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O CENTENÁRIO COME-FOGO

por Émerson Gáspari


Tenho 105 anos. Nessa idade, como ancião, um dos poucos prazeres que a vida ainda me concede é o de relembrar as coisas de maior significado para mim, nessa vida. O futebol está entre elas. Meu primeiro contato com ele ocorreu no longínquo 1º de agosto de 1920. Faz, portanto, exatamente um século que pisei pela primeira num estádio de futebol, levado por meu saudoso pai, que queria me apresentar cedo ao mundo da bola.

Por falar em mundo, parece que em certos aspectos ele não mudou tanto assim: naquela época, estávamos saindo de uma Gripe Espanhola que matou milhões pelo mundo afora. Hoje, é essa pandemia da Covid-19 que assombra a humanidade. Tenho fé de que sairemos dessa, como da outra vez. Por pior que seja o dia de hoje, sempre haverá um amanhã diferente e melhor. Tenhamos fé.

Mas, voltemos ao “mundo da bola”. Ontem, meus bisnetos me pediram para que lhes falasse a respeito do Come-Fogo de antigamente. Então não me fiz de rogado e passei a lhes contar histórias e mais histórias dos jogos que testemunhei. Falei do primeiro deles, o tal de 1920: estive lá, aos cinco aninhos e deste, confesso, pouco me recordo: lembro-me que o clássico ainda não tinha sequer a alcunha de Come-Fogo, que o jogo ocorreu no antigo estádio da Rua Tibiriçá, ao lado da Beneficência Portuguesa, já nos limites da cidade. Torcedores entravam de paletó e chapéu. Os mais velhos não dispensavam a bengala. As pouquíssimas senhoras, de sombrinhas, chapéus e vestidos de seda.

O Comercial, equipe bancada pelos comerciantes e coronéis do café, teve um time fabuloso, que goleou por 20 x 0 o Taquaritinga (só Santinho, fez 10 gols), empatou com a Seleção da Argentina, venceu o Corinthians na disputa da Taça Clark e voltou invicto de uma célebre excursão ao Nordeste (daí ser apelidado de “Leão do Norte”), entre outras façanhas mais. Já era uma equipe experiente e temida e seu estádio, com capacidade para três mil espectadores, possuía o primeiro campo gramado do Brasil, encravado no topo do Centro de Ribeirão Preto.

Por sua vez, o Botafogo era um clube humilde, formado pela fusão de três equipes amadoras da região da Vila Tibério, bairro popular e que abrigava a estação ferroviária e as cervejarias que ajudaram a tornar a cidade famosa pelo chope, décadas depois.

Havia, obviamente, um desnível técnico entre os times. Daí o Comercial resistir a um confronto direto, pois a discrepância era nítida. Embora os alvinegros resistissem a uma contenda, acabaram por aceitar um confronto entre seu time B, contra o quadro principal do Botafogo. Daí, se acreditava, daria jogo.

Lembro-me vagamente da partida, naquele dia. Foram muitos gols. Recordo-me bem do placar final: Comercial 8 x 0 Botafogo.  Quatro anos depois (eu maiorzinho, com nove) aí já me lembro melhor do segundo duelo: 2×1 para o Comercial, no mesmo estadiozinho da Rua Tibiriçá, em 1924.

Meus bisnetos ficaram encantados, embevecidos com tantas histórias sobre esse clássico tão tradicional do interior paulista. E eu, que acompanhei a maior parte dos quase 170 confrontos até hoje, me sinto um privilegiado por ser, talvez, a única testemunha ocular viva do primeiro jogo entre ambos. Ao menos, não conheço ninguém da minha idade aqui na cidade. Quanto mais, que tenha estado presente a essa partida inicial.

Para usar de franqueza, confesso que passei a tarde toda relatando casos e mais casos dos duelos travados. Expliquei que a vitoriosa fase amadora terminou junto com o fim daquele Comercial, em meados dos anos 30. E que o Botafogo, mais novo, prosseguiu sem a companhia do rival, por 19 anos. Até que, em 1954, eles retomaram suas disputas (já sob a alcunha de Come-Fogo) e aos poucos, a vantagem comercialina em confrontos foi sendo demolida e se inverteu, pois o Botafogo se fortaleceu bastante, enquanto o Comercial voltou com muitas dificuldades, atuando por alguns anos como inquilino, no estádio da Mogiana. Falei da “era Sócrates”, amplamente favorável ao tricolor, relembrei do rebaixamento que o Bafo impôs ao Pantera, entre outras gostosas histórias.

Expliquei a eles, como se deu a construção do estádio Francisco de Palma Travassos, a “Jóia” de cimento armado, no Jardim Paulista. E depois a mudança do Botafogo, do estádio Luiz Pereira (o “Madeirão”) na Vila Tibério, para o Santa Cruz, hoje convertido em arena.


