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NOSSO FUTEBOL VIROU CHACOTA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Demorou, mas consegui descobrir porque o futebol brasileiro despenca ladeira abaixo! Durante a transmissão de Fluminense x Botafogo, o locutor, certamente contaminado pelo “titês”, vírus das expressões criadas pelo “professor” Tite, disse que o Botafogo era um time “híbrido”. Já tinha ouvido a expressão “sistema híbrido”, na última Copa do Mundo. Os jornalistas amam essas bobagens e comentam como se fosse a nova revolução do futebol.

Na época, fui tentar entender do que se tratava e encontrei um texto que explicava: “trata-se de adotar uma formação tática quando seu time tem a bola e outra quando está se defendendo. Fez sucesso na Copa. Contra México e Bélgica, Tite recorreu a essa mudança ao se ver em apuros. A Bélgica derrotou o Brasil nesse formato”. Peraí, a Bélgica venceu o Brasil porque era muito melhor e tinha um futebol bem mais vistoso. Se dois times adotarem o tal sistema híbrido como ficará? E esse sistema híbrido nada mais é do que o “maré, maré, jacaré, jacaré” criado pelo campeoníssimo Jair Pereira, que por sinal está desempregado há tempos.

Percam um tempinho, coloquem o nome de Jair Pereira no Google e vejam sua lista de títulos. Foi campeão em quase todas as regiões do país, pela seleção brasileira, além de ter jogado muita bola. O “maré, maré, jacaré, jacaré” era isso, táticas diferentes para quando o time ataca e quando precisa se defender. Linguagem de boleiro, exatamente o que falta nesse futebol engomadinho atual. O futebol virou um produto de marketing de péssima qualidade, liderado por palestrantes especializados em auto-ajuda. Basta você entrar em uma livraria e ver os livros que estão expostos, os que chamam mais atenção, e talvez sejam os mais vendidos: “A sutil arte de ligar o foda-se”, “Pense e enriqueça”. Já já vão lançar o “Vença atuando pelo sistema híbrido”.

Nosso futebol entrou no salão de cabeleireiros e não encontrou mais a saída. Os jogadores querem ser lindos. A disputa do clássico desse domingo foi entre Gilberto, do Flu, e Danilo Barcelos, do Botafogo, qual dos dois levantava mais o shortinho. Qual seria a perna mais torneada? O problema é que as pernas não chutam a gol, tanto que a jogada mais perigosa foi uma cabeçada do grandalhão Pedro Raul, no fim do jogo. O comentarista tentava explicar: “o time joga na vertical, mas também na horizontal…”. O futebol virou palavras cruzadas. Na livraria virtual achei um livro “Como sair do labirinto”. Será que funciona, será que o Tite já leu esse?

Sinto falta da dor da derrota nas expressões dos jogadores. A impressão é que não estão nem aí, ganhando ou perdendo. Mas no início do texto falei que havia descoberto as razões para nosso futebol hoje ser motivo de chacota. O “sistema híbrido” já sabemos o que é, mas e o híbrido, como está definido no dicionário? Fui conferir e descobri o mistério: “diz-se de ou organismo formado pelo cruzamento de dois progenitores de raças, linhagens, variedades, espécies ou gêneros. O hibridismo, natural ou manipulado, é comum entre as plantas, mas o exemplo mais conhecido é o burro ou mula, cruza entre o cavalo e a jumenta ou entre a égua e o jumento.”, Ou seja, nosso futebol está sendo recriado através do cruzamento do burro com a mula, Kkkkk, está explicado, Kkkkk, desculpe mas não consigo mais escrever, Kkkkk!!!

PELÉ E OS OUTROS…

por Maurílio Paixão


77 ANOS DE LENDA.

Lenda é uma estória inverossímil que tornamos verídica por acharmos que é o ideal para relatarmos a outras gerações.

No caso de Pelé, a lenda e a realidade se misturam.

Como todo rei dos primórdios do mundo, Pelé é exaltado por suas façanhas, algumas nos levam a crer que realmente lenda e realidade andam juntas quando se trata do maior jogador que o mundo já viu.

Quem em seu tempo jogando futebol foi expulso de uma partida e retorna logo em seguida; com o detalhe de trocarem o juiz para que sua majestade não fosse mais incomodada em campo? Quem senhores, quem?

Quem em seu tempo parou uma guerra na África para que os dois povos pudessem ter o privilégio de ver em campo o Deus único desfilar sua realeza futebolística? Quem senhores, quem?

Este súdito leal viu esta lenda dividir verdadeiras obras primas nos gramados com vários parceiros.

Vi Pelé e Coutinho, Pelé e Toninho Guerreiro, Pelé com Nenê, Pelé e Edu, Pelé e Tostão.

Via e não acreditava. Como alguém podia ter tamanha desenvoltura técnica em campo. Sua dinâmica era ininterrupta em direção ao gol.

Agora entendo quando um famoso jornalista esportivo inglês disse: – “Pelé nunca jogou em Wembley” o que fez seu interlocutor dizer com pesar: – “azar de Wembley”.


Pelé, quando menino no reino distante de Bauru, adquiriu os fundamentos do futebol com outro herói mitológico de sua época. Começou sendo Pelé-Zizinho, pois com ele aprendeu a técnica e a coragem de enfrentar os marcadores.

Críticos de ontem e de hoje insistem em comparar mestres e foras de série com divindades, então me permito fazer este exercício de comparação, lembrando que futebol só é completo quando o fundamento técnico é completo, logo comecemos as comparações:

Garrincha um semi Deus “quase” completo. O corpo se projetava com malícia pra esquerda e ao mesmo tempo o arranque fatal pra direita. Sempre, sempre pro mesmo lado.

