Escolha uma Página

FALCÃO E O JOGO DO ANO EM 1979

por Luis Filipe Chateaubriand 


Era a semi final do Campeonato Brasileiro de 1979, Palmeiras x Internacional no Morumbi. 

O Palmeiras jogou com: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Pollozi e Pedrinho; Pires, Mococca e Jorge Mendonça; Jorginho, Carlos Alberto Seixas e Baroninho. 

O Internacional foi de: Benitez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista, Falcão e Jair; Valdomiro, Bira (Adílson) e Mário Sérgio. 

Jogo extremamente equilibrado, as chances iam se sucedendo lado a lado. 

Tínhamos o duelo entre o estrategista Ênio Andrade e o estilista Telê Santana, colocando frente a frente os dois melhores times do país de então. 

Por volta de 35 minutos do primeiro tempo, depois de uma bola rebatida pela defesa colorada, Baroninho chuta de longe, rasteiro e por baixo de Benitez, para abrir o placar. 

Palmeiras 1 x 0. 

No final do primeiro tempo, Mário Sérgio cruza da esquerda, para linda e espetacular bicicleta de Falcão, que passa rente ao travessão. 

O segundo tempo se inicia como a mesma tônica do primeiro, chances de lado a lado. 

Já por volta dos cinco minutos da segunda etapa, o príncipe Jair chuta de longe para, em falha do goleiro Gilmar, empatar o jogo. 

Tem-se 1 x 1 no placar. 

A igualdade não dura muito, pois por volta de dez minutos do segundo tempo, Jorge Mendonça recebe a bola na entrada da área de costas, mata no peito girando o corpo e conclui para o barbante – um golaço! 

Palmeiras 2 x 1. 

O Internacional segue, obstinadamente, em busca do empate. E, por volta de 20 minutos da etapa final, um cruzamento da direita encontra a cabeça de Falcão, que sobe mais que o bem mais alto Beto Fuscão, e dali vai para as redes. 

Nova igualdade, 2 x 2. 

Cerca de cinco minutos depois, por volta de 25 minutos da etapa final, Falcão aproveita uma rebatida de Beto Fuscão para emendar um sem pulo sensacional, em gol antológico!

 Internacional 3 x 2. 

Continuam se sucedendo as oportunidades lado a lado, em jogo memorável, mas o placar não se altera mais. 

Ênio Andrade vence o duelo, vitória gaúcha em plena São Paulo. 

Em um jogo de tantos craques, sobressaiu aquele que fez gol improvável de cabeça, gol incrível de sem pulo, quase gol de bicicleta que seria inesquecível e comandou o time em campo: Paulo Roberto Falcão, o futuro Rei de Roma, a classe em forma de jogador de futebol!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada.    

RESPEITO À HISTÓRIA

  :::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Recebi uma mensagem do santista J. Maurílio Paixão sugerindo que os jogadores de nossa época não fiquem comparando qual dos dois times, Botafogo e Santos, teria sido o melhor. Um tinha Pelé, o outro Garrincha e proporcionaram ao público espetáculos grandiosos em que pouco importava o resultado. Sabe, ele tem toda razão, afinal todos os jogadores se respeitavam. Mas volta e meia caímos nessas pegadinhas da imprensa, tipo “PC Caju x Edu”? Na época, o bairrismo era pesado e influenciava até nas convocações da seleção. Também tinha o Cruzeiro, Palmeiras e outros gigantes, cada qual com o seu 10 de qualidade e seu centroavante que cabeceava de os olhos abertos. O mundo nos respeitava e a maior prova de nosso poder de fogo foram as conquistas internacionais.

Hoje, os times brasileiros não são convidados mais para nada, no máximo torneios de quinta categoria nos Estados Unidos. Agora, o centro de memória do Botafogo, em nome de Luís Felipe Carneiro de Miranda, reivindica à FIFA como títulos mundiais. Talvez seja uma batalha inglória, mas nós jogadores podemos garantir sua relevância, tanto que o Torneio de Caracas era chamado de Pequena Taça do Mundo. A qualidade dos adversários era infinitamente superior aos de hoje. Fui campeão mundial de clubes pelo Grêmio em cima do Hamburgo e, claro, me orgulho disso, mas na segunda edição do Torneio de Caracas vencemos a seleção da argentina na final. Na primeira, a decisão foi contra o Barcelona e ganhamos por 3×2, gols de Aírton Beleza, Gerson e um meu. Também vencemos o Peñarol, o Spartak, o próprio Santos, de Pelé, e o Benfica, de Eusébio e Coluna.

