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COMO VAI VOCÊ, ABEL?

por Marcelo Mendez


Nem tudo no mundo do futebol, mesmo esse futebol elitizado que passa na TV, é tão somente resultado. Vejamos o caso de Abel Braga; Eu não tenho outra vontade nesse caso, além de perguntar…

“Abel, como vai você?”

A primeira vez que soube de Abel treinador foi em 1988, quando ele levou um time limitado do Internacional de Porto Alegre para a decisão do Campeonato Brasileiro, frente ao ótimo time do Bahia que acabou sendo campeão daquele ano. Mas o time de Abel era diferente.

Não tinha maiores aventuras táticas, grandes craques, tão pouco maiores revoluções ludopédicas. O que diferenciava o seu time era o coração de Abel Braga. À frente daquele time, Abel jogava, vivia, sofria e amava junto com seu grupo de jogadores. Virou um Grenal no berro, na motivação, com um jogador a menos, conseguindo uma virada insólita e daí deram a alcunha de “Grenal do século” para esse jogo. Na verdade, o épico ali era o Abelão.

Abel faz parte daquilo que a gente chama de um boa gente. Cara justo, correto, bacana, humano, demasiado humano, paizão, ele tem as coisas que o futebol precisa para ser algo bom para todos nós que gostamos, que trabalhamos com essa coisa. Ao longo de décadas, à frente de dezenas de clubes, Abel não mudou essa sua característica. Seguiu sendo o amigão de geral e conquistou tudo na profissão. É um homem bem-sucedido, pelo qual mesmo de longe, a gente torce pra que ele seja feliz.

Quando aconteceu o grande drama de sua vida, a perda do filho, nós, que sabemos de Abel, sofremos junto. Bom, portanto ver que ele deu a volta por cima, voltou a trabalhar e mesmo que sem aquele brilho, sem aquela labareda de intensidade saindo dos olhos, continua indo bem na profissão. Agora, de volta ao Internacional.

Abel, que não é o mais moderno dos técnicos, já conseguiu meter cinco vitórias seguidas no Brasileirão e traz o Inter de volta ao sonho de voltar a ser campeão brasileiro. São três pontos a menos que o líder São Paulo e um confronto direto no Morumbi para voltar a sonhar. Bem…

Eu não sei se o Internacional será campeão brasileiro, tampouco tenho essa obrigação de ser adivinho. Mas os fatos já provam que Abel novamente deu a volta por cima e se reinventou para o futebol. A nós, jornalistas, fica a dica:

Criticar o que se vê, sim essa é nossa função. Mas aposentar sumariamente, não.

Deixa o Abelão emocionar!

MUNDIALITO, 40 ANOS

por Rubens Lemos


Entre 30 de dezembro de 1980 e 10 de janeiro de 1981, a FIFA reuniu as seleções campeãs do mundo e a Holanda vice nas Copas de 1974 e 1978 para o Mundialito do Uruguai. Celebração dos cinquenta anos do primeiro mundial. A Inglaterra, que fundou o futebol e assaltou a Alemanha Ocidental para conquistar sua taça em 1966, esnobou o torneio.

No grupo encabeçado pelos donos da casa, Uruguai, Itália e Holanda. Na outra chave, brindada com o clichê da morte como limite do equilíbrio, Argentina, Alemanha Ocidental e o Brasil de Telê Santana, ainda desacreditado em casa pelos resultados normalíssimos em 1980.

O Uruguai preparou tudo para repetir 1930 e dedicou-se com a velha garra e a categoria de pelo menos três craques , a seguir, famosos no Brasil: o goleiro Rodolfo Rodriguez, muralha no Santos, o capitão e caudilho Hugo De Leon, campeão do mundo pelo Grêmio em 1983 e o elegante meia canhoto Ruben Paz, ídolo no Internacional(RS).

A Argentina desceu em Montevidéu vitoriosa por antecipação. Maradona estava fulgurante no Boca Juniors, magia em cada toque curto, lançamento, drible de tango e gols de monumento.

Com Rummenige, Hansi Müller, Allofs e Fischer, a Alemanha Ocidental, campeã da Europa, assustava pelo seu porte marcial e seu estilo pragmático, tático de guerra. Favorita tanto quanto a Argentina.

