É PROIBIDO DEMITIR
por Idel Halfen
A nova regra divulgada pela CBF sobre o Campeonato Brasileiro estabelece que na edição 2021 cada equipe só poderá fazer uma demissão de técnico, dessa forma, um eventual substituto do primeiro só poderá perder o emprego caso o clube efetive na função algum funcionário que já faça parte da comissão técnica do clube.
Por outro lado, um técnico poderá pedir demissão apenas uma vez.
Embora entenda que medidas intervencionistas tragam embutidas em grande parte das vezes um atestado da incapacidade de as organizações gerirem seus negócios de forma justa e responsável, tendo a achar a nova regra interessante para a melhoria da gestão dos clubes.
Os principais argumentos para essa percepção são:
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Processo de recrutamento mais acurado, onde técnicas já consagradas no universo corporativo podem vir a ser adequadas às necessidades do futebol.
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Ainda no contexto dos recursos humanos, a possibilidade de uma eventual “segunda substituição” por algum membro da comissão técnica, abre a oportunidade de se rever a estrutura organizacional dos clubes, propiciando, quem sabe, um redesenho no escopo de cargos, salários e desenvolvimento de carreira.
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Menor impacto nos custos dos clubes, visto que não é raro encontrar times pagando salários correntes para diversos técnicos – o atual e os demitidos. Incluem-se aqui os passivos trabalhistas dos que só conseguirão receber na justiça após, provavelmente, o período da gestão de quem os contratou, deixando assim a “bomba” para os próximos gestores. Esse cenário, de alguma forma, atua como uma espécie de “fair play financeiro”.
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Diminui a possibilidade de os gestores terceirizarem a culpa, a qual atualmente acaba recaindo na maioria das vezes para o técnico que, ao ter sua demissão decretada, diminui a pressão sobre a diretoria e joga uma cortina de fumaça sobre as demais causas.
Já para os técnicos que têm contratos, a situação também melhora, pois a provável maior estabilidade proporcionará mais tempo para a avaliação do trabalho, o qual é produto do tempo disponibilizado para se implantar um padrão de jogo.
O fato de terem limitado também o número de pedidos de demissão por parte dos técnicos, deve fazer com que eles avaliem mais criteriosamente os movimentos de sua carreira e passem a ponderar que mudanças de emprego envolvem, além dos pacotes de remuneração, as perspectivas de crescimento, as condições de trabalho, o potencial para a obtenção de resultados, o ambiente profissional, a cultura da organização e até a localização, caso vislumbrem se mudar com a família.
Os que iniciam o campeonato desempregados têm a oportunidade de se aprimorarem durante o tempo “sem clube”, procurarem colocação em séries menores ou ainda buscarem cargos diferentes nas comissões técnicas, o que, além de propiciar experiência, os deixam como candidatos a “futuras vagas”.
Os conceitos citados acima, raros nos clubes, são bastante comuns no mundo corporativo, onde não há nenhum tipo de limitações externas às contratações, o que, na verdade, é o que se espera de uma governança capacitada
ÚLTIMA HOMENAGEM A DUFRAYER
por André Luiz Pereira Nunes
(Foto: Daniel Planel)
O futebol brasileiro ficou mais pobre no dia de hoje. Faleceu, aos 64 anos, o ex-volante do Fluminense Luiz Carlos Dufrayer. O Fluminense utilizou o seu perfil no Twitter para lamentar o seu desenlace. Ele se notabilizou por ter sido o capitão da equipe que conquistou a Copa São Paulo de Juniores em 1977. Fez parte pelo Tricolor das Laranjeiras de um memorável elenco que permaneceu invicto por mais de 80 partidas.
– Foram dois anos sem perder. Ganhamos cinco diferentes títulos seguidos. O último foi a Taça de Nice, em maio de 1977! – relembrou na ocasião.
Justamente, nessa época, Paulo Cézar Caju atuava pelo Olympique de Marselha. Sabendo que o time juvenil do Fluminense iria disputar esse torneio, pegou o carro e o dirigiu até a cidade. Foi quando viu o futebol de Dufrayer.
– Conhecia algumas pessoas ligadas ao Fluminense. Entre elas, o técnico Pinheiro que era o treinador dessa garotada. Era um grande time. Alguns despontaram no elenco profissional e fizeram sucesso no futebol brasileiro! – ressalta o ídolo da Seleção Brasileira, Botafogo, Grêmio e outros grandes clubes.
O MUSEU DA PELADA, no mês passado, fez uma linda homenagem ao ex-atleta que lutava há alguns anos contra um implacável câncer nos ossos. Na ocasião, Sergio Pugliese, acompanhado por Paulo Cézar Caju, Manoel de Mello Júnior, Beto Quatis e Márcio Aurélio promoveram uma ótima resenha, na Praça Seca, que deixou o ídolo das categorias de base das Laranjeiras bastante emocionado.
