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RÁDIO JOVEM OLARIA ESTÁ DE VOLTA

por André Luiz Pereira Nunes


Uma web rádio é uma rádio digital ou online, como muitos conhecem, que é transmitida em tempo real por streaming pela internet. A grande sacada é que elas funcionam de forma simples, utilizando um servidor que emite programas ao vivo ou gravados.

Pioneira em transmissões de jogos via internet, a Web Rádio Jovem Olaria, fundada a 18 de setembro de 2010, está de volta à cobertura das partidas do Olaria Atlético Clube. Criada sem fins lucrativos por Clécio Vianna, a equipe conta com Luiz Cláudio Colão, Bruno Soares, Arthur Neto e o intrépido Paulo Roberto Rodrigues, este último, o maior especialista em cobertura de categorias de base e divisões menores do Rio de Janeiro. O idealizador da rádio, o professor Clécio Vianna, agora cuida da parte técnica.

Meu amigo de mais de três décadas, Arthur Neto, torcedor e sócio da equipe da Rua Bariri me informou que a reativação da rádio para voltar a veicular jogos custou uma quantia considerável. Mas o resultado trará inúmeros benefícios. Pois, além de divulgar a tradicional agremiação leopoldinense, hoje partícipe da modesta Série B1 do Rio de Janeiro, aproxima sócios, torcida, comércio e amantes do futebol em torno da cobertura do Campeonato Estadual da Segunda Divisão, infelizmente tão carente de recursos e de notícias. Em tempo de isolamento social, a função prestada por esse e outros veículos ganha enorme envergadura.

– Sempre fizemos esse trabalho com muito carinho. A imprensa esportiva, em geral, trata infelizmente os clubes de menor investimento com tremendo descaso. Fora a internet, não lemos nem ouvimos notícias sobre São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Campo Grande e tampouco Bangu e America. O futebol se elitizou de tal maneira que essas tradicionais agremiações se tornaram invisíveis aos olhos do público. A Federação se resume apenas a cobrar taxas, multar e penalizar os que não cumprem as cada vez mais pesadas e difíceis regulamentações. No entanto, se esquecem que os times menores são verdadeiros celeiros de craques, formadores de novos talentos. Pelo Olaria já passaram inúmeros atletas que depois se consagrariam em grandes centros. Sem contar, o papel social que o futebol desempenha, pois retira o jovem da ociosidade, do crime. Daí a importância e a grandeza do nosso trabalho, inclusive pioneiro na transmissão de jogos da Segunda Divisão! – reitera.

Sobre o atual Olaria, Arthur Neto é realista. 


– O time não vem fazendo boas campanhas nos últimos anos. Não lembra de nem de longe a equipe campeã brasileira da Taça de Bronze, em 1981, a qual contava com nomes como Lulinha e Chiquinho, que posteriormente atuaria no Flamengo e ainda foi vice-campeão brasileiro, em 1986, pelo Guarani. O Olaria, antes presença obrigatória no Campeonato Estadual da Série A do Rio, assim como o Bonsucesso, atualmente patina para se manter na mesma divisão e não contrair tantas dívidas. Afinal de contas, não tem apoio de prefeitura como os demais do interior. É uma agremiação de bairro. Mas sempre temos que manter a esperança em dias melhores. Por isso a Web Rádio Olaria voltou com força total às transmissões esportivas.

O maior reforço para a cobertura é, sem dúvida, o repórter Paulo Roberto Rodrigues. Natural de Santo Antônio de Pádua e torcedor do Flamengo e e Paduano, é conhecido entre os amigos como Paulão. Trata-se de um guerreiro, além de profundo conhecedor do futebol do Rio de Janeiro. Membro do mais antigo site em funcionamento que promove a cobertura das divisões menores do futebol do Rio, o Papo Esportivo, fundado pelo decano e companheiro de inúmeras jornadas, Jota Carvalho, Paulo Roberto acumula décadas na árdua missão de trazer novidades de times da capital e do interior por intermédio da imprensa falada e escrita.

Esse ano, possivelmente, o Olaria pode não estar entre os mais cotados para voltar à elite do futebol fluminense, mas em relação à divulgação, o público não ficará mesmo na mão. 