 Eles realmente ficaram muito felizes com o papo e disseram que iriam contar algumas dessas histórias para seus coleguinhas de escola, quando as aulas enfim retornarem, porque pelas redes sociais não dá: é muita coisa para ser escrita ou mesmo lida. Eles não imaginam que feliz mesmo fiquei eu, de poder ter a atenção das crianças dirigida a mim, um ancião, nessa altura da vida. Eles nem piscavam enquanto eu falava: tal era o fascínio deles, que parecia que eu era um celular. No final da tarde despediram-se, agradecidos.

A noite caiu e fui me deitar. Mas confesso que o sono não vinha. Porque as lembranças eram muitas e um turbilhão de recordações não me saíam da cabeça. Foi daí que me surgiu uma dúvida inusitada: como seria uma disputa definitiva entre ambos os times, para decidir qual deles é o melhor, nesses cem anos de bola rolando? E com os melhores atletas de cada posição lado a lado, ao longo da história: uma espécie de Come-Fogo atemporal, eterno?

Tomei consciência de que eu seria o único capaz de imaginar uma fantasia dessas e que ela seria, secretamente, a minha singela homenagem pelos cem anos de rivalidade, já que a data praticamente “passou em branco” em Ribeirão Preto. Sinal dos tempos! 

E assim, sem mais delongas, passo a lhes descrever agora, como poderia ser o maior Come-Fogo de todos os tempos, com jogadores de épocas diferentes, atuando juntos. Para começo de conversa, proponho duas partidas: a primeira, no berço comercialino, o estádio da Rua Tibiriçá (talvez o primeiro campo totalmente gramado do Brasil) e a segunda, na atual arena botafoguense, o estádio Santa Cruz. Vale a Taça de “Campeão Eterno”.

Manhã aprazível de domingo, no estádio da Tibiriçá, com grande público saudando com pétalas de rosas o Comercial, que vem a campo com Leão, Ferreira, Jair Gonçalves, Piter e Toninho; Hélio Giglioli, Amaury e Jair Bala, Mauricinho, Paulo Bin e Carlos Cézar. O técnico Alfredinho Sampaio, auxiliado por Tim, relaciona para o banco: Ortíz, Benazzi, Pedro Omar, Ademar, Thadeu Ricci, Santinho e Guina. O Botafogo, saudado até pelos adversários com calorosas palmas e lenços brancos girados no ar, vem em seguida, com Aguilera, Eurico, Julião, Dicão e Mineiro; Carrapato, Sócrates e Tim; Zé Mário, Antoninho e J. C. Motoca. No banco, José Agnelli, auxiliado por Tiri, deixa Machado, Cicinho, Baldochi, Gallo, Raí, Paulo César e Geraldão.


Na tribuna de honra o prefeito Costábile Romano está rodeado por ilustres convidados como Lúcio Mendes (jornalista que “batizou” o clássico), o advogado e historiador Rubem Cione (comercialino), o analista social Vicente Golfeto (botafoguense), entre outros. Lá estão também o presidente do Botafogo, Waldomiro Silva, e o do Comercial, Mário Ricci. O jogo quase não acontece, porque o Comercial queria que estivesse em campo o meia Diego, mas o Botafogo protestou, pois o craque jamais vestira a camisa do time principal, tendo seguido para o Santos muito cedo. A FPF por fim, bateu o martelo: ele não poderia jogar e fim de papo. O Comercial protesta, diz que é perseguido pela Federação e que vai recorrer. O árbitro Dulcídio Wanderley Boschila, o maior apitador da história do clássico, tira o “toss” entre os capitães Carlos Cézar e Sócrates . Tudo certo, trila o apito do árbitro e começa a partida.

Empurrado por sua apaixonada torcida que é maioria no estádio, o “Bafo” parte logo para o ataque, exigindo de Aguilera, uma defesa arrojada aos cinco minutos de jogo. O meia Tim pede calma aos companheiros e tenta controlar a pressão inicial, prendendo a bola. Sócrates desdobra-se apesar do forte calor, enquanto Dicão grita com a zaga para que fique atenta, especialmente com Paulo Bin. Mas é Jair Bala quem dá um chapéu perfeito no mesmo Dicão e rola macia a bola pra Carlos Cézar, que de canhota e de fora da área, manda um pelotaço no ângulo de Aguilera: 19 minutos, Comercial 1 a 0. Sócrates, mesmo marcado por Hélio e Amaury, arma grande jogada com Zé Mário que entorta Toninho e centra para Antoninho cabecear contra a trave de Leão, aos 32. Logo em seguida, aos 35, Motoca, que trava um duelo equilibrado com Ferreira, consegue um perigoso chute cruzado, o qual passa quase sobre a linha do gol, mas vai pra fora, e quando a partida fica mais equilibrada, Paulo Bin sente o joelho e sai, para a entrada de Santinho (artilheiro máximo do amadorismo). Até que o primeiro tempo termina, no exato instante em que Carlos Cézar cobra uma falta com violência, que passa com perigo, bem próxima da meta botafoguense. Logo chega a notícia de que Zé Mário estranhamente não se sentiu bem nos vestiários e quando voltam os times para a segunda etapa, é Paulo César quem surge em seu lugar.

