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BRIGAS POLÍTICAS E POR AUDIÊNCIA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Já falei aqui algumas vezes que sou um consumidor voraz de futebol e se passar Segunda Divisão do campeonato indiano irei conferir. Adoro o futebol alegre dos árabes e africanos, por exemplo. Mas antes que surja alguém falando que nunca venceram nada vou logo avisando que faço parte do time dos que privilegiam o futebol-arte, independentemente de resultado. Mas falo sobre isso porque ontem assisti a liga inglesa, espanhola, italiana, holandesa, mas quando fui conferir o Fla x Flu não encontrei. Só pagando.

Peraí, me explica, os torcedores que estão impossibilitados de irem aos estádios por conta da pandemia nem pela tevê podem assistir??? Nessa briga danosa entre as emissoras pela transmissão dos jogos o torcedor acaba pagando o pato. O Brasil está cansativo demais. É briga por audiência, é briga política. Em todo o mundo os campeonatos não foram suspensos e assisti um jogo de golfe, nos Estados Unidos, já com torcedores. A previsão é que em maio os americanos voltem à rotina, vacinados. No Brasil, São Paulo suspende, os outros estados não acompanham, a CBF garante que seguindo os protocolos não há necessidade da paralisação e a mídia não aponta o melhor caminho, pelo contrário.

Está claro, há algum tempo, que essa pandemia virou uma briga política. Da mesma forma que um clássico tradicionalíssimo, como o Fla x Flu, não passa em canto nenhum e as emissoras só pensam em faturar, os políticos também não pensam em benefício próprio. Se debater futebol já está complicado, imagine acrescentar política, aí vira barril de pólvora. Só sei que não vou pagar para ver jogo ruim e com esses comentaristas falando orelha da bola e centralizado pelo meio, cansei.

Mas os torcedores são incansáveis, irônicos, provocativos e, assim que o Cristiano Ronaldo marcou três vezes e ultrapassou Pelé em gols oficiais, comecei a receber essas enquetes, tipo “PC, só tem uma vaga no seu time, Cristiano Ronaldo, Messi ou Romário?”. Me divirto com isso. São épocas diferentes e só por isso já fica complicado opinar, mas já adianto que jogaria com os três, apesar de Romário ser o melhor definidor do trio. Messi é aquele atacante enjoado que todo marcador sabe o que ele irá fazer, mas não consegue freá-lo. E Cristiano Ronaldo é um atleta, um profissional que treina como um louco e consegue ser um ídolo mundial, um fenômeno, mesmo sem ter suingue e saber driblar. Tem o meu respeito.

Na contramão disso, posso citar o exemplo do Gabigol, que foi flagrado em um cassino clandestino. Ouvi a versão dele e a do delegado, sendo a segunda mais convincente. No mais, sigo torcendo para Guardiola, tenho visto um Mourinho mais ofensivo e fiquei feliz com a ida de Jorge Sampaoli para o meu querido Olympique de Marseille. E no campeonato paulista vou torcer para o Bragantino, o único que gosto de ver jogar. “Mas, PC, nunca ganhou nada…”. Continuem torcendo por seus robôs velocistas e me deixem em paz!

EU, MAJOR E A BOLA

por Alexandre Sá


“JANTA ELE!!”.

Na pelada, final de semana, algumas vezes descalço, outras calçado com o tênis ou com o Ki-Chute velho, que não ia mais à escola ou aos passeios.

Uma rua no bairro carioca de Higienopólis, com uma molecada pra lá de esperta.

Na parte mais baixa da rua, sim, era uma descida, o pau comia.

Quem atacasse subindo que corresse mais.

Eu sempre tive mais força física que habilidade, fato que sempre me fez ter certas reservas contra baixinhos habilidosos.

Na pelada, jogavam juntos filhos, pais e irmãos mais velhos. Sendo que as duas últimas faixas etárias nunca aliviavam a primeira.

Pelo contrário.

Na equação força x habilidade eu tinha que lançar mão da primeira, que me era mais acessível.

E a pelada na rua muitas vezes nos levava ao famigerado “time contra”.

Um amistoso contra as ruas vizinhas, que de amistoso só tinha o nome.

E a peleja se desenrolava no campo de terra da rua Além Paraíba.

Sangue, areia e glória.

A nobre tarefa de guarnecer a defesa, logicamente, era designada ao moleque mais alto.

E nestas ocasiões, quando o ataque adversário rondava perigosamente a nossa área, eu ouvia o conselho:

“JANTA ELE!!!”

