Edgar Diniz
O PAREDÃO
Quando se fala em 7 a 1, todos recordam, imediatamente, do fatídico jogo entre Brasil e Alemanha, pela Copa do Mundo de 2014, que eliminou a seleção brasileira da disputa pelo título em casa. No entanto, o Museu da Pelada nos remete a outros 7 a 1, onde tinham também jogadores de seleção em campo. O ano era 1979. O jogo foi disputado no estádio Caio Martins, em Niterói, no Rio de Janeiro. A partida marcou a carreira de um jovem goleiro, à época com apenas 19 anos. Edgar defendia o gol da Associação Desportiva Niterói (ADN) e pela frente tinha um ataque liderado pelo grande ídolo rubro-negro, o Zico.
O goleiro é sempre lembrado pelos gols que leva e não pelas suas defesas, desabafa Edgar, dono da posição naquele jogo, válido pelo campeonato estadual. Edgar começou no infantil do Fluminense em 1973, passando pelo Vasco da Gama, ADN e Rio Branco(ES).
Drible da vaca
O estádio estava lotado e os torcedores puderam ver o gol que o Rei Pelé não fez na Copa do Mundo de 1970 contra o Uruguai – o famoso ‘drible da vaca’ que o camisa 10mandou pra fora. Edgar relembra com detalhes desse gol‘sensacional’ de Zico: “Zico recebeu de Adílio na entrada da grande área. Eu saí para interceptar a jogada, mas o Galinho de Quintino passou o pé por cima da bola. Eu tentei acompanhar. A bola foi para o outro lado. Foi literalmente o ‘drible da Vaca’”, recorda o jogador.
Diferentemente de Pelé, que mandou a bola para fora, Zico meteu mais um gol dos seis que fez naquela partida. “Foi um golaço”, acrescenta Edgar. Ele lembra, ainda, que o jogo já estava 5 a 1 para o Flamengo e o ‘cigano’Cláudio Adão, apelido dado por ter defendido dezenas de clubes, gritava para os companheiros “vamos pra cima”!
Placar Elástico
A tristeza foi grande. Edgar era muito jovem e viu tudo desmoronar diante daquele placar ‘elástico’. Os gols foram acontecendo, principalmente, pela diferença técnica dos dois times. O Flamengo seria campeão brasileiro, campeão da Libertadores e campeão mundial logo em seguida.
Edgar lamenta aquele placar. “Poderia ter despontado em outro clube, mas o pessoal só pensa nos atletas que fazem os gols”, dispara Edgar.
No fim da partida, Edgar queria falar com Zico, dar um abraço no ídolo, mas não deu. A torcida invadiu o gramado e ficou difícil saber quem era quem. Edgar soube que Zico também queria abraçá-lo naquela tarde inglória.
Edgar nunca mais encontrou com o Galinho e disse que terá um enorme prazer em conhecê-lo, mas isso ficará para um futuro próximo, já que o Museu da Pelada se comprometeu a promover o encontro dos dois.
O goleiro disse que foi difícil dormir naquela noite depois de ver os gols passando no Fantástico, programa dominical da Rede Globo, visto por milhões de brasileiros.
Ressaca
“No dia seguinte, as pessoas que encontrava nas ruas queriam saber como foi e como eu estava me sentindo”.
Início no Fluminense
Sua trajetória teve início no Fluminense, onde começou a jogar sem ter ainda treinado com os companheiros. Foi durante um torneio no qual o goleiro titular do Fluminense se machucou, “eu entrei e não saí mais”, conta Edgar. O goleiro se ressente da sua altura (1,75m). Vale dizer que atualmente os goleiros são bem altos. Edgar aproveita e faz um elogio ao jovem Hugo Neneca do Flamengo que, do alto de seus 1,96 m, tem boa elasticidade e é bem ágil.
Coração rubro-negro
O grande sonho de Edgar era ter defendido o rubro-negro, clube de seu coração. Mas o atleta não pode ser lembrado apenas por uma única partida. Ele ficou 48 jogos seguidos sem tomar gols. A façanha foi durante um campeonato juvenil, em 1975, quando defendia o Fluminense. Neste período, ele lembra de uma grande defesa, na final contra o Olaria, na rua Bariri, quando foi buscar a bola onde a coruja dorme. O time tricolor foi campeão.