O Brasil de Telê Santana viajou desacreditado e sem três estrelas: Zico, Reinaldo e Falcão. Dois machucados e o outro não liberado pela Roma(ITA).

Sócrates era ilhéu de genialidade. Ainda não havia sinais de Leandro florescendo e a camisa 2 pertencia ao troncudo Edevaldo, revelado pelo Fluminense e apelidado com sutileza de Cavalo.

Há quatro décadas , a teimosia de Telê Santana causava úlceras e urticárias. No gol, os convocados foram Carlos, da Ponte Preta e o razoável João Leite, do Atlético Mineiro, que acabaria jogando as duas partidas decisivas.

Perguntado por Leão, melhor disparado do país, Telê disse que só o chamaria para ser titular e os seus prediletos pela ordem eram Carlos, João Leite, Marola do Santos e Valdir Peres.

Com duas vitórias de 2×0, tranquilas, o Uruguai classificou-se para a final(apenas o vencedor do grupo passava de fase). A Argentina venceu de virada a Alemanha em partida épica por 2×1 e, se ganhasse do Brasil, repetiria a decisão da Copa de 1930.

Maradona deu um drible indecoroso no zagueiro Oscar e fez 1×0, ensaiando um olé que deixou o Brasil de sangue quente. Raça havia apenas no volante Batista. O mamulengo Cerezo rodopiava improdutivo.

Um canhão do lateral Edevaldo decretou o empate brasileiro(1×1) contra a Argentina, que esperaria o resultado de Brasil versus Alemanha Ocidental. Os alemães fizeram 1×0 com Allofs, o que obrigava o Brasil a vencer por dois gols de vantagem.

O time de Telê Santana era especialista em desenhar esperanças que, no painel da bola, culminavam em frustrações. Em exibição irretocável, o Brasil ganhou de 4×1, gols de Júnior, Cerezo, Serginho Chulapa e do driblador Zé Sérgio, então no máximo da forma.

O país precisava da vitória para ser o de sempre: um crédulo gigante. Naquele veraneio ensolarado, samba e festejos de vingança ainda pela nunca digerida derrota da Copa de 1950 para os uruguaios no Maracanã. Venceríamos no Estádio Nacional “para dar o troco”. O Uruguai não precisou de maiores esforços para ser campeão. Ganhou de 2×1.

Ali, com Serginho Chulapa agredindo a bola e João Leite de Valdir Peres antecipado nas falhas bizarras, a seleção de Telê sinalizava o que desabaria um ano depois contra a Itália na Copa do Mundo: era um time que encantava para depois fazer chorar.

PS. Brasil perdeu com João Leite; Edevaldo, Oscar, Luisinho e Júnior; Batista, Cerezo e Tita(Serginho Chulapa); Paulo Isidoro, Sócrates e Zé Sérgio(Eder). Apenas João Leite, Tita e Zé Sérgio não foram à Copa do Mundo de 1982.

FOTOGRAFIA E AVENTURA

por Wendell Pivetta


Oito de janeiro é considerado o Dia do Fotógrafo no Brasil. A data marca a chegada da primeira câmera fotográfica no Brasil, em 1840. No entanto, há algumas controvérsias sobre o dia exato, sendo que alguns consideram o dia 7 ou mesmo 16 de janeiro.

Independente do dia, gostaria de parabenizar a todos os profissionais das lentes, e incorporar no enredo, uma sessão de fotos em um dia de sufoco na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Naquele domingo, estava previsto, e assim acontecendo, a rodada da fase de grupos do Citadino de Futebol de Campo da categoria livre promovido pela Secretaria de Esportes e Lazer de Cruz Alta. Eu estava morando na cidade e atuando como assessor de comunicação. Costumeiramente coloquei em minha rotina ir até a beira do campo ou de quadra fotografar os eventos para promover o trabalho da secretaria, e assim sendo, naquele domingo, encarei uma rodada em um calor de incríveis 40 graus.

