MARADONA ETERNO
por Luis Filipe Chateaubriand
Maradona foi o maior jogador que vi jogar!
Dribles variados, de todo tipo, um repertório inacreditável, que deixava os adversários tontos, atordoados, embasbacados.
Maradona foi o maior jogador que vi jogar!
Passes precisos, milimétricos, fossem curtos, fossem longos, deixavam os companheiros na cara do gol frequentemente.
Maradona foi o maior jogador que vi jogar!
Incursões pelas extremas do campo, que resultavam em cruzamentos, muitas vezes de letra – sim, cruzamentos de letra, pensem na dificuldade –, que resultavam em precisas oportunidades para arremates para os companheiros.
Maradona foi o maior jogador que vi jogar!
Inteligência tática ímpar, de acordo com a necessidade jogava mais adiantado, onde ficava mais perto do gol, ou mais recuado, onde colocava os colegas mais perto do gol – decisão que era tomada de acordo com o andamento do jogo.
Maradona foi o maior jogador que vi jogar!
Seu carisma incendiava a torcida, dava confiança aos companheiros, fazia que ele próprio confiasse ainda em seu perfeito controle de bola.
Maradona era como um tango de Astor Piazolla, criativo, elegante, insinuante.
Maradona morreu.
Viva Maradona!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
DIEGO, O CAVALEIRO DA GUARDA DO RISO E DO SONHO
por Marcelo Mendez
Era uma tarde de 1986 quando o Pai me chamou para assistir Argentina x Inglaterra pelas quartas de final da Copa do Mundo. E o que aconteceu no Estádio Azteca naquele domingo elevou o que era pra ser apenas futebol a algo épico, imortal.
Vestido com uma camisa 10 azul, um pequeno homem vindo de uma favela de Lanús carregava em seus ombros todo o peso de ser esperança de um País dilacerado por uma guerra imbecil nas Malvinas, dilacerado por uma ditadura sangrenta, à margem da miséria por conta de uma inflação absurda. A única chance daquela nação sorrir era ter naquele camisa 10 algum tipo de esperança. Sempre foi isso.
Maradona era o triunfo dos desfavorecidos. Era o riso surgindo na cara dos pobres que só conheciam a dor. Não foi diferente naquela tarde.
Com a mão, socou a razão para dentro do gol dos ingleses e para que não restasse a dúvida, munido de apenas a bola rente ao seu pé esquerdo, driblou um punhado de ingleses deixando a bola onde ela gostaria de estar, fazendo um gol que entrou para história do futebol e das vidas de muito gente como a minha. Ali se fez uma premissa de vida; Maradona jamais frustrou só que o amavam.
Nunca foi um peso para ele ter todos nós, ávidos por encanto em seus ombros. Sempre encarou com maior prazer a responsabilidade de ser o Cavaleiro da Guarda do Sonho e do Riso. Viveu sua vida para isso, para nos fazer ver que o sonho era possível, que a vida dura seria um pouco mais suportável com ele a defender em campo as causas que acreditava, a guardar pelo riso dos Napolitanos, aos torcedores Argentinos e a todos nós que o saudavam. Tudo isso foi muito rápido.
Como narrou Vitor Hugo Moráles, Maradona foi um “Barrilete Cósmico, vindo de um planeta incerto e distante da nossa compreensão de mortais. Na narração, Vitor diz “Quero Llorar…”, como faço agora. A lágrima grossa que escorre da minha barba para o teclado, me impede que eu revise essa crônica, a emoção não me permite. Sabe, dias atrás eu pedi pra você “Fica Diego, por favor” e você não ficou. Tudo bem. Em sua vida você nunca fez o que os outros quiseram, não iria mudar agora. Você foi Diego…
Você foi o melhor sonho da minha vida.
Gracias Diez
EL PIBE
por Paulo-Roberto Andel
Maradona acabou de falecer.
Com ele, também morre uma era.
Polêmico, instigante, admirável, ferino, libertário, gênio, craque. Craque demais. Não pode ser resumido em adjetivos.
Poucos personagens puderam encarnar tão bem a mistura de garra, poesia e tragédia tão típicas do imaginário portenho.
Nele, o mais poderoso estava em sua condição humana. Ídolo de milhões de pessoas pelo mundo afora, mito de verdade, semideus em sua terra, ele nunca abdicou de sua condição humana, tanto por alguns erros quanto por incontáveis acertos. Seu discurso era genuíno: vivia o que acreditava.
Sinceramente, por mais que fosse previsível, eu não esperava por esse dia. A imagem que tenho de Maradona é a do jovem no Maracanã fazendo Leão, o poderoso goleiro da Seleção Brasileira, se esticar todo para evitar um gol em 1979. Dez anos depois, um chutaço do meio de campo explodindo no travessão.
Por mais que ele mesmo provocasse, e a imprensa adorasse, não precisou ser maior do que Pelé no campo para ser gigantesco, eterno, senhor supremo e absoluto. Também não foi Garrincha, mas assim como o craque brasileiro conduziu o Brasil no Mundial do Chile, Maradona o fez na segunda Copa do México.
Em sua história há de tudo um pouco: tango, papel picado, jogadas espetaculares, uma Copa do Mundo nas mãos, a Máfia, as drogas, os prazeres, a sinceridade, o amor, a empatia, o carisma e um talento para o futebol que atravessou continentes e memórias.
