PERDEMOS O PRESTÍGIO
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
A eliminação do Palmeiras só foi novidade para os comentaristas clubistas que torcem ao invés de analisar. A final da Libertadores, uma das piores de todos os tempos, evidenciou um time covarde, apagado e que só venceu por conta de um erro individual. Mas essa estratégia medonha de jogar por uma bola nem sempre dá certo e dessa forma o elenco milionário do Palmeiras perdeu para o Tigres, que não está nem entre os quatro primeiros colocados do campeonato mexicano.
Foi a vitória da escolinha do Neca, lendário professor do Botafogo, que lançou muitos craques, entre eles Carlos Roberto, Nei Conceição e os irmãos Ferretti, Victor, Bruno e Tuca, técnico do Tigres. A verdade é que o Brasil vem perdendo espaço, prestígio, no cenário mundial do futebol. Uma prova contundente disso foi a compra do atacante Brenner pelo FC Cincinnati, dos Estados Unidos. Quando apenas a Europa levava nossos talentos considerávamos isso algo inevitável, mas a partir do momento em que mercados secundários fazem abordagens agressivas só vai sobrar o bagaço da laranja.
Já, já Austrália, Nova Zelândia e Islândia baterão à nossa porta. Dessa forma, o nível de nossos campeonatos será esse que estamos acompanhando. Até o Flamengo que vinha embalado Rogério Ceni conseguiu frear. A queda do Botafogo me deixou realmente assustado porque o time em nenhum momento pareceu estar jogando para escapar do rebaixamento. Certamente o pior grupo da história do clube e mesmo assim alguns “atletas” chegavam atrasados no treino e outros andavam em campo.
Em determinado momento da partida, o Botafogo precisando empatar, um alvinegro cai querendo atendimento médico. Não joga nada e quer massagem!!! Meu Deus, nessa hora é para comer grama, jogar de muleta e vai cair por causa de câimbra!!! Essas pessoas não podem passar pelo portão de General Severiano!!! Foi arrastado por dois parceiros porque não existe mais o maqueiro Mike Tyson, foi arrastado como o nosso futebol vem sendo há anos, tratado como entulho, jogado para escanteio. E, olha, se Mike Tyson ainda estivesse em atividade talvez se negasse a entrar em campo, pedisse substituição, se sentasse à beira do campo e chorasse conosco com saudade do que já fomos.
A ANSIEDADE TOMOU CONTA
por Wendell Pivetta
Quando acabou o jogo do Palmeiras contra o Tigres, tive clareza de uma coisa: a ansiedade tomou conta. Weverton declarou em entrevista após o jogo que não conseguiu dormir devido ao nervosismo e preocupação, e a ansiedade é um termo geral para vários distúrbios que causam exatamente nervosismo, medo, apreensão e preocupação.
O restante do plantel pode ter sentido mais medo e apreensão, já que não conseguiram render tudo aquilo que se esperava do torcedor. Está aí a palavra-chave, antes do atleta, vem o torcedor. Este sim está com a ansiedade à flor da pele. Nos grupos de futebol cujos os quais eu faço parte, se cria uma apreensão dramática antes, durante e depois de uma partida. Se o atleta não dorme, imagina só o torcedor, que hoje pega aquela “zoeira” do rival, está trabalhando muito mais ou nem está trabalhando devido a pandemia, refém da falta de lazer e com programas jorrando informações sobre o clube do coração.
O torcedor assimila tudo, e cria uma tremenda expectativa em cima do possível campeão, do time em que ele joga suas emoções em cima, e torce pelo momento máximo, o gol. Quando o Internacional venceu o clássico Gre-Nal rumo a liderança do campeonato, me fez ali criar este tema, pois o colorado estava jogando muito bem, e tomou um gol. Os grupos de WhatsApp jorraram críticas e desistência, um estresse grandioso, tensão de travar respiração. A reação acontece, o time empata e ganha, o torcedor respira o alívio e vibra, grita, pula, e desencadeia reações inexplicáveis perante o resultado.