Edgar teve carreira meteórica. Encerrada quando tinha apenas 22 anos, ele foi trabalhar no comércio, em Barra do Piraí, no sul do estado do Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Ele fala que participa de algumas peladas, onde joga na zaga defendendo o seu goleiro, coisa que muitos zagueiros não fizeram o mesmo quando ele era goleiro, principalmente nos 7 a 1 daquele ano de 1979.
Segundo o ex-goleiro, o futebol lhe deu grandes amigos, como o ponta Silvinho, presente nessa entrevista e que jogou em grandes clubes, como Vasco e Fluminense.
Bom, agora é aguardar o encontro entre Zico e Edgar.
NEY RIO: A PEÇA QUE FALTAVA
por Jonas Santana
O conjunto estava em polvorosa. Todo mundo na expectativa do anúncio da mais nova contratação do time da rua A. Tratava-se nada mais, nada menos do Nego Jordan, um jogador com experiência internacional e que, por motivos pessoais, tinha deixado o futebol profissional para desfilar seu talento naquele clube.
E não se falava noutra coisa a não ser no jogo do domingo, jogo de estreia daquele que estava sendo cotado como o Neymar daquelas plagas. Tanto que queriam mudar seu nome para Ney Rio, numa comparação com o camisa dez da seleção brasileira e do Paris Saint Germain – time francês de futebol. Tal acontecimento dava uma ideia da proporcionalidade entre os dois atletas, sendo um do rio (não o de janeiro) e o outro do mar, mas todos dois eram Ney. Pelo menos na cabeça da torcida.
Mesmo com os mais afoitos torcedores, dos quais Galego era o mais barulhento, a gritar “Jordan, Jordan, Jordan”, cujo nome era igual ao do grande volante e lateral esquerdo que brilhou na década de 50 no time do Flamengo e na seleção brasileira, nosso astro também jogava naquela posições, mas atuando como segundo volante (daí o Ney Rio) ao lado do grande Saulo Ceroula.
Como sói acontecer, sempre acontecia algum fato inusitado naquele time formado por Raimundo Quiabo no gol, Léo Bolinha, Todo-Duro, Lila, Pedro Preto, Dirran, Nerrôda, Vevé, Saulo Ceroula, Zé Rosca e agora o Jordan, digo, Ney Rio. Iria acontecer algo, era só questão de tempo.
E a estreia do Ney Rio foi discreta, embora esperassem os torcedores uma apresentação de gala. Mas eles sabiam que ainda iria surgir o inusitado. E assim foi.
No quarto jogo nosso craque mostrou a que veio. Inteligente e já em sintonia com Vevé e Zé Rosca deixava a cada jogada um ou dois adversários para trás, imprimindo ritmo e velocidade ao jogo, fazendo com que o time jogasse como “por música”. E foi nesse jogar com harmonia quase orquestral que Ney Rio recebeu uma bola açucarada, como se dizia antigamente, de Zé Rosca. Realmente, o lançamento havia sido milimétrico e encontrou o peito do nosso jogador que, mesmo antes de ela cair (a bola) alçou-a a um ponto mais alto, o que fez com que dois dos seus adversários viessem como piratas ou zumbis ensandecidos em busca de suas canelas. Ato contínuo, Ney deixa seus algozes no chão com um drible de corpo e lança a bola que, não se sabe se premeditadamente ou não, bate na cabeça do juiz, e sobra para Nerrôda que descreveu a cabeçada como um passe magistral para ele, sendo seu apenas o trabalho de enfiar para as redes. Enquanto o time comemorava mais um tento, o outro time estava mais preocupado em desfazer a trança em que se transformara as pernas dos zagueiros e do goleiro.
Ocorreu que ao dar seu drible genial, nosso craque conseguiu que se enredassem os dois jogadores e mais o goleiro, num verdadeiro desafio às leis da Física. O fato é que a jogada ficou conhecida como as tranças da bola e muitos tentaram realizá-la, sem sucesso.
Pouco tempo depois nosso atleta abandonou os campos e se tornou surfista. Se cuida, Medina.
Jonas Santana Filho é escrito, funcionário público, Gestor esportivo amante e apaixonado por futebol e marketing.