E o Fogão até recomeça melhor, quando um escanteio batido pelo próprio Camassuti, encontra Dicão livre no segundo pau, mas ele cabeceia de nariz e perde o empate feito. Agnelli morde com raiva seu indefectível chapéu e manda Baldochi se aquecer, para substituí-lo.

Píter paga bronca geral na zaga e Alfredinho põe Ademar no lugar de Hélio e Guina no de Jair Bala, pra tornar o time mais ofensivo. Dá certo e o alvinegro engrena novamente. Agora Píter, o indelével “Rocha Negra” não dá mais chances à Antoninho. Ademarzinho põe fogo no jogo e Carrapato (um amador botafoguense), sobrecarregado, começa a pregar. Sócrates também sente o ritmo e é substituído por Gallo, numa clara tentativa de Agnelli, de fechar o meio-campo. Mas Carlos César está impossível: lança milimetricamente nas costas de Mineiro, para Mauricinho, que vai ao fundo e cruza para um sem pulo sensacional de Santinho: 2 a 0. Goool! Esgoela César Bruno, na cabine de rádio. Ao seu lado, Miguel Liporaci é só elogios rasgados ao Leão. O Botafogo procura segurar o jogo e no finalzinho, num choque feio entre Ferreira e Eurico, em disputa de bola, ambos deixam o campo, contundidos. Felizmente, não há limites de substituições.

Cicinho entra na lateral botafoguense e Benazzi, na comercialina. E no minuto final, é ele, Benazzi, quem centra para a área, onde Guina anota de cabeça, o terceiro. Mas Dulcídio anula, alegando ter havido carga no lance e encerra o jogo em 2 a 0. O Comercial diz que vai recorrer na Justiça Desportiva, mas o resultado está mantido.


Semana de muita expectativa até o segundo confronto. O assunto preferencial nas rodinhas do Pinguim e da Única. Especulações mil de ambas as partes (Zé Mário jogará?). Torcedores fazendo apostas dos dois lados, principalmente no programa “Balanga-Beiço”, onde os apresentadores Tiririca e Coraucci Neto sempre se defrontam e a rádio PRA-7 registra recordes de ligações.

A torcida do Botafogo não perdoa o técnico José Agnelli; pede sua cabeça, pois acha que o time deveria ter atacado mais, mesmo no alçapão adversário, conforme noticia o jornalista Márcio Morais, em sua coluna “Bolso de Repórter” do jornal A Cidade. A pressão chega a tal proporção que Jorge Vieira é chamado para o seu lugar e assume o time, prometendo mais “pegada”, convocando outros jogadores e realizando “treinos secretos”. Enfiado na concentração de Bonfim Paulista, o Comercial tem uma semana mais tranquila, só que Ferreira, contundido, não joga. Mas Alfredinho, velha raposa, faz mistério sobre isso, enquanto pelo lado tricolor, Eurico já é desfalque certo, conforme furo de reportagem de Wilson Toni.

Chega enfim o grande e decisivo dia! Sol escaldante, sábado, quatro da tarde! Desde as duas, não cabe mais ninguém na arena botafoguense (os portões foram abertos ao meio-dia). O “Santão” treme com a agitação da galera. E lá vem o Pantera, agora repaginado, desta vez sob o comando de Jorge Vieira, debaixo de um foguetório “daqueles”: Doni, Cicinho, Baldochi, Bordon e Carlucci; Paulo Rodrigues, Sócrates e Raí; Zé Mário, Antoninho e Paulo Egídio. Minutos depois, o Leão (também com algumas mudanças) recebe a “salva de vaias” do estádio e vai se confraternizar com sua torcida, em seguida: Leão, Benazzi, Jair Gonçalves, Píter e Toninho; Pedro Omar, Amaury e Jair Bala; Mauricinho, Paulo Bin e Carlos Cézar. A crônica esportiva aprova as modificações, que tornaram as equipes mais ofensivas e modernas. E, apesar da pressão comercialina, Dulcídio Wanderley Boschila foi mantido para arbitrar a segunda partida, que enfim, começa.

Início do jogo, o Fogão toma logo a iniciativa e parte pra cima, com tudo: de Paulo Rodrigues para Raí, daí a Sócrates e… Leããão, para escanteio! O Comercial é de certa forma, surpreendido com tamanho ímpeto inicial do adversário. Das arquibancadas então, vem uma pressão imensa.

Tabelinha Sócrates e Raí e Pedro Omar entra rachando em cima do rapaz. Falta de longe, na meia-esquerda, lá do meio da rua. Não tem problema: pro “canhão” Carlucci não tem distância e a bola chega “oval” no gol de Leão, que não quis barreira: 12 minutos de jogo, Botafogo 1 a 0. O “Santão” estremece. Sócrates é o melhor homem em campo, mesmo acompanhado de perto por Pedro Omar. Antoninho e Piter brigam titanicamente na área. Benazzi não pode descer tanto (como pretendia Alfredinho) para não tomar bola nas costas, com Paulo Egídio. Mesmo problema de Toninho, bastante fustigado por Zé Mário. Mas aos 35 minutos, um fato muda a história do primeiro tempo: numa arrancada de Paulo Bin, Baldochi entra pra matar a jogada. Bin acaba saindo de maca, aplaudido pelos bafudos e é substituído por Guina, enquanto um empurra-empurra se instala no gramado, dando muito trabalho para Dulcídio restabelecer a ordem.

