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CUIABÁ: APLAUSOS PARA O NOVO INTEGRANTE DA SÉRIE A

por André Luiz Pereira Nunes


Enquanto o Cruzeiro patina na Série B e o Botafogo é o lanterna da Série A, o Cuiabá Esporte Clube, de Mato Grosso, acaba de carimbar o passaporte inédito à divisão de elite do Brasileirão. A última participação de uma equipe mato-grossense ocorreu, em 1986, através do Operário de Várzea Grande, ainda em uma época em que a disputa era muito inchada devido ao excessivo número de integrantes.

Fundado, a 12 de dezembro de 2001, pelo saudoso Luiz Carlos Tóffoli, o renomado ex-atacante Gaúcho, de Palmeiras e Flamengo, o Dourado, apelido pelo qual é conhecido, surgiria inicialmente como escolinha de futebol. No entanto, logo passou a atuar nos certames de base do estado.

Não tardaria para que a agremiação auriverde expandisse suas atividades, passando também a disputar o quadro profissional. Logo na estreia, em 2003, chegaria à final contra o Barra do Garças. O prélio decisivo aconteceu no antigo Estádio José Fragelli diante da presença de 10 mil espectadores. O Cuiabá, além de conquistar o título, ainda participou de maneira inédita do Campeonato Brasileiro da Série C, tendo liderado o seu grupo na primeira fase. Posteriormente seria eliminado pelo Palmas, de Tocantins, esse mesmo clube que acaba de vivenciar uma tragédia na qual foram vitimados o seu presidente e quatro integrantes da equipe por conta da queda do avião em que estavam viajando.

Em 2004, sagrou-se bicampeão estadual, dessa vez batendo o União Rondonópolis, fora de casa, no Estádio Engenheiro Luthero Lopes. Entre 2006 e 2008, questões de ordem política e financeira o afastaram das competições. O retorno se daria apenas, em 2009, na segunda divisão, quando o time alcançou o vice-campeonato. Dois anos depois, conseguiu o seu primeiro acesso em nível nacional. Após bater o Independente de Tucuruí, do Pará, alcançou finalmente a Série C do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte perdeu, nas cobranças de pênalti, o título estadual para o Luverdense, em Lucas do Rio Verde. Porém, em 2013, ao ganhar do tradicional Mixto, chegou a mais um título mato-grossense. Em 2014, adveio o bicampeonato através de um triunfo sobre o Luverdense.

Em 2015, tornou-se o primeiro representante do Mato Grosso a vencer a Copa Verde, ao bater na decisão o Remo, em partida emocionante disputada na Arena Pantanal. Com esse importante resultado, habilitou-se a disputar a Copa Sul-Americana, de 2016, outro feito inédito para um time do estado. No mesmo ano, venceu o Operário Várzea-grandense, na final do estadual, chegando ao sexto título em 10 participações.


Em 2016, o Cuiabá não venceu o mato-grossense, mas disputou a Copa Verde, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana e permaneceu na Série C do Brasileiro. No final do ano, foi campeão da Copa FMF sub-21. Em 2017, novamente conquistou o caneco no estadual. Eliminou o Luverdense na semifinal e levantou a taça contra o Sinop, em pleno estádio Gigante do Norte. Era inegável que o clube se tornava uma referência em nível regional.

O Cuiabá Esporte Clube entra para a história. Depois de 35 anos, reposiciona Mato Grosso na elite do futebol brasileiro. Mixto, Dom Bosco e Operário Várzea-grandense, nas décadas de 70 e 80, alternaram aparições, geralmente modestas, na elite nacional. Na época, somente o campeão estadual se credenciava a participar do Brasileirão. Alcançar a elite através das divisões de acesso é um feito do qual apenas o Cuiabá pode se orgulhar.

A IMPORTÂNCIA DAS BANDEIRAS PARA A FESTA DO FUTEBOL

por Luis Filipe Chateaubriand


A primeira vez que me dei conta de como as bandeiras em estádios davam um colorido todo especial à festa do futebol foi em 1978, na final da Copa do Mundo daquele ano.

Com a Argentina na final, o estádio Monumental de Nunes foi tomado por bandeiras, bandeirões e bandeirinhas, sempre em azul e branco, as cores dos Hermanos. Aquele emaranhado de bandeiras se agitando para todos os lados foi uma cena linda!

No ano de 1980, sendo disputada a final do Campeonato Paulista de 1979 entre Corínthians e Ponte Preta, o Morumbi também foi invadido por bandeiras de todos os tipos, desta vez em preto e branco. Cena igualmente linda!

A partir de então, um dos aspectos que mais me seduzia em um jogo de futebol era tentar identificar bandeiras. 