O GESTO NOBRE DE LUCARELLI
por Nicó Demos
Em 2015, o Parma foi rebaixado para a Série D (última divisão do futebol italiano) após a equipe apresentar problemas financeiros e administrativos. Foi o golpe mais duro da história da equipe, que estava quase a ponto de desaparecer. Quase todo o elenco que jogou na Série A decidiu deixar o time, não tendo interesse em jogar na última divisão do futebol italiano. O único que ficou foi Alessandro Lucarelli, que prometeu acompanhar o clube até o seu retorno à Série A.
Lucarelli, o zagueiro italiano, chegou ao Parma em 2008 e rapidamente se tornou um ícone do clube. A descida foi inesperada, mas ele nunca pensou em se afastar dos torcedores que lhe admiravam tanto.
Após três promoções consecutivas, Lucarelli anunciou sua aposentadoria do futebol depois que o time foi promovido à Série A e voltou ao topo do futebol italiano. Aos 41, ele disse que sua promessa foi cumprida e afastou-se do esporte.
Quando todos desapareceram, ele deu a cara e salvou o clube. Lealdade e amor pelas cores estava vestindo.
JOGOS MARCANTES: ENTRE A FÉ E A REALIDADE
por Walter Duarte
Como no episódio bíblico sobre o confronto entre Davi e Golias e as suas representações da fé e o determinismo das diferenças, somos sempre chamados a reavaliar nossas crenças. O futebol nos traz a expectativa que nem sempre o elenco mais qualificado e abastado nas finanças vence o de menor recurso e desacreditado. Esse talvez seja um dos ingredientes da nossa paixão por esse esporte, o sentimento que o extraordinário e o imponderável possam nos surpreender. Quantas e quantas vezes observamos perplexos a zebra “passear” nos gramados, contrariando todos os prognósticos e subvertendo as frias tendências probabilísticas.
Venho, então, amigos a citar dois grandes jogos que marcaram os torcedores do Goytacaz e Fluminense, pelo desfecho e também pelas peripécias do destino. O Goytacaz debutou no Campeonato Carioca em 1976, fazendo boa campanha naquele ano, revelando jovens e promissores jogadores. Mas no seu caminho estava o Fluminense de Francisco Horta, o mentor intelectual da “máquina tricolor”. Rivelino, Doval, PC Caju, Gil, Pintinho e Cia, ditavam o ritmo de uma orquestra afinada e sedentos de arte. Uma potência futebolística inquestionável!
O resultado também foi histórico, um estrondoso 9×0 no Maracanã em uma quarta-feira, chuvosa e sombria, talvez um prenúncio de mau agoro para o Goyta. Estavam ali configurados os extremos de uma disputa técnica e uma realidade nua e crua.
A velha máxima que não se pode brincar com a sorte, caiu como um raio naquele Goytacaz que iniciava sua trajetória nas disputas com os grandes da capital. O resultado apenas consolidou e iluminou o favoritismo tricolor para a conquista do campeonato daquele ano, e um encantamento que marcou gerações. Era prudente para o alvi anil Campista reavaliar o duro golpe, seguir adiante e reinventar-se na competição. Configurou-se tarefa difícil para o novo treinador Paulo Henrique, conhecido ex-lateral do Flamengo da década de 60 e da seleção, determinar “um estratagema” para levantar a moral e o psicológico da equipe para um novo embate.
Uma nova oportunidade aconteceu e, desta vez, foi contra o Botafogo no mesmo cenário, o Maracanã. E o Goytacaz conseguiu eximir-se do trauma vencendo o jogo por 1×0, gol do centro avante Zé Neto, diante de incrédulos Botafoguenses.
O tempo passou e ficaram evidentes os aprendizados com as derrotas acachapantes e as vitórias suadas, mas a marca daquele 24 de Abril de 1976, contra o Flu, nunca foi digerida. Até que em 19/03/1986, dez anos depois, o Goytacaz enfrenta a “nova máquina” desta vez protagonizada por Washington, Assis, Romerito, Ricardo Gomes… O treinador desta época pelo lado do tricolor era o experiente Nelsinho e pelo lado do Goytacaz o Denílson “REI ZULU”, ex-volante e ídolo do Flu e da seleção de 66.
