QUAL É O CAMPEONATO MAIS EQUILIBRADO?
por Idel Halfen

Muito se discute sobre o grau de competitividade dos campeonatos de futebol, onde as conclusões, na maioria das vezes, costumam se dar pela quantificação de equipes que foram campeãs em dado espaço de tempo.
Como qualquer critério de avaliação, esse apresenta falhas, pois, o fato de haver poucos campeões, por exemplo, pode ocultar que dezenove equipes chegaram quase que empatadas na 2ª colocação.
No intuito de tentar identificar o tal “grau de competitividade”, a Jambo Sport Business desenvolveu uma análise comparativa, segundo alguns critérios tanto estatísticos quanto esportivos propriamente ditos entre as cinco principais ligas de futebol do mundo (Premier League – Inglaterra, La Liga – Espanha, Serie A – Itália, Bundesliga – Alemanha e Ligue 1- França), e o campeonato brasileiro ao longo de dez anos.
O estudo pode ser acessado pelo link https://www.linkedin.com/posts/halfen_competitividade-no-futebol-activity-7265403748292722688-3KLd?utm_source=share&utm_medium=member_desktop, mas aqui destacaremos alguns pontos.
Inicialmente deve ficar claro que escolher um único critério deixaria a análise comprometida, visto ser impossível contemplar todas as variáveis importantes em um único índice, daí a opção por se usar vários, visando extrair através de alguma recorrência, algum indício de conclusão sobre o tema.

Foram utilizados como parâmetros ligados ao desempenho esportivo os seguintes índices: diferença de pontuação entre o primeiro e o último colocado, quantidade de equipes que chegaram na primeira, segunda e terceira posições, número de times que jogaram a divisão principal, assim como o tempo de permanência nela.
Baseado no mercado de bens de consumo, onde o grau de competividade recebe a denominação de “concentração” e tem como balizador a participação de mercado das marcas, o estudo replica o mesmo raciocínio. Para isso, estimou a participação de mercado de cada equipe, dividindo suas pontuações pelo total daquele campeonato em cada temporada. Cumpre, no entanto, alertar que tal “manobra” apresenta falhas conceituais, pois, mesmo que um time ganhe todas as partidas que disputar, a “participação” de mercado jamais será 100%, que é o que aconteceria em qualquer mercado.
Tal falha, embora gritante, pode ser minimizada pelo fato de o estudo ter um cunho meramente comparativo.
Daí, a partir da citada conversão, foram utilizados quatro modelos de avaliação de concentração: O CR4, o IHH, o desvio padrão e o índice de Joly, sobre os quais não discorreremos aqui, mas cuja descrição está no estudo, que também traz quadros comparativos dos citados campeonatos sob todos esses parâmetros.

O que podemos adiantar no presente artigo é que o nosso Brasileirão parece, de fato, ser o campeonato mais equilibrado, quando comparado com os demais analisados
Importante também ressaltar que, embora o modelo norte-americano de procurar sempre o equilíbrio como atributo de atratividade, o fato de haver competitividade não significa necessariamente que haja atratividade. Explico: ainda que o imponderável seja um componente de suma importância para o esporte, isso pouco agrega num cenário em que os participantes tenham pouca qualidade, ou seja, além do aspecto “emoção” é necessário ter lances plásticos e geniais. Modo contínuo, para se ter qualidade, é necessário ter dinheiro para investir na atração e retenção de bons jogadores, todavia, a existência de poucos times “bons” certamente trará reflexos na atratividade, a qual, por sua vez, é fundamental para se auferir receitas.
Tão difícil quanto a escolha dos critérios de avaliação para se medir o grau de concentração – objeto do estudo -, é encontrar uma solução no sentido de aumentar a qualidade da competição, sem prejuízo do equilíbrio, mesmo porque, a própria conjuntura econômica do país tem sua influência nesse processo.
LUCIDEZ
por Zé Roberto Padilha

Não é fácil alcançar a lucidez. Ser iluminado pelo equilíbrio, ponderado nas declarações, coerente em suas posturas. Ainda bem. Pois ninguém se torna um Zico por acaso. Uma unanimidade esportiva, capaz de gerar orgulho até nos mais fanáticos torcedores adversários.
Ainda bem que o futebol tem um ídolo lúcido em meio a um mar de denúncias de venda de resultados, que tanto o denigre. Que atenua os efeitos dos que querem torná-lo um circo, como Deyverson, do Atlético-MG, vem tentando. Que consegue manter o seu fascínio mesmo diante da mediocridade da atual seleção brasileira.
Em uma entrevista que vi há pouco, lhe perguntaram se ele, Zico, foi melhor que o Maradona, Messi e Cruyff. Ele disse que não.
Quando a Neymar e Ronaldinho Gaúcho, disse que dava empate. São mais habilidosos e ele era mais objetivo, afirmou. Eles ganham de um lado, eu de outro.
E quando ousaram falar do Rei, nem permitiu tal comparação. Disse que Deus, quando fez um jogador de futebol, lhe concedeu todas as valências. Aos demais, um pouco de cada uma.
Foi modesto. Teve uma exceção. Porque Deus reservou a um deles talento, para o encantar, e lucidez, para não desencantá-lo. E essa exceção tem um nome. Zico.
SE PERDER, É PRECISO RECONHECER E NÃO LAMENTAR
por Zé Roberto Padilha

