JÁ FOMOS BAILARINOS, HOJE SOMOS ROBÔS
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
O botafoguense Fábio Damasceno e sua mulher Roberta Agnese conversavam sobre Fórmula 1 e como o avanço tecnológico conseguiu reduzir drasticamente o encanto das competições. Fico pensando como será daqui a 20 anos, pois do jeito que a coisa anda não precisarão mais de motoristas. Qual será o apelo emocional de uma premiação para máquinas? É bem parecido com o que está acontecendo com o futebol. Formam super-homens e se esquecem de que essa modalidade é uma arte. No automobilismo da década de 70 e 80 os pilotos tinham que levar o carro no muque! A emoção era em dobro e não chamem isso de saudosismo.
Lembro que fui vendido para o Olympique de Marseille quando estava treinando com a seleção de 74, na Floresta Negra, região montanhosa da Alemanha. Fizemos dois amistosos na Suíça e recebemos a visita de Emerson Fittipaldi, que morava em Lausanne. Quando a Copa terminou e fui morar na França, ele me convidou para assisti-lo competindo no circuito de Paul Ricard, autódromo construído, em Le Castellet, vizinho de Marseille.
Imaginem minha emoção quando estava conversando com ele no boxe quando começam a surgir Clay Regazzoni, Jackie Stewart, Carlos Reutemann, James Hunt, Patrick Depailler, François Cevert, Jacky Ickx, Ronnie Peterson, Didier Pironi e Gilles Villeneuve. Em determinado momento, um carro parou bem próximo e o piloto pisou no acelerador pedindo que saíssemos da frente. Era Niki Lauda de brincadeira. Muitos deles eram fascinados por futebol e, mais ainda, pela seleção brasileira de 58.
No final daquele ano, Emerson Fittipaldi sagrou-se bicampeão mundial. Eu e Jairzinho, meu companheiro de Olympique, comemoramos como um gol! Depois a Fórmula 1 ainda viu Alain Prost, Ayrton Senna e Nelson Piquet, que era meu vizinho, na Praia de Geribá, em Búzios. Encontrei José Carlos em uma festa, no Barcelona. Acho que ele era palmeirense. São gigantes da Fórmula 1, pilotos consagrados, que nos faziam acordar de madrugada para vê-los correr.
A ausência desses ídolos faz despencar a audiência. Isso, claro, em qualquer competição. O futebol brasileiro atual carece de verdadeiros ídolos. Não adianta a mídia querer inventá-los se eles não existem. Neymar está chegando aos 30 e não vê ninguém pelo retrovisor. A referência do britânico Lewis Hamilton, seis vezes campeão do mundo de automobilismo, é Ayrton Senna. Seremos referências até quando?
Quem veio depois de Guga, no tênis, por exemplo? Vi Emerson correr em Monaco algumas vezes, circuito raiz, nas ruas da cidade de Montecarlo. Imagino que talvez alguns circuitos desapareçam ou sejam remodelados como aconteceu com nossos estádios, tudo em nome da modernidade. E assim caminha a humanidade, com máquinas e superatletas substituindo os artistas.
É como sempre digo e jamais cansarei de repetir, já fomos bailarinos, hoje somos robôs.
ZÂMBIA, 1993: UMA GERAÇÃO DE OURO MERGULHADA NO OCEANO
por André Luiz Pereira Nunes
O inédito sonho de disputar a Copa do Mundo estava a ponto de ser concretizado por parte de uma desconhecida seleção africana. A geração de atletas era a melhor de todos os tempos. O futebol alegre e envolvente lembrava muito o de Camarões, que encantara o mundo no Mundial anterior. Muitos especialistas prognosticavam que essa seria a nova sensação da competição mais importante da Terra. O que faltou para a Seleção de Zâmbia, país localizado na África Oriental, sem saída para o mar e de relevo acidentado e repleto de vida selvagem e safáris, chegar ao Mundial dos Estados Unidos?
Para melhor compreensão acerca da tragédia de 27 de abril de 1993, a qual vitimou 18 atletas, comissão técnica e demais membros da delegação, é necessário recuarmos até as Olimpíadas de 1988, em Seul, quando os africanos inicialmente despontavam como meros participantes daquele certame.