Existiu grande expectativa na partida no alçapão da Rua do Gás e o estádio ARIZÃO em Campos, o teatro de mais uma batalha entre o grande e o pequeno, entre o gigante Golias contra o “frágil”, porém impetuoso Davi. Sobre a “batuta” de Denílson, os torcedores desejavam reverter os prognósticos, tirando da cartola uma formação agressiva que viesse a surpreender o adversário com uma estratégia inteligente. Desta vez, com jogadores rodados como o Goleiro Jorge Luís (Cebolinha), o Zagueiro Kleber e o meia atacante Sena (Ex-Bahia, Vitória, Atlético de Madri…) o Goyta entra em campo confiante.
A partida começa e configura-se um jogo diferente pelo lado do Goytacaz. Um time compacto e vibrante se vê em campo, impondo o jogo e alheio à submissão de tantos jogos do passado. Uma transformação ocorre no estádio. A desconfiança de um novo fiasco que atemorizava os torcedores dá lugar a uma vibração nunca vista. Todos se juntam aquele time guerreiro como um Cavalo de Tróia, adentrando a cidadela para a conquistar o triunfo.
Os gols surgem naturalmente e o Fluminense atônito e desfigurado em campo não consegue se impor e nada deu certo. Romerito perde dois gols límpidos com defesas milagrosas do Jorge Luís, rogando pragas indescritíveis em castelhano. Ao final da partida, a goleada é consolidada em 4×0, com gols de Sena, Leandro (2x) e Clóvis.
Os Deuses do futebol estavam ali presentes e sopraram suas bênçãos naquele time que se agigantou e todos os pecados foram expiados daquela torcida sofrida que lotou o Arizão. Denílson sai nos braços do povo sendo ovacionado pela vitória, depois de longos anos longe da sua terra natal.
*** Dedico este texto ao meu saudoso Pai Sr. Walter. Torcedor do Fluminense e do Goytacaz que me ensinou a enxergar o futebol de forma inspiradora e apaixonante.
VOZES DA BOLA: ENTREVISTA TATO
Acontece que Carlos Alberto Araújo Prestes nasceu em Curitiba.
E, naquele 17 de março de 1961, ao lhe exporem à vida, levou o primeiro tapa na bunda, e chorou.
Uns dizem que as lágrimas eram Coloradas e Tricolores.
Mas naquele instante do seu nascimento o sistema falava como um esforçado lateral-direito: “Bem vindo ao meu mundo, menino talentoso. Aqui quem manda sou eu”.
Mundo insensível esse que expôs às vísceras naquele seu choro.
Foi naquele dia que começou a sua diferença com ele.
O fato é que o tempo foi passando e o menino Carlinhos foi crescendo e quase tudo já estava pronto, menos o seu destino.
Virou Tato, um dos cinco sentidos, mas, diferentemente dos outros quatro, ele não é encontrado em uma região específica do corpo, e sim em todas as regiões da pele.
Sua pele já ia se revestindo de três cores, as mesmas que traduzem tradição.
Mas antes, muito antes, numa infância e adolescência analógicas, haviam no máximo, o controle remoto da televisão, ver seu pai jogar era raro, mas gostava de ouvir os elogios que seu velho recebia.
Mas os seus sonhos eram reais.
Mesmo com essa impossibilidade, era a dificuldade lá e ele cá.
Quando ele e a dificuldade se esbarravam no jogo da vida, o duelo prometia.
E foi assim a carreira toda.
Nada foi fácil para Tato, que driblou diversas vezes as dificuldades na trajetória e mesmo assim elas continuavam lhe dando porradas, chegando em cima, fungando no cangote ou acertando o tornozelo.
Elas lhe faziam desistir, e o troco era sua insistência.
A derrota para ele era iminente mas saber que nenhuma força maior seria capaz de pará-lo, prosseguiu.
Tato era inadministrável, imarcável, imparável.
Contudo, Tato foi o resultado do insulto daquele tapa na bunda (des)necessário, desferido no dia em que eu nasceu.
Começou no Internacional em 79, passou pelo Goiânia antes de chegar no Fluminense onde fez história com a camisa 11, passou no Vasco, Sport e o Santos.
Embora tenha vivido um excelente momento no Fluminense nos anos 80, Tato não conseguiu ter muitas oportunidades de vestir a camisa da Seleção Brasileira.