Baldochi acaba expulso de campo e deixa o Bota com dez. O Comercial aproveita a catarse momentânea e empata o jogo, numa bola que Benazzi centra na meia-lua e encontra Carlos Cézar de frente. Ele sai da bola e no corta-luz, deixa-a limpinha pra Jair Bala colocar no cantinho: 38 minutos, 1 a 1. Nas tribunas, João Batista de Campos e Mário Ricci vibram juntos.

Um silêncio toma conta do estádio por alguns minutos, que só reacende quando Sócrates e Raí “invadem a casa comercialina” (como narra Helton Pimenta) numa tabelinha genial e Leão se atira aos pés do adversário, evitando gol certo. Fim de primeiro tempo. Torcedores roendo as unhas por todos os lados.

No intervalo, muita ansiedade. E a torcida do Comercial, comemorando além da conta, começa a ser molestada, a ponto do policiamento ser reforçado nas imediações, conforme informa Luiz Antônio “Espertinho”. Voltam os times pro segundo e derradeiro tempo. Ninguém muda. Apenas Vieira pede que os laterais não desçam e que Paulo Rodrigues recue um pouco, formando mais com a zaga. Atrás, só Bordon e os dois laterais. Sócrates conversa muito com os pontas: quer mais bolas altas na área, para aproveitar sua altura e a do mano Raí. E a partida finalmente recomeça!

Pressão total do tricolor e Jair Bala e Carlos Cézar começam a terem de vir buscar a bola da defesa para o ataque, pois o Leão do Norte não sai mais lá de trás. O “Canhotinha de Ouro” sente uma fisgada na coxa e deixa o campo, para a entrada de Rômulo, na esquerda. E se o dia é de Sócrates – o melhor em campo – Leão se torna o melhor do Bafo. Primeiro, fecha o ângulo em perigoso chute diagonal de Zé Mário. Depois, no reflexo, salva um cabeceio de Raí e quando finalmente é vencido por Paulo Egídio que o havia driblado, é Píter quem salva, em cima da risca.

Mesmo com o Fogão melhor, Jorge Vieira resolve mexer no time, partindo pro tudo ou nada: sai Paulo Rodrigues e entra Tim; sai Paulo Egídio e entra Mário Sérgio. O Pantera aperta, mesmo com quatro meias e dois atacantes, agora. O Bafo se segura como pode.

Então o dono do jogo arrebenta com tudo e numa nova tabelinha com o irmão caçula, deixa-o na cara do gol. Goool de Raí: 2 a 1 Botafogo, aos 30 minutos. Nas cabines de rádio, Wilson Roveri diz que o jogo é todo do Botafogo.


Imediatamente Alfredinho saca Jair Bala e entra com Thadeu Ricci para levar a bola até Mauricinho, Guina e Rômulo lá na frente. Ele não quer que o time recue tanto, sente o cheiro do perigo no ar. Orienta Amaury e Pedro Omar para não darem trégua ao ataque adversário e homem místico que é, reza no banco de reservas.

José Agnelli e seu chapéu estão agora na tribuna, ao lado do prefeito Costábile Romano, outro botafoguense doente. Nos minutos que se sucedem, a tática e a mandinga de Alfredinho dão certo e o jogo, de fato, fica lá e cá. Ricci joga o fino e Mauricinho inferniza Carlucci, que já é advertido verbalmente pelo juiz. Então Jorge Vieira joga suas últimas fichas: saca Raí e coloca Geraldão, deixando o time agora com dois goleadores natos. Em três minutos, o Fogão cria duas chances claras e o tosco Geraldão se incumbe de perdê-las.

Até que na terceira, ele Geraldão, recebe um centro rasteiro surpreendente de Mário Sérgio (que olha para um lado e cruza para o outro), atrapalha Antoninho e erra o chute, já na marca da cal, com Leão caído no meio de um bolo de jogadores. A bola triscada, vai saindo pela linha de fundo, mas Sócrates, o mais próximo, corre e a alcança, junto à trave. Desesperado, Jair Gonçalves empurra o “Doutor”, que mesmo desequilibrado, toca genialmente de calcanhar, às suas costas, antes que Dulcídio possa dar o pênalti.

A bola dramaticamente cruza a linha de gol na diagonal, antes que Píter possa alcançá-la, num carrinho em que leva grama e terra para o fundo das redes: são 41 minutos, Botafogo 3 a 1. Renê Andrade, atrás do gol, diz que o “juizão meteu a mão no Leão, tinha que dar o pênalti, pô!”. Agnelli joga seu chapéu para o alto. Costábile perde a compostura e salta abraçado, às lágrimas, feito um menino, junto do técnico portenho. Está tudo empatado e faltam só quatro minutos… haverá tempo, ainda?