Após uma morna estreia, um empate de dois gols contra o Iraque, os zambianos defrontariam a Itália, cujo primeiro jogo havia sido muito mais proveitoso. Os italianos haviam goleado a fraca Guatemala por 5 a 2. Sem nenhuma preocupação, a equipe de Ciro Ferrara, Roberto Baggio e Mauro Tassotti acreditava que iria repetir o feito anterior na tentativa de engrenar na disputa. Contudo, o destino tinha outros planos. Zâmbia veio a aplicar uma goleada histórica e retumbante de 4 a 0 com direito a hat-trick de Kalusha Bwalya, um atacante de 25 anos, rápido e extremamente habilidoso que logo após se tornaria companheiro de ataque de Romário, no PSV Eindhoven. A trajetória vitoriosa em Seul, no entanto, não perduraria por muito tempo. Os habilidosos e audaciosos africanos, apesar de ganharem o grupo e se classificarem, acabariam eliminados nas quartas de final, também goleados por 4 a 0 pela Alemanha Ocidental, dos jovens Jurgen Klismann, autor de três gols, Haessler e Riedle. Se tivessem vencidos os alemães, teriam cruzado com o Brasil, de Taffarel, Geovani e Romário, nas semifinais.
Realmente os zambianos amargaram a eliminação de Seul, mas a semente estava plantada. O país detinha um conjunto de atletas de muita qualidade e habilidade. As condições para se classificar para a Copa do Mundo seriam extremamente favoráveis.
Nas Eliminatórias para a Copa de 1990, a seleção ficou em segundo lugar em um grupo cujos rivais eram Tunísia, Zaire e Marrocos. Somente o líder do grupo passava para a fase seguinte. A Tunísia ficou em primeiro, um ponto acima de Zâmbia, e se classificou para a disputa de uma vaga africana para o Mundial de 1990 contra a seleção de Camarões. A outra vaga do continente ficaria com o Egito, o qual batera a Argélia. O mesmo Camarões, de Roger Milla e Omam-Biyik, que encantaria o mundo sete meses depois com inesquecíveis triunfos sobre a Argentina, Colômbia e uma sofrida eliminação nas quartas de final para a Inglaterra em uma partida disputadíssima. O pouco de futebol alegre daquela Copa, cuja edição foi a de menor média de gols, adveio verdadeiramente dos Leões Indomáveis.
Senegal e Marrocos eram os principais rivais na busca pela classificação ao Mundial dos Estados Unidos, em 1994. Após uma primeira fase sem sobressaltos, a qual os zambianos passaram sem percalços por Madagascar, Namíbia, Tanzânia e Burkina-Faso, Zâmbia teria pela fase final o forte Senegal pela frente. Todavia, as dificuldades de logística eram inúmeras. A falta de financiamento da Federação tornava cada viagem um suplício. Para se ter uma ideia, meses antes, para jogar em Madagascar, a comitiva teve que esperar cinco horas para reabastecer o avião, o que só foi feito mediante um acordo relativo ao pagamento do combustível. Para minorar esses problemas, as viagens passaram a ser feitas em velhos aviões da Força Aérea do país. Os atletas ainda brincavam ao dizer que aqueles aviões ainda os matariam a todos.
Seleção de Zâmbia presta homenagem à geração de 1993
Infelizmente a profecia se concretizou. Conforme dito, o adversário era Senegal e o cotejo se realizaria fora de casa, em Dacar. Após uma parada em Libreville, capital do Gabão, a aeronave mergulhou no mar após incêndio no motor, o qual provocaria um erro primário do piloto. Ele simplesmente desligou o motor errado, fazendo com que o avião perdesse potência e despencasse. Ao todo trinta pessoas perderam suas vidas. Do plantel principal da seleção, somente três escaparam da morte, destacando Kalusha Bwalya, o qual viajaria diretamente da Holanda para Dacar.
Mesmo diante de uma tragédia sem precedentes e estando com um elenco totalmente desfigurado, Zâmbia valentemente lutou até o fim pela ida ao Mundial. Kalusha Bwalya assumiu a liderança em campo e seu time ainda venceu o primeiro jogo pós-tragédia ao bater Marrocos por 2 a 1, em Lusaka. Depois de um empate em Dakar e uma goleada sofrida para o Senegal por 4 a 0, a decisão iria para a última rodada, no Marrocos. Bastaria apenas um ponto para os zambianos se classificarem para a Copa. Mas o destino foi mesmo implacável. Mesmo após inaugurar o marcador, Zâmbia sofreu a virada dos marroquinos e ficou mesmo fora do Mundial dos Estados Unidos.
A nação ainda permanece sem conseguir marcar presença numa Copa. Sequer voltaria a estar tão próxima desde o fatídico ano de 1993. Contudo, na Copa das Nações Africanas fez história em 2012, derrotando na final, após desempate por pênaltis, a temida e fortíssima Costa do Marfim. Quis ainda o destino que a final fosse disputada justamente em Libreville, Gabão, muito próximo do local onde caíra o avião.