Se não fossem os olhares argutos de Edu Coimbra e Telê Santana, teria passado em branco com a amarelinha.
Mas Tato jogou, convenceu, venceu e se tornou inesquecível para os amantes da bola, principalmente os Tricolores que conjugam em prosa e verso o time tricampeão carioca em 83/84/85 e Brasileiro de 84.
Mas tudo isso que este belíssimo ponta-esquerda do futebol brasileiro viveu foi por causa de um simples tapa na bunda.
O Museu da Pelada chegou junto, marcou em cima e fez uma entrevista com o ensaboado Tato para a série Vozes da Bola da semana.
Por Marcos Vinicius Cabral
Queria que nos contasse como foi o seu início de carreira?
Faz tempo, viu! Foi no século passado, lá em 1979, quando fui revelado na base do Internacional, clube em que fiquei uns 3 ou 4 anos mais ou menos e logo em seguida fui emprestado para o Goiânia ainda como juvenil e depois, finalmente cheguei no Fluminense.
Como veio parar no Fluminense?
Fui indicado na época pelo Jandir, que jogou comigo na base do Internacional e que estava no Fluminense fazendo um certo sucesso, e também pelo Machado, que hoje é empresário de futebol.
Quem foi o melhor treinador com quem você trabalhou?
Carlos Alberto Parreira. Foi sem dúvida alguma o melhor treinador que eu tive e que passou no Fluminense. Foi ele que conseguiu ajustar o time de uma forma que se tornasse super competitivo a ponto de conquistar o que foi conquistado naquela época, que foi o Brasileiro de 1984, até então, antes de ser homologado os outros títulos lá de trás nunca tinha sido campeão, no Rio só o Vasco em 74 e o Flamengo em 80. Nós conquistamos o título do Brasileiro de 84, graças e muito ao professor Parreira.
Você enfrentou grandes laterais no futebol carioca como Leandro e Jorginho, ambos do Flamengo, Josimar do Botafogo e Paulo Roberto do Vasco, e que eram bons marcadores também. Qual deles era osso duro de roer?
Desses laterais que você citou na pergunta, todos foram grandiosos jogadores e a nível de seleção brasileira. O Leandro foi o melhor lateral-direito que o Brasil já teve e um dos maiores do mundo, já Jorginho, tetracampeão em 94, outro craque, Paulo Roberto, um excelente jogador, mas o mais encardido para enfrentar era o Josimar, muito complicado mesmo.
Sendo curitibano, você fez história no Fluminense. Qual é o sentimento, em saber que você é incontestável ídolo tricolor?
Bom, sem duvida alguma, ser ídolo tricolor é uma coisa que me enche de orgulho, que traz muita satisfação em minha vida e ficar marcado para torcida, como fiquei no Fluminense, isso é um motivo de alegria não só para mim, mas para os meus familiares, meus filhos, amigos, e esse reconhecimento é uma coisa que eu vou levar para o resto da minha vida.
No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que o esporte representou para o Tato?
O esporte sempre esteve marcado em minha vida desde criança, então, representa muita coisa. Ele me trouxe prazer, me proporcionou alegrias, além de ser importante para todas as pessoas que praticam pensando em bem estar e saúde. No meu caso o futebol foi mais importante ainda já que fui atleta profissional e tive a alegria imensa de poder, por meio dessa modalidade esportiva, de ser viitorioso.
Esse ano o Maracanã completou 70 anos. Quais são as suas primeiras lembranças como jogador no estádio?
Sem dúvida, ainda mais para alguém que sempre sonhou em ser jogador de futebol e querer jogar em estádios cheios, o Maracanã foi o templo do futebol brasileiro e mundial. Para mim desde criança sempre foi um sonho poder atuar no Maracanã e eu tive a felicidade de ter ido jogar no Fluminense e tudo a oportunidade de jogar por inúmeras partidas com o estádio lotado com mais de 150 mil pessoas e às vezes, o que era raro, vazio. No entanto, sem dúvida alguma, foi marcante para mim ter fotos, vídeos jogando naquele maravilhoso lugar que na época era considerado o maior do mundo.
Seu pai foi zagueiro do Internacional e depois teve uma pequena passagem pelo Fluminense. Você seguiu o mesmo caminho, passou no Colorado e chegou no Tricolor. Seu irmão, o lateral Paulo Roberto Prestes, marcou o Atlético Mineiro. De uma família de craques, quem foi o melhor?
