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A LENDA DE CR7 E A SELEÇÃO PORTUGUESA

por Israel Cayo Campos


É bom voltar com uma polêmica que provavelmente fará os mais jovens me odiarem profundamente… Ao menos irão pesquisar um pouco mais sobre o futebol para me refutarem. Se for para o progresso do estudo sobre o futebol do passado, aceito ser o atacado pelos “haters”. 

Vi toda a carreira do hoje consagrado CR7. E sempre ouvi uma coisa que ao fazer uma análise minuciosa, tenho total certeza não passa de uma ficção inventada pelos seus fãs… 

A questão que canso de ouvir (ou cansava até a Euro 2016), é que ele nunca havia ganho nada (até a Euro 2016) com a seleção portuguesa pois esta era muito ruim enquanto elenco e que ele levava o time nas costas! Mais ou menos como o Ibrahimovic a seleção sueca. Não é verdade… 

CR7 começou de fato a atuar por Portugal em 2004, comandado pelo brasileiro Luís Felipe Scolari, até então atual treinador campeão do mundo, na Euro disputada em seu país, onde perderam a final para a Grécia, e até o ano de 2021 continua jogando profissionalmente. 

Portanto, vou fazer uma análise dos elencos que jogaram ao lado do Cristiano Ronaldo a partir desse período e ver se ele era o único craque do time. O que justificaria os fracassos da seleção portuguesa por anos! 


Como ele praticamente pegou duas gerações de seleções portuguesas, vamos dividir entre a geração 2004/10, que chamarei de “Geração um”, e a geração 2010/atualidade, que oportunamente chamarei de “Geração dois”, e vamos ver se essa justificativa é verdadeira. 

Geração um: o CR7 jogava com jogadores como o goleiro Ricardo, um dos melhores da Europa; Miguel e Paulo Ferreira, o segundo, campeão da Champions pelo Porto do Zé Mourinho; Ricardo Carvalho, um dos melhores zagueiros do mundo nesse período; Meio-campos como Petit, Maniche, Rui Costa (ídolo do Milan antes do Kaká chegar), Luís Figo, que dispensa apresentações, e é claro, o luso-brasileiro Deco, um dos melhores jogadores desse século em sua posição… 

E no ataque: Além do próprio CR7, tínhamos o Pauleta, segundo maior artilheiro da história de Portugal atrás do próprio CR7; Nuno Gomes, que sempre marcava gols importantes; Nani, um jogador acima da média que atuava pelo poderoso time Manchester United, além de bons coadjuvantes como Helder Postiga e Simão Sabrosa, que quando entravam em campo davam conta do recado! Com certeza, é um elenco bem melhor que a Seleção Brasileira atual que tem como grande estrela o Neymar… Mas essa geração portuguesa não ganhou nada…  

Geração dois: a atual coleciona dois títulos: um de pouca valia como a Liga das Nações, e uma Eurocopa a qual o a Cristiano teve apenas uma participação mediana… Mas vamos ao elenco, talvez os “carregadores de piano” não estejam a sua altura: o goleiro é o Rui Patrício, que fechou o gol na Euro 16; Na lateral direita Semedo e João Cancelo, qualquer um jogaria facilmente na Seleção Brasileira desde pelo menos o ano de 2018; Na zaga, Pepe, Bruno Alves e Rubén Dias, apesar de em 10 anos terem surgido em períodos distintos, todos são ótimos jogadores em seus clubes. Pepe e Ruben também jogariam fácil na Seleção Brasileira atual; Na lateral esquerda que sempre foi o ponto fraco surgiram jogadores ainda promissores como o Mário Rui e Raphael Guerreiro, que estão no mesmo nível de nossos alas esquerdos atuais; No meio, uma gama de ótimos jogadores: Danilo, Miguel Veloso, João Moutinho, Raul Meireles, William, Bruno Fernandes, Sérgio Oliveira, Ruben Neves, André Gomes… Todos destaques absolutos de seus clubes e o sonho de consumo de outros grandes clubes da Europa…


Mas não acabou, faltam os atacantes que passaram nesses últimos 10 anos, e não irei citar novamente os que estavam na “Geração um” e avançaram a “Geração dois”: Ricardo Quaresma e seu gol que garantiu Portugal nas quartas de final da Euro que a Seleção foi campeã, além de seus belos lances e gols de trivela; O brasileiro Liédson, na sua melhor fase como centroavante; Nani que já foi citado mas pegou metade das duas décadas, é a exceção à regra; João Félix, Diogo Jotá, Bernardo Silva, e é claro os ainda jovens, porém promissores Francisco Trincão, disputado a peso de ouro e “conquistado” pelo Barcelona e o Gonzalo Paciência; Além é claro, o próprio Cristiano Ronaldo, que é a interseção no conjunto dessas duas gerações atuando por ambas…

