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PORCO ASSADO

por Cruzoeiro


Na véspera da final da Copa do Brasil de 1996, contra o Palmeiras, Marcelo Ramos, Cleisson, Uéslei e Roberto Gaúcho foram convidados pelo jornal Estado de Minas para falar do segundo jogo da final, que seria no Parque Antarctica. A matéria, feita em um restaurante, contou com um convidado “especial”: um PORCO ASSADO. E todos sabem que o porco é o mascote palmeirense.

A foto dos jogadores comendo o porco foi primeira página do jornal e repercutiu mal tanto em Minas quanto em São Paulo. Enquanto os paulistas viram a imagem como uma forma de menosprezar o rival, cruzeirenses julgaram como uma forma de motivar o já favorito adversário. O responsável pela reportagem chegou a ser ameaçado de demissão pra vocês terem ideia.

Levir Culpi, treinador do Cruzeiro na época, xingou MUITO os atletas da foto, que até hoje afirmam não ter tido a intenção de afrontar o rival. Agora imagina se o Cruzeiro tivesse perdido a campeonato, e o quanto essa foto não seria culpada? Que bom que deu tudo certo!

PARADO, MAS NEM TANTO

por Idel Halfen


Mesmo com o futebol parado no Brasil o noticiário permanece ativo. Sem as especulações sobre contratações bombásticas ou polêmicas sobre erros de arbitragens, o espaço ainda que reduzido nos traz conteúdos, se não tão emocionantes, bastante interessantes sob o prisma de gestão.

Nessa gama de assuntos destacam-se as análises sobre os balanços dos clubes, que conseguem inserir no torcedor uma visão da situação econômico-financeira de suas organizações. Convém esclarecer que muitos dessas análises são bem superficiais e, por que não dizer, equivocadas, o que me leva a recomendar que desconsiderarem os estudos que são apresentados imediatamente após a publicação dos balanços para focarem naqueles mais elaborados e desenvolvidos por pessoas de forte reconhecimento dentro desse mercado. Sucintamente falando, ignorem os que nunca fizeram e buscam um lugar ao sol criticando os que efetivamente conhecem o assunto.

Outro tema que pode, ou pelo menos deveria, render mais atenção diz respeito à notificação que o Corinthians fez a um site não oficial pelo uso inapropriado e ilegal da marca “Timão”. O site publica conteúdos sobre o clube e tem uma expressiva quantidade de acessos. 

Considerando que a marca é um patrimônio do clube, de fato, a utilização da mesma sem que se pague por isso não é correto. Não se entrará aqui nas filigranas jurídicas do tema, mas, admitindo que alguma marca registrada pelo clube seja utilizada por terceiros sem que se pague por isso é algo que não parece justo, até porque outros pagam para fazer tal uso.
Antes de passarmos adiante, é importante dizer que o artigo usa o exemplo do Corinthians em função de a notícia do imbróglio ter feito menção a ele, no entanto, isso ocorre na maioria, se não na totalidade dos clubes. Alguns, inclusive, chegam ao ponto de comercializarem produtos que, sob a mesma ótica, não são oficiais, portanto concorrem com os oficiais e nada repassam aos clubes.

Especula-se que uma das razões para a movimentação do clube paulista se deve à linha editorial do site que, além de abrangente, não hesita em publicar matérias que, de alguma forma, vão contra a diretoria. Se fosse apenas essa a motivação, trataria-se sim de um absurdo, pois estaria cerceando a liberdade de expressão. 

Sobre o conteúdo editorial, algumas pessoas, baseadas em casos internacionais, sugerem como solução a melhoria dos canais oficiais, o que ajudaria realmente em termos do aumento de audiência, mas não faria com que os sites alternativos acabassem, até porque, as linhas editorias acabam sendo concorrentes.

Assim, vejo duas alternativas para esse tipo de situação: (i) regularizar esses sites no que tange ao licenciamento, isto é, eles passam a pagar pelo uso das marcas dos clubes; (ii) mudarem seus nomes.

Quanto a serem utilizados como canais de venda, nada contra, desde que adotem uma das soluções acima, comercializem apenas produtos oficiais do clube e arquem com todas as obrigações fiscais, de modo que não venham a praticar melhores preços em função de eventuais sonegações.