O termômetro até marcava 35 graus, porém nos dias de estiagem unidos à brisa do vento quente, a sensação estava na casa dos 40 graus. Antes da bola rolar, cheguei ao estádio do Morro dos Ventos Uivantes, e na casa das 13h45 o jogo iniciava, com o fotógrafo buscando uma sombra na beira do gramado, a qual, não existia. A cancha de futebol estava realmente escaldante, os jogadores se poupavam em lances de contato para não cair na grama seca que lance a lance era tapada pela areia. Sem intenção, os atletas troteavam atrás da bola e as travas das chuteiras iam amassando a grama faminta por água. Tal líquido era esbanjado pelas garrafas hidratando constantemente os atletas, com exceção do fotógrafo que assistia as cenas, porém não descuidou do posto. Me posicionei em uma técnica de ficar apenas em um lado do campo, aguardando os melhores ataques, já que as fotos tinham de ser neutras, sem favorecer alguma equipe em exclusivo, onde tivesse mais ação eu seguia. Curiosamente uma das equipes foi com apenas 9 atletas e a outra com um plantel completo. Logo me posicionei a favor da melhor equipe.

O lado de ataque do primeiro tempo da melhor equipe realmente contou com muitos lances de ataque, porém a sombra não estava presente, o sol estava se posicionando no horizonte e ainda estava um calor escaldante. A sensação de fotografar carregando mochila nas costas e usar um equipamento estava de derreter as ideias, mas as fotos estavam acontecendo naturalmente. Coube neste momento pensar e homenagear os fotógrafos que muitas vezes passam por situações inusitadas para fazer a arte do click. Ainda no segundo tempo virou o lado dos adversários e peguei uma sombrinha, sem me aguentar mais em pé, sentei de baixo de uma sombra próxima a uma antiga torre de rádio. Lá uma laranjeira me presenteou com um momento de frescor, e assim consegui executar uma bela sessão de fotos, já que o time com 9 atletas começou a cansar mais, e sofrer ainda mais ataques do adversário.

Ao decorrer do jogo ainda deu tempo dos quero-quero, pássaros tradicionais do Rio Grande do Sul, aparecerem na beira do campo, e próximo a mim queriam tomar o território deles. Fui convidado a me retirar pela ave, já que ela tem ferrão e costuma atacar as pessoas com seus rasantes. Coisas do futebol gaúcho. Antes do ataque deles, deu tempo de registrar um belíssimo ângulo de um gol exatamente no ângulo, com o perdão da redundância

O TIME IDEAL PARA A COPA DO MUNDO DE 1978

por Luis Filipe Chateaubriand


Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o revolucionário técnico da Seleção Brasileira Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu erros relevantes, possivelmente por inexperiência, já que era novato como técnico. 

Um de seus maiores erros foi a escalação do time. Seu time titular não inspirava confiança. 

O time titular de Cláudio Coutinho foi: Leão; Toninho (Nelinho), Oscar, Amaral e Edinho (Rodrigues Neto); Batista, Toninho Cerezo (Chicão) e Zico (Jorge Mendonça); Gil, Reinaldo (Roberto Dinamite) e Dirceu. Rivelino, contundido, estava fora de combate.

Melhor Coutinho teria feito se escalasse o seguinte time: Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Junior; Carpegiani, Toninho Cerezo e Falcão; Zico, Reinaldo e Dirceu. 

Coutinho sequer levou Junior e Carpegiani para a Copa. Por também ser técnico do Flamengo, possivelmente temeu ser acusado de favorecer o clube. Não podia deixar os dois grandes jogadores de fora. 

Coutinho barrou Zico e Reinaldo, um crime de lesa pátria ao bom futebol. 

Principalmente, Coutinho sequer convocou Falcão, um disparate que chega a ser inacreditável. 

Coutinho preferiu escalar os pouco mais que esforçados Batista e Rodrigues Neto, o maldoso Chicão, o ultrapassado taticamente Gil e Jorge Mendonça e Roberto Dinamite – excelentes opções de banco, mas abaixo de Zico e Reinaldo. 

Ah, Coutinho! Você era tão brilhante… o que te passou pela cabeça?