Dom Diego Maradona? Onde estão teus chutes de direita? Onde estão teus cabeceios, tuas matadas?

Cruyff, quem pensa que é com este futebol mecânico e esquemático?

Eusébio tinha belas arrancadas, mas cadê teus dribles inversos? Tuas tabelas? Cadê o corte fatal e conclusivo em teus adversários?

E tu, Di Stefano? Tinha os fundamentos, porém, faltava o principal, a magia no conduzir, a magia de inventar. Faltava também jogar em outros continentes, pois era reconhecido apenas na Europa, enquanto que o Deus da bola jogou e ganhou em todos, disse todos os continentes.

Pelé disse em uma ocasião que se jogasse no futebol atual faria mais de 2.000 gols. Os incrédulos de plantão, os burocratas, os profissionais do ramo que chamam jogadores de “atletas”, duvidam que ele fosse capaz de tal façanha.

Pelé simplesmente deu seu veredicto:

“No tempo que joguei não existia cartão amarelo. O jogador que me marcava, puxava, rasgava o meu calção e camisa e nem advertido era. O time que jogasse contra o Santos do meu tempo com as regras disciplinares de hoje, terminaria com seis jogadores”.

Imaginem a quantidade de gols que o maior de todos faria em cada partida.

Palavra de rei, vassalos.


Pena o homem ainda não ter inventado a máquina do tempo. Várias vezes imaginei isto:

Pelé com 25 anos e todos estes monstros da bola também com 25. Cada um poderia escolher os jogadores do seu time para um duelo. Duelo este que definiria quem é o melhor.

Que covardia seria!

Comparemos com o que mais reclama esta majestade única:

Quem tu escolhe, Dom Diego Maradona, pra jogar do teu lado?

Quem sabe poria novamente a seleção de 86? Jogaria com Burruchaga? Jogaria com Valdano? Dou uma colher de chá, ok?

Misture junto alguns de 78, muito melhores que estes de 86. Coloque aí um Passarella na defesa, um Fillol no gol. Será que assim seria adversário?

Isto em seleção, porque em time você só jogou em um que ganhou algumas coisas. O Napoli.

E você, Rei?

Escolha. Quem sabe o time do Santos de 62? Mas como você mesmo disse, no lugar do Mengálvio o Jair Rosa Pinto bem mais técnico e conclusivo.

Na seleção seria covardia com Dom Diego.

O rei teria a sua disposição jogadores que não tiveram a honra de compartilhar jogadas com ele, entre eles, craques do quilate de Romário, Zico, Ronaldo e por aí afora.

Junte a essa esquadra um Rei com 25 anos.

Desculpe senhores foras de série não brasileiros. No confronto entre clubes ou em disputas de seleções, o Rei seria ainda mais Rei.

Só posso concluir que Pelé foi o que foi devido ao amor que nutria pelo futebol. Só quem ama o que faz com tanta intensidade pode ser tão perfeito.


Pelé era completo nos fundamentos, daí a divindade.

O drible desconcertante, o arranque, os olhos antevendo a jogada seguinte e o arremate impiedoso, cruel, implacável.

Hoje devemos sim orar pelo Deus Pelé.

Um Deus sem tempo definido. Um Deus que vale por todas as eras. Um Deus encravado na memória do que o futebol já teve de melhor.

Não oremos para o santo cristão.

Devemos orar pelo Deus pagão que tinha como missão infernizar as defesas adversárias.

Salve Rei, Deus da bola.

Ainda hoje, passados 77 anos, o melhor do mundo, porque o mundo do futebol se dividiu.

Assim como aconteceu com a humanidade. Antes e depois de Cristo, assim foi com o futebol AP e DP. Antes e depois de Pelé.

 

E SE…

por Paulo Roberto Melo


Por esses dias, ao ver as novidades em uma rede social, apareceu uma página vascaína com a foto do jogador Diego Souza. A legenda da foto era curiosa: “Este cara nos deve uma Libertadores!” Claro, de imediato entendi que a cobrança se devia ao gol que o Diego deixou de fazer no Corínthians, em 2012, no Pacaembu, no jogo que definiria qual time brasileiro seguiria na competição. Apesar do capricho de Diego Souza em deslocar o Cássio, quando estavam frente a frente, o goleiro se esticou todo e conseguiu com as pontas dos dedos desviar a bola para escanteio.

Quando vi essa postagem, pensei: “E se o Diego Souza tivesse tocado por cima do Cássio, à la Romário e feito o gol? O Vasco teria vencido e se classificado? Ganharia a Libertadores daquele ano?”. Esses pensamentos só são possíveis porque o futebol, assim como a vida, convive com o imprevisível. Convive com o “E se…”

Lembro de escutar o meu pai falar que em 1950 o capitão da seleção uruguaia, Obdulio Varela, em um lance da terrível final no Maracanã, cuspiu na cara do lateral esquerdo brasileiro Bigode (fato que mais tarde o próprio Bigode desmentiu em uma entrevista, embora muitos digam que realmente aconteceu.). Pois bem, meu pai dizia que se o Bigode, depois da cusparada, tivesse metido a mão na cara do Obdulio, os dois seriam expulsos e o capitão uruguaio não teria sido tão determinante para a virada do Uruguai.