Devo confessar que muitas vezes me empolgava e me lembrava da frase de São Moisés:

“Zagueiro que se preza não ganha o Belford Duarte.”

O célebre e valoroso conselho do “JANTA ELE!!!” era dado pelo Major, figura conhecida no bairro e meio que pai emprestado da molecada.

Mineiro que se mudou para o Rio de Janeiro no início dos anos 60, se habituou a ir ao Velho Maraca para ver Garrincha jogar, acompanhado de Nilton Santos, Didi, Zagallo, Quarentinha…

Acabou se tornando botafoguense honorário, afinal a camisa era igual e também era fácil se apaixonar por aquele time

Sendo assim, não podia ser diferente, e seu filho mais velho é botafoguense nato.

Bom de bola, igual ao pai.

O filho mais novo, com certeza, não herdou esse talento, mas, por caminho natural e coação, se tornou um alvinegro apaixonado.

Cresci com o Major me contando as histórias de Heleno de Freitas, Garrincha, Didi, Zagallo, Nilton Santos, Amarildo, Manga, Gérson, Jairzinho, PC Caju, Marinho e tantos outros craques lendários.

E nas peladas, além de ouvir o “JANTA ELE!!”, aprendi a cair e levantar, a superar a dor dos ferimentos, a não chorar (pelo menos tentar), e a dividir com os amigos as alegrias e tristezas da bola e da vida.

Este amor pelo futebol uniu aquela molecada e me uniu ao Major.

Já marmanjo, era de lei o futebol pela TV nas noites de quarta-feira.

Do qual eu sinto falta hoje em dia.

Quem me dera sentar de novo naquele sofá, ao lado do Major, e assistir um Botafogo x Bonsucesso.

Hoje eu conto aos meus filhos (alvinegros, lógico) as mesmas histórias e ensino as mesmas lições.

E espero o dia, depois dos meus moleques estarem criados, em que vai ter pelada no Céu.

E eu vou ouvir de novo o conselho:

“JANTA ELE!!!”

Saudades do Major.

Saudades do meu pai.

ESTÁDIO DE PELÉ

por Rubens Lemos


O Maracanã original, o das 180, 200 mil pessoas em clássicos supremos, morreu. Também morreu quem lhe dá nome: o jornalista Mário Rodrigues Filho, pernambucano nascido em Recife e maior jornalista esportivo brasileiro pela revolução técnica, emocional e de costumes que imprimiu ao esporte.

Mário Filho, irmão de Nelson Rodrigues, o fantasma, teatrólogo, indecifrável, cronista de roteiros pornográficos reais da vida suburbana, teatrólogo premiado. Patrono do Fluminense.

Mário Filho é o batismo do concreto, mas não é gritado ou citado desde os tempos da bola de couro pesada e dos craques florescendo no jardim gigante do estádio construído para a Copa do Mundo de 1950, quando o Uruguai tomou a taça que, indevidamente, o Brasil se apossara antes de a peleja começar. Maracanã era Maracanã e pronto. Hoje é arena. De rico.

Na vitória do Uruguai, de virada, na final de 1950 por 2×1, o estádio se chamava oficialmente de Municipal, mesmo seu construtor, o prefeito do Rio de Janeiro, general Mendes de Moraes, estimulando ostensivo lobby para seu nome ser escolhido. A vaia que levou na inauguração enterrou qualquer chance de êxito na empreitada.

O Maracanã só foi construído onde esteve e foi substituído por uma nave espacial da infeliz categoria das arenas da Copa de 2014, pela luta de Mário Filho, que defendia e conseguiu a obra feita no antigo Jóquei Clube.

A luta do irmão de Nelson Rodrigues foi hercúlea. Enfrentou e venceu ninguém menos que o jornalista Carlos Lacerda e seu nada sutil apelido de Corvo, pela vocação de ser contra tudo que não agradasse ao seu humor escasso e ácido.

Lacerda, para se ter uma ideia da grandeza de Mário Filho, fez um presidente se suicidar, Getúlio Vargas e tramou para derrubar outro, João Goulart.

Lacerda depois foi perseguido pelo Regime de Exceção do qual vestiu-se de garoto-propaganda, imaginando ocupar a Presidência da República derrotando Juscelino Kubitscheck. Os dois foram enganados e forçados a encerrar carreira política.