A ansiedade contracena com a raiva, e acaba por ganhar proporções no dia a dia. É perceptível como os jogos nesta tabela reduzida, acontecendo com uma frequência alta para cumprir com a tabela, têm aumentado ainda mais a pulsação do torcedor e também dos atletas, responsáveis por uma nação dentro do campo. Em uma semana estão no céu, e na outra caem no inferno astral deste futebol cada vez mais cobrado. Restam três rodadas para o fim, e muita coisa ainda pode acontecer. Bipolaridade obrigatória na torcida.
Outra emoção que toma conta é o remorso. Esta sensação de que se o time tivesse vencido A ou empatado com B estraçalha o coração do torcedor. É um sentimento onde o amante do futebol acaba se colocando no lugar do atleta e o atleta, aonde se coloca? Eita emoção complicada, pune severamente aquele que buscava mais.
Aqui vai a minha dica: se desprenda da tecnologia. Tarefa difícil, porém nada impossível. Diminuir este consumo trocando por atividade física é cansar o corpo e refrescar a mente. Tecnologia só na hora do jogo. E por favor, pesquise sobre estes temas citados, busque um psicólogo caso você se encaixe nestas condições em extrema agonia, elas são extremamente prejudiciais à saúde.
FOI JUSTO PALMEIRENSE. JUSTO…
por Marcelo Mendez
Eu sei que nesse momento, poucos minutos após o final do jogo no Catar, deve tá doendo muito amigo Palmeirense. Mas o futebol é assim.
O mínimo placar de 1×0, gol de Gignac para o Tigres, tira do Palmeiras a chance de sonhar com o título mundial de clubes e o que aconteceu todos vocês viram. O amplo domínio do time mexicano que em hora alguma viu sua classificação ameaçada e os motivos são bem claros.
Começa obviamente pela ótima partida do Tigres. E daí precisa ser ressaltado o ótimo trabalho do time e de sua diretoria. São 10 anos de um projeto com Tuca Ferreti no comando técnico, contra três meses de Abel Ferreira no Palmeiras. O Português executou verdadeiros milagres, dando para o Palmeiras um título continental, com a garotada da base levando esse time e ainda por cima, tendo a Copa do Brasil para sim, ter a possibilidade de fechar uma temporada com chave de ouro. Nada a contestar com relação ao trabalho de Abel, mas precisamos falar do Tigres.
São 10 anos mantendo um técnico. Nesses 10 anos, o Tigres conseguiu só agora sua Concacaf e ainda assim o conceito de trabalho de Ferreti foi mantido. Isso diz muita coisa. Vivemos num país onde se mensura um trabalho técnico por rodadas. Quantas vezes os amigos já não ouviram da imprensa bolerona aquela lorota do “Já são quatro rodadas sem vitórias, hein?”
Quatro vitórias = Um mês de trabalho.
O Palmeiras se viu encaixotado por um time muito técnico, sabedor do que deveria fazer para quebrar a velocidade do Palmeiras, seu jogo mais incisivo pelas pontas, sabia como furar o bom esquema defensivo do Verde, sabia que precisava de um bom jogo de seus meias/volantes para Gignac poder ter o rendimento que teve na partida. E como fez isso? Em três meses? Trocando técnico no meio da temporada? Assistindo debate esportivo para ter o termômetro de sua gestão?
Pessoal, acabou o Boleirismo.
Não que o Palmeiras seja assim, muito pelo contrário, isso não se aplica ao ótimo trabalho de Abel Ferreira, falo do entendimento das coisas que circundam o futebol.
Para se ganhar um mundial de clubes precisa de planejamento, tempo de trabalho, paciência durante a execução desse trabalho e coragem para mantê-lo. Dessa forma, frustrações como essas serão evitadas futuramente. Por hora é isso, amigo Palmeirense. Vai doer, mas passa.