Afinal, o Pantera sempre teve a sorte a seu favor, enquanto que o Comercial… Alfredinho grita para Ricci e Rômulo recuarem, pede para Guina ficar sozinho como meia e manda Mauricinho brigar lá na área . Já Vieira insiste para que o time desça todo para o ataque. O Botafogo luta, com todas as suas forças. O Comercial não se entrega.

Geraldão se joga na área, a torcida quer o pênalti, Boschila não vai na onda. Mas é o Comercial que aos 45, assusta: contra ataque com Guina, que se livra de Tim e aproxima-se velozmente da área, atrai a marcação de Bordon e serve Mauricinho, já no desespero. Mesmo desequilibrado, ele bate forte, da meia lua. E é a vez de Doni, salvar, com a ponta dos dedos, colocando para escanteio.

O simpático Salim, da “TUC”, torcedor-símbolo do alvinegro, leva as mãos à cabeça. Do outro lado do estádio, à frente da “Dragões”, é o robusto Pidão, chefe da torcida tricolor, quem arranca os cabelos e diz que “mais uma dessas e eu infarto aqui mesmo”. Felizmente não há tempo pra isso acontecer. Pois assim que Mauricinho apanha a bola para cobrar o escanteio, Dulcídio encerra a partida. Os comercialinos protestam: querem a cobrança, já que teria de haver acréscimos. O árbitro não lhes dá ouvidos e os comercialinos dizem que sempre são perseguidos pela FPF e que irão recorrer. Cria-se novo tumulto no gramado.

Por sorte, uma inesperada invasão mista de torcedores, logo debelada parcialmente pela polícia, acaba por ajudar a arbitragem a deixar o campo, enquanto o prefeito, os presidentes dos clubes e demais autoridades chegam ao gramado e entregam o troféu… para os dois capitães!

Isso porque, como não havia previsão de desempate estabelecido no regulamento, não poderá haver cobranças de penalidade e ambos os clubes são declarados “campeões eternos”. O Botafogo apanha o troféu e sai para dar a volta olímpica junto à sua torcida, que é maioria em seu estádio. O Comercial protesta, alegando que por ter marcado um gol na casa do adversário, esse valeria dobrado e o título teria que ser seu.

E diz que vai recorrer. 

Gatãozinho

A FORÇA E A TRADIÇÃO DO FUTEBOL CAIPIRA

Se hoje os times do interior paulista estão dando show no campeonato estadual, batendo de frente com os times considerados grandes, há aproximadamente 50 anos as disputam eram ainda mais acirradas e o craque Gatãozinho relembrou aquela fase maravilhosa do nosso futebol. Em uma resenha muito bacana com o parceiro Kal Mattus, na sua casa em Piracicaba, o ex-jogador passou a limpo a sua carreira e fez uma verdadeira viagem no tempo.

Meia-esquerda habilidoso, filho do centroavante Gatão (ex-Corinthians), Gatãozinho é o jogador que mais vezes vestiu a camisa do São Bento, com 367 partidas disputadas e garante que vai ser difícil ultrapassarem:

– Hoje em dia, o campeonato tem 20/30 jogos e os jogadores fazem contrato de 1 ou 2 anos, no máximo! É muito legal esse reconhecimento! O clube sempre me liga para convidar para as festas e relembrar esse feito!

No São Bento, foram sete anos de contrato, de 74 a 81, e, segundo o próprio, muita regularidade:

– Eu não era um super craque, mas eu era um jogador muito regular, não me machucava! Sempre com uma boa condição física e é por isso que eles me adoravam!

Após construir uma linda história no clube, foi em busca de novos desafios e se transferiu para o Juventus-SP, onde ficou por mais sete anos e não demorou a cair no gosta da torcida. Logo no primeiro ano, conseguiu a façanha de participar de todos os 38 jogos da temporada e, por isso, recebeu um carro de presente da diretoria. Não por acaso, Gatãozinho foi escalado na seleção de todos os tempos do Juventus e conquistou a Taça de Prata por lá!

Tudo andava muito bem no clube, até que surgiu uma excelente proposta do Bragantino, que estava montando um elenco forte e precisava de um jogador experiente. Apesar do desejo da diretoria em manter o craque no Juventus, Gatãozinho viu o projeto com bons olhos e arrumou as malas para um novo desafio.

Comandado por Luxemburgo, fez parte daquele time que tirou o Palmeiras da fase final do estadual de 1989 e tinha como companheiros: Zé Rubens (ex-Guarani), Gil Baiano, Valmir (ex-Ponte Preta), Mário (ex-Guarani), entre outros.