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

ONDA RETRÔ: VENDA DE CAMISAS DE TIMES EXTINTOS VIRA FEBRE NO RIO

Bairros históricos do Rio são revividos através de ilustres representantes de um glorioso passado esportivo

Por André Luiz Pereira Nunes


É fato que mais de uma dezena de empresas vêm produzindo camisas comemorativas de times brasileiros e europeus. Hoje um aficionado pelo Flamengo, de 1981, ou pelo America, de 1974, pode facilmente encomendar exemplares desses anos. Sabe-se que a paixão futebolística não tem limites, mas era difícil imaginar que essa fronteira seria transposta para clubes extintos, alguns até nem tão conhecidos.

O agitador cultural e professor de geografia, Pedro Henrique Gomes, 37 anos, morador do Méier, é um dos idealizadores da iniciativa. Há cerca de 12 anos, possui um projeto de incentivo à leitura, além do forte engajamento em atividades culturais e educativas, sobretudo nas ruas.

– Ao longo da adolescência, quando visitava um grande amigo, obrigatoriamente passava pela Rua Monsenhor Jerônimo, 135, sede do Engenho de Dentro Atlético Clube. Com os colegas de faculdade jogava bola na quadra. Mas sempre me perguntava sobre o que representava aquela agremiação. Ao pesquisar a respeito, me aparecia algo curioso: era o “Terror do Futebol Suburbano”. Infelizmente o time não mais existe, restando apenas uma modesta sede social. Foi daí que nasceu a ideia da produção da fanzine “Grande Méier FC – Os Fantasmas Azuis do Engenho de Dentro! – revela.

Além do incessante levantamento histórico, Pedro, não satisfeito, ainda passou a tentar reviver o fardamento dessas equipes, tendo todo o cuidado de levantar cores e modelos na tentativa de ressuscitar os uniformes.

– A partir de informações levantadas na internet, procurei uma empresa que fabrica camisas retrô e consegui que fossem produzidos os modelos de três agremiações históricas do Grande Méier: Metropolitano Athletico Club, Japoema Football Club e, obviamente, o Engenho de Dentro Atlético Clube (foto). Também disponho de um exemplar do saudoso Andaraí Atlético Clube (foto), o time de Dondon, imortalizado no samba de Nei Lopes, o qual também deu origem a outra fanzine de minha autoria! – ressalta.

O próprio Engenho de Dentro, em seu Instagram, promove no momento uma campanha junto a torcedores e simpatizantes para fabricar o modelo tradicional de sua camisa, notabilizada por listras verticais azuis em fundo branco. Em 2012, um exemplar referente ao centenário da agremiação chegou a ser produzido e comercializado com sucesso.


O empresário Renato Oliveira, 39 anos, é outro entusiasta da iniciativa. Ele é fundador e proprietário da Otaner, uma confecção existente desde novembro de 2017, a qual disponibiliza produtos na loja Botão FC, localizada no Shopping Boulevard, outrora praça esportiva do Andaraí e, posteriormente, do America. Inicialmente Renato se dedicava apenas à produção de estampas de jogos de futebol de botão. Hoje, não só detém licença para comercializar camisas do America, como ainda visa a fabricar camisas de times inativos. A do Andaraí (foto) já é encontrada em seu negócio. Na lista de pedidos se encontram nomes como Confiança, Vila Isabel, ADN de Niterói, SC Brasil, Magno, Mavílis, Modesto, Mackenzie, Valim, Irajá, Ríver, Mangueira, Riachuelo, Ramos, Catete, Fidalgo e muitos outros.

A maioria dessas agremiações desapareceu por causa de dificuldades financeiras, estruturais ou devido ao advento do profissionalismo no futebol carioca. Algumas ainda mantêm sedes sociais, mas uma grande parte estaria realmente fadada ao esquecimento completo se não fosse a sanha de grandes historiadores e pesquisadores como o saudoso Raymundo Quadros e o intrépido Sérgio Mello, 51 anos, este último, com passagens pelo Jornal dos Sports e Record TV. Graças a esses baluartes, a memória do futebol carioca estará plenamente assegurada, servindo ainda de inspiração para esse tão saudável e benéfico “revival” de camisas.