Nascido em 3 de fevereiro de 1957, no Rio de Janeiro, Dufrayer iniciou sua trajetória, aos 13 anos, no Fluminense. Capitão da equipe nas categorias de base, venceu muitos títulos, entre os quais, a Copa São Paulo de juniores, em 1977, em decisão contra a Ponte Preta.
Ao subir para o time profissional, não encontrou o espaço devido, visto que a concorrência na época era extremamente acirrada. O Fluminense era apelidado de Máquina Tricolor por dispor de inúmeros craques de qualidade incontestável.
Transferiu-se, portanto, para o Serrano de Petrópolis, em 1978, pelo qual atuou com Renê Simões e Ademar Braga, todos em início de carreira. No ano seguinte, jogou na Associação Desportiva Niterói, o antigo Manufatora, tendo participado inclusive do cotejo em que o Flamengo goleou a sua equipe por 7 a 1. Nessa partida, Zico marcou um memorável gol, um dos que Pelé não conseguiu fazer na Copa do Mundo de 70, o do corta-luz. Após uma curta passagem pelo Botafogo da Bahia, Dufrayer encerrou precocemente sua carreira no Yuracam, de Itajubá, por causa de uma cardiopatia.
Apesar de não ter alcançado o mesmo reconhecimento na esfera profissional, Dufrayer permaneceu vivo na memória dos torcedores e dirigentes das Laranjeiras. Para muitos era uma espécie de talismã, um símbolo da força e da tradição da vitoriosa categoria de base do Fluminense.
Sobre a homenagem prestada pelo MUSEU DA PELADA, ele deixou a seguinte mensagem:
“Passei uma boa parte da manhã de hoje chorando de emoção. Se bobear, ainda choro mais. Ficou tudo muito lindo, me amarrei, é claro! Tenho recebido muitos cumprimentos, tá repercutindo muito, graças a Deus. Agradeço de coração a generosidade e consideração. Hoje tô num dia com muitas dores e mal-estar, mas pra semana vou ligar pra agradecer também ao Pugliese. Aliás, falei com ele ontem, mas vou ligar com mais calma novamente.
Fui honrado e eternizado e sou grato a vocês por isso.
Deus abençoe a todos!”.
DOSES IMPRUDENTES
por Valdir Appel
Paulo Mata protagonizou uma cena incomum num campo de futebol e que provavelmente, pela sua ousadia e despudor, abreviaram a sua curta carreira de técnico de futebol.
Dirigindo o Itaperuna, do interior fluminense, em jogo contra o Vasco da Gama pelo Campeonato Carioca de profissionais, arriou as calças no centro do gramado e mostrou sua branca bunda para todos os presentes no estádio em sinal de protesto contra a arbitragem, que segundo ele, prejudicava a sua equipe.
Nunca mais dirigiu time nenhum.
Este baiano já era bom de marketing nos anos 60. Deu charme carioca ao seu sotaque nordestino, lançou moda na zona sul com suas calças altas, camisas de grife e sapatos sem meias. Buscou seu espaço nos campos de futebol com garra e na sociedade com sua irreverência.
Tornou-se fiel escudeiro do zagueiro Fontana, um capixaba culto, educado e carismático, ídolo da torcida vascaína, passaporte para seu acesso aos círculos sociais e de forte referência na mídia esportiva.
Paulo presenciaria os últimos dias de Fontana em São Januário.
Em Salvador, o jogo contra o Bahia foi cancelado por causa das fortes chuvas que caíram sobre a capital baiana. O técnico Paulinho de Almeida liberou uma folga aos jogadores até as 23h.
A maioria voltou no horário, exceto três, que impuseram ao Paulinho uma vigília até às 3h da madrugada na porta do hotel. Aí deu um estalo no treinador que desceu para o bar que ficava no subsolo e…lá estavam: Eberval, Fontana e Moacir. Paulinho ainda teve tempo de ouvir:
– Garçom! Bota mais uma dose de uísque, por favor! Só não identificou o autor do pedido.
No dia seguinte a tensão era grande no ônibus que levaria os jogadores para o treino. Os “exxxpertos” da noite foram os últimos a embarcar.
Uma voz sacana quebrou o silêncio incômodo:
– Pelas minhas contas, cada dose ficou em 60 “paus”!
O cálculo do preço havia sido feito, tomando como referência a multa que cada um teria em seu salário, 40%.
Por falta de opção na lateral, Eberval jogou a partida seguinte e fez um gol de falta na vitória contra o Náutico do Recife. O mineiro Moacir pediu desculpas aceitas pelo técnico.
