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Helinho

O PONTA QUE LEVANTAVA A GALERA

Se nos tempos atuais os pontas são raridades no Brasil e no mundo, houve uma época em que a posição era recheada de craques, sobretudo no futebol carioca. No Fluminense, Robertinho, no Vasco, Katinha, no Bangu, Marinho e no Botafogo, Helinho! Esse último recebeu a equipe do Museu da Pelada no seu bar, na Taquara, para uma resenha de altíssimo nível que contou com a presença de Stepan Nercessian, Léo Russo e muito mais!

Com direito a muito churrasco e cerveja gelada, fomos muito bem recepcionados e, como era de se esperar, o papo fluiu naturalmente. O Botafogo, claro, foi o assunto principal, mas foi no Vasco que Helinho deu seus primeiros passos no futebol.

– Eu joguei nos juniores do Vasco por dois anos, mas um auxiliar do clube foi para o Botafogo e, sabendo da minha paixão pelo alvinegro, me levou junto com mais três!

Daquele dia em diante, o craque começou a construir sua bela história no clube e logo caiu no gosto da torcida, que delirava com os dribles desconcertantes do craque pelas laterais.

Apesar do seu talento, Helinho vestiu a camisa do Glorioso em uma época de jejum de títulos. Mesmo assim, fez mais do que o suficiente para se tornar ídolo do clube!

– Minha maior tristeza no futebol foi não poder ter feito mais pelo Botafogo por causa do meu joelho e por outras coisas também. Eu acho que eu poderia ter dado mais! – se lamentou.

– Eu não concordo! Helinho é uma pessoa marcante e tem um jeito simples de ser que carrega desde os tempos em que era o ídolo maior do Botafogo numa época muito sofrida! – disparou Stepan.

Responsável por infernizar a vida dos marcadores adversários e por facilitar o trabalho dos atacantes da sua equipe, o ponta não titubeou ao ser perguntado sobre quem foi o seu maior parceiro de ataque:

– O Cláudio Adão era muito inteligente, se posicionava muito bem. O Baltazar também jogava muito, mas era muito fominha! – relembrou para a risada de todos.

Durante o papo, Helinho também resgatou uma história curiosa. Em um clássico contra o Flamengo, após marcar um gol no Maracanã, correu para a Geral e se deparou com um flamenguista saltitando de alegria. Ao olhar com mais atenção viu que tratava-se do seu vizinho.

Embora todos saibam do carinho da fera pelo alvinegro, outro ponto da alto da resenha foi sua declaração de amor ao Botafogo:

– Eu não queria ser jogador de futebol, eu queria jogar no Botafogo! Tanto é que, depois que eu saí, eu já estava querendo parar de jogar, já não sentia mais aquela tesão.

Para fechar a resenha, o músico e compositor Léo Russo puxou uma música e a rapaziada acompanhou: “Todo mundo tem defeito, cada um com jeito de ser. Ninguém no mundo é perfeito…”.

Assistam ao vídeo e confiram essa resenha completa!

 

 

O TESOURO DO MAIOR ÍDOLO TRICOLOR

Como bons museólogos, adoramos acervos. Fotos antigas, jornais amarelados, faixas, bolas, camisas, tudo isso nos fascina. Sendo material de um personagem lendário do futebol brasileiro então, o encanto se multiplica. Foi com toda essa expectativa e emoção que Carlos Roberto e Shirley, filhos do goleiro Castilho, nos mostraram o acervo precioso de um dos maiores ídolos do Fluminense e permitiram que a equipe do Museu desse um trato no material.

Apesar de já termos feito alguns, bate sempre aquele frio na barriga como se fosse a primeira vez. Imediatamente ligamos para Chris Lee, da Loja Manufatura, que topou mais uma vez o desafio e, como de costume, fez milagre com o acervo, com digitalização, restauração, higienização e encadernamento em tempo recorde! Feito isso, o lugar e a ocasião para a entrega não poderiam ser mais nobres. Marcamos presença no dia em que o Fluminense inaugurou a placa com o novo nome do seu CT, Centro de Treinamento Carlos José Castilho, uma homenagem mais do que justa a quem abriu mão de um dedo para continuar defendendo as cores do clube.