CHULAPA É REDE

por Luis Filipe Chateaubriand


Sérgio Bernardino, o Serginho Chulapa, era uma máquina de fazer gols!

Revelado pelo Marília, rapidamente se transferiu ao São Paulo, em 1973. Jogou quase dez anos no tricolor paulista. Posteriormente, esteve no Santos, teve breve passagem pelo Corínthians, voltou ao Santos, saiu para Portugal. Em seus périplos dos anos seguintes, sempre teve no Peixe seu porto seguro, voltando à Vila Belmiro, como filho pródigo.

É difícil, assim, afirmar se sua maior identificação é com o alvinegro praiano, onde teve várias passagens inclusive na carreira pós jogador, ou no tricolor paulista, onde é o maior artilheiro da história até hoje.

Canhoto, tinha uma relativa habilidade, mas fazia do seu corpo avantajado um instrumento para ter vantagem no embate com os zagueiros. Era goleador nato. Também fazia com maestria o trabalho de pivô, preparando jogadas para companheiros de ataque.

Na Seleção Brasileira, teve passagem contestada, não rendendo o mesmo que acontecia em clubes. O certo é que, em clubes, sempre correspondeu ao que se esperava dele, com exceção da curta passagem pelo Corínthians.

Temperamento explosivo, colecionava confusões na mesma proporção que fazia gols.

Fato é que a facilidade para fazer gols era impressionante. Isso faz de Serginho Chulapa um jogador que será eternamente lembrado, apesar de sua apagada performance na Seleção Brasileira, especialmente na Copa do Mundo de 1982.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada

O EXAME

por Claudio Lovato


– Toma o seu protetor auricular, pra enfrentar essa música bonita que você vai ouvir daqui a pouco.

O enfermeiro era um cara de meia-idade, muito falante, e tentava criar um clima de bom humor.

– Valeu! – disse o craque, que já havia usado em outras ocasiões aquelas duas pequenas “rolhas” (era o que sempre lhe vinha à cabeça) cor de laranja ligadas por um cordão da mesma cor. 

O enfermeiro disse que ele já podia se deitar. O jogador já sabia o que tinha de fazer. Não era a primeira vez que passava por um exame desse tipo, mas agora era uma situação diferente, muito diferente. 

Enquanto ele se acomodava na máquina, o técnico responsável pela condução do exame, que era mais jovem e bem maior que o enfermeiro, entrou na sala.

– Qualquer coisa é só apertar aqui, que paramos o examena mesma hora! – ele disse, enquanto acomodava na palma da mão esquerda do paciente o que parecia ser uma bola de borracha.

– O mais importante é não se mexer! – ele acrescentou antes de voltar para a salinha anexa, onde ficava o computador que era sua ferramenta de trabalho.  

Então começou.

Primeiro uma sirene, depois um bate-estaca, em seguida leves movimentos da maca para frente e para trás, e por fim o silêncio, até recomeçar a barulheira, e assim por diante. 

A ressonância magnética diria o tamanho do estrago que havia sido feito no seu joelho. 

Ele rezou. Dentro daquele túnel ruidoso, ele rezou pais-nossos e aves-marias e, no meio das orações, veio-lhe à mente, venenosa que só ela, a pergunta “por que isso foi acontecer comigo, por que comigo?”. Lidava com essa interrogação bandida ao mesmo tempo em que via o rosto da mãe e do pai e dos outros que ele amparava; sim, pensou neles, mas era o rosto da mulher e da filha pequena, a filhota linda, que fazia seu coração bater aospulos, e de novo “por que comigo, por que essa porra foi acontecer comigo?”, e ele ficou com receio de acabar fazendo algum movimento brusco por causa do tumulto na sua cabeça e dos saltos que seu coração dava.