O nível era altíssimo e não é nenhum absurdo essa reivindicação. O Botafogo até confeccionou os troféus porque o torneio não premiava. Vários clubes têm suas reivindicações, justas ou não. Que coloquem a boca no trombone! Os clubes da época venciam seleções e o mundo os reverenciava, talvez fosse importante a FIFA rever seus critérios, não pelo Botafogo, mas pela história do futebol como um todo. Se hoje grandes torcidas existem, muito deve-se a esses jogadores. Pouco me importa se o Botafogo vai subir mais alguns degraus no ranking, afinal com essa revisão outros clubes seriam contemplados.

O santista J. Maurílio Paixão sabe bem que seu clube era um papa-títulos internacional. Bangu, Corinthians e Cruzeiro também venceram edições do Torneio de Caracas, tinham timaços! Relendo a mensagem de J. Maurílio Paixão me emociono porque vejo um torcedor brigando por suas cores, exigindo respeito, tudo com extrema educação e cordialidade. Está na história e história é para ser respeitada. O Santos sempre foi um celeiro de ídolos, assim como o Botafogo. Se a FIFA não aceitar a reinvindicação de nosso clube, continuaremos tendo a plena certeza de nosso papel, de nossa luta, de nossa glória.

A APOSTA

por Valdir Appel


O campeonato paranaense de 1978 poderia ser decidido nos pênaltis e Manga apostou com Evangelino da Costa Neves, presidente do Coritiba, seu clube, 100 dólares para cada pênalti que ele defendesse contra o arqui-rival Atlético Paranaense. E, realmente, a decisão foi para as cobranças de penalidades.

Enquanto os técnicos decidiam quem iria bater os pênaltis, Manga sentou-se ao lado da baliza e pediu ao massagista aplicação de gelo num dos joelhos, que aparentemente estava machucado. Após enfaixá-lo, foi para o gol. Talvez, seduzidos pelo joelho envolto num pano, os jogadores do Furacão insistiram em cobrar daquele lado e erraram três cobranças. Duas, Manga defendeu; e uma foi para fora.

No dia seguinte, o presidente entregou 200 dólares ao goleiro, que reclamou:


– Son trecentos, pressidente!

– Como trezentos, se você defendeu dois?!

– Pressidente, mira acá! Manguita non defendió porque la pelota se fue para fuera. Son trecentas platitas!

Rildo

UM GIGANTE EM DOIS GIGANTES

entrevista: Sergio Pugliese | vídeo e edição: Daniel Planel

Um dos grandes laterais-esquerdos da história do futebol brasileiro, Rildo era um personagem que há tempos estávamos atrás. Tendo honrado as camisas de Botafogo e Santos durante os anos 60 e 70, além da Seleção, o craque com certeza teria muita história boa para nos contar.

Foi com toda essa expectativa que recebemos a lenda no Zeca Bar F.C., em Ipanema, e, para abrilhantar a resenha, levamos convidados ilustres: Carlos Roberto e Paulinho Pereira.

Tudo começou quando o Botafogo, comandado por Garrincha, foi jogar no Recife contra o Sport, que contava com Rildo nas divisões de base. Antes da partida principal, no entanto, rolou uma preliminar e, sob o olhar atento de João Saldanha, o jovem de 15 anos comeu a bola, encantando o treinador.

– Depois de dois meses, me mandaram uma passagem para eu fazer teste no Botafogo!

Rildo não pensou duas vezes antes de topar, mas o pior estava por vir. No teste, o lateral teria uma prova de fogo: marcar Garrincha. Se anular o Anjo das Pernas Tortas era missão impossível, o garoto fez o suficiente para ser aprovado na peneira e iniciar a sua trajetória no Glorioso.