Essa agonia que o mundo do futebol joga nas costas do Botafogo, de precisar ser campeão, esbarra na falta de reconhecimento da qualidade do adversário que lhe pode roubar o título.
Se o Botafogo, com sua SAF, deixou de lutar para não cair, tentar uma vaga na Sul-Americana e se tornar candidato a buscar conquistas maiores há dois anos, como podemos esquecer do Palmeiras dos últimos anos?
De 2020 pra cá, foram 2 Libertadores (20/21), 4 títulos estaduais (20, 22, 23 e 24), 1 Recopa (22), 1 Supercopa (22) e 1 Brasileiro (22).
Responda rápido: é o Botafogo que não tem sorte ou é o Palmeiras que tem um trabalho consolidado há mais tempo? Seja qual for o campeão brasileiro, melhor reconhecer do que lamentar.
Dói menos.
O DANADINHO
por Elso Venâncio

O locutor Maurício Menezes, o Danadinho, marcou época no rádio esportivo. Criativo, lançou bordões que são lembrados pela galera, como “ao povão Fluzão, o abraço do nosso timaço”; “mas que joguinho gostoso”; “deu um jeitinho e entrou na casa do vizinho”; “lá vai Dedé, na pontinha do pé”. No momento do gol, surgia a marca que o identificava: “Romário, o 11, é danadinho, foi lá e deixou o dele”; “Túlio, o 7, é danadinho, foi lá e deixou o dele”.
O Danadinho se inspirava no mestre Waldir Amaral, que, na Rádio Globo, líder de audiência, usava expressões que o aproximavam dos ouvintes: “deixa comigo”; “o relógio marca”; “tem peixe na rede”; “indivíduo competente o Zico. Deeeez, é a camisa dele”; “Roberto Dinamite tem bala na agulha” (faltas na entrada da área); “estão desfraldadas as bandeiras do Vasco”.
Naquela época, quem não estava nos estádios, acompanhava os jogos pelo Rádio. Afinal, as TV’s não transmitiam futebol ao vivo. O hábito era tão forte que, no Maracanã, era comum ver torcedores colando seus radinhos de pilha no ouvido.
Certo dia, Maurício Menezes procurou Canor Simões Coelho, jornalista que representava o futebol mineiro no Rio. Canor fez contato com Luiz Mendes, “o comentarista da palavra fácil”, que, após ouvir uma narração do Danadinho numa fita cassete, o indicou a José Carlos Araújo. Os famosos Waldir Amaral e Jorge Curi não davam espaço a um jovem destaque. Por isso, José Carlos, terceiro narrador, com 38 anos, trocou a Globo pela Nacional. Nomes consagrados como Washington Rodrigues, Deni Menezes e Luiz Mendes o acompanharam.
Ao observar que José Carlos chamava os amigos e colegas de garotinho, Deni Menezes sugeriu que ele passasse a ser anunciado como o Garotinho José Carlos Araújo, “o que transmite o jogo inteiro”, já que Waldir e Curi se revezavam, cada um transmitindo um tempo.
Em 1978, pouco antes da Copa do Mundo na Argentina, Maurício Menezes chegava para integrar a equipe do Garotinho na Rádio Nacional. Passou a trabalhar, portanto, no histórico Edifício A Noite, na Praça Mauá, construído no final da década de 1920, sendo por muitos anos o maior arranha-céu da América Latina. Em pouco tempo, a equipe do Garotinho começou a se destacar no Ibope. Até Roberto Carlos, o Rei da Música Popular Brasileira gravou uma mensagem alusiva à troca de emissora: “Garotinho, eu também mudei e gostei”.
Cinco anos depois, uma nova revolução no mercado. A outrora poderosa Rádio Globo liberou Waldir Amaral, Jorge Curi, João Saldanha e Kléber Leite. O Garotinho, por sua vez, voltou à Globo com sua vitoriosa equipe, tendo o Danadinho ao seu lado.
Botafoguense, o hoje advogado Maurício Antônio Menezes está com 76 anos e mora em Juiz de Fora, sua terra natal, tendo se especializado em Direito do Trabalho.
TENHO CERTEZA QUE NOSSOS FÉLIX NÃO ACEITARIAM
por Zé Roberto Padilha

Segundo minhas fontes esportivas, sempre renovadas e reativadas nas minhas idas ao Rio para rever a boleirada — como no último fim de semana, no bar Bigorrilho, no Leblon, durante o lançamento do livro sobre a vida de Doval —, esta é a nova orientação dada aos goleiros.
O mais novo “jeitinho brasileiro” de exportar esperteza e malandragem por meio de seus agentes de marketing.
“Quando vocês realizarem uma grande defesa, caiam e peçam atendimento médico. Assim, em vez de passar uma vez, a televisão vai exibir sua defesa várias vezes, dobrando o número de visualizações em horário nobre!”.
E tem mais: “Se for um frango, uma falha, mesmo que doa, levante rápido. Assim, esquecem disso mais depressa!”.
No tempo em que Dindon jogava no Andaraí, não sei. Mas no tempo em que eu era ponta-esquerda do Fluminense, tenho certeza absoluta de que Félix, Nielsen, Roberto, Jorge Vítorio, Paulo Sérgio, Paulo Goulart e Jairo jamais aceitariam fazer esse triste papel.
Onde pisavam, nem a grama nascia. E saíam para o jogo. Agora, com esses tapetinhos, querem permanecer caídos e atrasar a partida.
Eles nem tinham treinadores de goleiros, quanto mais influencers ou marqueteiros massificando seus feitos e amenizando seus defeitos.
Brazil! Zilda Zil Zil…