HISTÓRIAS QUE EMOCIONAM
por Marcos Vinicius Cabral

O papel do Museu da Pelada sempre foi e continuará sendo o de contar histórias. Orgulho-me por fazer parte de uma time em que o Sergio Pugliese é o camisa 10 e o faixa.
Sei que descobrir essas histórias é o que me motiva a não parar.
É trabalho!
É seriedade!
É paixão de quem vê que tudo valeu a pena quando as câmeras são desligadas e as luzes apagadas.
São quase dez anos produzindo, realizando e contando histórias para o Museu da Pelada. Vestir essa camisa é mais um sonho que realizei.
Agradeço a Deus e àqueles que consegui fazer matéria por meio do Museu da Pelada.
Em tempo: sei que o Zinho, um querido amigo, ficou emocionado com a matéria que fizemos. Estivemos na casa dele na quinta-feira (2) e foi sensacional. Levamos bastante tempo, mas conseguimos!
Orgulho imenso em ser jornalista e contribuir para contar histórias maravilhosas que vocês têm para contar!
O NOVO CALENDÁRIO DA CBF
por Luis Filipe Chateaubriand

Com pompa, circunstância e didatismo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentou o calendário do futebol brasileiro para 2026.
A solução apresentada tem virtudes, como o alongamento do Campeonato Brasileiro, a maior democratização da Copa do Brasil e uma ligeira redução do número potencial de jogos para os clubes de grande porte.
No entanto, existem três premissas básicas para a melhoria efetivamente estrutural do calendário do futebol brasileiro, a saber:
• Adequação ao calendário europeu, que permitiria o aproveitamento de dez meses, em uma temporada anual, pelos clubes (de Agosto de um ano a Maio do ano seguinte), enquanto a proposta dos homens da Barra da Tijuca contempla nove meses (Fevereiro a Maio e, posteriormente, Agosto a Dezembro).
• Disputa do Campeonato Brasileiro ao longo de toda a temporada, com pelo menos 90 % dos jogos de cada rodada sendo disputados em fins de semanas.
• Dedicação das Datas FIFA aos certames de clubes de menor importância, ou, até, a não realização de jogos de clubes nestas datas.
A primeira, não aconteceu: não houve adequação ao calendário europeu.
A segunda premissa, aconteceu parcialmente: há nove meses para jogos do Campeonato Brasileiro, mas poderia haver dez – o que levaria o número de rodadas em fins de semanas a ser maior.
A terceira premissa, também aconteceu parcialmente: ainda haverá jogos de seleções em terças feiras e jogos de clubes em quartas feiras, exatamente um dia depois.
Portanto, infere-se que as mudanças são cosméticas, insuficientes, limitadas.
Alguns vêem na ação da Confederação Brasileira de Futebol atual a maior reforma do calendário brasileiro, a mais completa, de todos os tempos.
Falso.
A maior reforma que houve no calendário de nosso futebol, capitaneada pelo brilhante João Henrique Areias, foi em 2003, com a adoção do Campeonato Brasileiro em turno e returno e com pontos corridos.
Para se reformar, de verde, é preciso ousar!
DEZ ANOS SEM MEU PAI, MEU ETERNO CAMISA 10
por Mateus Ribeiro

Parece que foi ontem, mas já se passaram dez anos desde que meu mundo desabou. Era a primeira hora daquela quinta-feira, que acabou se tornando o pior dia da minha vida. Em 1 de outubro de 2015, meu pai, o grande Carlos Ribeiro, faleceu.
Desde que me conheço por gente, ele sempre foi o meu melhor amigo. E boa parte dessa amizade está ligada ao futebol.
Quando eu ainda era criança e mal sabia o que era uma bola rolando, meu pai me levou a um jogo em um clube da cidade. Gol de placa! Papai mal podia imaginar que, a partir daquele momento, o esporte bretão se tornaria nosso principal vínculo. Aliás, passei por lá no último domingo e chorei me lembrando daquela partida.
Ele foi meu primeiro professor. Tudo, absolutamente tudo o que sei sobre futebol, devo a ele. Para a decepção de um santista apaixonado, escolhi torcer pelo Sport Club Corinthians Paulista. Vieram muitos clássicos: em alguns ele sorriu, em outros ficou triste. Mas em todos, vivemos momentos inesquecíveis — como o gol de Ricardinho em 2001 ou o título brasileiro de 2002.
Ao menos torcíamos juntos para a seleção brasileira. Vimos a amarelinha conquistar duas Copas do Mundo. A primeira, realizada em 1994, foi um estágio para mim. Durante aquele mundial, fiquei grudado nele, absorvendo cada detalhe. Nunca esquecerei daqueles dias, nem do álbum de figurinhas que ele me deu. E sempre me lembrarei dele apontando que os nomes dos jogadores búlgaros terminaram em “ov” ou “ev”.
O tempo passou, cresci e aprendi a caminhar com as próprias pernas, mas sempre sob o olhar atento de um pai amoroso. Até que chegou o fatídico 12 de novembro de 2012, quando ele adoeceu.
Mesmo sofrendo por cerca de três anos, nunca deixou a peteca cair e sempre manteve um sorriso no rosto. Até que, em 1º de outubro de 2015, meu velho foi jogar no time dos craques eternos.
A saudade é imensa. O amor também — e é isso que me mantém de pé.
Já se foram 10 anos, mais de 3.650 dias. Não houve um sequer em que eu não pensasse nele. Felizmente, todas as lembranças são boas, e se me arrancam lágrimas, são de emoção.
Se existir prorrogação depois desta vida, espero ter a chance de entrar em campo e encontrar novamente o meu pai, o meu eterno camisa 10. Então, poderemos falar de futebol pela eternidade.
Esteja onde estiver, saiba que te amo para sempre. Obrigado, Carlos Ribeiro. Obrigado, Papai.
CRAQUE POLIVALENTE
por Luis Filipe Chateaubriand