Foi em Bragança, inclusive, que Gatãozinho viveu uma das maiores emoções da sua carreira:

– Naquele que seria o último jogo da minha carreira, meu pai estava no estádio, eu fiz o gol da virada do Bragantino e fui lá no setor em que ele estava comemorar! Foi uma emoção muito grande ouvir o estádio cantando meu nome!

A emoção foi tanta que Gatão Pai passou mal e precisou de atendimento médico:

– Sorte que eu só soube disso depois da partida! Caso contrário, ia perder a concentração! – lembrou Gatãozinho.

Muitos não sabem, mas o Braga até tentou fazer a cabeça do craque para continuar jogando por lá. Contudo, a proposta não agradou e o São Bento apareceu novamente no caminho dele para um final de carreira digno.

No apagar das luzes da resenha, Gatãozinho revelou que seu pai nunca fazia elogios ao seu desempenho. Mesmo quando fazia chover, Gatão Pai conseguia achar algum ponto para criticar. O que Gatãozinho não sabia, no entanto, era que tratava-se de uma forma de incentivar:

– Quando ele falou “Você representou muito bem a nossa família! Você foi um orgulho pra mim” foi um dos dias mais emocionantes da minha vida!
 

 

FERNANDO DINIZ É UMA MIRAGEM

por Wilker Bento


Em 2016, quem mais chamou atenção no Campeonato Paulista foi o Audax, com sua campanha surpreendente. Um time marcante, que foi vice-campeão e projetou nomes como o goleiro Sidão e o meia Tchê Tchê. Mas o maior destaque daquela equipe foi o técnico Fernando Diniz. Com passagens por grandes clubes como jogador nos anos 1990 e 2000, Diniz apareceu no cenário nacional como treinador após a façanha no clube de Osasco. Na época, o futebol brasileiro ainda lambia as feridas do 7×1, com técnicos experientes sendo severamente questionados. Foi naquele mesmo ano que Vanderlei Luxemburgo, em entrevista ao programa “Bem, Amigos!”, se defendeu das críticas ao responsabilizar Felipão, e não os técnicos brasileiros em geral, pelo vexame na Copa de 2014.

Depois de uma passagem pelo Oeste e retorno ao Audax, finalmente Diniz ganhou uma oportunidade em um clube de Série A, ao ser contratado pelo Athletico Paranaense, em 2018. No Furacão, clube que cultivou imagem de modernidade e ambição nos últimos anos, tudo dava a entender que o treinador teria sucesso. Não foi o que acabou acontecendo. O time não correspondeu e Diniz foi demitido em menos de seis meses, com irrisório 34% de aproveitamento, deixando o clube na vice-lanterna do Brasileirão. O discurso dos defensores do técnico era pronto: o Athletico não tinha um time com bom material humano e condições para que o comandante botasse suas ideias em prática; faltou tempo e paciência. Porém, Tiago Nunes assumiu e levou o rubro-negro à conquista inédita da Copa Sul-Americana.

No ano seguinte, Diniz chegou ao Fluminense, mantendo a mesma filosofia de jogo, com posse de bola e busca por um futebol vistoso. O resultado, porém, foi péssimo: deixou o Fluminense na 18ª colocação do Campeonato Brasileiro. Novamente, a falta de paciência e boas condições de trabalho foi utilizada como justificativa – que, nesse caso é mais aceitável, já que o tricolor carioca vive uma crise há alguns anos. Mesmo assim, o treinador ganhou uma chance no São Paulo, que também passa por um momento difícil, mas não tanto quanto o Flu. E o mais recente capítulo dessa trajetória foi a derrota de 3×2 para o Mirassol, com o Soberano sendo eliminado nas quartas de final do Campeonato Paulista. Detalhe: o Leão perdeu 18 jogadores por causa da pandemia, e teve que completar o elenco com juniores e atletas contratados especialmente para a partida – como Zé Roberto, autor de dois gols. Sim, o São Paulo foi eliminado por um “catadão”.

Fernando Diniz é uma miragem, fruto da carência tática que o futebol brasileiro vive, um treinador que só cai para cima, blindado por suas supostas boas ideias, por parecer emular uma versão brasileira do tiki-taka. Seu modelo de futebol não tem efetividade: muita teoria e pouca prática, muita posse de bola e pouca bola na rede. Uma filosofia onde se confunde futebol arte com derrotismo, pois não consegue ser bonito como propõe e muito menos vencedor.

Gênios precisam comer muito arroz com feijão antes de serem alçados a tal posto. Como ocorreu com muitos técnicos que, de forma semelhante, começaram chamando atenção em equipes menores e depois adquiriram boa reputação no mercado. É preciso saber semear no pouco antes de chegar ao muito. Senão, qual será a desculpa da vez? Que o time do São Paulo também não tem nível para a implementação de suas ótimas ideias? Talvez um projeto de longo prazo no Liverpool?