Será que o elenco de Portugal nesses últimos dezesseis anos era/é tão ruim mesmo? Dado aos nomes que citei, creio que não! Tornando uma falácia a história dos que dizem que o CR7 não ganha uma Copa do Mundo, ou sequer chega a uma final, por falta de bons companheiros à altura… 

O segundo maior jogador da história da seleção portuguesa, o moçambicano naturalizado português Eusébio, foi muito além das expectativas com uma seleção bem mais limitada! Destacavam-se apenas o Coluna, Simões e Torres…

Claro, nem todos os grandes times formam obrigatoriamente seleções campeãs (o Brasil de 2006 que o diga!). Os times de Telê Santana em 1982 e 1986 são a prova cabal disso! Mas não é esse o ponto que quero questionar! É evidente que o Cristiano é no mínimo um dos 10 maiores jogadores da história! Mas o que estou a combater aqui é o mito de que esse joga com elencos medíocres, o que impede a seleção de Portugal ser uma potência mundial! 

A maioria disparada desses jogadores atuaria fácil na Seleção Brasileira desde 2010 até os dias atuais… Mas a cobrança sobre nosso único craque atualmente (desde que o Kaká teve problemas no púbis), é inversamente proporcional às justificativas benevolentes que são dadas para defender o Cristiano Ronaldo e a geração portuguesa dos últimos 16 anos, no mínimo… 

Mas calma “haters’ do Messi, em momento poderemos fazer uma análise do mesmo e sua geração, embora ache a atual geração portuguesa bem melhor que a argentina, e principalmente, o Messi chegou ao menos a uma final de Copa do Mundo! 

Mas aí dirão: “Mas o CR7 ganhou uma Euro”… Primeiro que ele não foi o destaque daquele torneio! E segundo e principal até a Dinamarca sem o Laudrup e a Grécia já venceram esse torneio. Nem por isso saio dizendo que o herói grego daquela Eurocopa, – Bem mais decisivo que o CR7 foi na que Portugal conquistou – Charisteas, é um gênio do futebol! 

Nem digo o mesmo do Éder que fez o gol do título português na Eurocopa da França também o é!

VESTIR A CAMISA DO AMÉRICA, O SONHO DE UM RUBRO-NEGRO QUE NUNCA SE REALIZOU

por Victor Kingma


Meus maiores ídolos no futebol sempre foram Almir, o Pernambuquinho, e Zico. Fato já relatados em alguns textos e até em um de meus livros. 

Entretanto, em relação à camisa dos clubes, sempre tive um fascínio pela camisa do América. Desde quando a vi pela primeira vez na capa da Revista do Esporte, que trazia os meios campistas Amaro e João Carlos, lá no início dos anos 60. 

Mais tarde, como meia-direita de boa técnica no time do São Mateus, que tinha o mesmo nome do bairro onde eu morava, em Juiz de Fora, sonhava um dia vestir aquela camisa vermelha cor de sangue. Isso embora a minha paixão rubro-negra jamais deixou de existir.

O sonho nunca se realizou. Não por falta de talento, mas devido ao abismo que havia naqueles tempos entre o futebol do interior e os grandes times da capital.

Joguei em vários times amadores de Minas Gerais, mas nenhum deles tinha a camisa vermelha, para, pelo menos, satisfazer aquele meu desejo de boleiro. 

Bem, mas de repente surgiu a oportunidade: um novo clube foi fundado no vizinho bairro do Altos dos Passos. O nome: América Futebol Clube. Logo veio o convite para eu mudar de ares. 

Não hesitei, aceitei na hora. Finalmente ia realizar o meu sonho de vestir a camisa encarnada.

Fiz apenas uma exigência: queria usar a número 10, do grande ídolo Edu, irmão do menino Zico, que começava a despontar como ídolo na Gávea.

Só que no dia da estreia, veio a surpresa quando o técnico distribuiu as camisas verde e preta do América Mineiro, paixão do fundador do time.

Fiz a estreia, até marcando um gol com o número da camisa de Jair Bala, craque do time mineiro.  Mas ficou uma certa  frustração.

Anos depois, já como meio campo do time do Guarany, de Mantiqueira, onde eu era o craque e capitão do time, veio outra oportunidade de vestir a camisa vermelha.


As cores do nosso time combinavam o vermelho e o branco, mas, naquele ano, a diretoria resolveu inovar. Mandou confeccionar um uniforme com camisas totalmente vermelhas, idênticas às do América. Acho que até por influência minha, pois eu vivia falando da beleza da camisa americana.  