– Tínhamos a obrigação de fazer isso. Não tem nenhum cunho política, é respeito à memória. É o maior jogador da história do Flu! – disse o presidente Mário Bittencourt.

Visivelmente emocionados, os filhos agradeceram o carinho do clube:

– Passado tanto tempo, ele continua sendo referência para todos dentro do clube. Um grande profissional que tomou atitudes radicais! – lembrou Carlos Roberto.

Para fechar o encontro com chave de ouro, devolvemos o acervo em perfeito estado à dupla, que já reservou um cantinho especial para guardá-lo com carinho!

Viva o Castilho! Viva a memória do fuebol!!

OS APELIDOS IMORTAIS NO MUNDO DO FUTEBOL

por Kadu Braga


Pelé, Zico, Garrincha, Bebeto, Vavá,  Tostão, Dinamite, Didi, Dida, Cafú, alguns ilustres do futebol brasileiros em apelidos esportivos imortais. Conquistaram o mundo com seus talentos e carismas dentro e fora dos gramados levantando e levando multidões aos estádios pelos seus times e alguns deles a seleção brasileira ao topo, entre as glórias e dramas do planeta bola com vitórias e derrotas, marcaram épocas e jamais serão esquecidos pela legião de fãs pelo que fizeram pelo futebol brasileiro

 Em toda roda resenha de pelada, cada um com sua característica, tem o “falastrão”, o “encrenqueiro”, o “sabe-tudo”, o craque que veste a camisa 10 e por aí vai. Muitas vezes dalí surgem até alguns apelidos inusitados, “Léo chuta-chuta”, “João pé de ferro”, tem é claro, o “perna de pau”. A zoação, e também, a vaidade – diga-se de passagem – as “laranjas podres” de vestiário, são bem semelhantes seja envolvendo ou não o dinheiro, ou “bicho”, na linguagem da bola. Neste aspecto pouco difere o âmbito amador do profissional.

 No futebol de raiz como atividade lúdica, poética, praticamente romântica, não há como se pensar no craque sem talento, títulos, histórias e um nome esportivo forte. Assim nasceram os grandes ídolos do futebol nacional com apelidos que se tornaram personagens emblemáticos de grandes conquistas que estão sendo e serão contadas de geração para geração alimentando a paixão clubística, de avô, para filho, neto, bisneto e por aí vai… São nomes que fazem parte inclusive da história e da cultura brasileira.

 E no passado mais recente temos observado que justamente essa cultura começa a perder força. O marketing que tem se inserido em tempos modernos é o nome composto, talvez influenciado pelos novos craques internacionais da nova geração, Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, apesar de mais conhecido por “Messi”, Kylan Mbappé, até Neymar tem o sufixo “Jr” em sua grife e o grande nome do futebol brasileiro está perdendo o apelido de “Gabigol” para seu nome de fábrica: Gabriel Barbosa, ídolo do Flamengo ao lado de outra fera de nome próprio “duplo”, seu companheiro de ataque Bruno Henrique.

 Vivemos novos tempos e faz parte a evolução e a influencia de interesse de marcas e empresários no mundo da bola. Porém, não há melhor marketing que o carisma construído em cima de uma história original e que se identifique com o povo, região, país, time, etc. Todo apelido há uma história por trás. Fatos e curiosidades que pouca gente sabe é porque o Rei tem o apelido de Pelé, que brincava de goleiro quando criança e falava “Bilééé”, quando voava para abraçar a bola. Entendiam “Pelé” e pegou para sempre. E como se criou o apelido de Cafu, nosso capitão do Penta ou Zico, como ele começou a ser chamado assim?