Ao ir aos estádios, ficava admirando as bandeiras serem agitadas, fossem do clube para o qual estava torcendo, fossem do clube adversário.

Na televisão, ficava procurando, no fundo da tela, onde estavam as bandeiras, de que cores eram, quais eram seus tamanhos, o que estava desenhado, o que estava escrito.

Com o passar dos tempos, as bandeiras foram desaparecendo das arenas. Em muitas situações, foram até proibidas – argumentava-se que poderiam ser usadas como paus, em conflitos de torcidas adversárias.

O desaparecimento das bandeiras tirou do futebol bastante de sua graça. Onde se viam, nas dependências dos estádios, cores em movimento, agora se vê tão somente a frieza de pessoas sentadas.

Será que, algum dia, veremos novamente as bandeiras no futebol? Tomara que assim seja, pois, assim, parte da graça do jogo será recuperada.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

DE JOÃO SALDANHA PARA ROGÉRIO CENI

por Zé Roberto Padilha


(psicografado)

Caro Rogério, bom dia. Gostaria de saber se, quando você escolhia seu time na pelada de dois toques no São Paulo, não optava pelos melhores?

E o que é o futebol senão uma pelada organizada onde os melhores ocupam as posições e não as posições definem quem são os melhores?

Quando fui técnico da seleção brasileira, resolvi que teríamos o mais poderoso dos ataques. E convoquei os principais camisas 10 do futebol brasileiro: o do Botafogo, Jairzinho, do Santos, Pelé, do Cruzeiro, Tostão, e do Corinthians, Rivellino. O episódio da convocação ficou conhecido como “As feras do Saldanha”.

Sabe qual foi o resultado, não? O maior e mais poderoso ataque de todas as oCpas, que nos levou ao tricampeonato mundial. Bastou abrir o Jair numa beirada, Rivellino na outra, e avançar o Tostão para entender um Pelé que vinha detrás.

Os craques se entendem. Os pernas-de-pau se desentendem.

Agora, vejo daqui de cima você entrando com o Gabigol e deixando o Pedro no banco. E vice versa. Se são os melhores atacantes que o Flamengo tem, por que deixar um de fora?

Se fosse fazer como você, teria que escalar o Dario e deixar o Tostão no banco. E sabe quando a força física substituiria a inteligência no comando do nosso ataque?

Então, contra o Grêmio, na quinta, escale os dois. Faz de conta que vai entrar com os melhores jogadores pelo critério talento e categoria. Não mais por posição.

O futebol é uma pelada organizada. E quem escolhe e escala os melhores, geralmente, desorganiza é a defesa adversária.

Boa sorte.

NÃO BERREM, ENSINEM!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Com os estádios vazios e os microfones das tevês abertos descortina-se o baixíssimo nível dos chamados líderes dos jogadores. Treinadores e integrantes da comissão técnica escancaram que são péssimos exemplos, pois xingam escancaradamente a equipe de arbitragem e em alguns casos os próprios atletas.

Essa história de os treinadores ficarem à beira do campo foi mais um dos retrocessos do futebol. Em toda a minha carreira, no Brasil e na Europa, nunca um treinador ficou berrando e dizendo o que o nosso time deveria fazer. Se essas orientações, que só servem para contribuir com a poluição sonora, fossem eficazes o meu Botafogo não estaria nessa situação porque o que o Barroco grita: “avança a linha”, “trabalha a bola”, “põe no chão”, “pega o corredor”……

Essa história de treinador jogar com o time não existe. O momento de conversar é no vestiário. O treinador não pode ser a estrela do espetáculo. No aterrorizante Fluminense x Botafogo com 30 minutos de jogo já eram contabilizados 47 passes errados e os “professores” Barroca e Marcão continuavam incentivando “boa”, “acredita”. Chega a ser patético. Ao invés de berrarem, ensinem. Definitivamente, os jogadores mais experientes não estão nem aí para essas “orientações” e os mais jovens, sem estrutura psicológica, podem ser prejudicados.

É uma pressão desnecessária. Mas virou moda. No currículo os treinadores devem destacar seus predicados: grito o jogo todo, suo muito e sempre preciso trocar de camisa, fico rouco ao longo da partida, xingo o árbitro e sou bom em chutar copinhos de água mineral. E nosso futebol só despenca. Os líderes perdem para os últimos colocados e os comentaristas dizem que o campeonato é o mais equilibrado do mundo. O Atlético-MG perdeu para o Vasco, o São Paulo empatou com o Coritiba, o Santos perdeu para o Goiás, o Flamengo perdeu para o Athletico e por aí vai!