Difícil te responder isso. Meu pai foi um excelente zagueiro, muito técnico e com muitas qualidades. Te confesso que vi pouco ele jogando, no entanto, as pessoas comentam que na época dele foi um grande jogador, já o meu irmão foi um excelente lateral-esquerdo e ficou muitos anos no Atlético Mineiro, chegando a ser até capitão da equipe, e eu na ponta-esquerda no Fluminense, acredito ter feito história no clube com conquistas, títulos, atuações… enfim, eu acho que cada um na sua posição e daquilo que jogou, teve seus méritos e desempenharam muito bem o papel de jogador de futebol.
Por falar em pandemia, como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?
Trabalhando. Trabalho em um grupo da Unimed todo dia e tomando as precauções devidas que são o afastamento social, usando máscara, evitando aglomerações e essas coisas todas recomendadas. No mais, esperamos que isso passe logo não só para mim mas para toda a humanidade, já que estamos vivendo um momento difícil em que eu nunca pensei que ia passar por um momento desse em minha vida. Mas vamos lá, com fé em Deus, que a gente vai superar tudo isso em breve.
Recentemente você disse numa entrevista concedida à FluTV, que uma das principais virtudes daquele time tricampeão carioca em 83/84/85 e campeão brasileiro em 1984, era a lealdade na briga pela titularidade. Como era essa ‘briga’ entre vocês?
Normal. A briga pela titularidade sempre foi normal em qualquer grande equipe e naquela época não era diferente. Mas todos se respeitavam e procuravam dentro dos treinamentos e dos jogos fazer o melhor para se manter como titular, mas o importante daquele grupo era a união, tanto titulares quanto reservas, a gente se dava muito bem e isso que fez com que a gente conseguisse conquistar o que foi conquistado com a camisa do Fluminense.
O Fluminense, multicampeão, era um grande time e barato, se compararmos ao Flamengo, por exemplo. Quem custou um pouco mais foi Assis e Washington, o saudoso Casal 20 e Romerito. Seja sincero: havia como aquele time dar errado?
Realmente se for comparar aquele time com hoje em dia, foi muito barato mesmo. Por exemplo, eu fui para o Fluminense praticamente de graça, o Jandir idem, o Ricardo Gomes saiu da base e o Branco também, o Aldo e Duílio já estavam no clube e chegou o Romerito, e como você mesmo falou o Assis e o Washington que vieram do Athletico Paranaense que não era o clube que é hoje. Mas sinceramente, tinha tudo para dar certo porque além de serem grandes jogadores a cumplicidade e a vontade de vencer eram enormes e nas mãos certas, acabou a coisa seguindo em frente e conquistamos os títulos que ficaram marcados no clube.
Você chegou no Fluminense e encontrou Paulinho Carioca, também hábil e talentoso ponta esquerda como você. Nessa disputa pela camisa 11, quem ganhou e quem perdeu?
O Paulinho foi um grande jogador, um ponta rápido, extremamente habilidoso que ia para o confronto mesmo e levava para cima. Falar do Paulinho é relembrar da nossa convivência, que aliás era muito boa, e ele acabou sendo importante na minha carreira, pois eu tinha que jogar bola, do contrário, ele poderia tomar meu lugar no time. Mas sou amigo dele até hoje e de vez em quando conversamos pelo Facebook, no entanto, o mais importante é que quem ganhou com tudo isso fui eu, foi o Paulinho, e principalmente o Fluminense.
Mesmo sendo um jogador habilidoso com a perna esquerda, o gol mais importante que fez na carreira foi com pé direito, na vitória por 2 a 0, contra o Corinthians de Carlos, Wladimir, Biro-Biro, Sócrates, Zenon e Casagrande, no primeiro jogo das semifinais do Brasileiro de 1984, no Morumbi. Como foi esse gol?
