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O CORAÇÃO QUENTINHO DO PORTUGUÊS PALMEIRENSE
por Marcelo Mendez
A boca da noite faz o prenúncio de algo muito bom que está por vir.
Mesmo com a minha boemia em concordata, vivendo hoje um momento diferente em que os deliciosos pecados da noite já não mais fazem parte do meu viver, devo dizer que o sereno me faz falta. Os sons da noite, as possíveis paixões, os flertes e a expectativa de se viver na pele as bendições de quem se joga ao luar, são coisas que sempre carregarei comigo.
E entre essas coisas têm as noites de futebol também.
Lógico que em tempos pandêmicos se perde muita coisa. Não tendo o estádio, a ida até a cancha, sem o grito em favor do time e sem o berro nervoso contra o perna de pau da vez, o futebol fica um tanto quanto melancólico, mas se definiu que será esse o futebol possível de se ter e assim seguimos. Teve ontem à noite o Palmeiras.
O Palmeiras que recentemente se arvorou a ter arrotos de caviar, jogando na cara de todo mundo uma grandeza a partir de um contracheque alheio com o dinheiro de Dona Leila de Crefisa, teve nos últimos anos frequentes choques de realidade, amealhando derrotas e desclassificações seguidas que interromperam seus delírios de grandeza. A realidade bateu forte em Palestra Itália, se descobriu que o histórico técnico Vanderlei Luxemburgo já não mais poderia ser e depois de uma coleção de nãos recebidos por parte de sua fanfarrônica diretoria, eis que no caminho do Verde surgiu Abel Ferreira.
E diga-se:
Em sua “descoberta” não houve mérito algum por parte dessa direção. Nada se pesquisou, nada se planejou, tampouco eles sabiam da trajetória do jovem treinador Português. Foi um empresário que sugeriu a contratação e os cartolas de lá, sem outras opções, toparam a coisa. Daí vem a grande surpresa dos últimos anos no Palmeiras.
Abel Ferreira é o sopro de um novo tempo que ousa chegar em Palestra Itália.
O técnico chegou implantando novas metodologias de trabalho, recuperando jogadores execrados pela torcida como Roni, Zé Rafael, Scarpa, Lucas Lima, sugerindo um novo modelo de gestão definido junto com os jogadores que de imediato compraram a ideia do Professor. Ja são 20 gols marcados e nenhum sofrido em 9 jogos dentro da Arena. Mas o que mais me chama não são os números do time de Abel Ferreira. O que me enche os olhos é o seu entendimento do futebol a partir do viés humano.
“Quando se tem a mente aberta e o coração quentinho, fica tudo mais fácil”.
O Homem disse isso após o Palmeiras amassar o Libertad do Paraguai ontem, no 3×0 pela Libertadores. O Palmeiras está entre os quatro melhores times do continente e não é absurdo seus torcedores pensarem em algo maior pra essa competição. A vida será dura para o Verde, que luta em três frentes, decerto terá muita dificuldade, mas que tem chances nas três competições que disputa porque Abel Ferreira trouxe de volta para a Academia o direito de sonhar. O caminho bom.
Desde que os corações sigam quentinhos.
UM SER DO OUTRO MUNDO
por Zé Roberto Padilha
Tem pessoas que passam pelo mundo que, por não serem comuns ao mundo, poucos no mundo conseguem entender. Muito menos lembrar, respeitar, escalar.
Como, então jornalistas de todo o mundo votariam nele se ele, vocês sabem…
Como entenderiam um jogador que estreia em uma Copa do Mundo e vendo uma Inglaterra, toda de branco, entrar em campo num país só de brancos, no lugar de tremer, ironiza: “Oba! Hoje é contra o São Cristóvão…!”
Hoje, o camisa 07 da seleção desfila conectado ao mundo de fone de ouvido e IPhone. Garrincha carregava uma gaiola pela concentração. Não desligava um só instante da pureza da natureza que vivem a pulverizar.
Ninguém entendeu como driblava daquele jeito, ia e voltava com seu marcador como se brincasse de pique-esconde às vistas de todos que mal escondia seus encantos.
Garrincha teve mais filhos do que podia, relações que não deveria, suecas encantadas que viraram prato de comida, joelhos que não poderiam ser infiltrados e desobedeceu tantas ordens vindas do banco que caminhou por um gramado à parte em nosso universo esportivo.
Aliás, nem teria acesso a ele se uma enciclopédia, sábia como Nilton Santos, após levar um desmoralizante drible entre suas canetas, no primeiro teste que realizou no Botafogo, no lugar de ir tirar satisfações com ele, se dirigiu ao treinador e pediu sua contratação.
Esse aí é melhor ter do lado do que contra.
Ninguém votou contra ele na seleção dos melhores do mundo. Não votaram a favor porque são jornalistas reais, óbvios, previsíveis.
Como todo o mundo. Como escalariam um ser de outro mundo?
INTERCÂMBIO FAJUTO
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Sou cem por cento favorável ao intercâmbio de jogadores, mas essa invasão de argentinos, chilenos, paraguaios, venezuelanos e de vários outros países está virando piada. E por um simples motivo, são ruins demais. Nosso futebol está tão no fundo do poço, mas tão no fundo do poço, que estamos perdendo espaço para uma turma muito ruim de bola. O Inter, por exemplo, está lotado de “gringos” fraquíssimos e o Vasco contratou um colombiano que, me perdoem a franqueza, não poderia estar vestindo a camisa do clube. Os empresários estão fazendo a festa e vendendo gato por lebre.
Na Segunda Divisão também está uma farra. Mas os estrangeiros não estão dispostos a atuar apenas como coadjuvantes. Chegaram devagarzinho, avaliaram o nível, constataram que era possível avançar algumas casinhas e hoje são ídolos em muitos clubes. Exagero meu? As grandes estrelas do time da Colina são três argentinos, no Flamengo, Arrascaeta, mesmo não sendo titular da seleção uruguaia, aqui distribui os coletes, assim como Soteldo, no Santos, mesmo não sendo titular da seleção venezuelana. Ainda da Venezuela temos Savarino, no Atlético-MG, que formará o ataque com o recém chegado Vargas, chileno. E esse, mesmo rodado, velho de guerra, chega com status de líder.
Otero e Cazares, dispensados do Galo, brilham no Corinthians e o paraguaio Gustavo Gómez é o capitão do Palmeiras. Sem falar no meu Botafogo, que ousou voos mais longos para trazer Honda e o marfinense Salomon Kalou. “Mas, PC, o Fogão tem outros gringos no elenco”, me alerta o vendedor do quiosque quando soube que abordaria esse tema na coluna. Quais, perguntei. E ele respondeu: “Gatito, paraguaio, Lecaros, peruano, Cortez, equatoriano, e Barrandeguy, uruguaio, mas nem sei se ainda estão por lá…”. Pior eu que nem sabia que haviam sido contratados.
Olha, nenhum problema que os gringos sejam ídolos e líderes por aqui, afinal já tivemos brilhando em solo brasileiro Doval, Figueroa, Andrada, Fischer, Perfumo, Pedro Rocha, Gamarra, Hugo de Leon, Tevez, Passarela e muitos outros, mas acho que os presidentes de clubes não estão dando mais importância ao peso das camisas e talvez, por isso, muitos times, inclusive o meu Botafogo esteja despencando ladeira abaixo. O Brasil não pode ser a lixeira do futebol, afinal respeito é bom e o torcedor gosta. Se já não fosse o bastante, ainda temos que escutar os “analistas de computadores” falando que o jogador “quebrou a bola”. Quantas vezes vou ter que falar que bola não é pedra para se quebrar?