Vamos aventar que esse fato tenha sido verdadeiro. E se o Bigode tivesse dado uma bolacha no Obdulio Varela? Os dois seriam expulsos? O Brasil teria sido campeão do mundo? Hoje seríamos hexa e não penta?


Brasil e França, quartas de final da Copa de 1986, no México. Segundo tempo, jogo duro, empatado em 1×1. Telê Santana coloca o Zico em campo. O craque rubro negro, depois de uma cirurgia delicada no joelho direito, por conta de uma entrada criminosa em um Flamengo e Bangu, no ano anterior, não tinha condicões de jogar um jogo inteiro. Mesmo lesionado, foi levado para a Copa e entrava no segundo tempo.

Assim que entrou contra a França, a primeira bola que o Zico pegou, deu um passe magistral para o lateral Branco, que na cara do gol foi derrubado pelo goleiro francês. Pênalti! O Sócrates poderia ter batido, afinal já havia marcado um gol de pênalti naquela Copa. O Careca poderia ter batido. O artilheiro vinha fazendo uma Copa sensacional até aquele momento e havia feito o primeiro gol do Brasil. Muitos poderiam ter batido, mas coube ao Zico, frio ainda e lesionado, a responsabilidade. Como sabemos, o Galinho bateu, o goleiro francês defendeu, o jogo foi para a disputa de pênaltis e o Brasil foi eliminado.

E se outro jogador tivesse batido o pênalti? Teria convertido? E se tivesse convertido, o Brasil teria vencido o jogo? Teria sido campeão? Hoje seríamos hepta e não penta?


Em 1977, o Corínthians amargava um jejum de 23 anos sem títulos de campeão paulista. Disputando a final com a Ponte Preta, o Timão não teve vida fácil. Ganhou o primeiro jogo por 1×0, mas perdeu o segundo por 2×1, forçando a realização de um terceiro jogo. A Macaca tinha um timaço naquele ano! Carlos, Oscar, Polozzi, Dicá e Rui Rei. Logo no começo do terceiro jogo, aos 16 minutos, o Rui Rei discute com o árbitro Dulcídio Wanderley Boschilia e acaba expulso. Ficou difícil para o time de Campinas segurar o Corínthians, que também tinha um bom time, com Ruço, Palhinha, Vaguinho e Basílio. No segundo tempo, coube a Basílio dar a vitória ao time do Parque São Jorge e por fim ao longo jejum.

E se Rui Rei não tivesse sido expulso? O jogo terminaria empatado sem gols, forçando uma prorrogação? Ao fim dessa prorrogação, o Corínthians seria, afinal, campeão? Ou a Ponte Preta enfim conquistaria seu primeiro título?

Creio que o jogo Brasil e Itália na Copa da Espanha, em 1982, tenha sido o campeão do “E se…”. E se o Batista não tivesse sido machucado pelo Maradona, no jogo anterior contra a Argentina, o Telê o teria colocado em campo para segurar o empate? E se o Cerezo não tivesse dado a bola nos pés do Paolo Rossi no segundo gol da Itália? E se o Júnior não estivesse parado junto à trave no lance do terceiro gol italiano, dando condições ao terrível Paolo Rossi? E se o Serginho não tivesse atrapalhado o Zico em uma jogada em que o Galo estava na cara do gol?

Como conviver com o “E se…”? Como debater sobre coisas que, por um motivo ou por outro, não aconteceram? Igual a todo mundo, eu tenho os meus “E se…” –  como torcedor ( E se o Felipe tivesse chutado um pouquinho mais pra esquerda aquela bola que passou rente a trave, na final do Mundial de 98, contra o Real Madrid?) e também como pessoa. Você certamente tem os seus.

Não nos foi dado o poder de voltar no tempo. Temos sim o poder de aproveitar o momento e fazer da nossa vida o melhor que pudermos. E valer-se dos não acontecimentos do futebol, para que as resenhas sejam sempre animadas. Afinal, pense bem: e se… não houvesse futebol?

A TRAGÉDIA DE SARRIÁ

por Serginho 5Bocas


INTRODUÇÃO

Se você é um daqueles caras chatos que vão ao cinema para ver filme “pipoca” de super-herói e ao final do filme, sai reclamando que viu muita mentira, pare agora e não prossiga! Nas próximas linhas você vai ler o retrato de uma partida histórica sob o ponto de vista de um sonhador. Com certeza não vai ter a menor graça para você, porque aqui você vai encontrar muita fantasia.

Me desculpem os céticos extremistas, os pessimistas de plantão, os cavaleiros  do apocalipse e os especialistas de jogos já encerrados, mas naquele dia o Brasil jogou para karaiu. Perdeu, é verdade, mas não vergonhosamente como nos 7×1 da semifinal de 2014 para os alemães ou dos 3×0 na final de 1998 para os franceses ou até mesmo no 1×0 para a mesma França nas quartas de 2006, ocasiões em que não vimos a cor da bola. E é por isso que aquela partida é conhecida como “tragédia”. Aquelas cinco partidas foram de ejetar da cadeira, como diria Nick Hornby e foram o maior tesão da minha vida no futebol e posso afirmar que nunca fui tão feliz antes nem depois com a seleção canarinho.

Antes de mais nada, quero parafrasear o grande craque da bola e da pena Tostão, que em seu livro “A perfeição não existe”, propôs que queimassemos todas as fitas de vídeo e dvds dos jogos da fantástica seleção brasileira da copa de 1970, para não apagar a fantasia e para que permaneça a lenda de que existiu um time perfeito, já que ele mesmo ao rever os jogos, percebeu muitos erros. Sigo o “relator” e digo o mesmo para a seleção de 1982.