Como podemos constatar, a paralisação causada pela pandemia serve, entre outras coisas, para pontuar certas questões que muitas vezes passam despercebidas, tais como análises equivocadas e situações de pirataria que se incorporam no dia a dia ganhando status de “legítimas”.

LAPSO

por Eliezer Cunha


Algo me soa estranho. Algo não me parece normal. Algo ficou para trás. Algo foge à regra histórica do nosso futebol. Agora me pergunto e exclamo, o que será? Já não sinto mais o clamor popular para a conquista de mais uma Copa do Mundo. Não mais percebo do povo essa necessidade de superação através do futebol, onde, no passado, era algo atenuante para os nossos problemas diários. Da mídia futebolística percebo acanhamento e conformismo, dos dirigentes uma inoperância absoluta com os atuais resultados. E lá se vão anos sem uma conquista do mundial de seleções, parece que 2002 foi ontem? É, o tempo passa muito rápido.

Quando estávamos prestes a conquistar o mundial de 94, após longos 24 anos sem título, parecia uma eternidade obscura. Haviam cobranças vindas de todas as partes, principalmente por parte da mídia pelo vácuo de 24 anos sem tal conquista. Perguntávamos sempre, por que e como?  Até que em 1994 Romário, Bebeto e CIA conquistaram o feito. Na Copa seguinte. 1998, logramos novamente a final e acabamos perdendo para a anfitriã França e para o inusitado acontecimento com nossa maior estrela. Veio 2002 e com uma equipe muito bem armada e com valores individuais culminando em seus respectivos auges da carreira conquistamos novamente a taça.

Subsequente vem à geração dos “meninos promissores” possíveis arrebatadores de nosso futebol arte, endeusados pelas mídias nacionais e, assistimos Kaká, Robinho, Luís Fabiano, etc., inoperantes frente a tal expressivo evento mundial e suas respectivas seleções, até que culminou com o escândalo maior que nosso futebol podia ter registrado, inacreditável há algumas décadas atrás, uma goleada estrondosa numa Copa, dentro de nossa própria casa.

Teria sido a pá de cal que nos faltava para percebermos que estamos muito atrás das médias seleções, teria sido a forma mais eloquente de nos mostrarmos que precisamos agir fazer algo?

Aos torcedores esperança, as tradições respeito, a mídia análise imparcial e aos comandantes a honra verde e amarela.

O GESTO NOBRE DE UM CRAQUE APRESENTOU AO MUNDO UM GÊNIO DA BOLA

por Victor Kingma


Suécia, 1958. O Brasil chegou para a sexta Copa do Mundo com uma equipe totalmente renovada, após a tragédia de 1950 e a participação apagada em 1954, na Suíça.

No time que estreou contra a Áustria, na vitória por 3 x 0, apenas dois titulares da Copa anterior estavam em campo: o lateral esquerdo Nilton Santos e o meia Didi.

Outros remanescentes eram o goleiro Castilho, o lateral Djalma Santos, antigos titulares, e o zagueiro Mauro.

Outro jogador, que certamente seria titular absoluto, não estava no grupo que foi para a Suécia: o ponta direita Julinho Botelho.

O atacante da Portuguesa de Desportos tinha sido o melhor jogador da seleção na  Copa anterior, na qual o Brasil foi desclassificado nas quartas de final pela poderosa seleção da Hungria.    

Fez dois gols nas três partidas que o Brasil disputou, inclusive o segundo na famosa batalha contra os húngaros, quando a seleção perdeu por 4 x 2.  

Após se destacar no mundial, foi vendido para a Fiorentina, da Itália, onde brilhou intensamente, sendo considerado até hoje o melhor jogador da história do clube.

Naquele tempo não era comum convocar jogadores que não atuavam no Brasil mas, mesmo assim, o técnico Vicente Feola e a comissão técnica da seleção, impressionados com as notícias que vinham da Europa, o comunicou de que seria convocado.

Julinho, então, com a fidalguia que sempre o acompanhou por toda a carreira, declinou do convite para defender a seleção, argumentando que embora sentisse muito honrado pela lembrança, não serio justo tomar o lugar de um companheiro que  jogava no país.