É preciso acima de tudo preservar e contar essas histórias das nossas maiores lendas que terão seus nomes esportivos nas suas costas eternamente. Por isso, vamos desvendar as curiosidades da certidão de nascimento dos maiores nomes esportivos do futebol brasileiro e convidamos a toda comunidade a contribuir em uma obra editorial que contará histórias de apelidos de grandes ídolos e peladeiros do futebol brasileiro.

Sabe a história verídica e algum apelido no futebol? 

Compartilhe por e-mail:apelidosdofutebol@gmail.com

AMIGOS QUE O TEMPO NÃO APAGOU DA MEMÓRIA

por Marcos Vinicius Cabral 


Parado em um sinal de trânsito na Presidente Kennedy com a General Barcelos, Centro de São Gonçalo, voltei no tempo.

Fechei os olhos, ar condicionado do carro ligado, som sussurrando uma canção que não consigo distinguir, eu viajei. 

Não foi o vendedor de bala, nem a distribuidora de propaganda de GNV com um panfleto na mão e tampouco o representante de uma empresa que fabrica  panos de chão, que impediram-me de voltar no tempo.

Fiz uma viagem de trinta e poucos anos, quando garoto aos quinze, sonhava ser alguém na vida.

Exímio desenhista, gols de faltas de Zico, aventuras de Batman e caricaturas de conhecidos eram minhas especialidades. 

Mas também adorava escrever poemas e lê-los para amigos, que demonstravam grande apreço por mim até o “e aí, o que achou?”.

Depois saiam e sem falar uma palavra, me agrediam com aquele silêncio. 

Devastador, confesso!

Sonhava ser um novo  Drummond, um Quintana, um Borges, um Gabriel García Márquez.

Mas o horizonte me apontava para uma outra direção: um sonho que todo menino tem.

Pensando bem, sábio foi Samuel Rosa do Skank, quando de forma brilhante sintetizou o sonho de todo garoto, como nos versos de “É Uma Partida De Futebol”, do álbum O Samba Poconé. 

“Bola na trave não altera o placar

Bola na área sem ninguém pra cabecear

Bola na rede pra fazer o gol

Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”, canção de 1996.

Ser jogador de futebol, era algo concreto e não abstrato na minha vida.

Tão concreto que apesar de rubro-negro, treinei no Vasco e no Fluminense,  quando os clubes não tinham a infraestrutura que têm hoje.

Eram um abstratismo só quando se falava em categorias de base.

No Gigante da Colina reprovado fui, enquanto no Tricolor, passei com sobras vestindo a 8 e jogando de meio campista.

Porém, mais triste do que a lágrima dos meus olhos ao saber que meu pai não teria condições de arcar com as despesas com passagens de ônibus, foi ver o sorriso de seu Altair se desfazer quando fui lhe entregar o meu material, no Campo da Vidreira, no Vila Lage, onde era a sua escolinha e dizer que não poderia mais treinar.

Restou as peladas, como na Vila Olímpica, na Telerj, no Fluminensinho e os amigos que fui acumulando por esses lugares.

Na Vila, conheci a galera da Marca Olho, na Venda da Cruz, em Niterói, como Ricardo Astrô, Roberto Trac-Trac, Mauro, Siri, Pereira, Julinho, César Cavalo, Bode Cego e alguns outros que se juntaram à galera do Barreto como Quinho, Luizinho, César Pesão, Guta, Flávio, Deco, Marquinho, Zé Luiz, Russo, Patinho, Cemir, Dadão, entre tantos.

Até hoje, muitos deles, conseguem a proeza de manter vivo o futebol no Fluminense, numa rua ao lado da Universo, na Marechal Deodoro, em Niterói, sábado sim e sábado não.

Mas a bola, essa esfera redonda, inseparável amiga, me fez e faz sentir saudades desses e de outros seres humanos. 

Como os do Marajoara, no Fonseca, do Barreto, do Jovem Fla, do Grupo dos 30 e por fim, os do Barabá.