NA ÉPOCA…

“Ninguém vence o Brasil”

Jock Stein, técnico da Escócia após perder de 4×1

“Mama mia, que toque”

Di Stefano, depois da vitória sobre a Nova Zelândia

“O Brasil foi perfeito”

Enzo Bearzot, após a vitória sobre a Argentina

“Só existe um campeão. É o Brasil.”

Johann Cruyff, depois da eliminação para a Itália

“Acabou-se o samba e os amantes do bom futebol podem ir para casa”

Título do “POLITIKA” de Belgrado, após a derrota brasileira

“Parte o Brasil, parte o futebol”

Manchete do “CORREO DA ANDALUZIA”


ANOS DEPOIS…

“Foram anos, porque tivemos eliminatórias de puro encantamento de um futebol inigualável. Não aceito e jamais aceitarei que a tragédia de Sarriá possa ter transformado essa fantástica seleção em um grupo de perdedores. Perderam um título, mas ganharam um lugar na história”

Galvão Bueno

“No dia em que nós quisermos entrar em campo para dar pontapé, para jogar com violência, nós vamos perder tudo, porque o futebol brasileiro é de outra origem, nós sabemos jogar e muito bem. Nós temos habilidade e técnica”

Telê Santana

“Sabíamos estar diante de um dos melhores times de todos os tempos, eu os havia visto disputando as partidas anteriores e eles me pareciam marcianos, jogavam de memória, podiam jogar com os olhos vendados de tão perfeito o entendimento entre eles. Jogadores extraordinários e talentosos, como Zico, Falcão, Sócrates, Junior, Cerezo e Eder…”

Paolo Rossi

“O jogo contra o Brasil nos deu a convicção de que poderíamos vencer a copa. Porque eles eram maravilhosos”

Dino Zoff,

“Um time é bom quando passar vinte, trinta, quarenta anos e ainda falam dele”

Pep Guardiola

“Ganhamos um prêmio mais importante do que o título, que é o reconhecimento do mundo para o nosso jogo bonito, para nossa arte, para o nosso futebol coletivo, para nossa disposição de encantar o público e tornar aquele time inesquecível. Aquele Brasil de 82 foi um campeão de encantamento”

Paulo Roberto Falcão

O PRELÚDIO DO FATÍDICO 5 DE JULHO

Segunda-feira, 5 de julho de 1982. O Brasil vai entrar em campo como franco favorito contra a irregular Itália. Sob o comando de Telê Santana, não perdíamos desde janeiro de 1981, ainda pela final do “Mundialito” no Uruguai, quando os anfitriões nos venceram na final por 2×1 (sem Zico, Falcão e Leandro). Desde aquela derrota, foram sete partidas sem derrotas para europeus e até aquela partida, 24 jogos invictos. Na copa já havíamos jogado quatro partidas sem nem ao menos empatar, derrotando os fortes soviéticos, os escoceses, a fraca Nova Zelândia e os campeões mundiais de 1978, os Argentinos, por sonoros 3×1, com Maradona e tudo. Saldo de 4 vitórias em quatro jogos, 13 gols feitos e 3 gols sofridos.

Já os italianos estavam em baixa, brigados com a imprensa de seu País e com Paolo Rossi, o seu centroavante e maior esperança de gols, completamente sem ritmo de jogo, pois ficara sem jogar profissionalmente por quase dois anos, cumprindo punição por envolvimento com a máfia da loteria italiana, a “totonero” e que em quatro partidas, não fizera um mísero golzinho e seu último gol com a camisa “azzura” fazia mais de três anos, na derrota de 4×1 para a Iugoslávia. Os italianos sofreram horrores para se classificar na primeira fase, com três empates diante das seleções do Peru, Camarões e Polônia, classificando-se pelo saldo de gols. Depois venceram os Argentinos por 2×1 sem problemas, demonstrando recuperação na segunda fase. Saldo de 1 vitória e 3 empates em quatro jogos, 4 gols prós e 3 gols sofridos. Pronto! Um prato fácil de degustar, em quem você apostaria?

OS OBSERVADORES


Por trás daquela derrota haviam detalhes relevantes que não demos a devida atenção. Antes do jogo, Zezé Moreira, nosso observador, já havia informado Telê sobre os perigos que os italianos representavam, seus progressos e seus pontos fortes. Puskas o grande craque da Hungria e do Real Madrid também foi um dos poucos que em uma mesa redonda comandada por Armando Nogueira destoou do favoritismo excessivo dos presentes, apontando que apesar da Itália ser mais fraca, poderia representar muito perigo. Talvez porque ele já ter provado o gosto amargo de ter perdido para a Alemanha na final da copa de 1954, quase da mesma forma. Por último, o craque Falcão também tentou avisar na preleção da equipe antes da partida, mas talvez não tenham dado muita atenção as suas palavras.  

Talvez não tenhamos levado tão a sério essas informações, afinal, o que seria tão perigoso para nossos gênios da bola? Paolo Rossi sem marcação especial, ia aproveitando os espaços que teve, e marcou 3 gols em nossa defesa. Para quem não sabe, Rossi não era um craque, mas também não era nenhum perna-de-pau, o “Bambino D´ouro”, garoto de ouro italiano, na copa anterior havia marcado 3 gols, e recebido o prêmio de segundo melhor jogador daquela copa.

