Paulinho Massariol
O GOLEADOR COM A CRUZ DE MALTA NO PEITO
Nosso correspondente de Piracicaba, Kal Mattus foi até a casa de Paulinho Massariol para saber mais sobre a carreira do artilheiro que começou no XV de Piracicaba e logo ganhou visibilidade nacional!
Filho do zagueiro Idiarte, jogador que mais vezes vestiu a camisa do XV, Paulinho carrega o talento no sangue e, desde novo, se acostumou a balançar as redes adversárias. Logo assim que subiu para os profissionais, foi vice-campeão do Paulista de 1976, sendo derrotado pelo poderoso Palmeiras na grande decisão.
O talento chamou a atenção dos times de ponta do Brasil e o Vasco seduziu o goleador com uma proposta irrecusável. Garoto do interior, chegou a São Januário em 77 repleto de malas e não foram poucas as noites em que dormiu embaixo das arquibancadas.
No ano seguinte, terminou o Campeonato Brasileiro como o grande artilheiro, com 19 gols marcados, jogando ao lado de Dinamite, Abel, Marco Antônio e companhia.
Durante o papo, Paulinho não escondeu a sua indignação com os “artilheiros” de hoje em dia, que balançam a rede 10 vezes por ano e são idolatrados pela torcida!
Assista ao vídeo acima e confira a resenha completa!
Oriel
O GOL CONTRA DO ARTILHEIRO
O personagem de hoje, infelizmente, já não está mais entre a gente. A batalha contra o álcool foi dura e cruel, sendo o capítulo final no dia 17 de maio de 2020. Contudo, a história do “incrível Oriel” merece ser lembrada e, graças ao parceiro Kal Mattus, poderemos saber um pouco mais sobre o centroavante do XV de Novembro de Piracicaba nos anos 80.
Tendo iniciado a carreira no Valério Doce de Itabira-MG, Oriel se destacava, sobretudo, pela força física e é daí que vem o apelido de “incrível”. Embora não fosse muito alto, travava duelos de sair faísca com os zagueiros grandalhões e quase sempre levava a melhor!
De 1979 a 1982, o goleador defendeu as cores do XV de Piracicaba e um dos momentos mais marcantes pelo clube ocorreu no dia 25 de maio de 1980, quando Oriel marcou o gol da vitória contra o Corinthians de Zé Maria, Biro-Biro, Sócrates e companhia, em pleno Pacaembu.
Antes de pendurar as chuteiras e virar treinador, passou ainda por Bandeirantes do Paraná, Marcílio Dias, Pinhalense, União Barbarense, Paulista de Jundiaí e, por fim, Barretos FC. Como treinador, Oriel foi campeão invicto da Copa Metropolita pela categoria de base do XV de Piracicaba, além de levar a categoria infantil do alvinegro para a primeira divisão do campeonato estadual!
Dê o play no vídeo acima e saiba mais sobre a carreira do saudoso centroavante!
O GOLEIRO DE INCRÍVEIS MARCAS
por André Luiz Pereira Nunes
O goleiro Carlos Germano, o qual aniversaria hoje, tinha tanta identificação com o Vasco que certa feita proferiu uma declaração que ficou marcada.
– Em todos os outros clubes em que atuei, com exceção do Penafiel, enfrentei o Vasco. Mas vestir rubro-negro nem pensar! – afirmou em referência à contundente antipatia pelo rival Flamengo.
Com passagem longa e marcante pelo Gigante da Colina na década de 90, o arqueiro, nascido na cidade capixaba de Domingos Martins, em 14 de agosto de 1970, foi mais uma grata revelação de São Januário, fazendo valer a tradição de grandes guarda-metas formados pelo clube. É responsável pela incrível marca de 632 jogos, entre 1990 e 1999, sendo o segundo jogador que mais atuou pelo time, perdendo apenas para o ídolo Roberto Dinamite. Na Colina, o goleiro ainda atingiu o feito histórico de 933 minutos sem tomar gols, entre os dias 24 de novembro de 1991 e 27 de setembro de 1992.
Suas excelentes atuações o levaram à Seleção Brasileira pela qual atuou por 8 jogos. O ápice de sua prestigiosa carreira ocorreu em 1998, quando fez parte do elenco titular que perdeu a final do Mundial Interclubes, no Japão, frente ao Real Madrid. No mesmo ano participara da Copa do Mundo como reserva imediato de Taffarel naquela equipe derrotada na fatídica decisão diante dos anfitriões franceses. Vale ressaltar que no ano anterior havia esbanjado técnica, elasticidade e segurança durante a disputa do Campeonato Brasileiro. Na decisão contra o Palmeiras fechou o gol com defesas magistrais, garantindo o título para São Januário.