Num certo momento, as orações e a preocupação e o amor infinito e o inconformismo se combinaram de uma forma tão intensa que acabaram resultando numa explosão em forma de lágrima solitária, que escorreu do canto do olho direito, e só no que ele conseguiu pensar nessa hora é que sua vida não podia se encerrar ali, fosse qual fosse o resultado do exame, e foi então que ele sentiu o rastro quente de outra lágrima, essa no olho esquerdo, e sua cabeça de repente invadida, completamente invadida, todos os cantos e recantos dela, por uma nova pergunta: “O que eu vou fazer se não puder mais jogar?”, e diante dessa indagação gigantesca e brutal, completamente solitário perante essa questão assassina, a única resposta que ele conseguiu arranjar foi um suspiro fundo e alto, um gemido, talvez tenha até falado, e de repente tudo foi interrompido pela voz do técnico no alto-falante: 

– Estamos finalizando seu exame. Só mais um instante.

E então acabou. 

Ele agradeceu ao enfermeiro e ao técnico, que lhe responderam com votos de boa sorte e entusiasmadas confissões de que eram seus fãs. 


Havia uma tristeza profunda que vinha lá do fundo do peito e que tirava a graça de qualquer coisa, uma tristeza que era enfrentada apenas por uma persistente fé com base naquilo que ele não conseguia explicar nem em palavras nem em pensamento, um sentimento, ou uma sensação, ou apenas um desejo – sim, talvez apenas isto, desejo – de que a tragédia fosse evitada. 

Foi somente horas mais tarde, horas longas e difíceis, que ele conseguiu se livrar desse campo minado de emoções potentes e paradoxais. Isso ocorreu no exato momento em que seu médico, o médico do clube, entrou no quarto e, sem dizer uma palavra, sorriu e levantou os dois braços numa simulação de comemoração de gol.

Sob o olhar atento da mulher e de um de seus irmãos, ele apenas conseguiu fechar os olhos e pensar que é preciso passar por algumas coisas nesta vida, simplesmente isso, é preciso passar, e que o futebol e a vida são lindos, mas são duros, e só não foi adiante em seus pensamentos porque nesse momento sentiu o toque de uma mãozinha macia e quente em seu rosto e ouviu a vozinha fina da dona daquela mãozinha, e então, como nunca antes, tudo fez completo sentido para ele, completo e perfeito sentido. 

FOI UMA VEZ OS ANOS 70 DE NOVO

por Marcelo Mendez


Era uma noite de Outubro de 2020, eu sei.

Mas ecos de um tempo sombrio bateu fortemente na minha memória enquanto esperava por um jogo de futebol e diga-se; esperava única e tão somente por dever de ofício. Longe daquele menino torcedor que assistia os jogos da Seleção Brasileira com ávido interesse.

Há muito tempo deixei de ser menino, trocando o encanto do verso, a luz do lúdico, pelo pragmatismo óbvio da vida adulta.

Sou Jornalista e como tal, tenho o fato diante da minha frente; Caros leitores, tivemos ontem uma noite “Pra Frente Brasil” na vida futeboleira Brasileira. E isso, pelo pior que se possa imaginar.

O icônico tema musical da seleção de 1970 virou trilha sonora para os maiores 11 homens que já pisaram a Terra para jogar futebol. O maior time de todos os tempos pisou o estádio de Guadalajara para provar que a perfeição era possível, que o sonho era viável, que a poesia plena vestia chuteira e camisa a amarelinha. Mas não, leitor, não teve nada disso. Como falei, a reminiscência da memória foi a pior possível.

Em 1970, o Brasil vivia o chumbo pesado da Ditadura Militar e do AI-5 o artigo que caçou todas as liberdades individuais dos Brasileiros arrochando ainda mais a repressão. Nesse contexto a seleção de futebol foi usada escancaradamente como uma propaganda de um Brasil legal, maneiro, dando uma passada de pano nessa realidade. O Presidente Médici tinha lá a imagem do Velhinho boleiro de frente a tv vendo futebol e tudo parecia muito bem. Bem…

Passaram-se 50 anos. Não temos mais os porões de tortura institucionalizados, temos liberdade para se expressar (por enquanto…) como faço agora, mas algumas práticas novamente nos assola.