À essa altura, em algum lugar nosso Fernando Vanucci está narrando uma jogada fantástica de Maradona num Globo Esporte. Jorge Curi, narrando um golaço-aço-açooooo. João Saldanha comentando e aplaudindo da cabine de rádio.
Ou talvez tudo seja apenas o último capítulo, silencioso, de um filme impecável: a história de um garoto que ganhou a Terra com a bola nos pés.
Maradona, nosso ídolo e algoz, herói do povo argentino e mosca na sopa dos moralistas.
Nós, simples mortais, lamentamos. Ele, não: já estava condenado à eternidade desde sempre.
@pauloandel
CRAQUE NA BOLA E NA TELINHA: HELENO DE FREITAS
por André Luiz Pereira Nunes
Expoente de uma época em que o futebol ainda não se transformara em um mercado altamente lucrativo, na qual o jogador se identificava com as cores de seu clube, Heleno de Freitas foi um dos grandes nomes do futebol sul-americano dos anos 40. Contudo, a exemplo de seus companheiros de geração, não se tornaria milionário como qualquer atleta de nível médio dos tempos de hoje.
Ao contrário do que se poderia prever, a produção cinematográfica dirigida por José Henrique Fonseca, de 2012, não deve ser resumida a uma temática futebolística, mas sim um drama. Não haveria outra maneira de se narrar a triste trajetória do polêmico ídolo amado pela torcida botafoguense e precursor de uma série de “bad boys” do futebol brasileiro. Quem acompanhou as trajetórias de Edmundo, Ronaldinho, Adriano e outros atletas, talvez nem imagine que tiveram um célebre antecessor.
Referencial do Botafogo, na era pré-Garrincha, foi apelidado pela torcida adversária de Gilda, personagem estrelada por Rita Hayworth, no papel da mulher tão bela quanto complicada. O ídolo marcaria sua trajetória pelo time de General Severiano com 209 gols, em 235 partidas, tornando-se o quarto maior artilheiro da história da agremiação alvinegra. Em 1948, fora vendido ao Boca Juniors, até então a maior transação do futebol brasileiro. De volta ao Rio de Janeiro, atuou pelo Vasco da Gama, conquistando o título de campeão carioca de 1949, coadjuvado pelos companheiros do inesquecível “Expresso da Vitória”. No Júnior de Barranquilla, da Colômbia, marcou 14 gols em 47 jogos. Entre 1950 e 51, ainda defenderia as cores do Santos ao assinalar a incrível marca de 18 gols em 20 jogos. Encerrou melancolicamente a carreira no America ao jogar somente uma partida, a sua única no estádio recentemente inaugurado do Maracanã. Acabaria expulso aos 35 minutos ao atingir violentamente um zagueiro rival. Faria ainda 18 partidas pela Seleção brasileira, marcando 19 gols. Sagrou-se artilheiro do Campeonato Sul-Americano, em 1945, com 6 gols.
Espetacularmente interpretado pelo galã Rodrigo Santoro e encenado de maneira realística em preto e branco, correm em paralelo a imagem do ídolo em pleno sucesso e do doente magro e louco internado em um manicômio em Barbacena, conseqüência da vida desregrada e do avanço da sífilis, doença a qual se negara a tratar, apesar dos insistentes protestos de médicos e dirigentes.
Para interpretar o personagem, Santoro foi obrigado a perder 12 quilos. As duas horas de projeção relembram a memorável, entretanto decadente, trajetória de um personagem que pensava que sua fama se estenderia por toda a eternidade. Ele, de certo modo, estava certo.
APELIDO DE ANÃO, FUTEBOL DE GIGANTE
por Luis Filipe Chateaubriand
Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, bem ao contrário do que muitos dizem, não era um jogador de futebol limitado, um pereba, uma baranga. Embora não fosse nenhuma virtuose técnica, o cara sabia jogar bola.
Sucede que, tendo alguma capacidade para jogar, preferia priorizar a raça, a garra, a luta, enfim, a vontade de vencer. Assim, fazia como muitos de nós que, aos querermos vencer na vida, nos valemos de um pouquinho de talento, mas, principalmente, de sangue, suor e lágrimas, para chegar onde queremos.
Começou no Internacional de Porto Alegre, em seguida teve passagens por Corinthians e Santos. Mas, no futebol brasileiro, foi a curta passagem pelo Vasco da Gama que determinou seu êxito.
Seguiram-se as idas a clubes italianos, alemães e japoneses.
Na Seleção Brasileira, foram mais de dez anos de presença. Nem sempre foi uma unanimidade, como na Copa do Mundo de 1990, onde alcunharam de “A Era Dunga” o fracasso verde e amarelo – uma grande injustiça. Mas o que prevaleceu, na maior parte do tempo, foi a presença de um líder, um comandante, que levou sua equipe a grandes conquistas.
Algumas vezes, Dunga se excedeu na vontade de vencer, como em uma desnecessária cabeçada que deu em Bebeto em jogo da Copa do Mundo de 1998. E, decerto, o técnico Dunga está bem aquém do que foi o jogador.
Mas, irrefutavelmente, no futebol e na vida, querer vencer é imprescindível, e Dunga nos ensinou o caminho.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!