No clube, teve a oportunidade de ser companheiro de ninguém menos que Nilton Santos, um dos seus grandes ídolos. A idolatria é tanta que Rildo chegou ao encontro e fez questão de nos mostrar a camisa autografada que ganhou do lendário lateral.

– Por respeito, eu chamava ele de “Seu Nilton”, mas ele não gostava nem um pouco! Dizia que se eu chamasse ele assim de novo, não receberia mais a bola! – revelou!

Ex-lateral do Vasco, Paulinho Pereira também não escondia a sua admiração por estar ao lado de Rildo e aproveitou a ocasião para relembrar os extintos pontas:

– Como era marcar o Zequinha? Ele dava o tapa e parece que ninguém conseguia segurar!

– Como tínhamos pontas bons! Realmente o Zequinha foi um dos maiores ponteiros que vi jogar! O Julinho Botelho também era fera!

– Ainda tinha o Canhoteiro, que muitos diziam que era o Garrincha pelo lado direito! – lembrou Carlos Roberto.

Com tantas feras nas pontas, ter êxito na lateral não era para qualquer um e esse era mais um motivo que nos deixava ansioso para esse encontro.

– Eu nunca vi o Rildo levar baile de ninguém! – reforçou Carlos Roberto.

Nosso parceiro botafoguense, Guilherme Careca também marcou presença e garantiu mais um autógrafo para a camisa desejada por qualquer colecionador ou amante do futebol, que reúne assinaturas de Rogério Bailarino, Jairzinho, PC Caju, Amarildo, Carlos Roberto e do goleiro Wagner. Quem também participou ativamente do encontro, com perguntas interessantes, foi Robertson Melo, estudante de Jornalismo que quis saber mais sobre a trajetória do ex-jogador.

Durante o papo, Rido ainda comentou sobre sua passagem pelo Santos, pela Seleção, a transferência para o Cosmos e muito mais! Confira cada detalhe dessa resenha histórica no vídeo acima e compartilhe com os amigos!

 

A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS CRAQUE DA SÉRIE “THE ENGLISH GAME”

por Jorge Eduardo Antunes


Febre entre os amantes do futebol, que estão em crise de abstinência por falta de bola rolando, a minissérie “The English Game”, produção da Netflix, romanceia a história dos escoceses Fergus Suter e James Love, provavelmente os dois primeiros profissionais do esporte. Mas é o historiador Andy Mitchell que joga luz sobre a verdadeira história da dupla, que trocou o Partick pelo Darwen em 1878 para começar uma revolução mundial no esporte. 

Em seu excelente site Scottish Sport History, em duas diferentes postagens, ele conta que a conexão entre Partick e Darwen começou antes da chegada da dupla, mais precisamente com William Kirkham, jogador nascido em Darwen (Inglaterra), em 1854, e que foi trabalhar em Partick (Escócia), como misturador de cores na indústria têxtil. Lá se tornou também fundador do Partick em 1875. Anos depois, ao retornar à cidade natal, juntou-se ao Darwen, iniciando um relacionamento entre os dois clubes.

Por conta disso, entre 1876 e 1880, o Partick enfrentou o Darwen cinco vezes, com três vitórias – duas por 7 x 0 –  e duas derrotas. No mesmo condado, jogou com o Blackburn Rovers (duas vitórias e uma derrota), o Bolton & District (um empate) e o Turton (uma vitória). Entre esses anos, Love e Suter aportaram por lá. Mas, diferentemente do que mostra a minissérie, os dois não saíram juntos do time escocês para jogar em Darwen, cidade no condado de Lancashire, a 320 quilômetros de distância de Glasgow. 

Jimmy Love foi o pioneiro. Dono de um negócio de limpeza de ruas em Partick, distrito de Glasgow, ele também jogava no ataque do time. Em outubro de 1878, sua empresa quebrou. Love foi citado em ação de falência e teve a prisão decretada por não comparecer às audiências. Mas nunca foi preso. Na mesma época, já estava em Darwen, como jogador. Tinha feito amigos lá no encontro Darwen 3 x 2 Partick, em 1° de janeiro de 1878. 

