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A TARDE DOS VENCEDORES

por Zé Roberto Padilha


Tem tardes, raras na vida da gente que é treinador de futebol, em que vamos para casa feliz toda vida independente do resultado. Como no Fla x Flu de ontem, no Maracanã.

Um, Roger, porque venceu a partida, outro, Mauricio Souza, porque venceu no futebol.

Há muito não assistia, durante os 90 minutos, uma aplicação tática, cheia de entrega e qualidade técnica para trocar passes e penetrar pelos flancos, como a do Flamengo. Talvez tenha faltado o Nunes, Gaúcho, Romário, Fio, Silva, Obina, Vinicius e Claudio Adão para confirmar a superioridade.

Há tempos, desde que era jogador do Fluminense, já sabia que a nossa camisa detém uma cumplicidade com títulos e vitórias que transcende a imaginação.

Quantas vezes levei uma faixa para casa que não era destinada a nossa casa. Jogamos menos, mas jogávamos no Fluminense. E ganhamos 71, 73, 75…

Tita, meu amigo e comentarista da partida, quanto maior era a posse de bola do Flamengo, recebeu um Zap meu que dizia: Fluminense 1×0.

Ele devolveu: “Caramba. Vai ser uma surpresa!”.

Sobrenatural de Almeida, o personagem de Nelson Rodrigues, adora surpresas. Incorporou em Lula, 1971, Manfrine, 1973, Assis duas vezes nos anos 80, Renato Gaúcho, em 1995, e ontem levou Igor Julião a acertar um lindo chute de fora da área.

Sabemos que no esporte, como na vida, só sobrevivem os vencedores. Ontem, foi uma exceção. Um Fla x Flu, na sua mais pura concepção, em que os dois venceram.

Mais do que eles, o futebol.

Parabéns aos dois treinadores.

O CRAQUE DO BRASIL EM 1981

por Luis Filipe Chateaubriand


O melhor jogador do Brasil em 1981 não poderia ser outro que não Arthur Antunes Coimbra, o Zico. 

Jogando pela Seleção Brasileira, o fez nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1982 e em uma excursão à Europa, com grande destaque. 

Pelo Flamengo, foi o grande de destaque da conquista da primeira Libertadores da América do clube (marcou todos os quatro gols do clube nas finais) e da conquista do Mundial de Clubes (deu três passes para os três gols rubro-negros). 

De quebra, liderou o time em um certo 6 x 0 contra o Botafogo. 

Realmente, 1981 foi o ano do Galinho de Quintino! 

Não só o melhor do Brasil, mas o melhor do mundo, naquele ano.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

ESFORÇO DE PACIFICAÇÃO DO FUTEBOL CARIOCA

por André Luiz Pereira Nunes


O futebol carioca sempre sobreviveu a graves crises financeiras. Possivelmente, a pior ocorreu, em 1933, a partir da implantação do profissionalismo. Daquele ano até o final de 1936, os clubes profissionais passaram por grandes privações.

O profissionalismo, fundado por seis clubes, contou nos primórdios com o apoio de quatro, a saber: Fluminense, Vasco, America e Bangu. O Botafogo negou-se a participar da Liga Carioca de Futebol e continuou na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), entidade amadorista. O Flamengo também não aceitou o profissionalismo, só ingressando na nova entidade esperando grandes promessas que nunca foram cumpridas. Para completar seis clubes no campeonato, foi necessário conceder filiação ao Bonsucesso.

O São Cristóvão ingressou na Liga Carioca de Futebol, em 1934, conquistando o vice-campeonato, enquanto o Vasco venceu o certame da cidade. No ano seguinte, a entidade profissionalista se encontrava virtualmente falida e contava com os seguintes clubes: America, Flamengo, Fluminense, Bonsucesso, Modesto e Portuguesa. 

A Federação Metropolitana de Futebol, denominada de amadorista, passou a reunir os seguintes times: Botafogo, Vasco, Andaraí, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Carioca e Olaria. Ao fim de 1936, as agremiações estavam todas na pindaíba. Nessa ocasião, dois desportistas sinceros, que não eram técnicos, tampouco advogados de causas perdidas, deliberaram pacificar o futebol carioca. Eram dois negociantes abastados, um pertencente ao America e outro ao Vasco. Pedro Magalhães Correia, presidente do America, era um dos maiores acionistas do Banco do Brasil, e Pedro Pereira Novaes, presidente do Vasco, era alto negociante de couros.


Ambos reuniram-se na Associação dos Empregados do Comércio, sem o conhecimento de ninguém, e tomaram as seguintes medidas: Reunir os 12 maiores clubes do Rio de Janeiro pertencentes às duas entidades para disputarem o campeonato de 1937. Esses times tinham um ano de prazo para se adaptarem às condições exigidas pela nova entidade. Os que não cumprissem as determinações seriam afastados.

Portanto, em 1937, os participantes foram Andaraí, America, Bangu, Botafogo, Bonsucesso, Fluminense, Flamengo, Vasco, Olaria, Madureira, São Cristóvão e Portuguesa.

Em 1938, três clubes deixaram de cumprir as exigências: Andaraí, Carioca e Olaria. O certame foi integrado por apenas 9 times. No ano seguinte, houve o mesmo número de participantes em três turnos. A classificação foi a seguinte: 1- Flamengo; 2 – Botafogo; 3 – São Cristóvão; 4 – Fluminense; 5 – America; 6 – Vasco; 7 – Madureira; 8 – Bangu; 9 – Bonsucesso.