Entretanto, no dia da estreia, nova frustração: já estávamos no aquecimento, eu com a reluzente camisa 10, do astro Edu Coimbra, quando chega a notícia: o uniforme do time visitante também era vermelho e eles não tinham camisas reservas.   

Como anfitriões, tivemos que trocar de camisas e entramos em campo com a camisa branca com listras vermelhas.

Foi, acredito, a minha última partida oficial como jogador de futebol. 

Pouco tempo depois, comecei a minha a vida profissional em Volta Redonda.

E a minha jornada dentro do campo ficou para trás. 

Para matar a saudade dos gramados restaram os rachas com os inesquecíveis amigos de trabalho na CSN.

O futebol sempre será a minha paixão, agora como torcedor e escriba.

Dos tempos de jogador, além das belas lembranças, ficou a frustração por jamais ter disputado uma partida sequer com a cor da camisa que acho a mais bonita.

Depois da rubro-negra, é claro!

DECADENTES

por Rubens Lemos


Olhávamos para as caras amarradas e o passado atestado na barba imensa. Éramos meninos, eles na faixa entre 30 e 40 anos. Lá estavam os sofredores do Botafogo. Viviam a psicose dos 21 anos sem títulos. Se recusavam a pronunciar a escalação medonha, exceto o craque Mendonça, falecido em 2019.

Os torcedores de outrora repetiam:

– Há coisas que só acontecem ao Botafogo!

Estavam certos. O Botafogo que eles tragavam com prazer acabara em 1968 com Cao, Moreira, Zé Carlos, Sebastião Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Caju. Um timaço que não tinha medo do Santos de Pelé. Do Corinthians de Rivelino. Nem do Cruzeiro de Dirceu Lopes e Tostão, muito menos do Flamengo de Silva Batuta.

O Botafogo vendeu Gerson ao São Paulo, Paulo César ao Flamengo, Jairzinho ao futebol francês e, tempos depois, em 1972, passou a contar com a solitária maravilha do potiguar Marinho Chagas.

O Botafogo achava normal empatar com o Olaria, ganhar de 1×0 do São Cristóvão e perder de 3×1 do Bonsucesso, times pequenos e tragados pelos ventos secos da mediocridade.

Nós, os mais novos, ouvíamos histórias contadas nas emoções detalhistas. A final de 1968 (4×0 no Vasco), a busca frenética pelos lançamentos de Gerson, as arrancadas de Jairzinho, o biquinho abusado do estilista Paulo César Caju.

Quando as lendas eram esmiuçadas, o Botafogo era um pobre time montado e envergonhado em doses etílicas. Sua camisa sacra vestia Wecsley, Gaúcho Lima, Tiquinho, Ademir Vicente, namorado da cantora Vanusa, Té, Ataíde, Mirandinha e Lupercínio. Faltava um violão para as canções melosas de Orlando Silva, um dos reis da dor de cotovelo.

Nós, os piedosos com os botafoguenses, variávamos dos 10 aos 15 anos. Parecíamos vascaínos felizes, ainda que apanhássemos do Flamengo de Zico e das arbitragens desavergonhadas.

O Vasco escalava bons times liderados por Roberto Dinamite. Havia Acácio, começando debaixo das traves, Orlando Lelé e suas chuteiras homicídas.

Tínhamos Guina, um meia de quem lembramos pouco, Wilsinho, Zé Mário, senhor volante e reforços pontuais: Jorge Mendonça, meio-campista artilheiro, Paulo César Caju, Elói, estupendo criador, o artilheiro Arthurzinho e um jovem armador que, em torno de si, criou uma época: o Vasco de Geovani.

Envelhecemos empanturrados de troféus: uma Libertadores, quatro Brasileiros, seis Cariocas e presença constante em decisões. Esse era o Vasco quando fomos meninos parecidos com os do Botafogo.

Estamos fartos de mediocridade. Temos Thales Magno, Marrony, Vinícius, Parede, Gustavo Torres, Catatau, Felipe Bastos e um Jardim Zoólogico de leões medrosos, tigres sem dentadura e jacarés preguiçosos. Somos, agora, o que os botafoguenses na faixa dos 60 anos, foram para nós: homens tristes e revoltados.

O Botafogo está na Segunda Divisão. Humilhado, despedaçado, entristecendo o paraíso de Garrincha, Didi e Nilton Santos. O Vasco caiu com seu timeco. Para tristeza eterna de Bellini, Orlando Peçanha e Vasco.

Os três mencionados do Botafogo e o trio do Vasco foram campeões do mundo, titulares da seleção brasileira de 1958. Hoje, rebaixados para a Série B do Brasileirão, Vasco e Botafogo erguem a Taça dos Miseráveis, apogeu da decadência.