A PARTIDA

O Brasil jogou sem fugir de seu estilo e como sempre havia jogado naquela copa, priorizando o toque de primeira, a rápida transição da defesa para o ataque, a posse da bola e em vários momentos, marcando no campo do adversário. A Itália fez o de sempre na copa, recuada e nos atraindo para seu campo, onde exercia forte marcação individual em alguns jogadores chaves do nosso time, e preparando o seu contra-ataque mortal com Graziani, Conti e Rossi nas costas dos laterais, além das subidas de Cabrini e do apoio de Antognoni, seu mais cerebral jogador.

Colovati, Scirea e Oriali exerciam dura marcação homem-a-homem em Sócrates, Serginho e Edér, e Gentile grudou implacavelmente em Zico, numa das mais sufocantes marcações já vistas em uma partida de futebol em copas do mundo, da mesma forma que fez contra Maradona, quando enfrentaram a Argentina e tivera êxito, apesar da distribuição de porrada.

O Brasil sabia de sua superioridade e tentou exercer seu maior trunfo que era manter a posse de bola, e mesmo estando praticamente todo o jogo em desvantagem no marcador, mantinha a calma e um aparente controle da situação.

A Itália, por mais difícil que pudesse parecer a missão para eles, vinha obtendo êxito em seu propósito, abriram o marcador muito cedo e cada vez que o Brasil conseguia empatar o jogo, eles faziam um novo gol, e voltavam a frente no placar, e com isto acontecendo amiúde, eles foram ganhando confiança e sentindo que poderiam vencer-nos, como de fato aconteceu.

Na maior parte do tempo estivemos em desvantagem no placar, assim éramos obrigados a sair para o jogo e nos expor e apesar de criarmos uma grande quantidade de situações de perigo real, ficávamos expostos constantemente aos rápidos contra-ataques italianos, que nesse jogo não foi fundamental nos gols que ocorreram muito mais por falhas individuais.


Mostramos nossa classe e toque de bola durante toda a partida, até nos últimos minutos quando Zoff defendeu uma cabeçada de Oscar e um corner olímpico de Éder, pena que não foi suficiente para vencê-los. Possuíamos uma equipe fantástica, mas os italianos tiveram o mérito de não se intimidarem e jogaram acreditando que a vitória era possível, apesar de tudo.

Isso é Copa do Mundo, são noventa minutos onde tudo pode acontecer, como diria Teixeira Heizer: “o jogo é bruto” e não tem jogo de volta. A Itália fez três gols, e somente no primeiro houve construção, nos dois últimos foram falhas individuais e sorte, nada mais. Já o Brasil, teve que trabalhar muito para construir seus dois gols que foram verdadeiras pinturas, o que se há de fazer?

Tínhamos a sensação de que a partida poderia ser decidida quando quiséssemos, mas naquele dia se fizéssemos o terceiro gol de empate, acho que eles fariam o quarto. Além de termos enfrentado uma seleção briosa e disposta a tudo para vencer, o árbitro israelense Abraham Klein deu uma mãozinha para os italianos, quando não marcou um pênalti claro de Gentile em Zico, no final do primeiro tempo, quando o jogo estava 2×1 para os italianos, Gentile ficou atônito com um pedaço de pano na mão. Talvez ir para o intervalo com o empate, trouxesse a tranquilidade e a confiança necessária para mudar a história do jogo, mas não aconteceu.

Outro lance capital, foi logo após Falcão ter marcado o gol do segundo empate na partida, Eder carrega a bola no ataque, com Sócrates bem perto como opção contra um zagueiro e não passa a bola para o magrão, tentando uma jogada individual e perde, ali poderia ser o gol que definiria a partida, logo em seguida, a Itália faria o terceiro.

O jogo todo, a Itália esteve na frente do marcador, Paolo Rossi fez os seus três primeiros gols “libertadores” de um toque só, de um total de 6 em toda a copa, depois, ainda seria considerado o melhor jogador e artilheiro da Copa.

Os italianos catimbaram a partida fazendo o tempo passar, se adiantando nas faltas contra a sua meta, atrasando bolas para seu goleiro constantemente quando eram apertados na saída de bola (recurso possível naquela época) e parando as jogadas com faltas duríssimas, sob o olhar complacente do árbitro. Assim o jogo se arrastou até o fim, preparando os italianos para o título, já que depois de vencer-nos, ninguém mais poderia ganha-los.

O “SCOUT” DA PARTIDA

A superioridade brasileira pode ser observada ao saber que nos 90 minutos:

O Brasil teve mais posse de bola;

O Brasil criou 26 jogadas próximas ao gol contra 7 da Itália;

O Brasil teve 12 jogadas de real perigo de gol contra 5 da Itália.

O Brasil teve 32 roubadas de bolas contra 28 da Itália.

Mas infelizmente eles fizeram 3 gols e nos apenas 2.


OS JOGADORES

Valdir Perez, que esteve em 3 copas, que jogou mais de 25 partidas pela seleção e que só perdeu uma, teve uma falha no gol da URSS, no jogo de estreia, que acabou com a sua copa e fama, faltou uma defesa sensacional para virar o jogo.

Leandro, recebeu a ingrata missão de jogar sozinho pelo lado direito e fez um ótimo papel, parecia um veterano logo em sua primeira e única copa, deu gosto ver sua habilidade e postura, gastou a bola.

Oscar, que não perdeu uma por cima e não levou drible de ninguém, fez um gol de cabeça e quase fez o gol da vida dele naquele dia, mas proporcionou a Zoff, a defesa da vida dele.