“O sonho deles era trazer a glória para o nosso país. É o mesmo que nos traz aqui hoje. A diferença é que nós estamos vivos e eles já não’’, ressaltou Kalusha Bwalya, já na condição de presidente da Federação Zambiana de Futebol.
GENTIL
por Valdir Appel
Talvez seja pura lenda.
Circulava entre os boleiros do meu tempo, a história de um jogo na Bolívia, nos anos 1950, entre o Vasco da Gama e um time de La Paz. Preocupados em evitar uma goleada histórica do timaço vascaíno, os dirigentes andinos resolveram buscar na arbitragem uma forcinha para equilibrar o jogo.
Os times brasileiros geralmente aplicavam sonoras goleadas nos times locais.
Velha raposa, Gentil Cardoso, treinador do Vasco, previamente informado das intenções do seu adversário, matreiramente desembarcou na Bolívia, não como técnico, mas se fazendo passar por árbitro de futebol.
Hospedou-se num hotel longe dos seus comandados e fez circular a notícia de que estava na cidade um famoso árbitro argentino.
Os dirigentes locais entraram em contato com Gentil, que foi contratado para apitar o jogo.
A partida seguiu bem disputada até a metade do segundo tempo, o Vasco vencia por um módico 1 a 0, e o público estava empolgado com o seu time, que encarava com garra os brasileiros.
Aos 20 minutos, um atacante do Vasco trombou com um zagueiro boliviano, e caiu na área.
Gentil, incontinente, assoprou o seu apito e disparou em direção a grande área, com o dedo indicador apontando a marca do pênalti.
Em questão de segundos, estava rodeado de jogadores e dirigentes locais, que saíram do banco de reservas esbravejando e contestando a marcação do árbitro hermano.
Era uma gritaria só:
– Usted no es hombre para marcar un pênalti contra nosotros, en nuestra casa!
– Usted no vá salir vivo de acá!
Gentil acalmou os agressores:
– Ustedes no entenderán nada! Y ese dedito acá no vale nada? La falta es para allá!
Gentil mostrou o dedo polegar indicando a direção contrária, marcando falta do atacante do Vasco.
Gentil Cardoso
Descrição
Gentil Alves Cardoso, foi um treinador de futebol e uma das figuras mais folclóricas do esporte. Gentil Cardoso era torcedor e técnico do Bonsucesso. Wikipédia
Nascimento: 5 de julho de 1906, Recife, Pernambuco
Falecimento: 8 de setembro de 1970, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
DIVINAS ATUAÇÕES
por Antonio Maria de Jesus
Sem querer fazer proselitismo religioso, e tampouco entrar em discussões teológicas, enfatizando o meu profundo respeito por todas as formas de culto, bem como por aqueles que não professam nenhum tipo de fé, gostaria de introduzir essa minha breve reflexão enfatizando o fato de eu ser uma pessoa profundamente crédula, que crêem um Deus Onipotente, Onipresente e Onisciente, que tudo criou e tudo controla, e tem participação em todas as coisas,
E esse Deus, tendo criado o ser humano à sua imagem e semelhança, lhe concedeu o dom de realizar coisas admiráveis, dentre elas a prática do esporte, e de maneira singular jogar futebol, logo o jogo de futebol é divino, por excelência.
Por conseguinte, esse Deus, segundo a minha imaginação, ocasionalmente vem assistir um jogo no Maracanã. Chega de maneira discreta, ocupa o seu lugar na arquibancada sem chamar a atenção e fica aguardando o desenrolar do jogo, quase ninguém nota a sua presença, exceto um determinado jogador, que, inexplicavelmente, percebe a sua presença e, por vezes até inconscientemente, joga em sua homenagem, como se o estivesse cultuando, e produz o que eu chamo de DIVINA ATUAÇÃO.
Foi assim, na noite de um meio de semana, num jogo Santos 5 X 2 América, no ano de 1957, Deus estava no Maracanã, e Pelé, nos seus 17 anos, produziu uma atuação divina, tendo marcado 4 gols, a ponto de Nelson Rodrigues, na sua coluna de jornal ter feito o seguinte comentário: “O futebol tem um rei, e ele se chama Pelé”.
O mesmo aconteceu no ano de 1962, num domingo, num jogo Botafogo 3 X 0 Flamengo, decisão do Campeonato Carioca, dessa vez quem jogou para Deus foi Garrincha, que marcou os três gols da vitória do Botafogo.
Deus retornou ao Maracanã no ano de 1967, num jogo entre Botafogo 3 X 2 América, e novamente um menino, parece que os meninos tem uma sensibilidade mais apurada, chamado Paulo Cezar com apenas 17 anos, atuou divinamente, tendo marcado os três gols do Botafogo.