Em seu lugar, então, foi chamado um jogador que, apesar de algumas limitações físicas, que causava certa preocupação em relação ao confronto contra os fortes marcadores europeus, vinha se destacando no Botafogo.

Assim, na relação final dos convocados para a Copa, na ponta direita, com a ausência de Júlio Botelho, astro da Fiorentina, estava escrito:

Joel Antônio Martins (Joel), do Flamengo, e Manoel Francisco dos Santos (Garrincha), do Botafogo.

Com o mundial em curso, o Brasil havia vencido a  Áustria,  por  3  x  0,   na estreia e empatado com a Inglaterra por 0 x 0 na segunda partida.

As atuações não empolgavam e o fantasma de nova desclassificação passou a preocupar os dirigentes.

Mudanças precisavam ser feitas na equipe, até porque na terceira e decisiva partida da fase de classificação a seleção ia enfrentar a União Soviética, conhecida pelos métodos científicos de preparação e com total estudo das características de cada jogador adversário.

Assim, naquele 15 de junho de 1958, na partida contra a URSS, o mundo do futebol foi apresentado oficialmente a um dos maiores fenômenos e o maior driblador que o futebol já teve.

Escalado na ponta direita, em substituição ao aplicado Joel, Garrincha fazia sua estreia na seleção.

Tinha a seu lado no ataque, o menino Pelé, então com 17 anos, que também estreava, Vavá e Zagallo.

Bastaram poucos minutos de jogo para o futebol estudado e cientifico dos soviéticos se desmoronar diante das diabruras que aquele desconhecido jogador, de pernas tortas, aprontava em cima dos seus atônicos marcadores.

Debaixo das traves, o lendário Lev Yashin, o melhor goleiro do mundo, incrédulo ao que estava assistindo, gritava desesperado para seus defensores: atenção, cuidado, não deixem passar!

Muitos estudiosos consideram que aquele início avassalador de jogo, protagonizado por Garrincha, foram os três minutos mais espetaculares da história do futebol.

O Brasil venceu por 2 x 0, gols de Vavá, e prosseguiu na campanha que o levaria a conquistar pela primeira vez o campeonato mundial de futebol.

O gesto nobre de Julinho ao abrir mão de sua convocação acabou por apresentar ao mundo um dos maiores gênios da bola.

A CLASSE DO MEIO DE CAMPO TRICOLOR

por Luis Filipe Chateaubriand


Wanderley Alves de Oliveira, o Deley, era a classe em forma de jogador de futebol. Engenheiro e arquiteto do jogo do Fluminense, sabia fazer o adversário “passar um dobrado” em suas mãos, ou melhor, em seus pés.

O plano era simples, mas genial: ao dar campo ao adversário, o tricolor fazia com que este se sentisse como a dominar o jogo. No entanto, esse domínio era apenas aparente, falso, pois o sistema defensivo era sólido.

Ao se sentir a dominar o jogo, o adversário atacava de forma sôfrega. E se descuidava na defesa. Era a hora de Deley entrar em ação, com lançamentos perfeitos para seus colegas Assis, Washington, Tato, Romerito, Branco, Aldo e companhia, em meio a uma defesa oponente desarrumada, desorientada, perturbada.

Era fatal!

Dizem que Sun Tzu, um general e filósofo chinês que teria vivido cerca de 2500 anos antes de Cristo, teria deixado escritos que nominavam as estratégias para vencer as guerras – que foram denominados “A Arte da Guerra”.

Deley parecia ter os ensinamentos de “A Arte da Guerra”, adaptados para o futebol, gravados em sua memória. Era o general, o artífice, o engenheiro e arquiteto da vitória.

Uma vez, assistindo a um documentário sobre o mítico Fla x Flu de 1983, aquele que o Assis fez o gol no último minuto, assisti ao Deley falar: 

– Quando eu vi o Assis, aquela gazela, correndo pela direita, eu sabia que tinha que colocar a bola para ele entre o Junior e o Mozer, para que ele pudesse fazer o gol.

O documentário, então, mostra o lance: Deley coloca a bola, em um lançamento de uns 50 metros, exatamente entre Junior e Mozer; Assis recebe limpa e toca por baixo, na saída de Raul.

Na primeira metade dos anos 1980, a torcida tricolor não tinha dúvidas: falou em general do time, falou em Deley!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!