Para evoluir e exercer todo seu potencial, Fernando Diniz precisa rever alguns de seus conceitos, corrigindo a defesa e abandonando o robotismo, para melhorar e se tornar, finalmente, um grande técnico. Todo defeito tem o seu oposto igualmente ruim, e hoje ele é a distorção oposta do futebol de resultados e do imediatismo, porque não se pode dar prazos e inúmeras oportunidades ao que é claramente ruim. Só o equilíbrio poderá levar o treinador – e o futebol brasileiro – a momentos mais felizes.

A PUREZA EM PESSOA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Talvez não interesse a ninguém o meu choro, mas choro a cada morte anunciada na tevê. O mundo mascarado, políticos roubando respiradores, estádios vazios e o vírus devastando famílias. Outro dia soube que um senhor do andar de baixo estava contaminado por esse vírus maldito. Claro que quando esses casos atingem pessoas mais próximas, vizinhos e familiares ficamos mais assombrados ainda. É sinal que ele existe mesmo e nos aniquila, esfrega na nossa cara o quão somos frágeis. O futebol não me serve mais como distração e fico zapeando até encontrar algo que me anestesie. Olha o Wilson Simonal! Um showman! Olha que apresentação com a diva Sarah Vaughan!! Simonal foi um artista fora de série, se nascesse nos Estados Unidos seria um astro de Hollywood, da Broadway, mas aqui foi só mais um morto pelo vírus, não o Corona, mas o da injustiça e maldade.

Mudei de canal e parei em uma apresentação dos festivais da canção, que fizeram sucesso nas décadas de 60 e 70. O cantor Sergio Ricardo, que nos deixou há alguns dias, estava prestes a se apresentar. Ia cantar “Beto Bom de Bola”, mas já no anúncio a platéia caiu na vaia. Chorei porque fui muito vaiado em minha carreira. E não foi pouco. Mas ele perdeu a paciência e quebrou o violão. A platéia estava tomada pelo vírus da falta de respeito e educação. Os vírus sempre nos rondaram, alguns matam, outros nos envergonham, nos corroem aos poucos. Quero dormir, mas tenho medo dos pesadelos. Acordado tento controlá-los. Nos meus tempos de doidão já teria cheirado várias carreiras e entornado duas garrafas de champanhe. Mas, hoje, encaro todos os vírus de frente, estou puro há 20 anos. Nada me abala, mas choro,  tenho chorado muito.

O jornalista Pedro Mota Gueiros me definiu como agridoce, um doce reclamão. Sou amigo de muitos jornalistas e discordo do pensamento de grande parte dos que habitam as mesas redondas atuais. Mas é apenas uma questão de ”gosto futebolístico”, assim como não aprovo a escola gaúcha e muitos deles a reverenciam. Prefiro Telê mesmo perdendo duas Copas a Felipão ganhando uma. Da mesma forma que muitos não gostavam do meu futebol. E por falar em mesa redonda, mudo de canal e me deparo com o anúncio da morte inaceitável do jornalista Rodrigo Rodrigues. Há tempos venho evitando os programas esportivos, mas quando ele estava apresentando eu sempre dava uma paradinha e acabava ficando porque ele carregava uma pureza, um ar juvenil, raro nos dias de hoje.

Era como se discutisse futebol em uma roda de amigos da faculdade. Não era um especialista, um sabe tudo ou um desses que buscam audiência a qualquer preço. Era um menino, não sei a idade, mas era um menino, sim. Misturava música com futebol e isso fazia toda a diferença. Por isso, admiro tanto o jornalista João Carlos Albuquerque, um Canalha agridoce, que enxerga o futebol como uma bela canção. Futebol é suingue, dança, balé. Desliguei a tevê e fui caminhar na praia, chorar mais um bocado. No banco do calçadão, um jovem tocava violão, uma afinação de aliviar a alma. Seria um violonista imaginário? Talvez. Sentei-me a seu lado. O músico parecia Rodrigo, talvez fosse. Me senti protegido, amparado e, juntos, miramos o mar por horas e horas.

O DIA EM QUE MARADONA E PLATINI JOGARAM NO MESMO TIME

por Bruno Sentone


Platini e Maradona lado a lado em raro registro vestindo o mesmo uniforme.

Não é nenhuma novidade que Maradona e Platini já jogaram juntos. Porém, sempre como rivais, cada qual vestindo uma camisa diferente. Mas você sabia que os craques também já atuaram pela mesma equipe?

O ano era 1987. A Argentina era a atual seleção campeã do mundo (1986) – de uma Copa marcada pela partida contra a Inglaterra e, principalmente, por “la mano de Dios”. O ótimo desempenho de Diego Maradona na competição o fez ser eleito como melhor jogador daquele ano*. Na Itália, o Napoli vivia seu auge até então. O clube conquistou seu primeiro campeonato italiano da série A e, poucos dias depois, venceu a copa da Itália. Todas dúvidas e/ou críticas que ainda podiam haver acerca do Maradona – ao menos, dentro de campo – deixaram de existir.

Enquanto isso, na Juventus, Michel Platini encerrava sua carreira, ainda em alta, com apenas 32 anos. Apesar da idade, aparentemente, precoce para pendurar as chuteiras, o francês já era o melhor jogador do mundo por três anos consecutivos (1983, 84 e 85) e ostentava uma coleção invejável de títulos e mais prêmios individuais.