Luisinho, esbanjou categoria em sua primeira copa e foi eleito para a seleção da competição na opinião dos jornalistas do mundo todo, por aqui, dizem que amarelou, por um possível pênalti em schengelia no jogo de estreia. Coisa de país complexado.

Junior, ofensivamente jogou muita bola e já dava mostras que não ficaria limitado a uma lateral do campo. Foi eleito para a seleção da copa e na copa seguinte voltou como meia.

Cerezo, jogou muita bola nas quatro partidas que esteve presente, mas um passe equivocado, que ainda podia ter salvação, fez grande parte da torcida e dos jornalistas brasileiros o condenarem a pena máxima do futebol brasileiro. Na Itália,  a opinião foi outra, foi comprado e jogou por lá por muitos anos depois da copa.

Falcão é um caso para estudo, como um jogador deste naipe só jogou uma copa como titular? Só no Brasil mesmo. Foi o segundo melhor jogador da Copa,  apesar de só ter jogado 5 partidas e também fez parte da seleção da copa. Fez o gol mais espetacular e emocionante do Brasil em copas do mundo.

Sócrates, fez o sacrifico de parar de fumar por seis meses para chegar bem na copa e deu resultado. Nosso capitão gastou a bola, fez dois golaços, mas não foi suficiente para trazer o caneco.

Zico, fez uma bela copa, marcou quatro gols em cinco jogos, deu quatro assistências e participou de nove dos quinze gols do Brasil na Copa. Foi um dos quatro brasileiros eleitos na seleção da Copa. Faltou ganha-la, por isso que até hoje, muita gente não compreende o seu verdadeiro tamanho.

Serginho, não fez uma bela copa apesar de ter jogado ao lado de um monte de feras, fugiu de seu estilo para se adaptar a Telê e como lhe custou caro, ainda assim, deixou a sua marca duas vezes e entrou para a história com aquele grupo.

Edér, jogou muito e fez belos gols, jogava como o mestre Telê mais apreciava, fera nos fundamentos e na técnica, sem contar o chute potente e venenoso. Seus dois gols contra a U.R.S.S. e Escócia entraram para a história.

Paulo Isidoro, foi o décimo segundo jogador, entrou numa fogueira contra a U.R.S.S. e melhorou o time, depois entrou em outra fogueira maior ainda contra a Itália e mostrou a mesma qualidade. Uma pena que o Tiziu não convenceu o mestre Telê de sua titularidade.

APÓS O APITO FINAL

Ao término do jogo, apesar da injustiça e da grande tristeza, ficou em nós brasileiros e no mundo da bola, um bonito sentimento. Italianos corriam feito loucos pelo campo, correndo atrás dos brasileiros para trocar as camisas e guarda-las como troféus, se abraçando ainda sem acreditar no que tinham acabado de realizar, e brasileiros, atônitos, sem rumo, não conseguiam achar a saída do campo, talvez pensando que ainda haveria um terceiro tempo, e aí ganharíamos.


A equipe do Brasil recebeu todas as homenagens possíveis por parte da imprensa, de torcedores brasileiros e espanhóis, de ex-craques como Di stefano, Puskas, Cruyff, Krol, entre outros, mas nenhuma destas manifestações conseguiram estancar a dor que sentíamos. Até mesmo após o jogo, na sala de imprensa, o técnico italiano Bearzort havia sido bem recebido, porém, quando Telê entrou na sala, foi um verdadeiro clamor, todos se levantaram e aplaudiram o técnico brasileiro, como se ele tivesse vencido a partida.

A copa, a partir daquele momento já tinha um campeão. Os italianos ficaram fortes e confiantes após baterem os brasileiros e aí foi só ganhar dos “fracos” poloneses, desfalcados da fera Boniek e depois vencer os pragmáticos e fregueses alemães na final. Depois de vencer os brasileiros, foi mais do que justo a copa ficar com os italianos.

AS LIÇÕES APRENDIDAS

Impossível esquecer aquela tarde por tudo que aconteceu. Chorei convulsivamente, levei 5 pontos no queixo e vi meus heróis derrotados por uma “kripitonita” italiana. Contudo, aprendi que devemos saber perder, desde que com luta. A vitória é o objetivo a atingir, mas perder faz parte do jogo, e não é vergonha, se houver entrega, e isso eles fizeram até o último minuto e a torcida brasileira soube reconhecer.

Vi este jogo aos 14 anos, no dia 5 de julho de 1982, prestes a completar 15, que aconteceria uma semana depois, vi novamente umas cinco ou seis vezes em intervalos de anos entre cada uma das vezes, e o tempo e a racionalidade que adquiri, não mudaram minha opinião sobre o que aconteceu naquele dia, o Brasil jogou mais bola do que os italianos e não era o dia de vencermos. O futebol é simples e apaixonante assim, nem sempre vence o melhor, não adianta buscar explicações mirabolantes, é esporte, é só perder ou ganhar.

AS CURIOSIDADES

No local onde ficava o estádio de Sarriá, foi construído um shopping center, assim, hoje não existe mais nem poeira de onde jogamos a épica partida.

Para se ter uma ideia da qualidade do futebol da seleção de 1982, e da plástica de suas jogadas e gols, na eleição da FIFA para o gol do século XX de todas as copas do mundo, estivemos presentes com vários gols de várias de nossas seleções entre os 50 melhores, sendo que a seleção de 1982, carimbou seis deles ou mais de 10% do total. Para se ter uma pequena noção do material, aí vai: Os dois gols contra a União Soviética e os dois contra a Itália, o de Junior contra a Argentina e o de Éder contra a Escócia, não que os outro fossem feios, vide os dois do galinho contra a Nova Zelândia e o do Serginho contra a Argentina, que poderiam constar em qualquer relação dos mais belos, pois todos sem exceção foram de extremo bom gosto.