Válber era craque!
Fato.
E, mais do que isso, era um craque polivalente.
Jogava de zagueiro pelo lado direito.
E bem.
Jogava de zagueiro pelo lado esquerdo.
E bem.
Jogava de lateral direito.
E bem.
Jogava de lateral esquerdo.
E bem.
Jogava de volante.
E bem.
Jogava até de armador.
E bem.
Dono de uma técnica absurda, Válber era apto tanto para tomar a bola de adversários, como para construir jogadas.
Dono de uma vitoriosa carreira, jogou no Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama, São Paulo e até Seleção Brasileira.
Em todos esses grandes clubes, e até na Seleção, se destacou.
Poderia ter ido bem mais longe, se tivesse uma postura mais profissional.
Mas, mesmo que isso não tenha acontecido, ficará sempre lembrado como um jogador de futebol completamente diferenciado!
O PEQUENO PRÍNCIPE GRANDE
por Marcos Vinicius Cabral
edição: Fabio Lacerda

Não é qualquer um que consegue vencer os obstáculos até se tornar um jogador de futebol. É necessário abrir mão de muitas situações e momentos no período em que o sonho de quem ‘comeu o pão que o diabo amassou’ está prestes a se tornar realidade.
Para vestir o uniforme de um grande clube de futebol, exige-se profissionalismo, em primeiro lugar. Em seguida o talento herdado de Deus e, por fim, a responsabilidade.
Profissionalismo, talento e responsabilidade formam o tripé para uma carreira bem sucedida. Geovani Faria da Silva resumia tudo isso.
Troncudo de cabelo grande, as espinhas no rosto e o corpo preparado denunciavam que era ainda pequeno. Mas nos treinamentos da Desportiva Ferroviária era perceptível um futebol de gente grande. Ou melhor, gigante!
Como torcedor do Flamengo e apaixonado por futebol, sempre fui corajoso quando o assunto era enfrentar qualquer time. Confesso, sem medo de errar, que o rubro-negro tem muito disso, de confiar no próprio taco. Melhor dizendo, acredita nas pernas de Leandro, Junior, Andrade, Adílio, Tita e Zico até a morte.
Diante de um Vasco impiedoso que contava com o experiente e artilheiro Roberto, o moleque atrevido Romário, e um Mauricinho que voava em campo pelos flancos direitos, vencer o Vasco era parada dura. E põe dureza nisso!
Mas por trás do trio acima citado, havia um exponencial goleiro de nome Acácio, e dois laterais que eram verdadeiros pontas como Paulo Roberto e Mazinho. Além deles, o cérebro desse time atendia pelo nome de Geovani, camisa 8 que ditava o ritmo com lançamentos magistrais, passes açucarados e cobranças de faltas e penaltis que beiravam a perfeição.
Destaque da Desportiva Ferroviária, do atual famigerado futebol capixaba, o talentoso meia conquistou os estaduais das categorias juvenil, juniores e profissional no estado vizinho. As atuações, umas melhores do que as outras, enchiam os olhos dos torcedores e dirigentes do clube.
Surgia ali, ao alcance de todos, um lançador que, em determinado momento, lembrava o Gérson Canhotinha de Ouro, um exímio cobrador de faltas e pênaltis como Zico e Roberto e, além do mais, genioso, como dois gênios baixinhos como ele: Maradona e Romário, companheiro de Vasco e Seleção Brasileira.
Com todo o respeito ao time grená do Espírito Santo, o modesto clube já era pequeno demais para o talento do menino. As chuteiras surradas e desgastadas transbordavam magias pelos campos ruins do Espírito Santo e ultrapassaram as arquibancadas do Estádio Engenheiro Alencar Araripe. São Januário recebia de ‘braços abertos’ o menino prodígio, em 1982.
A relação com o clube de infância começava a ficar intensa, tão intensa, mas tão intensa que o coração quase ‘saiu pela boca’ quando adentrou pelos portões imponentes e históricos de São Januário pela primeira vez.
E foi esse mesmo Vasco, repleto de grandes jogadores, que exigiu determinação e foco do jovem capixaba. A rivalidade com o Flamengo, um capítulo à parte, revelou um Geovani na sua melhor fase com a impoluta Cruz de Malta estampada no peito. O craque do Mundial de Juniores em 1983, chegou como amuleto na Colina conquistando no primeiro ano de clube o Estadual de 1982 contra o Flamengo campeão do mundo. Ergueu troféus nos estaduais de 1992 e 1993, construindo com sua genialidade o caminho do único tricampeonato carioca do Vasco.
O bicampeonato Carioca em cima do Flamengo (87 e 88) e o vice-campeonato nas Olimpíadas de 88, em que mesmo perdendo a final para a URSS – Geovani não jogou por ter sido suspenso no jogo contra a Argentina, cujo gol solitário da partida foi dele – saiu de Seul maior ainda mesmo com a medalha de prata. Você, que é fã de futebol, não vai esquecer aquele golaço contra a Argentina, que mostrou a visão de jogo e a genialidade do camisa 8.
Geovani foi genial nos gramados em que desfilou o talento que Deus lhe deu. Com a saúde fragilizada, o ‘Pequeno Príncipe’ vive ao lado da família e amigos próximos em Vila Velha. De longe, recebe a energia positiva de quem teve o privilégio de vê-lo em ação nas quatro linhas.
Obrigado, ‘Pequeno Príncipe’, pelos belos momentos em campo, pela genialidade no trato com a bola. Geovani é e sempre será um patrimônio do Vasco da Gama.