Platini e Maradona já tinham se enfrentado outras vezes antes. Era um confronto parecido com o de Cristiano Ronaldo x Lionel Messi. No entanto, da década de 80, quando Juventus x Napoli era o grande jogo da Europa.

Não muito distante dali, a Football League (resumidamente, como o sistema de futebol inglês era chamado até 1992) estava prestes a completar 100 anos de existência (1988). E, para comemorar seu centenário, a entidade anunciou uma série de eventos, que começaram a ser realizados ainda em 1987. A celebração, de modo geral, foi um verdadeiro fiasco. Não foi bem planejada, nem cativou o público, tanto que, logo, caiu no esquecimento, como se nunca tivesse acontecido. Porém, um evento em específico foi, relativamente, um sucesso, se comparado aos demais.

No dia 08 de Agosto de 1987, o Wembley atraiu mais de 60 mil torcedores para presenciar uma partida excepcional, intitulada “Football League XI x Resto do Mundo XI”. Ou seja, entre os melhores jogadores atuando na Inglaterra e – como o próprio nome sugere – do restante do futebol mundial. A quantidade de espectadores só não foi ainda maior pois o jogo também foi televisionado.

O técnico da seleção inglesa daquela época, Sir Bobby Robson, ficou encarregado de convocar quem jogaria pelo Football League XI e – pelo lado do Resto do Mundo XI – a responsabilidade ficou por conta do, então, treinador do Barcelona, Terence Venables.

Ao contrário do que se vê hoje em dia, o campeonato inglês da década de 80 não possuía tantos atletas estrangeiros. O elenco formado por Bobby serve de exemplo: continha apenas um único jogador que não era britânico ou irlandês.

A tarefa foi um pouco mais complicada para Terry. Afinal, suas opções de jogadores para organizar uma equipe com somente 11 estrelas eram inúmeras, abrangiam os seis continentes, e nem todos aceitavam o convite do técnico e do órgão inglês. Van Basten e Ruud Gullit foram alguns dos nomes que se recusaram a participar da atração.

Apesar disso, o evento contou com o recém-aposentado Michel Platini – que faria sua primeira e única partida no estádio de Wembley – e com Diego Maradona, convencido a comparecer após receber, antecipadamente, 100 mil libras por sua presença.

Dessa forma, as escalações de ambos técnicos ficaram assim:

Football League XI – Peter Shilton, Kenny Sansom, Richard Gough, Paul McGrath, Bryan Robson, Chris Waddle, Neil Webb, Peter Beardsley, Liam Brady, Clive Allen e John McClelland;


Convidado de honra, Pelé conversa com Platini, enquanto Maradona escuta atentamente.

Resto do Mundo XI – Rinat Dasayev, Glenn Hysén, Thomas Berthold, Salvatore Bagni, Julio Alberto Moreno, Diego Maradona, Celso Gavião (brasileiro | Porto-PT), Paulo Futre, Josimar Higino Pereira (brasileiro | Botafogo-BR), Gary Lineker e Michel Platini.

Antes da bola, finalmente, rolar, outro episódio – não menos emblemático – marcou a cerimônia de abertura: o convidado de honra Pelé participou da entrada das duas equipes e cumprimentou cada jogador individualmente. Ao fim, deixou o campo por um corredor formado pelos maiores craques mundiais do momento, sob os aplausos de todos presentes naquela tarde cinzenta em Wembley.

Apesar da atmosfera bastante descontraída, havia uma enorme preocupação girando em torno de como Maradona seria recebido em Londres. A organização do evento solicitou, previamente, aos torcedores que respeitassem o argentino, com receio de que o pior pudesse acontecer. E não ocorreu. Mas o pedido também pareceu ter sido ignorado. Desde que pisou no gramado, Maradona foi vaiado em cada participação, fosse sendo apresentado ou mesmo tocando na bola. Independentemente disto, Diego começou o jogo, nitidamente, indisposto. No entanto, não demorou muito para que, logo, mostrasse porque já era considerado o melhor do mundo.

Platini, por sua vez, foi ovacionado assim que entrou em campo e aproveitou cada minuto da partida, desde o apito inicial. Era sua única exibição em Wembley, então, o francês fez questão de se divertir e encantou a todos com sua alegria nos pés.

Enquanto o Resto do Mundo XI levava a partida na esportiva, como o amistoso que, de fato, era, a Football League XI jogava – com o apoio da torcida – para ganhar. Esta condição deu a vitória ao time anfitrião por 3×0. Confira os gols:

*em 1986 e 87, Maradona foi eleito – pela revista francesa Onze Mondial – como melhor jogador do mundo, ganhando, assim, o Onze d’Or (Onze de Ouro). Até 1995, a Bola de Ouro ainda era restrita exclusivamente aos atletas europeus e o prêmio da FIFA seria criado somente mais tarde, em 1991.