Em 1939, os maiores goleadores foram Carvalho Leite (Botafogo) – 22 gols, Pascoal (Botafogo) – 19 gols, Jair (Madureira) – 15 gols, Roberto (São Cristóvão) – 14 gols, Perácio (Botafogo), Valido e Gonzalez (Flamengo) e Fogueira (Fluminense) – 13 gols, Odair (Bonsucesso), Patesko (Botafogo) e Carreiro (São Cristóvão) – 12 gols, Hortêncio (America) e Joaquim (São Cristóvão) – 11 gols, Caxambu, Sá e Leônidas (Flamengo) e Hércules (Fluminense) – 10 gols. 

Mário Viana foi o árbitro que mais apitou partidas: 20. Seguido de Carlos Monteiro e Fioravante D`Angelo, respectivamente, 19 e 16 partidas.

DESCULPE, MARIO FILHO

por Zé Roberto Padilha


Como um personagem do esporte, que deve ter feito muita coisa em sua época para merecer dar nome ao maior estádio do mundo, fez por desmerecer continuar a ostentar seu nome no Maracanã?

Como homenagear uma pessoa se, ao mesmo tempo, desmerecemos os já reconhecidos feitos de uma outra?

Desculpe, família Mario Filho, jornalista e escritor que deu, por unanimidade, seu nome ao estádio do Maracanã, pelo aparecimento de alguns imbecis propondo substituí-lo pelo Rei Pelé.

Até levantarmos uma Copa do Mundo, e descobrir que haveria um Rei entre nós, seu nome era exibido com orgulho ao entorno naquele que se tornou o mais respeitado estádio do mundo.

Não vamos deixar trocar. Alô, torcidas organizadas.

A Rua Manoel Duarte, aqui em Três Rios, vai sempre ser dele, embora outra atitude retardada tenha a mudado para Rua Prefeito Joaquim Ferreira.

Não se cobre um santo despindo o outro.

Não se apaga uma história ocultando a outra.

O tempo, senhor da razão, há de colocar as coisas no lugar. Mesmo porque em 1950, quando foi inaugurado, ainda não havia um trono para um Rei sentar, jogar, marcar gols a merecer ocupar o seu lugar.

Salve Mario Filho, imutável nome concedido ao templo maior do futebol mundial.

E que Deus conserve o nosso Rei Pelé fora dessa gratuita e inaceitável injustiça.

O INUSITADO DUELO DOVAL X CAFURINGA E A REVANCHE NO FLA X FLU QUE JAMAIS ACONTECEU

por Victor Kingma


Na minha infância eu gostava muito de jogar botão. Entretanto, jamais utilizei os tradicionais times comprados nas lojas de brinquedos.

Gostava eu mesmo de confeccioná-los usando casca de coco ou conseguindo tampas descartadas de relógios Lanco, na relojoaria do bairro, em Juiz de Fora, onde eu morava na época. 

Eu era um bom praticante, sem nunca ter conseguido ser um craque no jogo, como tantos amigos do bairro.  

Certa vez, recém casado, lá pelos anos 70, fui desafiado por um primo da minha esposa, então com quatorze anos, para uma partida.

Missão ingrata, pois o moleque jogava demais! Tinha sido inclusive o campeão da modalidade no seu colégio. Eu, flamenguista histórico, e ele tricolor fanático. Claro que nossos botões representavam esses times.

Iniciada a partida logo vi que a disputa era indigesta mesmo. Logo o Fluminense fez 1 x 0. Gol de Flávio, avante tricolor.

A partir daí, confiante, ele passou a me zoar, tocando a bola de um lado para outro do estádio “Estrelão”. Sabia que podia fazer gols a qualquer momento.

Entretanto, quase no final do jogo empatei a partida: golaço de Doval, do meio de campo. 


Comecei a zoá-lo, falando que a minha experiência faria a diferença. 

Ele partiu ferozmente para o ataque e, por três vezes, esteve para desempatar. Todas através do ponteiro Cafuringa. Duas bolas (na verdade dadinhos), bateram na trave e uma passou por cima do gol.

Aí eu catimbava ainda mais dizendo que Cafuringa não fazia gols nem no time profissional, como iria fazer em jogo de botões.

No finalzinho da partida, outra chance para o Fluminense. 

Era questão de honra para ele que o gol fosse de Cafuringa.

Mas ele desperdiçou de novo: o arisco e excelente ponta tricolor, que era juiz-forano, não era mesmo de balançar as redes adversárias e mais uma vez errou o alvo.

Era evidente o nervosismo do meu forte adversário.

Na saída de bola, pimba! Desempatei! Novamente com Doval, o cabeludo atacante argentino, ídolo da torcida rubro-negra.


E o Fla x Flu terminou 2 x 1 para o meu Flamengo.

A revanche tão reclamada por ele jamais aconteceu, claro.

Não correria o risco. Até porque, certamente, ele usaria como finalizador o gaúcho Flávio, o Minuano, terrível artilheiro tricolor daqueles tempos.  

Hoje, passados mais de quarenta anos daquela emocionante partida, finalmente estou pensando em conceder a revanche ao meu querido amigo Evandro Rossi. 

Quem sabe com Fred e Gabigol como protagonistas.

Depois conto o resultado!