Fontana ainda resistiu dois meses até criar um novo atrito com o Paulinho de Almeida, quando se recusou a jogar uma partida decisiva contra o Internacional, alegando uma contusão minutos antes de o time entrar em campo.
Foi substituído por Moacir, mantido para a ultima partida conta o Santos. Fontana foi dispensado e negociado com o Cruzeiro.
O Vasco ficou em 3º lugar na competição.
(Taça de Prata, 1968)
PAI E FILHO, CRAQUES NO FLU E NO GALO
por Irineu Tamanini
Um dos melhores pontas-direita da história do Fluminense, o mineiro de Belo Horizonte Wilton Cezar Xavier se estivesse vivo – morreu em 13 de dezembro de 2009, aos 62 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, em Volta Redonda (RJ) – estaria hoje com 73 anos. Wilton era viuvo de Violeta com quem teve seus filhos ( Andrea, Paulo Marcelo e Mariana ). O quarto filho, Fernando morreu com 10 anos em uma piscina em Salvador quando Wilton atuava pelo Vitória da Bahia. Os três filhos geraram os três netos de Wilton e Violeta.
Poucos sabem mas Wilton – nascido na capital mineira em 13 de outubro de 1947 – deu segmento à carreira do pai – Eurídice Xavier – que foi centro-avante do Atlético Mineiro na época do ídolo e goleiro Cafunga. Xavier, como era conhecido no meio esportivo o seu pai, foi bicampeão pelo “Galo” e marcou muitos gols com a camisa do clube. Wilton acompanhava o pai nos jogos pelo interior de Minas Gerais e depois em São Paulo. Mas, foi em Volta Redonda (R) onde morou com o pai e mãe, dona Adélia Xavier – que ele deu os primeiros passos no futebol. Na época, o futebol de salão praticado nas escolas era o preferido das crianças.
Segundo seu irmão, que também jogou futebol mas como goleiro em clubes da Bahia e dos Estados Unidos, Paulo Xavier, hoje com com 61 anos e morando em Garopaba (SC), Paulo Xavier a origem no futebol de salão para o desenvolvimento técnico do Wilton.
– O meu irmão tinha muita habilidade e o drible curto em cima dos adversários ele aprendeu no futsal.
Os meninos na escola, os amigos de rua em Volta Redonda vibravam com as jogadas do Wilton nas “peladas” ou nas partidas entre os colégios.
Durante o seu tempo de Fluminense – de 1967 a 1975 – Wilton comentava em casa (ele morava na rua Soares Cabral 26 – edifício Norma, nas Laranjeiras – que adorava jogar o Flamengo x Flu, principalmente quando o lateral-esquerdo era o Paulo Henrique. Dizia ele: “o Paulo Henrique era um lateral que marcava na bola, um duelo de craques, pois não dava porrada e era um exímio jogador”.
Quando morava na rua Soares Cabral, quase em frente à sede do Fluminense, Wilton conheceu uma jovem que residia em um prédio ao lado (Soares Cabral 54) de nome Violeta. Quem conta a história é o brilhante jornalista José Augusto Gayoso que durante a infância residiu na mesma rua mas no número 48.
– “Não precisava nem atravessa a rua para entrar na sede do Fluminense”, disse com orgulho o tricolor Gayoso. Pouco depois, os pais de Gayoso se mudaram para a rua Moura Brasil , paralela a Soares Cabral, quase esquina com Alvaro Chaves, rua onde fica a sede do clube. É a rua que termina em frente à entrada do salão nobre e o restaurante do clube.
Gayoso era amigo de infância da Violeta. Ela e o Wilton -disse – formavam um casal muito apaixonado. Eu acompanhava com frequência os treinos do seu marido no gramado de Alvaro Chaves. Quando mudei do Rio de Janeiro para Brasília acabei perdendo o contato.
Wilton fez o seu primeiro jogo profissional com a camisa do Fluminense no dia 6 de julho de 1967. Ao todo, disputou 195 jogos com 107 vitórias, 45 derrotas e 43 empates. Do total de jogos, atuou como titular em 143 e 52 como reserva. Fez 19 gols, todos com o pé e nenhum de cabeça. Foi expulso de campo em três oportunidades.
Disputou 33 campeonatos sendo campeão Carioca em 1969, 1971, 1973 e 1975. E, ainda, campeão da Taça Guanabara em 1969 e torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970. O seu último jogo vestindo a camisa do Fluminense foi no dia 29 de julho de 1975. O tricolor das Laranjeiras ganhou do Fluminense de Macaé no estádio Expedicionário em amistoso.