Pelo Vasco ganhou muitos títulos, entre os quais, o Campeonato Estadual em 1992, 1993, 1994 e 1998, o Brasileiro de 1997, a Libertadores de 1998 e o Torneio Rio-São Paulo de 1999. Pela Seleção Brasileira conquistou o Campeonato Sul Americano Sub-20, em 1988, e a Copa América de 1997.
Deixou o Vasco, em 1999, brigado com a diretoria, após não entrar em acordo no processo de renovação de contrato. Depois da longa estada em São Januário, transitou, já sem o mesmo brilho, por Santos, Portuguesa, Internacional, Botafogo, Paysandu, America-RJ e Madureira, encerrando a carreira, em 2005, no Penafiel, de Portugal. Em 2008, iniciou a trajetória de preparador de goleiros, trabalhando no Vasco durante seis anos.
Em 2001, ainda participou do grupo que disputou a Copa das Confederações dirigido por Émerson Leão. Contudo, quando Luiz Felipe Scolari assumiu o comando técnico da Seleção, Germano ficou de lado e infelizmente acabou vendo o pentacampeonato pela televisão.
O MÉDICO E O MONSTRO
por Valdir Appel
Em 1969, o Vasco abriu as portas para dois jovens talentos: o ex-craque Evaristo Macedo e o ortopedista Arnaldo Santiago.
O técnico Evaristo, culto e educado, fazia questão de passar uma imagem de um sujeito sarcástico e gozador, e usava constantemente palavrões no meio da boleirada.
Caminho mais curto, segundo ele, para a comunicação com os jogadores.
Em contrapartida, Arnaldo se portava como um gentleman dentro e fora das quatro linhas do gramado e procurava desesperadamente melhorar a educação e o nível cultural da rapaziada.
Orientava e chamava a atenção dos que falavam palavrões, tarefa nada fácil, já que Evaristo não colaborava, por pura sacanagem.
Evaristo fazia suas preleções colocando-se estrategicamente de costas para a saída do túnel que dava acesso ao campo em São Januário, pedindo que os jogadores o avisassem quando da aproximação do doutor Arnaldo.
Assim que o médico apontava no túnel, um jogador entregava:
– Lá vem o doutor!
Imediatamente, Evaristo aumentava o volume da voz e desfilava todos os palavrões do seu amplo repertório.
O doutor Arnaldo aproveitava o embalo, fazia meia volta e retornava ao departamento médico, com todo mundo caindo na gargalhada.
O HOMEM DE PAPEL QUE DESAFIOU HITLER
por André Luiz Pereira Nunes
A seleção da Áustria não é exatamente uma referência em Copas do Mundo. Seu melhor retrospecto ocorreu em 1954, quando ficou na terceira colocação. Sua participação mais recente foi na Copa da França, em 1998. Mas, mesmo tendo apenas sete presenças em mundiais, o país merece ser lembrado pelo que representou o seu maior astro de todos os tempos, apelidado de “Pelé do Danúbio” e “Homem de Papel”.
Matthias Sindelar, craque da década de 30, era alto, magro e se destacava pela leveza, velocidade e habilidade em campo. Sua presença fora fundamental para que a seleção austríaca ficasse conhecida como “Wunderteam” (time maravilha). Vencedora da Copa Internacional da Europa Central, em 1932, chegava à Copa de 1934 como uma das favoritas, tendo vencido ou empatado 28 das 31 partidas anteriores ao mundial.
Apesar de ter eliminado França e Hungria nas oitavas e quartas de final, respectivamente, os austríacos capitularam diante da anfitriã e futura campeã Itália, na semifinal, cotejo que os especialistas europeus definiram como decisão antecipada. Porém, cabe ressaltar que a seleção italiana era formada por atletas de várias nacionalidades. Além de italianos, contava com quatro argentinos vice-campeões, em 1930, e até um brasileiro: Filó. Benito Mussolini, ditador à época, e anfitrião do torneio, não medira esforços, alguns nem um pouco honestos, diga-se de passagem, para que seu time fosse campeão.
Por ser nascido em 1903, Sindelar provavelmente não teria condições físicas de atuar na Copa de 1938, pois naquela época a carreira de um jogador era extremamente curta. Apesar disso, aos 35 anos, seguira sempre como titular da equipe, sendo imprescindível na campanha do vice-campeonato de seu país nas Olimpíadas de 1936, novamente com derrota para a Itália.
