais claro o que aqui se pretende explorar, vale fazer um breve resumo de como foi a evolução do conceito de marca própria no Brasil, onde podemos colocar os anos 70 como o início desse conceito.
Na verdade, o que chamam de 1ª geração de marcas próprias abrigava produtos sem marca, que usavam o nome da categoria como forma de identificação, não primavam pela qualidade e se diferenciavam em função do preço mais baixo praticado.
A 2ª geração aconteceu nos idos de 80 e trouxe como evolução a aplicação da marca do varejista/atacadista nas embalagens, até que nos anos 90 com a entrada de varejistas internacionais, a categoria recebeu mais investimentos que melhoraram a qualidade dos itens, porém, mantendo o preço como o principal atributo de posicionamento.
A 3ª geração teve como marco o final da década de 90 e se destacou pelo significativo crescimento da categoria tanto em termos de variedade de produtos, como em qualidade e valor agregado.
Já a 4ª geração se diferencia por agregar conceitos de sustentabilidade e vida saudável aos produtos, de forma que o preço deixa de ser o atributo principal de diferenciação. Data dos meados dos anos 2000 essa fase, a qual perdura até os dias atuais e passa a incorporar ao varejo, detentor das marcas, os conceitos associados a esses “novos” produtos.
Esse breve racional nos mostra que o segmento varejista tem hoje nas “marcas próprias” uma ferramenta estratégica tanto no que diz respeito aos resultados operacionais como no próprio posicionamento. Tais ganhos ficam facilitados graças ao controle que as redes possuem sobre os pontos de vendas onde os produtos são ofertados, fato que não acontece no caso dos uniformes dos times, o que é um ponto de questionamento acerca da plena aplicação do conceito por parte dos clubes.
Corrobora ainda para esse questionamento a parceria que foi desenvolvida entre o Esporte Clube Bahia – que veste uniformes da sua marca própria, a Esquadrão – e o Vitória da Conquista (não confundir com o Vitória, principal rival), que passará a ser suprido pela mesma marca, ou seja, um adversário será o seu fornecedor de material esportivo.
O mais perto que encontramos disso no mercado corporativo é a parceria entre os varejistas Kroger e Walgreens, onde o primeiro, uma rede mais voltada às categorias de alimentos, tem alguns produtos de uma de suas marcas próprias – a Home Chef – comercializados na segunda, mais voltada ao varejo farma. Nesse caso a Walgreens melhora seu sortimento sem canibalizar nenhum de seus produtos e a Kroger se beneficia por ter mais pontos de vendas.
Apesar de alguma similaridade, o exemplo citado acima não se compara com o case “Esquadrão”, o qual, na verdade, deixa bem descaracterizado o conceito de marca própria.
Isso sem falar nos riscos da própria operação. Será utilizada a mesma equipe de vendas? Como fica a programação de produção? E a política comercial?
Muitos avaliam a iniciativa como ótima para o Bahia, pois através da iniciativa de sua “marca própria” consegue outra fonte de receita: o fornecimento de material esportivo para outra equipe, o que em tese faz algum sentido.
Todavia, a prática de diversificar e agregar negócios muito distintos do core business original, ainda que tenha casos de sucesso – como por exemplo o varejista inglês Tesco que atua até em telecomunicação e finanças – costuma ser bastante arriscada, principalmente em clubes de futebol, onde o processo de gestão ainda não está suficientemente maduro.
OS MENINOS DA VILA
Luis Filipe Chateaubriand
No ano de 1978, o Santos encontrava-se em dificuldades financeiras. Era, portanto, difícil manter um elenco de estrelas.
A solução encontrada, para se fazer um grande time, foi caseira: promover garotos das divisões de base.
Então, para as posições de frente, lá vieram Nílton Batata, Pita, Juary e João Paulo. Os quatro garotos vieram se juntar aos experientes Clodoaldo e Aílton Lira, formando uma comissão de frente formidável.
Nílton Batata era um ponta direita insinuante, que aliava boa técnica a grande força física, sempre buscando a linha de fundo para fazer excelentes cruzamentos.
João Paulo, o Papinha, exercia o mesmo papel que Batata, só que pelo lado esquerdo, com menos força física e com mais técnica, sendo que nem sempre precisava ir à linha de fundo para proceder ótimos cruzamentos.
Juary era um centroavante rápido e oportunista, que se movia pelos lados da área, saía dela para buscar jogo, era muito veloz e, óbvio, fazia muitos gol.
Pita era o cérebro do time. Habilidoso ao extremo, ditava o ritmo do time. No momento de prender a bola, o fazia a fazendo “grudar” em seu pé e através de toques lentos, de vai e vem. Na hora de acelerar, procedia incríveis dribles verticais e passes em profundidade.
Aquele time estupendo, que dava gosto ver jogar, foi campeão paulista em 1978. Logo depois, se desfez, com as negociações de Nílton Batata e Juary para o futebol mexicano. Ficou para a torcida praiana a saudade – muita saudade.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.