Na época, Fergus Suter, pedreiro como seu pai, era um dos grandes jogadores do Partick, onde atuava desde 1876. Mas no mesmo outubro de 1878, a quebra do City of Glasgow Bank levou o construtor Peter McKissock a demitir seus empregados. Suter, aos 21 anos, provavelmente era um deles. Sem perspectivas de trabalho, teria escrito para Love, em busca de uma vaga no Darwen. Chegou na cidade e atuou como pedreiro por breve tempo, logo passando a sustentar-se apenas com o futebol, antes mesmo de o profissionalismo ser admitido.

Suter só estreou pelo Darwen em 30 de novembro de 1878. Uma semana depois, ele e Love fizeram seu début na tradicional FA Cup (para nós, Copa da Inglaterra), no 0 x 0 com o Eagley, em 7 de dezembro– time eliminado no jogo-desempate de 21 de dezembro de 1878, após Love, Suter e cia aplicarem um sonoro 4 x 1. A campanha da equipe de Lancashire foi longe naquela competição. Em 30 de janeiro de 1879, o Darwen venceria o Remnnants por 3 x 2 e venderia caro a eliminação nas quartas de final para o tradicional Old Etonians, time formado por ex-alunos do Eton College. Foram três encontros: o 5 x 5 retratado na minissérie, seguido de um 2 x 2 e da vitória por 6 x 2 do Old Etonians – que também é mostrada.


Ao contrário do que mostra a minissérie, a dupla seria desfeita em 1879. Love jogou algumas vezes pelo Darwen, mas deixou o clube em outubro, após a derrota para o Haslingden, pela Lancashire Cup. Em 10 de janeiro de 1880, atuou pelo Blackburn Rovers contra o mesmo adversário, naquela que foi, provavelmente, sua última partida de futebol. A minuciosa pesquisa de Andy Mitchell descobriu a trajetória de Love depois disso. Ele se alistou no corpo de fuzileiros navais em Liverpool, no dia 24 de fevereiro de 1880. Como cabo, embarcou para o Egito, em 1882, para controlar uma revolta nacionalista em Alexandria. Ali ele contraiu febre tifóide e morreu aos 24 anos, em um hospital militar de Ismaília. Foi enterrado no cemitério de Tel-el-Kebir.

Consultor da série, apaixonado pela história do esporte e autor de vários artigos, Mitchell afirma que “Jimmy Love foi pioneiro no futebol e, embora Fergie Suter seja frequentemente descrito como o primeiro profissional, devemos reconhecer que Jimmy esteve lá primeiro”. Se não foi o pioneiro, Suter teve mais sucesso e se tornou o capitão do Darwen, a rigor quem definia o estilo de jogo e a formação tática das equipes, a partir da temporada 1879/80. 

No meio de 1880, trocou o time pelo Blackburn Rovers. A equipe de Darwen acusou os rivais de aliciarem seu craque, mas não havia provas disse e nenhuma vontade da Football Association (a federação inglesa) para averiguar o caso, pois o mesmo clube era suspeito de pagar a Suter – que, segundo a pesquisa de Mitchell, também tinha outro motivo para mudar de ares: a gravidez de uma criada na mesma época. No Blackburn Rovers, ele teve destacada carreira como jogador profissional. Foi finalista da FA Cup em 1882 e acabou por vencer a competição em 1884, 1885 e 1886. Também atuou no primeiro campeonato da Liga Inglesa, em 1888. Suter parou um ano mais tarde. Morreu em 1916, aos 58 anos.

 

Não deixe de ler os posts de Mitchell, que também foi, por dez anos, chefe de comunicação da Federação Escocesa e consultor do Museu Mundial de Futebol da FIFA:

 http://www.scottishsporthistory.com/sports-history-news-and-blog/from-partick-with-love-the-story-of-jimmy-love-and-fergie-suter-the-first-professional-footballers

http://www.scottishsporthistory.com/sports-history-news-and-blog/the-true-story-of-jimmy-love-the-very-first-scotch-professor