Deus só reapareceu anos mais tarde, num jogo entre o Vasco 5 X 1 Corinthians, e Roberto Dinamite, que tinha sido vendido ao Barcelona, mas retornara ao Vasco, e no seu retorno ao clube de São Januário teve uma atuação divina, marcando os cinco gols da goleada do Vasco.
Passou um longo tempo, e Deus só retornaria ao Maracanã para a partida entre Brasil 2 X 0 Uruguai, pelas eliminatórias da Copa de 94, e Romário teve uma DIVINA ATUAÇÃO, marcando os dois gols da vitória brasileira.
Nessa altura da reflexão, alguém pode estar pensando, “Deus só vem ao Maracanã”? E eu diria, o estádio preferido é o Maracanã, mas ele também vai a outros estádios, como por exemplo no Pacaembu, no ano de 2002, no jogo Santos 3 X 2 Corinthians, quando Robinho jogou divinamente, marcando um gol e dando a assistência para Elano e Leo marcarem. Porém, o jogo Que deixou Deus mais feliz, foi no Estádio da Luz, no ano de 1961, um jogo entre Santos 5 X 2 Benfica, pela disputa do Mundial Interclubes, e Pelé realizou a mais divina, das divinas atuações, marcando 4 gols e assistindo Coutinho em outro, e certamente Deus se agradou do que criara.
Nesse futebol atual, com a mecanização dos jogadores, onde a tática engessa a criatividade, Deus que é Onisciente, está consciente que o tempo das DIVINAS ATUAÇÕES, infelizmente, ficou no passado.
MACKENZIE: AS ANTIGAS GLÓRIAS DO ALVINEGRO DO MÉIER
por André Luiz Pereira Nunes
O suburbano bairro do Méier, localizado na cidade do Rio de Janeiro, hoje oscila entre torcedores dos grandes clubes do Rio de Janeiro. Porém, teve o seu próprio time de futebol, o Sport Club Mackenzie, o qual hoje se dedica a uma vida social riquíssima e intensa, mas jamais sem renegar os feitos futebolísticos do passado.
No distante ano de 1913 já existia uma agremiação esportiva intitulada Odeon Futebol Clube, fundada a 1 de junho de 1912, e situada provisoriamente numa das dependências da residência da viúva do general Xavier de Brito, à Rua Getúlio, 153 (hoje 227), em Todos os Santos. A garotada que morava na casa, filhos do general, abraçou a ideia e, no dia 14 de março de 1914, quando organizavam uma festa de aniversário no local, resolveram dissolver o clube e formar um outro mais sólido.
A fundação ocorreu no dia seguinte e o nome escolhido, Sport Club Mackenzie, foi inspirado no Mackenzie College, de São Paulo, considerada uma instituição-modelo. Antes de chegar à atual sede, na Rua Dias da Cruz, 561, o clube passou da Rua Getúlio, 153 para outras casas, nas Ruas Tenente Costa (atual Padre Miguel Penalva), Ferreira de Andrade, Dias da Cruz (número 153, que agora pertence à Rua 24 de Maio), Archias Cordeiro, Mossoró, Méier, Cachambi e novamente Rua Getúlio, 153.
O primeiro pavilhão continha as cores roxo e branco. A partir de 1916, passou a ostentar o preto e o branco, tendo sido o seu escudo e bandeira desenhados pelos associados Osvaldo dos Santos e Murilo de Castro Monteiro.
Em 1921, chegou à primeira divisão ao disputar a Série B e conquistar o vice-campeonato. Dois anos depois, foi campeão do Torneio Início do Campeonato da Cidade, organizado pela Federação Metropolitana de Desportos Atléticos, voltando a ser vice-campeão da Série B da primeira divisão no mesmo ano. Em 1926, o Mackenzie conquistaria vários títulos, entre os quais, o de vencedor do Torneio Início da segunda divisão da AMEA, vice-campeão da mesma categoria no campeonato normal e campeão dos segundos e terceiros quadros da segunda divisão da AMEA. Um novo vice-campeonato foi conquistado em 1931 com o primeiro time, na segunda divisão da AMEA e, em 1936, o clube do Méier ganhou a primeira edição do Campeonato Carioca da Federação Atlética Suburbana, precursora do glorioso Departamento Autônomo, fundado em 1949.
O Mackenzie viria a encerrar as suas atividades futebolísticas em 1941. Desde a década de 30 o clube disputa com sucesso os certames de basquete, já tendo vencido mais de 40 títulos em diferentes categorias. Vale ressaltar que a sua rica trajetória também continuou a enveredar por outros desportos como o futebol de salão e o voleibol. A agremiação também conta com uma imponente sede social, a qual contén quadras para a prática desses esportes, assim como salões e restaurantes para sócios e visitantes.