Além do Fluminense, Wilton jogou no São Paulo, Santa Cruz, Coritiba, Vitória (BA), Toronto Blizzard (Canadá), Náutico, Leônico (BA) e Galícia (BA), onde encerrou a brilhante carreira profissional. Sua inscrição na CBF/CBD tinha o número 035997.
Após encerrar a carreira, Wilton voltou a residir em Volta Redonda e treinou o Volta Redonda nos seguintes períodos: de 1988 a 1993; de 1994 a 1996; de 1999 a 2000 e por último de 2002 a 2003.
Vítima de falência múltipla dos órgãos, Wilton teve o corpo enterrado na dia 13 de dezembro de 2009 no cemitério de Volta Redonda.
A SELEÇÃO DE EDU
por Rubens Lemos
Eram três amistosos logo após o Campeonato Brasileiro conquistado pelo Fluminense em 1984, campeão (1×0 e 0x0) contra o Vasco. Nas finais, o Fluminense pragmático e obstinado, venceu o primeiro jogo, gol de Romerito, e o segundo foi um bombardeio dos dois lados, com o goleiro vascaíno Roberto Costa obtendo a segunda bola de ouro da Revista Placar de melhor jogador do campeonato.
O campeonato de 1984 foi ótimo e sobraram poucos dos astros da sinfônica de 1982: Leandro, Oscar, Júnior e Sócrates. Sócrates seria vendido após o Brasileiro para a Fiorentina. Júnior iria logo depois, ao Torino.
Depois da derrota para a Itália, buscava-se a reconciliação com o toque de bola desaparecido na primeira e desastrosa passagem de Carlos Alberto Parreira pela CBF em 1983, quando ganhamos na moedinha o direito de decidir e perder a Copa América para o Uruguai.
O futebol vistoso do Vasco, de toques reluzentes e meio-campo habilidoso, deu vez a Edu Antunes de Coimbra, o irmão de Zico, que deslumbrava o país no balé cruzmaltino.
A bola é peça irônica e – apesar de golear – Edu não definia um time titular e sobravam craques. Aos 20 anos, o maior armador brasileiro estava no Vasco – Geovani – que começou entrosado com Pires e Arthurzinho enfiando goleadas de 9×0, 6×0 e 5×1 e ganhando todos os grandes.
Edu insistia num revezamento entre o titularíssimo ponta Mauricinho e o seu limitado reserva Jussiê. Geovani e Mário. Acácio e Roberto Costa brigavam. Arturzinho, sensacional contra os times pequenos, sumiu na decisão, perdendo um gol feito nos minutos finais, gol que daria o título ao ofensivo Vasco.
Depois da decepção, Arturzinho acabou no Corinthians, como substituto de Sócrates, vendido à Fiorentina da Itália para também sucumbir. Sócrates entregou-se à esbórnia no prenúncio do lamentável fim.
Num rompante de autossuficiência, o Doutor impôs ao país permanecer caso fosse aprovada a emenda parlamentar que estabeleceria as Eleições Diretas Já (em 1984) para presidente. A emenda perdeu e o Doutor – no episódio, mais militante que jogador, partiu.
A primeira opção do Corinthians foi Geovani, então com 20 anos, que se apresentou, vestiu a camisa do Timão e voltou porque o astuto presidente cruzmaltino Antônio Soares Calçada aceitava emprestar, jamais vender seu maior talento. Queria Geovani mais experiente para usufruí-lo maduro adiante.
Arturzinho acabou onde sempre se deu bem: no Bangu, onde recebia tietagem do bicheiro Castor de Andrade sem conquistar títulos: foi terceiro lugar em 1983 e vice carioca em 1985.
O time não tinha tranquilidade enquanto Parreira definiu seus onze e com eles rumou até o título: Paulo Victor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.
Para os três jogos – contra Inglaterra (0x2), quando o ponta Barnes driblou toda a defesa e fez um dos gols mais bonitos do Maracanã, Argentina (0x0) e Uruguai (1×0), Edu contrariou vaidades.
No Vasco, o lateral Edevaldo, os meias Geovani e Mário e o ponta Mauricinho foram descartados. Os que ele considerava melhores, levou, assim como no Fluminense, no Grêmio, no Flamengo e do Corinthians.
O tricolor Assis disputava com Tita e Arturzinho, Zenon e Delei queriam a vaga de organizador do time que morreu sem padrão de jogo. Convocar o limitado Baidek do Grêmio foi surrealismo. Reinaldo, fisicamente em frangalhos, decepcionou. Tato e Marquinho Carioca, os pontas pela esquerda, só rodopiavam com a bola.
Marcante, a despedida do magnífico Roberto Dinamite da amarelinha aos 30 anos e a certeza de que o ambiente no Vasco esfumaçou. Genial em campo, a seleção foi demais para Edu, que, jogando, valia pelos 22 chamados por ele.