O próximo desafio seria a Copa de 1938, competição à qual a Áustria havia se classificado. Entretanto, o destino tinha outros desígnios. Em 12 de março, a apenas três meses do início do mundial, Adolf Hitler invadiu a nação para anexá-la à Alemanha nazista. Em um mês a jovem república parlamentarista se transformara em mais uma província do Terceiro Reich. Entre várias das intenções, uma delas era emular Benito Mussolini. Porém, havia uma ressalva. Os alemães não hospedariam a competição, disputada dessa vez na França, e tampouco formavam uma grande seleção. Tendo invadido a Áustria, Hitler pensava em ter resolvido a equação, pois contaria com os austríacos para reforçar a Alemanha.
Contudo, ao contrário de vários de seus companheiros, Sindelar não só se recusou a ser alemão como ainda rechaçou a ordem do Führer em integrar o time alemão. Provavelmente não existe relato similar no futebol de maior atitude de destemor e fidelidade do que a protagonizada por esse craque, injustamente esquecido nos dias atuais, que pagou com a vida a recusa em cumprir ordens do maior crápula da história da humanidade.
72 horas após a anexação da Áustria, Hitler solicitara que oito dos principais jogadores da seleção austríaca fossem imediatamente incorporados ao escrete alemão. Ganhar a Copa do Mundo seria uma questão de honra para o fortalecimento do regime nazista, além de igualar o feito protagonizado por Mussolini no mundial anterior. Cabe ressaltar que a Áustria seria candidata favorita ao título máximo, pois vivenciava a sua melhor fase de todos os tempos. Goleara a Alemanha por 5 a 0 e 6 a 0, a Suíça por 6 a 0, a Escócia por 5 a 0, e a grande rival Hungria por 8 a 2, com três gols de Sindelar. A “Escola do Danúbio”parecia mesmo não ter rival à altura. Quiseram todavia os deuses do futebol que a escalada rumo ao topo fosse interrompida ironicamente por um austríaco de nascimento, o qual não costumava se orgulhar de sua origem.
Hitler resolveu então celebrar a incorporação do país vizinho justamente com uma partida de futebol envolvendo a Alemanha nazista e os austríacos, os quais fariam a última partida por sua seleção. Sindelar, não só atuou brilhantemente como ainda comemorou seu gol, o primeiro do jogo, de maneira efusiva e extravagante defronte ao palco das autoridades nazistas numa clara demonstração de deboche e desafio. A derrota por 2 a 0, além da provocação do craque austríaco, foram um verdadeiro acinte para as autoridades invasoras. Sindelar ainda não sabia, mas esta seria a sua última partida oficial.
Joseph Goebbels, ministro da Propaganda Nazista, ainda acenou com a proposta de que todo o mal-estar seria devidamente esquecido caso Sindelar defendesse a Alemanha na Copa do Mundo de 1938 e o time fosse campeão. O craque recusou a proposta alegando estar “gravemente machucado”. Ainda avisou estar se aposentando dos gramados oficiais. A negativa selara o seu destino.
A vaga da Áustria não foi preenchida. A FIFA ainda chegou a convidar a Inglaterra para substituí-la, mas os ingleses não aceitaram a proposta. Mesmo contando com alguns austríacos, a Alemanha acabou eliminada de cara no mata-mata pelos suíços. A vergonha fora tamanha que vários amigos de Sindelar foram perseguidos. O craque resolveu então abrir uma cafeteria, mas os nazistas não lhe davam trégua, arrumando problemas todas as semanas.
Seis meses mais tarde, em 23 de janeiro de 1939, o corpo de Mattias Sindelar foi encontrado por bombeiros de Viena ao lado de sua companheira, a italiana Camilla Castagnola. Contava com apenas 35 anos. A versão oficial apontou a causa da morte como asfixia por vazamento de monóxido de carbono, um acidente relativamente comum naquele tempo. Apesar disso, não faltou quem suspeitasse que se tratasse de suicídio por conta da pressão exercida pelos alemães, ou mesmo de assassinato cometido pelos nazistas. Anos depois, foi revelado que a Gestapo investigou Sindelar por suspeitas de que ele fosse “”pró-judeu” e “social-democrata”.
Sindelar foi enterrado no mesmo cemitério, na capital, onde repousam os restos mortais de Brahms, Beethoven, Strauss e Schubert. A rua na qual o “Pelé do Danúbio” nasceu foi rebatizada com seu nome. Estima-se que o funeral do craque levou de 15 a 20 mil pessoas ao Cemitério Central de Viena. Em 1998, foi eleito o atleta austríaco do século.