Deveriam dizer que o torneio é nivelado por baixo e ganha quem souber se aproveitar disso! A verdade é que a crise técnica é mundial. Bayern de Munique e Real Madrid foram desclassificados por equipes de segunda e terceira divisões. Os gigantes Barcelona e Liverpool também não vão bem das pernas e o Atletico Madri, do xerifão Simeone, se destaca. Santos e Palmeiras estarem disputando a final da Libertadores é outro exemplo. Estou exagerando?

Na tevê, prossegue Flu x Botafogo. O goleiro Cavalieri leva um frango. Ninguém reclamou ou foi consolá-lo. Minutos depois, a bola sai pela lateral, talvez tentando fugir daquilo que pode ser tudo, menos futebol. Barroca reclamou do gandula. Barroca suava, estava rouco, orientou, xingou, andou de um lado para o outro, usou e abusou de todos os requisitos do manual de um técnico moderno, mas não surtiu efeito e o Botafogo, assim como o futebol em geral, despencam do abismo empurrados por seus próprios líderes.

O INTERNACIONAL, SEGUNDO O SORRISO DE JOSIE

por Marcelo Mendez


“Que saudade da Redenção

Do Fogaça e do Falcão

Cobertor de orelha pro frio

E a galera do Beira-Rio”

Ontem teve Grenal e eu lembrei da Josie.

Eu a conheci numa tarde de verão na Avenida Paulista, em que ela me encontrou com um vestido de flores, com os óculos da Audrey Hepburn e um sorriso no rosto que dobrou o sol daquele dia. A partir de então, deixou de ser um dia qualquer. Eu estava conhecendo uma amiga.

Ela queria meu livro de crônicas, marcamos ali num café pra eu entregá-lo a ela e então conversamos. Josie me falou do seu Rio Grande do Sul, de Porto Alegre e do Internacional, dela e do seu Pai. Contou-me que ele esteve doente e que durante a sua recuperação, o Internacional era o que os aproximava, foi o que ajudou o Pai se recuperar. Me emocionou.

Desde então, com a devida licença que peço aos milhões de Colorados, afirmo que quando penso no Internacional, penso no sorriso da Josie dobrando o sol da Avenida Paulista.

E o que foi o Internacional no Grenal de ontem, senão a emoção que rege os corações da Josie e do Pai dela? Não foi uma partida de exuberância técnica, o time não tem obrigação de tê-la, pelo contrário; A partir do instante que detectou sua limitação nessa seara, passou a se aplicar em outros fatores que ajudaram nessa arrancada de oito vitórias seguidas. Também não tem maiores aventuras táticas, outras modernidades do “New Football” que querem empurrar goela abaixo de geral, não:

O time de Abel Braga não pensa muito nisso, porque o entendimento de Abel Braga para o Futebol é outro, livre dessas coisas todas, que busca por outras soluções para o segundo tempo do jogo de ontem quando o Grêmio abriu o placar e ameaçou ser melhor que o Colorado. Abel vai no coração.

Seu time é montado de maneira comum, contando com o motorzinho Edenilson, com a boa fase de Patrick, com dois laterais que o senso comum entendeu que não serviam para Flamengo, caso de Rodinei e Moisés, dispensado do Corinthians. Pode parecer pouca coisa, mas é o básico que se equivale na hora que entra a forma como Abel Braga vê as coisas do futebol e do mundo.

Paizão da bola, sujeito digno, honrado e correto, falando a real na cara de seus jogadores, Abelão ganhou seu grupo e tem dos seus jogadores tudo o que eles podem lhes dar. É comovente ver a entrega desses caras na luta pra dar ao Inter uma alegria que não vem desde 1979, desde quando aquele timaço de Falcão e companhia inspirou esse verso da música “Deu Pra Ti” de Kleiton e Kledir, que abre essa crônica e que diz muito do que está acontecendo no Beira Rio.

Diz muito da Josie.

Minha amiga Gaúcha ontem ligou para o Pai dela depois do jogo. Ela em São Paulo, ele em Porto Alegre; Ambos riram, se emocionaram, prometeram que, assim que a pandemia passar, vão se ver, se abraçar, comemorar o título que a Josie acha que dessa vez não vai escapar. A prudência da profissão talvez me fizesse dizer que muita coisa pode acontecer no Brasileirão de 2020, que precisa ter cuidado e tudo mais, mas nesse caso, não vai ser possível. Eu não quero contrariar o coração em estado de graça da Josie.

Boa sorte ao Internacional na sua arrancada e que o melhor aconteça ao Colorado na sua saga pelo Título do Brasileirão e se ele vier não ficarei triste de maneira alguma, porque sei que a Josie vai comemorar com seu Pai e vai abrir o seu sorriso.

E o sorriso da Josie quando o Internacional vence é mais bonito que o pôr do sol na beira do Guaíba.