Daqui um pouco tem mais uma final pra disputar. Guarda teu coração que seu time vai precisar.
CLÁSSICO DOS MILHÕES (EM CASA)
por Luciano Teles
Dia 04 de Fevereiro de 2020, 21:15. Provavelmente, escrevo já com uns 15 min passados do jogo Flamengo x Vasco, válido pela 34ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2020 (20/21?). Não ouço pelo rádio. Não acompanho pela TV. Estou no meu carro, na garagem do meu prédio. Até o CD player foi desligado.
Portanto, não sei como anda o placar. E não me interessa saber. Depois eu vejo. Na atual situação, meu Vasco luta contra si mesmo, politica e economicamente. Em campo, contra o vice-líder do campeonato. Na vida, lutamos contra um invisível vírus. Mas redes sociais, muitos crendo no anonimato virtual, uns contra os outros. Onde entra o futebol, nesse contexto?
Estou na garagem porque acabo de chegar de Ipanema, onde fui buscar um laudo da médica da minha filha, do qual precisarei amanhã. Ainda na Zona Sul, me lembrei do jogo no Maracanã. Morador da Tijuca, por um momento temi por um engarrafamento na Lagoa, no Túnel Rebouças e na própria Tijuca. E, claro, pensei: Tenho de evitar o Maracanã. Até que…
Até que me lembrei de que o Clássico dos Milhões será com todos os seis dígitos de torcedores em casa. Ninguém nas arquibancadas. Nem uma dezena a ocupar as cadeiras.
Na volta para a Tijuca, me perco em pensamentos, enquanto um The Who ao vivo, de 75, sai do CD player. Até que saio do sinal da estação de São Cristóvão e, ao subir o viaduto Oduvaldo Cozzi, que liga a Radial Oeste à Avenida Maracanã, visualizo o ex-Maior do Mundo. Iluminado internamente, como sempre, noites de jogos. Mas…
Mas nada demais acontece externamente. A iluminação rotineira da rua e de fora do estádio dá visibilidade aos que caminham, correm ou se exercitam calmamente, na calçada do Maracanã. Os carros seguem pelas duas pistas da avenida, num trajeto tranquilo, o qual nem o semáforo da Eurico Rabêlo parece querer interromper. Se mantém verde, assim como o da São Francisco Xavier.
Não pude ver a expressão da estátua de Bellini. Mas tenho certeza de que não observava tudo isso com ar de normalidade. “Noite estranha, com tudo esquisito”, ouso parafrasear Renato Russo.
Segui pela Tijuca. Me lembrei de 13 de novembro de 2019, quando muitos jogadores desse mesmo time do Flamengo enfrentaram um Vasco que não apresentava a mesma qualidade técnica. Muito suor e muita dedicação depois, saindo atrás no placar, logo no início da partida, com duas viradas, os times saíam de campo empatados num surpreendente 4×4! Não sem antes ter a clássica confusão entre os jogadores. Coincidentemente, o jogo era válido pela 34ª rodada.
Naquela quarta-feira, saí do hospital em que trabalho, na Zona Sul, já pelas 19h e enfrentei trânsito de “arder os nervos”, como diria meu avô. Sou muito ligado na minha rotina e acabo me esquecendo de eventos e jogos que possam causar lentidão no trânsito etc. Mesmo em ruas periféricas ao Maracanã, em outro trajeto, o tráfego sofria as consequências do Clássico dos Milhões.
Mas, hoje, é o Clássico dos Milhões que tem sua rotina mudada pela vida. A vida real. A realidade é dos milhões em casa. Dos milhões de infectados e dos milhões que se foram em todo o mundo. O futebol, como tantos outros esportes e atividades, incluindo de trabalho, é um sobrevivente. Que façamos tudo para sobrevivermos e voltarmos à vida, ao jogo da vida dentro das regras como as conhecíamos. Sem nenhum impedimento.