Cada um deles, em algum lugar nesse mundo, talvez não pense no quanto fomos ricos enquanto estivemos juntos, ali nesses lugares, jogando futebol.

Foi uma riqueza que dinheiro nenhum pôde comprar.

Uma riqueza que ninguém conseguiu perceber.

Mas afinal…

Pode parecer um exagero mas só quem viveu esse romantismo das peladas nos anos 1980, pode agora se pegar tentando esquecer o que o tempo não pode – por mais que queira – apagar.

Enfim… o sinal abriu, os carros buzinaram, engrenei a primeira e parti com meu carro torcendo para que nenhum outro sinal dali por diante estivesse vermelho.

Não estava. 

Parei no acostamento para enxugar, ops, ou melhor, para tirar um cisco do olho.

MUNDO DE FANTASIA DO FUTEBOL

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Minha relação com a torcida sempre foi de amor e ódio. Nunca tive um estrategista de marketing para me transformar em ídolo e jamais medi palavras para dizer o que pensava. Eu era garoto quando meu pai foi enrolado por dirigentes do Botafogo. Ouvia suas reclamações e aquilo me revoltava. Não me conformava quando, já jogador, era barrado em restaurantes por ser negro. Minha diferença é que botava a boca no trombone e isso gerava antipatia dos dirigentes, os mesmos que deram uma volta no meu pai.

Construí minha carreira batendo e apanhando. Hoje quando me perguntam sobre essa história confusa de Ronaldinho Gaúcho e do irmão Assis acho curioso. Muita gente, até hoje, me olha torto por eu ter passado boa parte de minha vida mergulhado em cocaína e álcool. Há 20 anos estou limpo, nem chopinho. Nunca roubei ou passei a perna em ninguém, mas continuam me olhando com desconfiança.

Alguns jogadores, como o Ronaldinho Gaúcho, podem se meter em confusões e cometer fraudes que continuarão sendo idolatrados pela torcida. Passam a imagem de bom moço. Ronaldinho Gaúcho deixará de ser ídolo? Duvido muito. Seus golaços e acrobacias em campo soterrarão todas as lambanças. Desconstruir a imagem de um ídolo não é simples. É como se o torcedor não quisesse enxergar nada de errado em seu herói, ofuscasse seu lado monstruoso. É um mundo de fantasia.

Se Ronaldinho sair da prisão e circular pelo centro da cidade será cercado por torcedores que pedirão autógrafos e selfies. O mundo funciona assim. O planeta está contaminado por um vírus muito mais devastador que o “Corona”. É o vírus da mediocridade, da insensatez e da estupidez. Mas em um ponto esse vírus agiu corretamente, afastou o torcedor dos estádios, afinal ninguém merece pagar para ver Flamengo x Portuguesa, Vasco x Fluminense, Botafogo x Bangu, Corinthians x Ituano e Palmeiras x Inter de Limeira. Sem falar, no Grenal, o clássico troglodita. 

É inadmissível como o Sul preserva esse perfil machão, de batalha campal, totalmente ultrapassado. É tudo que nosso futebol não precisa. Por isso, sigo na minha torcida por Fernando Diniz, que vai ajeitando o São Paulo, e Jorge Sampaoli, que estreou vencendo no Galo. Roger Machado segue no Bahia e tomara que continue. Por falar em Roger, os jogos da Copa do Nordeste são muito agradáveis de ver. O Fortaleza, de Rogério Ceni, outro para quem torço muito, continua jogando bonito e venceu o Náutico. É um futebol leve, veloz, que valoriza os pontas.

O Flamengo também vem priorizando o futebol ofensivo. Precisamos dessa ousadia, chega de nos contentarmos com pouco, com esse futebol covarde que se alastrou como um vírus pelos estádios do Brasil. Em tempo, na coluna da semana passada citei os novos chavões dos comentaristas e treinadores, e o pessoal lembrou de mais uma: leitura de jogo. Só faltava essa! Futebol não se lê, se joga!