Mário Filho escreveu seis livros sobre futebol, um deles, um mergulho na essência do já Rei do Futebol em 1962. Um dos trechos, raspando a sociologia, diz assim: “Dondinho (pai de Pelé) era preto, preta dona Celeste (mãe) , preta vovó Ambrosina, preto o tio Jorge, pretos Zoca e Maria Lúcia (irmãos).”

E arremata: “Como se envergonhar da cor dos pais, da avó que lhe ensinara a rezar, do bom tio Jorge que pegava o ordenado e entregava-o à irmã para inteirar as despesas da casa, dos irmãos que tinha de proteger? A cor dele era igual. Tinha de ser preto. Se não fosse preto não seria Pelé”. O livro é Viagem em Torno de Pelé. A grande obra de Mário é outra, o Negro no Futebol, de 1947.

Impor o nome de Pelé, além de não engrandecer o número 1, é uma facada na memória de Mário Filho. Bajulação rasteira apresentada por seis deputados estaduais, um deles, Bebeto, tetracampeão, ídolo no Flamengo e no Vasco, mas certamente sem a menor intimidade com a história do patrono legítimo.

Pela lógica, fosse correta a mudança e não é, o estádio de Pelé seria o da Vila Belmiro, o do Santos, a casa dele, onde nasceu, viveu e iluminou o futebol, dele recebendo cetro e coroa.

Aos 80 anos, com problemas de locomoção, Pelé é cada vez mais Edson Arantes do Nascimento, o corpo que o Deus da Bola ocupou para alegrar o mundo. Pelé nem precisa da adulação ridícula.

Pelé é universal, seus estádios são todos, do San Siro, em Milão, ao Pascoal de Lima, na Cidade da Esperança, em Natal. Pelé foi um presente de Deus, está acima dos atos humanos indignos.

Nelson Rodrigues escreveu, antes da Copa de 1958, que o Brasil venceria, como de fato, venceu, a inferioridade do Complexo de Vira-Latas, de perdedor despido de personalidade. Hoje, Nelson diria: “O brasileiro é um puxa-saco.” De babador elástico.

A TARDE DOS VENCEDORES

por Zé Roberto Padilha


Tem tardes, raras na vida da gente que é treinador de futebol, em que vamos para casa feliz toda vida independente do resultado. Como no Fla x Flu de ontem, no Maracanã.

Um, Roger, porque venceu a partida, outro, Mauricio Souza, porque venceu no futebol.

Há muito não assistia, durante os 90 minutos, uma aplicação tática, cheia de entrega e qualidade técnica para trocar passes e penetrar pelos flancos, como a do Flamengo. Talvez tenha faltado o Nunes, Gaúcho, Romário, Fio, Silva, Obina, Vinicius e Claudio Adão para confirmar a superioridade.

Há tempos, desde que era jogador do Fluminense, já sabia que a nossa camisa detém uma cumplicidade com títulos e vitórias que transcende a imaginação.

Quantas vezes levei uma faixa para casa que não era destinada a nossa casa. Jogamos menos, mas jogávamos no Fluminense. E ganhamos 71, 73, 75…

Tita, meu amigo e comentarista da partida, quanto maior era a posse de bola do Flamengo, recebeu um Zap meu que dizia: Fluminense 1×0.

Ele devolveu: “Caramba. Vai ser uma surpresa!”.

Sobrenatural de Almeida, o personagem de Nelson Rodrigues, adora surpresas. Incorporou em Lula, 1971, Manfrine, 1973, Assis duas vezes nos anos 80, Renato Gaúcho, em 1995, e ontem levou Igor Julião a acertar um lindo chute de fora da área.

Sabemos que no esporte, como na vida, só sobrevivem os vencedores. Ontem, foi uma exceção. Um Fla x Flu, na sua mais pura concepção, em que os dois venceram.

Mais do que eles, o futebol.

Parabéns aos dois treinadores.

O CRAQUE DO BRASIL EM 1981

por Luis Filipe Chateaubriand


O melhor jogador do Brasil em 1981 não poderia ser outro que não Arthur Antunes Coimbra, o Zico. 

Jogando pela Seleção Brasileira, o fez nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1982 e em uma excursão à Europa, com grande destaque. 

Pelo Flamengo, foi o grande de destaque da conquista da primeira Libertadores da América do clube (marcou todos os quatro gols do clube nas finais) e da conquista do Mundial de Clubes (deu três passes para os três gols rubro-negros). 

De quebra, liderou o time em um certo 6 x 0 contra o Botafogo. 

Realmente, 1981 foi o ano do Galinho de Quintino! 

Não só o melhor do Brasil, mas o melhor do mundo, naquele ano.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!