PRORROGAÇÕES


Nesses anos todos, escutei muita gente opinando contrariamente, afirmando que o time de 82 era uma farsa. Recentemente os jogos foram reprisados na TV a cabo e novamente ouvi muitas críticas ao futebol daquela seleção. Sinceramente, não consigo entender porque fazem isso com aqueles jogadores.

Eles eram temidos, respeitados pelo que jogavam, deram uma aula ao mundo de como se joga futebol com beleza e qualidade, criaram uma legião de fãs pelo mundo, inovaram em muitos aspectos e não receberam o devido reconhecimento.

Jogavam compactados, muito próximos uns dos outros, em todos os jogos chutaram e desarmaram mais do que os adversários e sem fazer faltas, ganharam o prêmio ‘fair play” por isso. Acho que o grande lance daquele time é que se preocupavam em jogar bola e como não trouxeram o título, ficaram marcados, ainda bem.

Muitos falam que não marcavam, mas os números não mentem, a revista placar na época trouxe em sua edição, que desarmaram mais do que os italianos, quando empatamos o jogo, Telê tirou Serginho e colocou Paulo Isidoro fechando mais o meio de campo e ajudando Leandro pelo lado direito. No último gol da Itália, todos os 11 jogadores do Brasil estavam dentro da área, mas uma bola mal chutada por Tardelli, passou por todo mundo e foi achar Paolo Rossi na pequena área,

A Itália só criou no seu primeiro gol, os outros dois gols italianos foram por conta de falhas individuais de nossa seleção, realmente não era dia de Brasil. Prefiro acompanhar a opinião de quem aprecia bom futebol e estes nunca me decepcionaram, todos são categóricos em afirmar que aquele foi um time de sonhos.

Que fique claro, o Brasil não perdeu o jogo porque jogou mal ou porque foi soberbo como muitos afirmam e como grande parte da imprensa nos tentam fazer acreditar, mas sim porque mesmo mantendo nossas convicções e estilo, do outro lado havia uma Itália valente e muito determinada e principalmente, porque as bruxas espanholas e os deuses do futebol não quiseram dar aos torcedores e a aqueles jogadores a tão sonhada glória, preferiram que aquela geração entrasse para a história justamente pela trágica derrota e assim se fez, por isso a alcunha daquele jogo é tragédia.

CINEMA

No dia, e eu mais alguns milhões de brasileiros choramos lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues e até hoje quando vejo de novo o gol de Falcão, empatando o jogo em 2×2, correndo feito um louco com as veias do braço quase explodindo de emoção, me arrepio e me emociono, chego a acreditar que ainda vamos vencer e que aquela foto será a capa de todas as revistas e jornais do dia seguinte, mas sempre acordo me beliscando, pois nunca aconteceu, parece um drama sem fim.

Lembram que comecei a crônica falando de cinema?


Foi um filme inesquecível com um elenco fora de série. Não que a gente nunca mais tenha visto bons filmes, talvez até tenhamos visto alguns, mas não com toda a qualidade e quantidade de atores daquele porte na mesma película, foi um verdadeiro “outlier”.

Então podemos afirmar que foi um daqueles filmes tristes que o mocinho morre no final? De jeito nenhum, pois de lá pra cá, o fenômeno se ampliou e apesar da tristeza quase sem fim, as lembranças das feras não se apagaram. Na verdade eles se eternizaram, pois renascem a cada bola bem chutada, a cada gol bem trabalhado, a cada passe milimétrico, a cada drible sensacional e sempre, sempre serão lembrados…

 

 

Forte abraço

Serginho 5Bocas

O CARRASCO DE UMA GERAÇÃO VITORIOSA

por André Luiz Pereira Nunes


Em 1989, durante a segunda edição da Copa Pelé, um mundialito de seleções compostas por atletas veteranos disputado em São Paulo, ocorreu uma situação bastante inusitada. Foi só chegar ao país que Paolo Rossi, o carrasco do Brasil na Copa de 82, se deu conta de como era odiado em terras tupiniquins: “Em São Paulo, ao pegar um táxi, o motorista não parava de me olhar pelo retrovisor e, ao me reconhecer, parou o carro e me fez descer”. Durante uma partida do mesmo torneio, disputada no estádio do Canindé, resolveu por bem não atuar no segundo tempo após receber dos 25 mil espectadores, não só olhares ameaçadores, como também cascas de banana, amendoins e moedas das arquibancadas quando se aproximava da linha lateral. Consta ainda que “batizou” uma epidemia de gripe algum tempo depois da famigerada Copa em que eliminou o Brasil.

Nascido em Prato, uma comuna na região da Toscana, o atacante transitaria por diversos times pequenos até chegar às categorias de base da Juventus, em 1972. Por causa de algumas lesões, as quais o obrigou a passar por três cirurgias em um período de dois anos, acabaria emprestado ao modesto Como pelo qual passaria despercebido. Em 1976, já com 20 anos, foi contratado ao Vicenza, se tornando peça fundamental na ascensão da pequena equipe à Série A, com o bom desempenho de 21 gols em 36 jogos. Espantosamente, na temporada seguinte, a de 1977/78, por pouco não conduziu a agremiação do Vêneto ao título italiano, sagrando-se artilheiro e vice-campeão da competição, atrás apenas da Juventus, com a incrível marca de 24 gols em 30 jogos. A excelente performance o conduziria à Seleção Italiana, em 1977 e, por conseguinte, à Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

A ótima fase seria reconhecida por Enzo Bearzot, o treinador da Azzurra, o qual se tornaria um dos maiores fãs e incentivadores do seu talento, chegando a convocá-lo ainda para mais dois mundiais. Em 1978, Rossi fez 3 gols, ajudando a Itália a chegar na quarta colocação. Mas essa ainda não seria a sua Copa do Mundo. O certame que o destacou sob os holofotes de todo o mundo e o projetaria para a galeria dos maiores carrascos da Seleção Canarinho, ao lado de Ghiggia e Zidane, foi mesmo a Copa de 1982, disputada na Espanha.