UMA AVALANCHE DE CLUBES NO CAMPEONATO CARIOCA
por André Luiz Pereira Nunes
Em 1913, pela primeira vez, a título de experiência, o Campeonato Carioca foi aumentado para 10 clubes, a saber: America, Bangu, Botafogo, Flamengo, Paissandu, Fluminense, Rio Cricket, São Cristóvão, Mangueira e Americano. A experiência não trouxe resultado e, no ano seguinte, foi deliberado, pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), o afastamento do Mangueira e do Americano, ficando reduzido o certame para 8 clubes. O problema é que o Bangu resolveu não disputar a competição, diminuindo então o número para 7 agremiações. Pela primeira vez o Flamengo se sagrou campeão da cidade, feito repetido, em 1915, já em plena Primeira Guerra Mundial, declarada no ano anterior.
A Liga Metropolitana resolveu, portanto, manter os mesmos 8 clubes do ano anterior com a volta do Bangu. Porém, os jogadores do Paissandu, de nacionalidade britânica, atenderam ao chamado de sua pátria, para prestarem serviço militar e afastaram definitivamente seu time do Campeonato Carioca. Assim sendo, o número se manteve em 7 participantes.
Em 1916, a Liga Metropolitana resolveu apostar em 8 clubes para o campeonato, possibilitando merecido acesso ao Andaraí, uma vez que possuía o campo da Rua Barão de São Francisco, dotado de arquibancadas e boas instalações. Sabe-se que mais tarde o local foi adquirido pelo America e, posteriormente, se tornou um shopping center. Contudo, ocorreria novo revés. Pelas mesmas razões do Paissandu, o Rio Cricket abandonou a competição para também nunca mais voltar. O certame foi integrado por apenas 7 clubes e o America foi o campeão.
Uma avalanche de clubes, em 1917, invadiu a Liga Metropolitana. A entidade, então, foi obrigada a formar três divisões, aumentando para 10 o número de times na primeira divisão, a qual ficou assim constituída: Fluminense, America, Flamengo, São Cristóvão, Botafogo, Andaraí, Bangu, o Mangueira, que havia voltado à primeira divisão, além dos novatos procedentes da segunda divisão Vila Isabel e Carioca.
Os clubes mais antigos continuaram na segunda divisão, entre os quais, o Clube de Regatas Boqueirão do Passeio, Palmeiras, Catete, Paulistano, entre outros, enquanto que na terceira divisão novos clubes haviam ingressado, tais quais, Vasco, Paladino, Ríver, São Bento, Icaraí, Brasil, Gragoatá, Parque Royal e o Esperança, cuja sede ficava no Marco 6, em Bangu, e foi engolida pela Avenida Brasil.
O Fluminense se sagrou tricampeão da cidade, vencendo os certames de 1917, 1918 e 1919. Durante quatro anos não haveria alterações no número de disputantes do campeonato da cidade. Inclusive foi justamente nessa época que o Tricolor das Laranjeiras, através de Arnaldo Guinle, construiu seu suntuoso estádio, sendo o único que possuía campo, pista de atletismo, piscina, excelentes quadras de tênis e outras modalidades esportivas.
A novidade mais expressiva surgiria logo depois. O Vasco, em 1916, jogou a terceira divisão. No ano seguinte subiu para a segunda e nela se manteve até 1920, quando passou à Série B da primeira divisão. Em 1922, sagrou-se campeão da Série B e, ano ano seguinte, campeão carioca. Trata-se de um exemplo único de um time oriundo de uma série inferior conquistar o campeonato da divisão de elite apenas com uma derrota e seis pontos de vantagem sobre o Flamengo, oito do São Cristóvão, nove sobre o Fluminense, onze acima do America, quatorze sobre o Bangu, quinze à frente do Andaraí e vinte acima do Botafogo.
Saído do nada, o Vasco prosperou pelo seu próprio esforço. Em 1927, construiu o maior estádio do Brasil, superado apenas em 1950 pelo Maracanã.