O SOTAQUE DE LUIS PEREIRA

por Joel Prado


Revendo a resenha do Museu da Pelada, sobre o grande Luis Pereira, lembrei quando ele pegava a bola na defesa do Palmeiras e seguia em linha reta, trocando passes, passadas largas, em direção ao gol adversário, pela mesma avenida usada habitualmente pelo maestro Ademir da Guia. Nasceu com o talento de ótimo defensor, mas se realizava com os gols que fazia. Pernas voltadas para dentro, como a se prevenir por natureza de levar uma caneta de um atacante atrevido.

Após a Copa de 1974, ele e Leivinha, para nossa tristeza, foram contratados pelo Atlético de Madrid, conseguindo por lá o mesmo sucesso que tinham por aqui. Um capitulo à parte, para o Mundial de 1974, Zagallo levou seis jogadores do Palmeiras, mas se não fosse pra usar, pra que levar a espinha dorsal do maior time da época?

O que me trouxe à lembrança, foi uma entrevista dada por Luis Pereira pouco tempo depois em visita ao Brasil, em que falava com um sotaque tão acentuado, como se fosse nativo da Espanha, para quem no tempo na Capital Paulista pouco sotaque o remetia à sua Bahia, já se vislumbrava o futuro em terras espanholas, onde fixou residência.

PEQUENAS LEMBRANÇAS DA META AMERICANA

por Paulo-Roberto Andel


Acabei de espiar ótimas crônicas de “O nosso futebol”, livro de Fernando Calazans, decano da imprensa esportiva, e li sobre Pompéia, o mitológico goleiro do America campeão de 1960 e que jogou mais de uma década pelo clube.

Calazans contava sobre a dificuldade crônica de Pompéia em guardar nomes de companheiros de time, chamando-os pelo número às costas: “Vai, três”, “Chega junto, dois” e por aí vai. Em certa ocasião, num jogo festivo de seleções no Maracanã, o goleiro seguia sua praxe de batizar os companheiros pelos números, marcando em cima o lateral-esquerdo: “Vamos, seis, entra firme”, “Cadê o seis” e tal. Em certo momento, irritadíssimo, o jogador simplesmente saiu de campo, foi até o banco de reservas e disse “Por favor, ponha outro em meu lugar. Não posso jogar num time onde o goleiro não sabe meu nome”. Fazia sentido: era ninguém menos do que Nilton Santos, a Enciclopédia.

Descontadas as hipérboles, Pompéia foi um dos grandes goleiros da história do futebol brasileiro. É curioso saber que no começo da carreira jogava como artilheiro, assim como seu apelido ter vindo do seu gosto em desenhar Popeye, o marinheiro, quando criança em Minas Gerais: os amiguinhos não acertavam o nome do personagem, então virou Pompéia. Anos mais tarde, Pompéia ganharia o apelido de “Constellation”, famoso avião da época, em alusão a seus voos acrobáticos para fazer as defesas, sendo o autor do apelido outro gigante: o narrador Waldyr Amaral. Tudo bem diferente dos seus anos finais de vida, quando amargou enorme sofrimento e penúria, mas pelo menos ficou uma história espetacular, digna de livro.

E eu, que não vi Pompéia jogar mas sempre ouvi falar de sua fama, depois fiquei a pensar em outros goleiros americanos. Quando garoto, em fins dos anos 1970, vi País em campo, já devidamente celebrado neste Museu da Pelada. Tinha o Ernâni, que passou pelo Santos e atuou na partida de despedida de Pelé pelo Cosmos de Nova York. E também Jurandir, que tinha se destacado no Campeonato Carioca naquela época.

Ainda nos anos 1980, o America teve no gol nomes de muita expressão, tais como os saudosos Gasperin (Campeão dos Campeões em 1982) e Waldir Peres (goleiro da Seleção Brasileira). Por lá também passou outro goleiro de Seleção: Paulo Sérgio. E na última grande campanha nacional do America, o goleiro Régis, excelente debaixo das traves e fera jogando na linha em treinos e peladas. E bem antes destes, mas depois de Pompéia, o America teve Rosan no gol, também registrado nos jornais de então como Rosã, que marcou presença no final dos anos 1960.

Numa breve espiada, em amostra pontual, logo se vê quantos nomes importantes defenderam a meta americana ao longo de sua história, fruto de uma longa tradição que começou nos anos 1910, mais precisamente em 1911, quando o goleiro do America era ninguém menos do que Marcos Carneiro de Mendonça, antes de se transferir para o Fluminense e marcar seu nome de vez, tanto quanto primeiro goleiro da Seleção Brasileira e também como campeão. A começar pelo gol, o velho America tem histórias demais.

@pauloandel