O Brasil, sob o comando de Telê Santana, chegava com ares de favorito, pois contava com craques de indiscutível qualidade como Zico, Falcão, Júnior e Sócrates. A Itália, por sua vez, mantinha a sua força no sistema defensivo, com Zoff, Scirea, Colovatti e Gentile. Porém, na parte ofensiva era uma verdadeira incógnita. Graziani não estava em boa fase e o artilheiro Roberto Bettega veio a se contundir há poucos meses da convocação, sendo cortado. Paolo Rossi, por seu turno, estava completamente à margem, visto que acabara de voltar de uma suspensão por um suposto envolvimento em um esquema de armação de resultados da loteria esportiva italiana que o impediu de jogar futebol por dois anos. Nem a imprensa tampouco a torcida eram favoráveis à sua convocação, mas Bearzot resolveria mesmo fazer a sua aposta individual. Mesmo com a punição, o atacante viria a ser contratado pelo clube onde iniciara a carreira, a Juventus. Posteriormente um de seus acusadores admitiria que as provas contra ele eram forjadas. Felizmente para Rossi e para a Itália, mas não para o Brasil, a pena terminaria a um mês do início da Copa da qual sairia campeão, artilheiro e consagrado como melhor jogador. 

Sem atuar por quase dois anos e tendo jogado apenas três partidas pela Juventus, Rossi parecia contar apenas com o apoio do técnico. O meia Gabriele Oriali, também convocado à competição, disse pouco antes de a delegação rumar à Espanha: “Com Paolo Rossi no ataque, nossas chances de vencer ficam reduzidas”. E realmente assim foi na primeira fase, onde a parte ofensiva passou em branco nas partidas contra Polônia, Peru e Camarões.

Contudo, os deuses do futebol têm as suas artimanhas e os seus próprios desígnios. Quiseram eles que as seleções do Brasil e da Itália caíssem no mesmo grupo da segunda fase que contava ainda com a campeã Argentina. Contra o Brasil não demoraria para que Paolo Rossi mostrasse o seu cartão de visitas. Logo aos cinco minutos, ele abriu o placar com uma cabeçada fulminante após um cruzamento de Cabrini. Todavia, o Brasil não se abateria com o revés, chegando à igualdade aos 12. Entretanto, aos 25, Rossi aproveitaria uma falha clamorosa de Toninho Cerezo e, com o seu costumeiro oportunismo, colocou novamente a Itália à frente do placar. Na segunda etapa, o Brasil pressionaria até encontrar o gol, com um belo voleio de Falcão. Com o empate, parecia que o escrete canarinho viraria o marcador, mas novamente ele deu o golpe de misericórdia. Aos 30 minutos, livre de marcação, desviou  na pequena área, marcando o gol da vitória. O Brasil não conseguiu superar o baque e, graças a Rossi, a Itália estava classificada para as semifinais. Foi o autor dos três gols da vitória naquela que ficou conhecida como a Tragédia do Sarriá. O atacante ainda deixaria a sua marca duas vezes contra a Polônia, na semifinal, e uma vez contra a Alemanha, na decisão, conquistando a Chuteira de Ouro da competição, com seis gols. Naquele ano, também arrematou a Bola de Ouro, da revista France Football, se tornando o terceiro italiano a ganhar o prêmio após Gianni Rivera e Omar Sivori.


No que tange a clubes, sua melhor passagem ocorreu realmente pela Juventus, ainda que pontuada por altos e baixos. O atacante nunca conseguiu estabelecer um relacionamento muito amigável com a torcida, o treinador Giovanni Trapattoni e o presidente Giampero Boniperti. Se queixava constantemente ao ser substituído. De qualquer forma, junto a Platini e Boniek, veio a conquistar diversos títulos com a Velha Senhora, entre os quais, os de 1982 e 1984, além da Copa dos Campeões da Europa, de 1985. Sua melhor temporada foi a segunda, na qual contribuiu com 13 gols para o scudetto.

Em 1985, ao ser contratado pelo Milan, não conseguiria render o que seria esperado de um legítimo matador por conta dos velhos problemas de joelho. Marcaria apenas dois gols com a camisa rubro-negra. No ano seguinte, Bearzot o chamaria para a sua terceira e última Copa do Mundo, possivelmente em uma espécie de homenagem, pois Rossi, em péssimas condições físicas, não atuou em nenhuma partida. Após o torneio, encerraria a sua prestigiosa carreira no Verona, marcando quatro gols em vinte jogos. 

Em 2002, no vigésimo aniversário do Mundial, publicou uma autobiografia, de nome bastante sugestivo: “Eu fiz o Brasil chorar”. Atualmente, é comentarista do canal italiano Sky Sports, presidente honorário do Prato, a equipe de sua cidade natal, e ainda dirige uma agência imobiliária em Vicenza.