É, são coisas da vida, né? Sendo canhoto e usando a perna direita apenas para subir em ônibus, acabei fazendo o gol mais importante da minha carreira com o pé direito. Mas foi a única forma que eu tinha ali porque se eu fosse com o pé esquerdo eu não conseguiria fazer o gol. No entanto, aquela grande vitória contra o Corinthians no Morumbi com 100 mil pessoas, que era um grande time e vinha de uma goleada contra o Flamengo por 4 a 1, se não me engano, nos deu uma moral, força e confiança, atributos importantes que um time tem que levar para uma final para enfrentar o Vasco, que era um equipe muito boa. Mas graças a Deus, felizmente, a coisa acabou dando certo.
Quando você fecha os olhos sente muitas saudades da torcida do Fluminense?
Toda hora. Penso em tudo que a gente viveu nas Laranjeiras, pois foi um período vitorioso em seis anos, no qual conviví com os meus companheiros e que se tornaram uma grande família. A saudade bate e lembro de todos, acho que a grande coisa que ficou marcada daquela equipe do Fluminense em qual eu participei foi o legado que a gente deixou com títulos para a grande e imensa torcida tricolor.
Poucos se lembram, mas você teve uma passagem pelo Vasco da Gama, em 1989, onde participou da vitoriosa campanha no Campeonato Brasileiro, ainda que nunca tenha conseguido se firmar como titular em uma super equipe e que contava com inúmeros jogadores de Seleção Brasileira como Acácio, Bebeto, Mazinho, Bismarck, Andrade, Luiz Carlos Winck, entre outros. Como foi essa sua ida para o Gigante da Colina e como lidou com a reserva?
Naquele time do Vasco de 1989, realmente era uma seleção, pois se você pegar todos os jogadores, praticamente jogavam ou jogaram na seleção brasileira. Então é como hoje em dia, você pega aí times que têm um grande elenco e de repente você vê um grande jogador no banco de reservas, como o Flamengo de hoje em dia com o Diego Ribas na reserva, o Everton Ribeiro de vez em quando sai, o Arrascaeta não entra, coisas normais. Assim, é normal você estar no meio de um plantel com grandes jogadores, não pesa tanto, mas claro que você quer jogar, como aconteceu muitas vezes de eu ser titular naquele time do Vasco. Mas o mais importante, eu acho, que fica marcado é ter participado de um grupo como aquele e ter sido campeão, é claro!
Mesmo sendo um ponta muito habilidoso e tendo vivido uma excelente fase no Fluminense, na sua opinião, por que você teve poucas oportunidades na Seleção?
Sinceramente, não sei, pois isso vai de treinador para treinador e se eu fosse contar toda minha história ia demorar para caramba. Mas naquela época no país, poucos jogadores iam para fora do país, então, a competição era enorme. Para se ter uma ideia, a Seleção Brasileira podia ser formada por duas, três grandes equipes, dependendo do treinador. Atualmente cada um tem sua preferência, mas o mais importante é que eu cheguei lá, vesti a camisa e joguei na Seleção e isso fica marcado na minha história e na minha vida.
Quem foi seu ídolo no futebol?
Tive vários ídolos que quando eu era adolescente eu gostava de ver jogar. Me lembro do Rivellino, do Mário Sérgio, todos canhotos como eu e do nosso Rei Pelé, que nem se fala, né? Mas o meu grande ídolo, sem dúvida alguma foi meu pai, pelo grande jogador que foi, o grande ser humano, grande chefe de família e que que inspirou muito, me deu forças no começo da minha carreira, me incentivou a continuar e a não desistir e seguir em frente.
Como vê o Fluminense atualmente?
Com bons olhos, pois o Fluminense tem um bom time, bem treinado, um bom elenco e vem numa luta grande para conquistar algo nesse Campeonato Brasileiro. Eu estou torcendo muito para que tudo dê certo e o nosso Tricolor consiga fazer uma grande campanha.
Defina Tato em uma única palavra?
Em uma única palavra? Do bem. Tato é uma pessoa do bem.
A imensa torcida tricolor quer saber: O que o Tato tem feito da vida? Continua trabalhando com futebol?
Não, eu não trabalho com futebol. Eu trabalho com o grupo Vital, que é Unimed, que é um grupo de saúde e estou muito feliz com o que faço, com as pessoas com quem convivo lá na empresa, e isso é motivo de alegria, de felicidade, de sonhos e esperanças e sem dúvida alguma, realizações. Desde já, um forte abraço a todos do Museu da Pelada e a grande torcida tricolor do nosso querido Fluminense, um abraço!