O Brasil jogou ontem. A partida aconteceu em Lima e a tv aberta que cobria esse time desde muito tempo não o transmitiria. O povo Brasileiro que vem sendo afastado sistematicamente dos estádios, agora também será afastado do direito de ver a Seleção na tv. Ou paga ou vê A Fazenda na tv do bispo. Mas eis que os anos 70 batem à porta!

A Tv Brasil chegou em baixa definição, com muita bajulação, insistindo em efusivos abraços ao Presidente da República ao longo dos 90 minutos que a peleja durou. Um histriônico narrador e um antigo bom comentarista a todo instante faziam questão de lembrar do mandatário nacional.

Não tem Problema nisso.

O Jornalista, assim como todo cidadão tem direito adquirido de ter o seu lado político, sua preferência ideológica assegurado pela decência da sociedade em respeitar essa escolha. Concordar, discordar, faz parte dela. Mas respeitar acima de tudo.

Todavia a questão que se coloca aqui é a forma de como isso se dá. Vocês que assistiram a peleja ontem, acham mesmo que o que houve ontem durante aquela transmissão era necessário? Tudo que foi dito foi por convicção ideológica e profissão de fé? Qual foi o sentido de toda aquela bajulação?

Também não me importo de ter que pensar essas questões. Mas me preocupa muito a repetição dessas perguntas que em algum momento da sociedade brasileira, já foram feitas ali por volta de 1975/76.

O que me assusta mesmo é saber que as respostas são as mesmas daquela época…

O QUE TE LEVA A SE PREJUDICAR?

por Wendell Pivetta


Tenho uma curta experiência até aqui nos dias de futebol, uma longa jornada ainda para trilhar, porém identifico cada vez mais situações assombrosas no futebol moderno. Uma delas aconteceu em uma partida válida pela Liga Unificada de Futsal no Rio Grande do Sul.

Seria a minha primeira partida assumindo o microfone principal da jornada, saindo da fotografia e das atividades de comentarista para elevar a voz diante da emoção maior do esporte. Junto da equipe de reportagem, adentramos ao Ginásio Municipal, descarregamos os equipamentos para transmissão de voz e vídeo da partida, montamos o equipamento e a pedido da arbitragem da noite, saímos para fora do ginásio para medição da temperatura corporal, tendo em vista a pandemia do COVID-19 e seus protocolos.

A temperatura estava ok, dentro dos conformes exigidos. Porém na lista nossos nomes estavam com um sinal de exclamação impedindo o acesso para transmitir a partida. No ato ficamos decepcionados. Estávamos regularizados no sistema da liga, e em um teste falho quanto ao COVID-19, a liga colocava em uma planilha questões relacionadas sobre se eu estava ou não com sintomas, e por minha própria responsabilidade, eu colocava se estava ou não com o vírus. Um teste infantil, cabível de qualquer pessoa omitir a verdade sobre tal fato. Após discussões sem resultados com o delegado da partida, retiramos nossos equipamentos e seguimos embora. A única foto da partida, tirei rápido, com parte do equipamento e agilizando a saída rápida do local.

Algo mais triste estava ainda por vir. Ao tentar adentrar o ginásio, o delegado bloqueou a entrada da equipe de pronto socorro, assim como a guarda municipal, alegando que a saúde e o policiamento da partida não estavam cadastrados na lista, fazendo os mesmos, ficarem do lado de fora do ginásio sem poderem ao menos assistir a partida. Como pode em uma partida sem torcida, e nem presença da imprensa, deixarem a saúde e a segurança do lado de fora e ainda iniciarem a partida. Em uma noite de sábado, gelada no Rio Grande do Sul, conseguiram deixar de pé e em prontidão a partida inteira a equipe médica e os guardas municipais do lado de fora do ginásio, sem a mínima empatia para pelo menos liberar alguns assentos pro pessoal. Seria o regulamento tão sem educação assim?

Parabenizo aqui a Federação Gaúcha de Futebol de Salão, atenta a estes detalhes e sempre atendendo esses requisitos, partida após partida, disponibilizando aos meus colegas de imprensa e aos órgãos de saúde e segurança uma empatia muito mais agradável, responsável e sem equívocos. Já a Liga Unificada, ficou a dívida de, pelo menos, tratar bem aqueles que salvam vidas.